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Universidade Federal de Pelotas

Instituto das Ciências Humanas


Departamento de História
História da América II – 10900031 – T1
Prof. Edgar Ávila Gandra

Maria Lucia Jacque Andere de Mello1

AVALIAÇÃO 01

Construa um texto dissertativo a partir das questões abaixo.

a) Explique o processo de independência da América- Latina


b) Discuta a construção do estado- nação na América Latina

A América Latina, composta por diversos países de colonizações diferentes – como


Portugal, Espanha, Holanda e França – passou por uma onda de independências, algumas
mais pacíficas que outras, mas todas com aspectos ímpares. Diferentemente do processo de
independência dos Estados Unidos, que já possuíam uma ideia de identidade e
pertencimento, na América Latina primeiro deu-se a formação do Estado para depois a
formação de uma identidade nacional, salvo algumas exceções como o Brasil – que teve
seu processo de independência mais tranquilo e a identidade já estava pré-estabelecida.
Analisando um panorama de comparação, o sentimento de nação e identidade na
Europa é o coração que bombeia relações sociais dentro dos países, já nos Estados Unidos,
a ideia de nação e identidade foi construída juntamente com o Estado, com o Destino
Manifesto e a repetida retórica de “América para americanos”, foi desenvolvido o
sentimento ufanista que permeia a sociedade estadunidense até a atualidade. Na América
Latina o processo foi completamente diferente, o único ponto de intersecção entre os países
era a Metrópole, os vice-reinados da América Espanhola compartilhavam apenas a relação
colonialista com o mesmo país.
Os dezenove países da América Espanhola passaram por um complexo processo de
construção de sociedades muito heterogêneas, não existia algo que os unia exceto o fato de
terem sido colonizados pela Espanha. Portanto, é perceptível o nascimento desses países a
partir de acordos – nem sempre pacíficos – sendo a “nação” resultado de um “pacto” entre

1
Graduanda do curso de bacharelado em História, na Universidade Federal de Pelotas. Matrícula: 20101052.
os povos, pois não tinham entre si uma identidade política e social concreta. Soma-se a isto
o fato de não existir relações de comunidade, mas sim de mandonismos locais. A nação da
América Espanhola não tem uma origem cultural, mas essencialmente política.
As elites, conhecidas como criollos, mantinham ferramentas político-sociais
simbólicas da coroa espanhola, na tentativa de manter uma unidade, visto que o governo
destes países estava nas mãos destas elites locais. A Europa vivia as Guerras Napoleônicas,
e um dos estopins para iniciarem as independências na América foi a deposição de
Fernando VII da Espanha em 1808 por Napoleão. Seu irmão, José Bonaparte, fora
escolhido para assumir o trono e não dialogava tão bem com os criollos quanto o antigo
monarca, a reação imediata foi a instauração das Juntas Governamentais nas colônias,
grupos de caráter separatista lideradas pelos criollos descontentes. (GUERRA, 2014)
Iniciam-se revoltas internas nos países, que estavam fragmentados e não possuíam uma
unificação entre os grupos de poder. Eram estes mesmos grupos – homens que se
encaixavam na minoria – que estavam à frente da independência. Assim como afirmado por
Maria Elisa Mäder,
“apesar das dificuldades de comunicação e das imensas distâncias físicas, esta
sincronização revelava não só ecos dos acontecimentos externos, mas também o
surgimento no interior da elite colonial de diversos, e muitas vezes contraditórios,
posicionamentos e projetos políticos que visavam responder aos desafios
impostos por este contexto político.” (MÄDER, 2008, p. 226).
Pode-se afirmar que primeiro existiu o país, para depois formular uma nação. Além
disso, a ideia de país só se aplicava a minoria, esse sentimento de pertença e identificação
como cidadão membro daquela nação era um direito de poucos. Em consonância com
Wasserman (1996), “para a elite “crioulla” as ideias de independência tinham um caráter
pré-nacional, a ideia de nação não tinha o maior significado para a grande maioria da
população (...)” (WASSERMAN, 1996, p. 181). A característica social de todo esse
processo é a segregação – muitas pessoas ficaram às margens do processo de criação de
identidade nacional e, estas marcas seguem até os dias de hoje. A América Espanhola
desenvolveu laços de pertencimentos com a Europa – a elite se sentia europeia, mantendo
tradições e modos de vida semelhantes aos europeus, algo que reverbera até hoje.
Como forma de legitimação, os novos nacionalistas se agarraram na ideia de
desenraizamento da cultura relacionada com a Espanha e enraizamento nos povos
originários – Incas, Astecas e Maias –, a construção da identidade nacional dos países
recém-nascidos gira em torno dessa constante procura de pertencimento da terra, visto que
os criollos não querem mais ser identificados como descendentes dos espanhóis, mas sim
dos povos autóctones. A história é reinventada e ressignificada, neste caso, o Estado criou a
nação e buscou construir os cidadãos, procuravam a todo custo argumentos que legitimasse
seu pertencimento àquela terra. Portanto, conclui-se que o processo de independência da
América Latina é complexo, multifacetado, único e repleto de jogos de poder.

Referências Bibliográficas:
GUERRA, François-Xavier. A nação na América espanhola: a questão das origens.
Revista Maracanan, n. 1, v. 1, dez, 2014, p. 9-30.
MÄDER, MADER, Maria Noronha de Sá. Revoluções de Independência na
América Hispânica: uma reflexão historiográfica. Revista de História, n. 159, 2008, p.
225-241.
WASSERMAN, Cláudia. História da América Latina: Cinco Séculos. Porto
Alegre: Ed. Da Universidade/URGS, 1996.

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