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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – Instituto de Economia

Disciplina HO-335 – Desenvolvimento Econômico - 2º semestre – 2012


Professor: Wilson Cano
Aluna: Ana Paula Pegoraro RA:120309

Resenha de: Cano, W. A Desindustrialização no Brasil. 2012. Revista Economia e Sociedade, no. especial 2012
(no prelo)

A DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL
W.CANO
A industrialização atingida nas décadas anteriores se deteriorou face à ausência de políticas industriais e de
desenvolvimento e da conjugação de juros elevados, falta de investimento, câmbio sobrevalorizado e exagerada
abertura comercial, comprometeu o desenvolvimento, lembrando que o subdesenvolvimento representa um
processo do qual o Brasil ainda não se libertou, que se iniciou com a inserção no mercado internacional
capitalista no século XIX.
Não há, na história, nenhum país que se desenvolveu prescindindo de uma generalizada industrialização e
de um forte e ativo papel de seu Estado Nacional.
Conceito de desenvolvimento e subdesenvolvimento e papel da industrialização em tais processos
Desenvolvimento é o resultado de um longo processo de crescimento econômico, com aumento da produtividade
média, para que o excedente cresça suficientemente para acelerar a taxa de investimento e diversificar a estrutura
produtiva e do emprego. Esse processo intensifica a industrialização e a urbanização e transforma as estruturas
sociais e políticas do país, os hábitos e costumes da sociedade. Eleva-se a renda per capita e diminui-se a
participação do setor agrícola no PIB e no emprego (a menos de 10%) por conta do aumento dos setores de
indústria e serviços. No entanto, a diminuição é apenas relativa, já que o crescimento dos demais setores e da
urbanização obriga a agricultura a crescer, diversificar e modernizar, promovendo maior homogeneidade
econômica e social. Mas para que a modernização agrícola ocorra1 a industrialização deve avançar mais que os
outros setores, elevando sua produtividade e diversificando sua estrutura, implantando os setores de bens de
capital e intermediários, contribuindo para a diversificação da pauta exportadora. Quando atinge sua maturidade,
a indústria de transformação intensifica a urbanização, induzindo crescimento e diversificação de serviços, altera
a estrutura produtiva e a estrutura de emprego no sentido dos serviços diminuindo o peso relativo da própria
indústria de transformação. Esse é o sentido de desindustrialização num sentido positivo e normal.
Subdesenvolvimento não representa uma etapa do desenvolvimento. É um processo que se inicia com nossa
inserção no mercado internacional capitalista no século XIX, a partir do qual advêm as relações capitalistas de
produção embora sem que evoluam as antigas e predominantes relações pré-capitalistas, que passam a conviver
de maneira que a dinâmica da acumulação seja incapaz de promover a homogeneização econômica e social,
mantendo a heterogeneidade estrutural, a debilidade das contas externas, do financiamento de LP, da fiscalidade
e da inflação.
Embora o Brasil tenha conseguido avançar até os anos 80 na montagem do setor de bens de capital, tendo o
produto da indústria de transformação atingido 33% do PIB, com os efeitos da crise da dívida (anos 80) e
políticas neoliberais (anos 90), essa participação cai cerca de 18% nos dias de hoje.
Causas:
(i) As reformas liberalizantes e a política de estabilização, o câmbio sobrevalorizado cumpre o papel de
âncora dos preços, somado à prática de juros reais altos e política fiscal que produz parte do
pagamento dos juros da dívida pública, resultaram na perda de competitividade internacional da
indústria nacional.
(ii) A abertura comercial com a queda das tarifas e demais mecanismos protecionistas da indústria
nacional, resultaram na redução da proteção perante a concorrência internacional.
(iii) A taxa de juros elevada frente a taxa de lucro da economia industrial moderna que é relativamente
contida, leva a que o empresário nacional só invista em última instância, do contrário, quebra e fecha.
O investimento é fortemente inibido, a indústria torna-se obsoleta, não cresce e tem dificuldade de
incorporar progresso técnico. Perde produtividade, oportunidades e competitividade.

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Evitando que fique dependente de importações de insumos modernos e bens de capital
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Disciplina HO-335 – Desenvolvimento Econômico - 2º semestre – 2012
Professor: Wilson Cano
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(iv) O IDE, embora cresça em números absolutos, em seu volume e em sua participação no PIB, é voltado
para o investimento em carteira e títulos, predominando o caráter especulativo. A participação da
indústria de transformação no IDE cai de 75% em 1980 para cerca de 30 – 40% a partir de 2001. O
mesmo ocorre com o investimento interno que passa a concentrar-se no setor financeiro, imobiliário,
construção, agropecuária e mineração. Isso porque a produtividade e competitividade caíram e porque
ao mesmo tempo houve a guinada do fluxo de IDE para a China, em busca de trabalho barato, câmbio
desvalorizado e alta competitividade. Como conseqüências, temos a perda de competitividade de
nossas exportações industriais, o deslocamento de parte de nossas exportações (ex: EUA) pelos
produtos da China; o aumento de importação desses produtos, afetando as cadeias produtivas da
indústria brasileira, tudo isso junto refletindo nos investimentos produtivos;
(v) Com a desaceleração da economia mundial, todas as economias desenvolvidas mais a China estão
desenvolvendo políticas agressivas no mercado internacional, desejosos de exportar seus produtos
industriais

Conseqüências:
Após 2003, a taxa do crescimento do PIB sobe, permitindo um avanço maior na renda e no emprego,
expandindo a demanda sobre o consumo e o investimento, graças ao crescimento do consumo familiar,
estimulado pelo aumento do crédito ao consumidor, pela elevação do salário mínimo real e outras políticas
sociais; à expansão do setor exportador, decorrente do boom internacional entre 2004-2008, com forte
elevação dos preços de matérias-primas e da demanda física, principalmente gerada pela economia chinesa; e
à expansão do financiamento público ao investimento. Mesmo recuperando parte do terreno perdido, a taxa
de investimento não recupera o necessário nível, sendo a indústria de transformação aquela que obtém os
piores resultados de nosso PIB. Além do investimento muito baixo ser agravado pela crise de 2008, verifica-
se também que o Brasil perde terreno na produção industrial mundial.
(i) Valor da transformação industrial/valor da produção industrial

Paradoxalmente à queda sofrida por essa relação, assiste-se a um melhor desempenho de setores mais
oligopolizados, com alto poder de fixação de mark-ups, notadamente o automobilístico e de
eletrodomésticos, beneficiados pelas políticas anticíclicas do governo, com reduções de impostos e concessão
de crédito público subsidiado e setores que se beneficiaram dos preços internacionais de seus produtos
exportáveis que caíram menos que os demais, notadamente os derivados de petróleo e combustíveis e
produtos químicos.
(ii) Estrutura produtiva da indústria de transformação segundo critério de uso dos bens

Exclui a indústria extrativa mineral. Setor de BCND,volta a ter participação crescente; setor de BI, com forte
presença exportadora, volta a crescer. Já o setor de BCD + BK, que teve as maiores taxas de crescimento
entre 1939-1980, possui trajetória decrescente, mostrando tendência regressiva. Retirando desse setor itens
que predominantemente se destinam mais ao consumo do que ao investimento produtivo, deixando-o mais
próximo ao de BK, a regressão se mostra mais transparente.
(iii) Nova inserção comercial externa

Após os sucessivos déficits comerciais da década de 1990, só revertidos após a crise cambial de 1999, graças
à expansão das exportações de primários, obtivemos superávits. Contudo, a expansão das importações de
produtos industriais, reduziria a média dos superávits pós-2008. Embora tanto os coeficientes de exportação
(CX) quanto os de importação (CM) tenham crescido com a abertura industrial, os CM (principalmente
material elétrico, equipamentos eletrônicos, farmácia e perfumaria) superaram os CX.
Analisando o resultado líquido do comércio de produtos da indústria de transformação, como o investimento
caiu nessa indústria, os setores de alta tecnologia estão pesadamente representados nesse número, constituem
mais da metade do déficit, que só não foi maior graças à expansão das X de produtos de baixa tecnologia
(têxtil e calçado). Mas até mesmo nesse setor, tradicionalmente superavitários, tiveram déficit.
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(iv) Negócios com a China

Embora o crescimento da economia chinesa tenha expandido a demanda externa, sua nova DIT, sua elevada
produtividade e câmbio desvalorizado fizeram com que suas relações comerciais com a AL passassem a ter a
forma de relação centro-periferia, com a pauta X da AL constituída de produtos primários e a M de
manufaturados), ao contrário da estrutura comercial que pratica com o resto da Ásia, EU e EUA. A regressão
é mais grave quando se analisam os setores por intensidade tecnológica, pois aí a participação brasileira cai
em todas as categorias, mesmo se comparando com os outros países da AL.
(v) Reprimarização da pauta exportadora

Constituída de produtos básicos, semi-industrializados e manufaturados, sendo que esses últimos caem de
60% em 2000 para 36,7% em 2011.
(vi) Estrutura da pauta importadora

BCND multiplica-se por 4,7 e as de BCD por 9,6. Graças ao dólar barato e à abertura comercial, a avalanche
de M, notadamente de BI, vem quebrando ou debilitando elos de várias cadeias produtivas, eliminado
empresas e linhas produtivas de várias empresas, fenômeno inibitório do investimento inovador ou dos que
complementam cadeias produtivas.
O difícil é criar ou recriar tais empresas e respectivas lideranças.
(vii) Balanço de pagamentos

Balanço de serviços (BS): o câmbio barato estimula os gastos de vários tipos de serviço;
Balanço de rendas (BR): o câmbio barato e a baixa oportunidade de investimentos geram efeitos ainda piores
na conta de rendas fazendo com que diminuam os reinvestimentos e aumentem as remessas de lucros e
dividendos
Balança comercial (BC):
Para fechar o buraco do BTC (BS+BR+BC), a política macroeconômica mantém a economia desregulada e
os juros reais em nível elevado, com o objetivo de atrair capitais externos, os quais com os juros altos, entram
em maior quantidade do que necessitamos. Daí o acúmulo de reservas eminentemente financeiro, mais
facilemente mobilizáveis e passíveis de fuga mais rápida.
Daí que a vulnerabilidade externa não tenha acabado, mas aumentado. É claro que as reservas são
estratégicas, mas não são suficientes para evitar ou sair de uma crise internacional que cause grande
fuga de capitais.
As reservas internacionais, por estarem aplicadas basicamente em títulos do governo norte-americano, cuja
taxa de juros é próxima a zero, obriga o governo, para acumulá-las, a emitir títulos da dívida pública a juros
elevado, cujos pagamentos equivalem hoje a cerca de 5% do PIB, correspondendo a uma grande sangria de
receita e do gasto público.
O desestímulo ao investimento interno e o dólar barato incentivam fortemente a saída de capitais brasileiros,
criando empregos no exterior. O mais paradoxal é que para isso boa parte desses investimentos tem sido
financiada por recursos públicos subsidiados pelo BNDES.
Estamos financiando investimentos no exterior enquanto é aqui que deveríamos criar empregos,
modernizar a indústria, erradicar o analfabetismo e a fome, acabar com os buracos nas estradas,
promover política habitacional para os pobres e acabar com as endemias rurais.
Conclusões:
Não há como ser liberal numa depressão. É preciso ser interventor com a coisa pública.
A consolidação da empresa nacional é um investimento caro e muito importante.
Para que empresas saiam vitoriosas no cenário internacional deve haver políticas de Estado voltadas
para sua consolidação e fortalecimento, protecionistas, direcionadas para a industrialização,
financiadoras da atividade industrial. Para isso deve haver um Estado Nacional para conduzir o
processo.
Uma nova política industrial, setorial, regional, agrícola, de comércio exterior, somente será bem
sucedida se a política macroeconômica lhe der a necessária sustentação política e econômica. De outro
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – Instituto de Economia
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modo, com a taxa de juros em vigor, com a atual política cambial, com o grau de abertura da economia
e da conta de capital do balanço de pagamentos, não há política industrial que possa reverter o quadro.
Desde o final dos anos 70, processo cumulativo e nefasto, que não apenas destruiu instituições de
desenvolvimento, mas que debilitou o próprio Estado além de desvirtuar o caminho do empresariado
produtivo e progressita.
O Brasil entrou na globalização, assinou tratados e assumiu compromissos internacionais que não
devia ter assumido. A China, Índia e Rússia não abriram sua conta de capitais, mantendo o controle
sobre a entrada e saída de capital internacional e nacional, remessas de lucros, fluxos de investimento,
mantendo um grau avançado de soberania no manejo de sua política cambial, fiscal e monetária, o que
não temos.
Estado adotar e tentar fazer cumprir certas metas e objetivos econômicos. Programa Nacional de
Desenvolvimento que tenha uma estratégia específica de exportações e uma priorização setorializada e
regionalizada de infr-estrutura e de alta tecnologia.

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