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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ___ VARA

CÍVEL DA COMARCA DE...


..., brasileira, casada, do lar, portadora da cédula de identidade nº..., inscrita no CPF sob o
nº..., residente e domiciliada na Rua..., nº..., Bairro..., em..., CEP..., nã o possui endereço
eletrô nico, por seu procurador constituído, advogado regularmente inscrito na Ordem dos
Advogados do Brasil, com escritó rio profissional em..., na Rua..., nº..., Bairro..., endereço
eletrô nico (e-mail) ..., onde recebe intimaçõ es, nos termos do mandato anexo, vem,
respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro no artigo 936 do Có digo Civil c/c
artigo 319 e seguintes do Có digo de Processo Civil, propor a presente

Ação de Indenização de Danos Morais e Reparação de Danos Estéticos e


Materiais

Em face de ..., brasileiro, solteiro, profissã o desconhecida, documentos pessoais


desconhecidos, residente e domiciliado na Rua..., nº..., Bairro..., em..., CEP..., endereço
eletrô nico desconhecido, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:
PRELIMINARMENTE
Inicialmente cumpre informar que, devido à atual precá ria situaçã o econô mica, a Autora,
através de seu representante legal, declara expressamente, sob as penas da lei, nã o possuir
renda suficiente para arcar com as despesas e custas processuais, sem prejuízo de seus
sustentos e de sua família, conforme documentos que seguem anexos, requerendo os
benefícios legais da Assistência Judiciá ria gratuita, nos termos do artigo 4º, da Lei
1.060/50.
I – DOS FATOS
A Autora, no dia 10 de abril de 2016, por volta das 18h45min, estava indo a pé para a igreja
a qual frequenta quando, um cachorro da raça Rottweiller, de propriedade do Réu, fugiu de
casa e a atacou, de forma que recebeu diversas mordidas no seu antebraço direito, joelho
direito e perna esquerda, conforme fotos anexas.
Entretanto, mesmo com todas as lesõ es e com muito custo, a Autora conseguiu se dirigir até
a casa de uma parente sua que era pró xima ao local do ataque, sendo que de lá seu esposo
foi comunicado e a levou ao Hospital... Para ser medicada, como bem relatado no Boletim
de Ocorrência e laudo pericial que seguem anexos.
Com isso, obteve receita médica onde foi orientada a: observar o cachorro por 10 (dez)
dias, fazer vacina anti-rá bica, revisar a vacina anti-tetâ nica, entrar em contato com a
vigilâ ncia sanitá ria e trocar os curativos diariamente na unidade de saú de. Outrossim,
também foi orientada a procurar um ortopedista com urgência, visto que a mordida podia
ter lhe causado lesã o tendinose ou de inervaçã o, como bem demonstram os documentos
anexos.
Além disso, durante todo esse período, foi preciso comprar inú meras medicaçõ es para
aliviar suas dores, realizar curativos, pagar consultas médicas particulares, visto que a
Autora é pessoa pobre e nã o tem plano de saú de, tudo conforme recibos que seguem
anexos.
Diante desse quadro, apó s inú meros exames e consultas, constatou-se que a Autora
apresenta eletroneuromiografia e, por isso, foi preciso iniciar tratamento com
neuromodular (pregabalina) para controle da dor, tendo que permanecer afastada das suas
atividades laborais por tempo indeterminado, possuindo atestados médicos para
comprovar o aqui alegado, os quais estã o anexos.
Inclusive, no dia 24 de junho de 2016, foi submetida a uma cirurgia no seu joelho direito,
conforme demonstram as imagens anexas, a fim de retirar um lipoma (tumor benigno), que
estava bem no local onde foi mordida pelo cã o de propriedade do Réu, de forma que a sua
nã o realizaçã o podia agravar ainda mais a situaçã o. Por isso, a Autora está em casa sem
poder trabalhar, visto que está com muita dificuldade em mexer os braços e as pernas,
estando ainda com o pé muito inchado.
Conforme demonstram as ultrassonografias e fotos que seguem, no antebraço direito
ocorreu a ruptura parcial do mú sculo braquiorradial na regiã o subjacente à cicatriz na face
anterior do antebraço. Já o joelho direito, este se encontra com inú meros sintomas como,
por exemplo, o menisco interno com degeneraçã o intrasubstâ ncial grau I no corno
posterior.
Ademais, em outro exame, que também segue anexo, constatou-se a Síndrome do Tú nel do
Carpo, com lesã o predominantemente desmielinizante e com padrã o de bloqueio de
conduçã o motora no nervo radial (segmento braço-antebraço), induzindo a quadro clinico
de Síndrome do interó sseo posterior.
Portanto, diante de todos esses dados apontados, ressalta-se que até uma simples tarefa do
diaadia ou até mesmo andar, se tornou uma tarefa muito difícil para a Autora.
Também é preciso mencionar que durante todo esse tempo, a Requerente entrou em
contato com o Réu para que lhe ajudasse com os gastos realizados, visto que todo esse
infortú nio somente ocorreu por negligência do Réu em nã o manter seu animal preso,
porém, em todos os momentos, sempre se mostrou irredutível em nã o auxiliá -la.
Desta feita, a parte Autora vem à presença de Vossa Excelência requerer seja indenizada
pelos danos morais, estéticos e materiais suportados em decorrência do ataque sofrido
pelo animal de propriedade do Réu, acrescidos de correçã o monetá ria e juros de mora.
II - DO DIREITO
II.1 – Da responsabilidade objetiva
Superiores razõ es de política social impõ em o dever jurídico de cuidado e vigilâ ncia de
coisas que sã o utilizadas, sob pena de obrigaçã o a reparar o dano por elas produzido.
Sobre isso, a doutrina convencionou denominar essa responsabilidade como
“responsabilidade pela guarda da coisa”, ou “responsabilidade pela guarda das coisas
inanimadas” ou, ainda, “responsabilidade pelo fato das coisas”.
Nã o bastasse o perigo decorrente das coisas inanimadas supramencionadas, a mesma
situaçã o se aplica ao dono ou possuidor de animal feroz, que porventura venha a ferir ou
matar alguém que dele se aproxima.
Com frequência, infelizmente, nos ú ltimos anos deparamo-nos com um crescente nú mero
de incidentes envolvendo animais ferozes, por conta da falta de cautela e civilidade dos
seus donos ou possuidores. Diariamente, a imprensa vem noticiando casos de ataques de
cã es ferozes, de raças agressivas como o Pitbull e Rottweiller, que ocasionam danos graves e
até a morte das vítimas.
Para esses casos, a legislaçã o prevê a responsabilidade do dono ou detentor do animal,
prevista no art. 936, do Có digo Civil, senã o vejamos:
"O dono ou detentor do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior".

Na lei atual, a responsabilidade do dono ou detentor do animal nã o pode ser elidida pela
simples guarda ou vigilâ ncia com cuidado preciso do animal, como regulava o Có digo de
1916 em seu artigo 1.527, pois, partindo-se da teoria do risco, o guardiã o somente se
eximirá se provar quebra do nexo causal em decorrência da culpa exclusiva da vítima ou
evento de força maior, nã o importando a investigaçã o de sua culpa.
Assim, imperioso se faz mencionar que a Autora, em nenhum momento, provocou o animal
ou adentrou no terreno onde ele estava, deixando claro que o ataque nã o foi em
decorrência de sua culpa exclusiva.
Ressalte-se que, se o dano ocorre estando o animal em poder do pró prio dono, dú vida nã o
há no sentido de ser este o responsá vel pela reparaçã o, pelo fato de ser o seu guardiã o
presuntivo, como é o caso dos autos. Assim, neste sentido, colhe-se da jurisprudência:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, ESTÉTICOS E MATERIAIS DECORRENTES DE
ATAQUE CANINO. RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO. DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO. INTELIGÊNCIA
DO ART. 936, DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. RESSARCIMENTO DAS DESPESAS
MÉDICAS AFASTADO EM RAZÃO DA EXISTÊNCIA DE PLANO DE SAÚDE MANTIDO PELA AUTORA. INSURGÊNCIA DO
REQUERIDO, PLEITO PELA REFORMA DA SENTENÇA SOB O ARGUMENTO DE QUE O ATAQUE DE SEU ANIMAL NÃO
GEROU DANOS MORAIS E ESTÉTICOS À AUTORA. INSUBSISTÊNCIA. OFENSA À INTEGRIDADE FÍSICA E PSÍQUICA DA
AUTORA. DANOS MORAIS E ESTÉTICOS CONFIGURADOS. PLEITO PELA MINORAÇÃO DO QUANTUM
INDENIZATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. OBEDIÊNCIA AOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE,
BEM COMO OBSERVADOS OS FINS PEDAGÓGICOS E INIBITÓRIOS DA MEDIDA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO
DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 2007.054187-5, de Blumenau, rel. Des. Denise Volpato, j. 27-09-2011).
(grifou-se)

E:
RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANOS MATERIAL E MORAL. CRIANÇA DE 02 (DOIS) ANOS E 09 (NOVE)
MESES ATACADA VIOLENTAMENTE POR CÃO DE GRANDE PORTE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO DONO. NÃO
COMPROVAÇÃO DE FATO IMPEDITIVO, MODIFICATIVO OU EXTINTIVO DO DIREITO DO AUTOR (ART. 936 DO CC E
ART. 333, INC. II, DO CPC). DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO. INVIABILIDADE, NO CASO, DE MINORAÇÃO DA
VERBA INDENIZATÓRIA. RECURSO IMPROVIDO. O detentor de cachorro bravio é, objetivamente, o responsável
passivamente para, em juízo, responder pela indenização derivada de danos material e moral causados por
virulento e lesivo ataque do animal contra criança de tenra idade, a menos que prove culpa da vítima ou força
maior (art. 936 do CC). (TJSC, Apelação Cível n. 2008.054787-0, de São José, rel. Des. Eládio Torret Rocha, j. 14-07-
2011). (grifou-se)

E ainda:
INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS. SENTENÇA DE PROCEDENCIA DOS PEDIDOS.
IRRESIGNAÇÃO DA PARTE DEMANDADA. DEFENDIDA A TESE DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AO ARGUMENTO DE QUE,
NA VERDADE, A MÃE DO SUPLICADO É A RESPONSÁVEL PELO CANINO. INCONGRUÊNCIA DAS ALEGAÇÕES DIANTE
DA IDADE AVANÇADA DA ASCENDENTE DO RECORRENTE E DO PORTE DO CÃO DA RAÇA AKITA INU. CONJUNTO
PROBATÓRIO QUE, NOS TERMOS DO ART. 333, INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, EVIDENCIA QUE O
DEMANDADO É, DE FATO, O PROPRIETÁRIO DO CÃO AGRESSOR. PRELIMINAR AFASTADA. O ônus da prova
incumbe, nos termos do art. 333, incisos I e II, do CPC, ao autor, quanto aos fatos constitutivos de seu direito, e ao
réu, quanto aos fatos impeditivos, modificativos e extintivos da pretensão inaugural. Desta forma, ressoando
inconteste da prova testemunhal que o suplicado é, de fato, o proprietário do animal agressor, deve suportar o
ônus decorrente da demanda. MÉRITO. ATAQUE DE CÃO DA RAÇA AKITA INU. FATO DO ANIMAL. APLICAÇÃO DO
ART. 936 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA QUE SUCUMBE SOMENTE DIANTE DE
APROVA DA CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA OU FORÇA MAIOR. CONTEXTO PROBATÓRIO QUE EVIDENCIA A
NEGLIGÊNCIA DO PROPRIETÁRIO QUE, A PAR DO PORTE E DO TEMPERAMENTO AGRESSIVO DO ANIMAL,
ACORRENTA-O PRÓXIMO AO PASSEIO PÚBLICO. AUSÊNCIA DAS EXCLUDENTES DO DEVER DE INDENIZAR. LESÕES.
LAUDO PERICIAL QUE COMPROVA, EXTREME DE DÚVIDAS, MORDEDURAS MÚLTIPLAS PRODUZIDAS POR
CACHORRO. DEVER DE INDENIZAR INCONTESTE. É cediço, a teor do que dispõe o art. 936 do Código Civil, que o
dono ou detentor de animal responde objetivamente pelos danos que este causar a outrem, salvo se comprovada a
culpa exclusiva da vítima ou força maior, no caso, inexistentes. DANOS MATERIAIS. IMPUGNAÇÃO GENÉRICA.
VERBA DEVIDA. A condenação em danos materiais, cuja pretensão é proveniente de ataque inesperado de
canino feroz (art. 936 do Código Civil), será procedida quando comprovado pela vítima, por meio de notas fiscais
e recibos, o dispêndio realizado para tratamento médico e internação. PRETENDIDA A MINORAÇÃO DA PAGA
PECUNIÁRIA ARBITRADA PARA OS DANOS MORAIS E ESTÉTICOS. CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CORRETAMENTE
SOPESADAS PELO MAGISTRADO A QUO. VÍTIMA MENOR ABSOLUTAMENTE INCAPAZ. PROVA DE QUE A CONDUTA
DO SUPLICADO É REITERADA E, ATÉ ENTÃO, NENHUMA PROVIDÊNCIA FOI TOMADA. ANIMAL FEROZ QUE,
DIANTE DA OMISSÃO DO PROPRIETÁRIO PARA COM A SEGURANÇA DOS VIZINHOS E TRANSEUNTES, ATACA
DIVERSAS PESSOAS. CIRCUNSTÂNCIA GRAVE E REPROVÁVEL. VERBA MANTIDA. [...] RECURSO A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. (TJSC, Apelação Cível n. 2008.014154-4, de Anchieta, rel. Des. Gilberto Gomes de Oliveira, j. 24-02-
2011). (grifou-se)

Por isso, a responsabilidade pelos danos causados pelo animal é de seu dono e se trata de
uma responsabilidade objetiva, pois decorre do dever de vigilâ ncia que lhe é imposto,
estando obrigado a resguardar a segurança das pessoas, quando expõ e seu cã o ao convívio
social, independentemente do local onde estiver.
II.2 – Dos danos morais e estéticos
A presente demanda tem fundamento adjetivo nos artigos 319 e seguintes do Có digo de
Processo Civil, que regulamentam o procedimento ordiná rio.
Substantivamente, fundamenta sua pretensã o no artigo 186 do Có digo Civil, que assim
determina:
“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Por sua vez, o artigo 927, do Có digo Civil, estabelece:


“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.

É evidente que o Réu procurará veementemente eximir-se de sua culpa ou na melhor das
hipó teses minimizá -la, porém, é incontroversa a sua responsabilidade.
A culpa abrange a imperícia, a imprudência e a negligência. A imperícia é a falta de
habilidade para praticar certo ato; a negligência é a inobservâ ncia de normas que nos
ordenam a agir com cautela, atençã o; ea imprudência é a precipitaçã o ou o ato de proceder
sem cautela. Em todas as modalidades de culpa, incorrendo o réu nelas, é dever a
indenizaçã o.
Maria Helena Diniz, em seu Curso de Direito Civil, vol. 7 - Responsabilidade Civil, 13ª ed.
1999, p. 40, define a culpa assim:
A culpa em sentido amplo, como violação de um dever jurídico, imputável a alguém, em decorrência de fato
intencional ou de omissão de diligência ou cautela, compreende: o dolo, que é a violação intencional do dever
jurídico, e a culpa em sentido estrito, caracterizada pela imperícia, imprudência ou negligência, sem qualquer
deliberação de violar um dever. Portanto, não se reclama que o ato danoso tenha sido, realmente querido pelo
agente, pois ele não deixará de ser responsável pelo fato de não se ter apercebido do seu ato nem medido as suas
conseqüências.

Ora, em todos os fatos e fundamentos narrados, presentes estã o todos os requisitos à


indenizaçã o, ou seja, a açã o culposa do agente, o dano causado a Requerente e o nexo de
causalidade entre a açã o e o dano.
Em razã o de tais ensinamentos, Excelência, aduz-se que nos fatos está patente a existência
de culpa por parte do Réu, e patente está o direito da Autora em ser devidamente
indenizada na forma da lei, conforme preconizam todas as regras de responsabilidade civil.
Desse modo, acerca dos danos morais, este é o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça
de Santa Catarina:
APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. ATAQUE DE Cachorro. Dano moral EVIDENCIADO. Dever de
indenizar. "Em nosso direito, responde o dono ou detentor do animal pelos danos causados por este. Pouco
importa que seja doméstico ou não: a obrigação de quem possui um animal é guardá-lo de maneira que não
possa ofender a outrem. Se ocorre o dano, presume-se que essa vigilância foi descurada e a presunção subsiste
ainda quando o animal tenha fugido, pois, se o fez, foi porque houve negligência na sua guarda" (SANTOS, J. M.
De Carvalho. Código Civil Brasileiro Interpretado, vol. XX. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 321). QUANTUM
INDENIZATÓRIO. PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. VERBA MANTIDA. O arbitramento da indenização é
realizado em cada caso concreto, e deve pautar-se na gravidade do dano, no grau de culpa da ré, na intensidade do
sofrimento causado e na situação patrimonial dos envolvidos, com o fito de compensar o prejuízo, punir o ofensor e
desestimular novas práticas. RECURSOS CONHECIDOS E NÃO PROVIDOS. (TJSC, Apelação Cível n. 2008.013346-8, de
Jaraguá do Sul, rel. Des. Victor Ferreira, j. 04-10-2012). (grifou-se)

Portanto, é inegá vel que a Autora suportou inú meros prejuízos com o acidente, pois nã o
está mais conseguindo fazer coisas bá sicas do diaadia e tampouco trabalhar para se
sustentar. Portanto, deverá ser indenizada pelos danos morais sofridos, na importâ ncia de
R$ 5.000,00 (cinco mil reais).
Ademais, é inconteste que com o ataque sofrido inú meras foram à s lesõ es ocorridas em
seus braços e pernas, deixando-a com algumas cicatrizes, as quais serã o carregadas consigo
pelo resto de sua vida.
Assim, acerca do dano estético, Maria Helena Diniz (Curso de Direito Civil brasileiro, 7º
volume: responsabilidade civil. 22. Ed. Revista, atualizada e ampliada de acordo com a
reforma do CPC e com o Projeto de Lei n. 276/2007. Sã o Paulo: Editora Saraiva, 2008), o
conceitua como sendo:
O Dano Estético é toda alteração morfológica do indivíduo, que além do aleijão, abranje as deformidades ou
deformações, marcas e defeitos, ainda que mínimos, e que impliquem sob qualquer aspecto um afeiamento da
vítima, consistindo numa simples lesão desgostante ou num permanente motivo de exposição ao ridículo ou de
complexo de inferioridade, exercendo ou não influência sobre sua capacidade laborativa. (grifou-se)

Quando falamos em dano estético, estamos falando da ofensa à beleza externa de alguém,
ou seja, da integraçã o das formas físicas de alguém. Ele surge a partir de um sentimento de
constrangimento ou de humilhaçã o e desgosto que o lesado tem ao ver que nã o existe mais
a harmonia de seus traços, e que no lugar destes existirá uma marca, mesmo que pequena,
que lhe desperte a sensaçã o de inferioridade.
Avaliar a extensã o do dano estético é matéria de grande dificuldade para um julgador,
assim como quantificar qualquer dano extrapatrimonial. Mesmo com toda essa
problemá tica, nã o se deve deixar de reparar o dano de tal espécie, pelo contrá rio, a lesã o à
intimidade de uma pessoa é muito mais dolorosa do que aquela ao seu patrimô nio.
No entanto, deve-se ficar claro que a reparaçã o do dano estético nã o tem por finalidade
curar a dor da ofendida, ora Autora, pois nenhum valor pecuniá rio poderia compensar a
integridade física que foi abalada pelo animal ao atacá -la. A questã o pecuniá ria aqui visa
apenas amenizar o sofrimento da Autora, para que nã o fique a sensaçã o de impunidade
perante todo o ocorrido.
Portanto, levando em conta todos esses critérios é que se pode calcular a extensã o do dano.
Nã o se trata aqui de ferir o Princípio da Isonomia, pois a pró pria Constituiçã o Brasileira
assegura algumas formas de tratamento diferenciado, tratando desigualmente os desiguais
com o fito de torná -los iguais de fato, visto que é relevante levar em consideraçã o os fatores
pessoais que individualizam cada pessoa na sociedade.
Diante disso, assim dispõ e o artigo 949 do Có digo Civil:
No caso de lesão ou ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros
cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

Desse modo, ante todas as imagens, receitas médicas e tratamentos que precisou fazer para
amenizar seu sofrimento, como bem demonstram os documentos anexos, resta configurado
o dano estético sofrido pela Autora.
Acerca do assunto, este é o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS. ACIDENTE DE TRÂNSITO.
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA FUNDAMENTADA NA AUSÊNCIA DE ELEMENTOS HÁBEIS PARA COMPROVAR
CULPA. ÔNUS QUE RECAI SOBRE A PARTE AUTORA, NOS TERMOS DO ART. 333, INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL DE 1973. RECURSO DA AUTORA. PROVA TESTEMUNHAL QUE, APESAR DAS CONTRADIÇÕES, APRESENTA
ELEMENTOS SÓLIDOS QUE EVIDENCIAM A CULPA DOS RÉUS. INVASÃO DA CONTRAMÃO DE DIREÇÃO.
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MATERIAIS. RECIBOS QUE COMPROVAM O CONSERTO DA MOTOCICLETA
QUITADO PELA PRÓPRIA VÍTIMA. DESPESAS MÉDICAS. DEVER DE RESSARCIR. DEDUÇÃO DE EVENTUAL VALOR
RECEBIDO A TÍTULO DE SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT. POSSIBILIDADE DE AVERIGUAÇÃO EM SEDE DE LIQUIDAÇÃO
DE SENTENÇA. DANO MORAL PRESUMIDO DIANTE DAS PRÓPRIAS CIRCUNSTANCIAS DO EVENTO. DANO ESTÉTICO.
IMAGENS QUE APRESENTAM AS MARCAS PERMANENTES ORIUNDAS DO ACIDENTE. PLEITO ACOLHIDO. [...]
RECURSOS CONHECIDOS. DADO PROVIMENTO AO RECURSO DA AUTORA E NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO
DOS RÉUS. (TJSC, Apelação n. 0005598-86.2008.8.24.0073, de Timbó, rel. Des. Rubens Schulz, j. 14-06-2016).

E ainda:
RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. CULPA DO RÉU DEMONSTRADA. RESPONSABILIDADE CIVIL
SOLIDÁRIA DO PROPRIETÁRIO DO VEÍCULO. DANO MORAL. DANO ESTÉTICO. LUCRO CESSANTE. PENSÃO MENSAL
VITALÍCIA. RECURSOS PARCIALMENTE PROVIDOS. 01. Comprovado que o réu deu causa ao acidente de trânsito,
cumpre-lhe reparar o dano moral e os danos materiais dele decorrentes (CC, arts. 186 e 927). 02. Caracteriza dano
estético "qualquer modificação duradoura ou permanente na aparência externa de uma pessoa, modificação
esta que lhe acarreta um enfeiamento e lhe causa humilhações e desgostos, dando origem, portanto, a uma dor
moral. Assim, toda essa situação terá de causar na vítima humilhações, tristezas, desgostos, constrangimentos,
isto é, a pessoa deverá se sentir diferente do que era - menos feliz. Há, então, um sofrimento moral tendo como
causa uma ofensa à integridade física e este é o ponto principal do conceito de dano estético" (Teresa Ancona
Lopes). Para o reconhecimento do dano estético, devem ser sopesados a extensão e a localização (visibilidade) da
deformidade, bem como o sexo, a idade, a atividade profissional, o ambiente social da pessoa lesionada, e, se for
possível concretamente aferi-la, também a intensidade do abalo psicológico. Todavia, se o autor sofreu outras
lesões físicas que geraram incapacidade laborativa, ainda que temporária, há dano moral que deve ser
pecuniariamente compensado. (TJSC, Apelação n. 0501938-11.2012.8.24.0033, de Itajaí, rel. Des. Newton Trisotto,
j. 14-04-2016). (grifou-se)

Ressalta-se ainda que é plenamente lícita a cumulaçã o das indenizaçõ es de dano estético e
dano moral, como bem demonstra a Sú mula 387 do Superior Tribunal de Justiça.
Por conseguinte, sã o incontestes os danos estéticos sofridos, já amplamente aqui debatidos
e demonstrados. Assim, partindo-se da premissa dos casos aná logos e das recentes
decisõ es, o Réu deverá ser condenado no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil reais),
acrescido de juros e correçã o monetá ria, a título de indenizaçã o, pelos danos estéticos
sofridos em decorrência do ataque sofrido pelo cachorro de propriedade do Réu.
II.3 – Dos danos materiais
O dano material ou também conhecido como dano patrimonial é aquele que compreende
todos os bens e direitos, substanciando-se na expressã o “conjunto das relaçõ es jurídicas”,
abrangendo nesse sentido nã o apenas as coisas corpó reas, mas de outra banda inclui
necessariamente as coisas incorpó reas, como bem leciona Sérgio Cavalieri Filho, em sua
doutrina Programa de Responsabilidade Civil. 9ª ed. Sã o Paulo: Atlas, 2010.
Portanto, todos os gastos com remédios, consultas, exames e demais procedimentos
deverã o ser arcados pelo Réu, visto que deu causa ao ocorrido. Assim, listam-se abaixo
todas as despesas custeadas pela Autora até o presente momento, senã o vejamos:
(relacionar despesas, tais como: consultas médicas, remédios, exames...)
Portanto, tem-se que desde o dia do acidente, qual seja, dia 10 de abril de 2016, até metade
do mês de julho, a Autora totalizou seus gastos com remédios, consultas e exames em R$
1.591,11 (um mil, quinhentos e noventa e um reais e onze centavos), devendo este valor ser
arcado pelo Réu.
Ademais, também devem ser suportados pelo Réu os danos futuros ainda nã o
quantificados, nos termos do artigo 946 do Có digo Civil, a serem apurados em fase de
liquidaçã o de sentença, devendo ocorrer nos mesmos autos, mediante a comprovaçã o de
novos gastos advindos, conforme orientaçã o jurisprudencial:
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS E
MATERIAIS. ATAQUE DE ANIMAL. - PROCEDÊNCIA NA ORIGEM. RECURSO DA RÉ. (1) RESPONSABILIDADE CIVIL.
DANOS CAUSADOS POR ANIMAL. GUARDIÃO. PREVISÃO LEGAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. - A
responsabilidade civil do guardião pelos danos causados por animal é de ordem objetiva, sendo apenas afastável se
comprovadas as excludentes da culpa exclusiva da vítima ou da força maior, por previsão legal expressa do art. 936
do Código Civil. (2) DANOS MATERIAIS. REALIZAÇÃO DE CIRURGIAS FUTURAS. CONDENAÇÃO. QUANTIFICAÇÃO.
LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. POSSIBILIDADE. - Os danos passados, atuais e futuros decorrentes de lesão ou
ofensa à saúde, bem maior do ser humano resguardado em solo constitucional, devem ser, na extensão
comprovada, plenamente indenizados, à luz da previsão legal expressa do art. 949 do Código Civil e da regra
constitucional da justa indenização, sendo que os danos futuros ainda não quantificados, apesar de
inegavelmente indenizáveis, devem ter sua quantificação relegada, nos termos do art. 946 do Código Civil, para
a fase de liquidação de sentença, em que ocorrerá, nos mesmos autos, mediante prova dos danos novos
ocorridos, comumente na modalidade de liquidação por artigos, a determinação do valor devido, sem a
necessidade de propositura de nova ação judicial. [...] SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (TJSC,
Apelação Cível n. 2014.078500-8, de Camboriú, rel. Des. Henry Petry Junior, j. 26-03-2015).

Destarte, a Autora deverá ser indenizada pelos danos materiais sofridos, como gastos com
remédios, consultas e exames no importe de R$ 1.591,11 (um mil, quinhentos e noventa e
um reais e onze centavos), além dos danos futuros ainda nã o quantificados, a serem
apurados em fase de liquidaçã o de sentença e devidamente comprovados nos autos.
III – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS
Ante todo o exposto, requer-se:
a) O recebimento da presente açã o, bem como os documentos que seguem anexos;
b) A total procedência da açã o, a fim de condenar o Réu ao pagamento de R$ 5.000,00
(cinco mil reais), a título de indenizaçã o por danos morais, bem como a quantia de R$
5.000,00 (cinco mil reais) pelos danos estéticos sofridos e, ainda, o valor de R$ 1.591,11
(um mil, quinhentos e noventa e um reais e onze centavos), a título de danos materiais,
além dos danos futuros ainda nã o quantificados, a serem apurados em fase de liquidaçã o de
sentença, todos acrescidos de juros e correçã o monetá ria desde o evento danoso,
totalizando, assim montante de R$ 11.591,11 (onze mil, quinhentos e noventa e um
reais e onze centavos);
c) A citaçã o do Réu para, querendo, responder no prazo previsto em lei, sob pena de serem
tidos por verdadeiros todos os fatos aqui alegados, conforme artigo 344 do Có digo de
Processo Civil;
d) Tendo em vista a natureza do direito e demonstrando espírito conciliador, a par das
inú meras tentativas de resolver extrajudicialmente a questã o, a Autora desde já , nos
termos dos artigos 319, VII, e 334 do CPC, manifesta interesse em autocomposiçã o e requer
a designaçã o de audiência de conciliaçã o;
e) Sejam deferidos os benefícios da assistência judiciá ria gratuita, em razã o da Autora nã o
poder demandar em juízo sem prejuízo de seu pró prio sustento, conforme demonstra a
declaraçã o anexa;
f) A condenaçã o do Réu ao pagamento das custas processuais e honorá rios advocatícios de
sucumbência, nos termos do art. 82, § 2º e 85 do Có digo de Processo Civil.
g) Protesta-se pela produçã o de todos os meios de prova em direito admitidos,
especialmente o depoimento pessoal do Réu, oitiva de testemunhas, juntada de
documentos, entre outras, se necessá rio for.
Dá -se à causa o valor de R$ 11.591,11 (onze mil, quinhentos e noventa e um reais e onze
centavos).
Nestes termos, pede e espera deferimento.
Loca, data.
OAB/...

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