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741-Texto Do Artigo-1463-1-10-20151014
741-Texto Do Artigo-1463-1-10-20151014
1. Introdução 2 A Jurisdição do Tribunal de Contas da União 3. O Instituto da Coisa Julgada 4. As Decisões do TCU e a Coisa
E
Julgada 5. Algumas Decisões do TCU Desfavorecedoras da Coisa Julgada 6. Um Possível Caminho Processual 7. Conclusão 8.
Referência Bibliográfica
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Aliás, desde a época do eminente Ministro do STF Victor Nunes
Leal, para não dizer antes, a discussão permanece acirrada sobre a
possibilidade ou não de revisão das decisões do TCU pelo Judiciário.
A própria Constituição de 1988 ajuda a esquentar o debate, ao dis-
por que o Tribunal de Contas julga as contas (CF, artigo 71, II), pois
presume-se que julgar é mais do que simplesmente apreciar, emitir
parecer. Mas prossigamos.
A
Tem ela suporte constitucional:
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A Art. 71. O controle externo, a cargo do
Congresso Nacional, será exercido com o au-
xílio do Tribunal de Contas da União, ao qual
compete:
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Treze anos antes, ou seja, em 1969, o Supremo Decisão 303/1998 da Primeira Câmara, processo
Tribunal Federal, ao julgar a Reclamação 733-GB, en- TC-017.346/1994-0.
tendeu que emenda constitucional pode efetivamente
sobrepor-se a uma coisa julgada, como se vê em tre- Decisão 811/1998 do Plenário, processo TC-
cho do Voto do Exmº Relator Ministro Adaucto Car- 275.084/1993-0.
doso, verbis:
Decisão 552/1999 do Plenário, processo TC-
Nem se pode alegar, como faz o recla- 004.215/1999-0.
mante, que estariam ele e os beneficiários do
acórdão proferido no RE 43.941, de 13.1.61, Decisão 855/1999 do Plenário, processo TC-
permanentemente libertos da obrigação de 004.215/1999-0.
pagar imposto de renda por força da coisa
julgada. Não resta dúvida de que assim foi Acórdão 216/2001 da Segunda Câmara, processo
até o advento da E.C. 9. Esta lhes alterou po- TC-600.184/1998-6.
rém o status anterior, que constituíra o ali-
cerce do julgado. Depois dela, tudo se tem de Decisão 618/1998 do Plenário, processo TC-
considerar ex novo, à luz de outro contexto 008.950/1996-2.
jurídico constitucional. (In RTJ 50/416).
Decisão 69/2000 da Segunda Câmara, processo
Estabelecido que a eficácia da coisa julgada TC-275.024/1991-1.
pode ser abalada por alteração legislativa, vem a per-
gunta: e o Tribunal de Contas da União, pode também Decisão 86/1999 do Plenário, processo TC-
contrariá-la? Entende ele que sim, em alguns casos. 800.100/1997-2.
Caberá à Suprema Corte, intérprete da Constituição,
dar a última palavra. Decisão 140/1999 da Primeira Câmara, processo
TC-006.200/1999-0.
5. ALGUMAS DECISÕES DO TCU
DESFAVORECEDORAS DA COISA JULGADA Decisão 2078/1999 da Segunda Câmara, proces-
so TC-003.179/1997-4.
Apenas a título exemplificativo, eis algumas
decisões do Tribunal de Contas que não levam em Decisão 243/1999 da Primeira Câmara, processo
conta a formação da coisa julgada anterior, pelo en- TC-006.200/1999-0.
tendimento de que tem ele que exercer nesses casos
sua competência integral: 6. UM POSSÍVEL CAMINHO PROCESSUAL
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Contudo, utilizando ensinamento de Coqueijo Costa, podemos
dizer, por extensão, que qualquer sentença que abranja uma coletividade
(faz ele referência expressa à sentença coletiva, no âmbito do processo
do trabalho) é uma norma jurídica, ou, dito de forma mais específica, as
decisões do TCU que repercutam numa coletividade, como, por exem-
plo, todos os servidores de determinado órgão, são atos normativos fe-
derais. Cabe então transcrever o seguinte trecho desse ilustre professor:
..........
O certo é que algo
precisa ser feito, para § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo
Supremo Tribunal Federal, nas ações declaratórias de
que o erário não sofra constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, produzi-
apoucamento rão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos
imerecido função do demais órgãos do Poder Judiciário e ao Poder Executivo. (Cons-
tituição Federal).
TCU e ao mesmo
tempo todos possam Assim, entendendo o Tribunal de Contas da União que determina-
exercer a ampla defesa do tema pode prestar-se a ocasionar prejuízo ao erário se não for logo
direito sacratíssimo, definida e decidida sua adequação à Constituição, bastará que solicite à
Mesa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal o ajuizamento
um dos sustentáculos junto ao Supremo Tribunal Federal de ADC, em relação à sua decisão,
do Estado Democrático por tratar-se de atividade de controle externo carente de definição acerca
de Direito. de sua constitucionalidade.
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7. CONCLUSÃO contrar solução que atenda por um contribuir para a manuten-
tempo aos reclamos de ambos. ção do Estado, espanca-se o
Observa-se com relativa facili- valor psicossocial da justiça,
dade a enorme importância desse Por que não adotar-se a mes- tudo em louvor à coisa
tema. De um lado, a incontestável ne- ma direção no trato da coisa pública julgada. (ob. cit., p. 29).
cessidade de respeito à coisa julgada, em circunstâncias bem definidas de
instituto importantíssimo na preser- índole continuada, com toda cautela A aplicação tranqüila, estável,
vação da paz social e proteção dos que o caso requer? Assim, nesse pas- da prevalência da decisão do TCU
direitos individuais. Entretanto, de so, poder-se-ia reconhecer a compe- sobre a coisa julgada (somente em
outra parte, parece não fazer sentido tência do Tribunal de Contas da União certos casos, naturalmente) exige
que a sociedade possa aceitar a per- para dizer do direito nas matérias fulcro legal com visibilidade bem
petuação de situações iníquas que atinentes ao controle externo, mesmo clara, para que as decisões
minem o interesse público, que tenha havido, em algumas situa- prolatadas pelo TCU não venham a
malferindo o princípio da razoabilida- ções, o perfazimento da coisa julgada. embaraçar-se na tortuosa via das
de e a mens legis dos normativos vi- Isso em respeito ao desejo coletivo intermináveis controvérsias, com
gentes. Que possuam, por exemplo, de impedir-se ocorrência de situação risco de dano maior ao erário de-
o maléfico poder de, mês após mês, absurda no uso do dinheiro público, corrente de possíveis multas que
apequenar sem a necessária justifica- como por exemplo no caso da per- poderão ser impostas aos órgãos
tiva o erário, que é, afinal de contas, cepção sem termo definido de remu- que obedecerem a determinação
de todos. Como conciliar essas duas nerações completamente diferentes do TCU de não pagar eventuais ver-
vertentes, ambas merecedoras de toda por dois servidores que detenham bas agasalhadas pelo manto da coi-
consideração? mesmíssima situação funcional, sim- sa julgada. Nesse pensar, diante da
plesmente porque um obteve deci- competência para dar a interpreta-
Abre-se ensanchas, então, a um são transitada em julgado de algum ção final da Carta Política (CF, artigo
paralelo entre a matéria ora agitada plano econômico e o outro não. E é o 102, caput), e da lacuna na lei a res-
e uma decisão judicial proferida em já citado doutrinador José Augusto peito da extensão da res judicata,
ação de alimentos que, como se sabe, Delgado que diz: parece razoável que as decisões da
não forma coisa julgada. E por que o Corte de Contas com caráter
legislador assim dispôs? Simplesmen- (...) Casos há, e não normativo sejam submetidas de ime-
te pela força do bom senso à luz da são poucos, onde servidores diato ao julgamento do Supremo Tri-
justiça... Sim, pois se a composição da mesma repartição e no bunal Federal, mediante ações
entre a necessidade do alimentando exercício dos mesmos cargos declaratórias de constitucionalidade,
e a possibilidade do requerido de e funções recebem remunera- para que ele possa pronunciar-se
prover as verbas alimentícias sofrer ções diferentes, justo porque sobre o correto entendimento dos
variação, é justo que ocorra uma re- uns venceram e outros perde- limites da coisa julgada, caso a caso.
visão do valor fixado para a pensão, ram suas demandas. Nestes
pois não seria aceitável que alguma casos, olvida-se o princípio O certo é que algo precisa
das partes viesse a sofrer escassez de constitucional da isonomia, ser feito, para que o erário não so-
recursos em função de decisão judi- maltrata-se a regra magna da fra apoucamento imerecido fun-
cial anterior, exarada num momento prevalência do interesse públi- ção do TCU e ao mesmo tempo
diferente do posteriormente vivido co sobre o privado, aniquila- todos possam exercer a ampla de-
por eles. O objetivo, nesse caso, não se o princípio do Direito fesa direito sacratíssimo, um dos
é portanto o de garantir para sem- Administrativo de que todos sustentáculos do Estado Democrá-
pre algum direito, mas sim o de en- devem, na mesma medida, tico de Direito.
§
8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
DELGADO, José Augusto. Pontos polêmicos das ações de indenização de áreas naturais protegidas: efeitos
da coisa julgada e os princípios constitucionais. In Revista do processo, S. Paulo, RT, nº 103, a. 26,
jul/set/2001, pp. 9/36.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. S. Paulo, RT, 15. ed., 1990.
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