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A IMPORTÂNCIA DO EXERCÍCIO DA AUTORIDADE DO GESTOR NA IMPLEMENTAÇÃO

DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS NO COTIDIANO ESCOLAR.

EDVANIA CRISTINA CIPRIANO


AUTORIDADE X AUTORITARISMO

O termo autoritarismo, segundo o minidicionario Gama Kury da língua portuguesa, significa


“caráter ou sistema autoritário”. Este termo também está ligado à práticas antidemocráticas e anti-
sociais e estas permeiam sutilmente a gestão das escolas públicas. Por causa deste fato não seria
demais afirmar que a gestão na estância pública, durante muito tempo, e até mesmo nos dias atuais,
tem traços marcantes do autoritarismo. Um bom exemplo disso se concretiza quando encontramos o
poder centralizado somente nas mãos dos gestores em muitas de nossas escolas.
Sabemos que a tarefa de administrar não é fácil e dentro de um pensamento autoritário ela se
torna mais árdua, demonstrando que ainda vivemos em uma sociedade marcada pela fragilidade, pelo
medo, pela falta de liberdade de expressão, acabando por ceder lugar às ideologias (ASSIS, 2007).
Nesse sentido, vemos que a gestão educacional está voltada à ações reprodutoras de uma sociedade
alienada e passiva, ditando regras e não promovendo uma relação dialógica entre os sujeitos
participantes desse processo educacional.
Dentro deste modelo de gestão autoritária a participação, na maioria das vezes, é limitada,
controlada por quem detém o poder, instalando-se de forma velada a autoridade (como prática não-
social / sem visão critica) e o poder, com obediência numa forma de administrar que repudia a
participação, o compartilhar de idéias, a liberdade para expressar-se, a deliberação de decisões e o
respeito às iniciativas do coletivo da escola (ASSIS, 2007). Como foi dito anteriormente, a gestão
controladora e autoritária é muito freqüente nas nossas escolas que se configura pelo controle rígido,
pelo descompromisso e pela pouca participação da equipe e comunidade escolar no processo de gestão
da escola. O uso da autoridade no gerenciamento da escola deve ir de encontro a um modelo
horizontal, privilegiando assim, a relação entre os sujeitos, mediando às discussões, trocas de idéia,
legitimando as ações democráticas.
Contrapondo esse modelo de gestão autoritária, entra em cena a gestão participativa como
forma de gerenciamento da educação que garante a participação da comunidade e da equipe
escolar na tomada de decisões. Dentro desse modelo de gestão que está sendo implantado
dentro de algumas escolas, aparece também o termo autoridade, quando se fala de algumas
características que o gestor precisa ter. Convém lembrar, que o termo autoridade está sendo
usado aqui, no sentido de que aquele que a possui e que está a frente, gerenciando tem o
direito de tomar decisões, onde os demais membros da escola reconhecem essa autoridade,
não como imposição, mas como direito adquirido daquele que está gerindo, sendo convidados
também a participar das tomadas de decisão e dessas ações de uma forma colaborativa e não
de forma imposta ou obrigatória. O envolvimento de todos os sujeitos dentro desse processo
participativo vai além de decretos ou de leis, sendo constituído a partir das relações
estabelecidas entre quem gerencia e os sujeitos do processo. É o que nos diz Sortori e Bona:
O projeto de uma Administração participativa e democrática constitui o
resultado da construção social dos envolvidos em cada comunidade escolar [...] a
participação não se dará por ato jurídico ou decreto, mas através da consciência e da
própria necessidade de participar. O processo pode ser considerado participativo se
tiver como propósito a participação plena e irrestrita de todos os envolvidos. (
Sortori & Bona,1998 )

Há diretores que afirmam promover uma gestão democrática, porém analisando sua
prática, percebemos que estes utilizam a participação da comunidade escolar para apenas
tomar ciência das decisões já tomadas. Tornando a participação no processo como um todo.
Esse tipo de condução do trabalho torna falsa a gestão democrática. Na gestão participativa
todos os elementos sentem-se parte integrante do processo de construção de uma escola de
qualidade, assumindo ao lado do gestor o compromisso e comprometimento de cumprir uma
Proposta Pedagógica que foi construída coletivamente(ASSIS, 2007).

Gestão Democrática e a figura do gestor


Quando falamos em gestão democrática, passamos necessariamente pela figura do diretor
e as competências que precisa ter para promover uma gestão democrática dentro de uma
determinada escola. A nova LDB (9394/96) exige que o gestor deva possuir ou desenvolver
as seguintes competências: pedagógica (que trata das questões curriculares associadas ao
conhecimento da legislação); econômica; política e metodológica. Convém lembrar, que
não é só porque uma lei ou decreto exige que os gestores ou futuros gestores possuam tais
competências que isso vai se efetivar na prática, tão pouco que a realidade educacional será
transformada a partir delas.
O que falta a muitos gestores é a compreensão de que a efetivação ou concretização de
determinadas leis que garantem a participação da comunidade e equipe escolar dependem da
relação que ele estabelece com as mesmas, além da substituição de sua figura autoritária,
garantindo que essas leis sejam efetivadas. Avaliar se são relações de autoridade ou de
autoritarismo. Nesse sentido, Schnecknberg vem nos dizer que:

Uma realidade não é transformada apenas por sua determinação a partir de leis,
decretos ou programas. É importante e necessário que a gestão escolar promova um
clima propício à participação das pessoas, dos professores, dos alunos, dos pais e
dos demais membros da comunidade, no processo de implementação de uma
reforma educacional(2000, 119-120).
A participação democrática nos processos decisórios possibilita uma maior
organização das decisões a respeito da elaboração do currículo, Projeto Político
Pedagógico, Regimento Escolar . Ao analisar a situação federal, a Constituição Federal
de 1988 determinou diversas leis concentradas na institucionalização de mecanismos de
participação, que garantissem a democracia e os direitos individuais, expandindo o
conceito de cidadania e participação. A Constituição Federal de 1988 determinou também
a necessidade de os municípios regulamentarem possibilidades dos exercícios da
democracia direta, indireta e de ações conjuntas.
Em relação a isso, a LDB/96 contempla em seu artigo 14 o seguinte: que “os sistemas
de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino publico na educação básica
de acordo com as suas peculiaridades e conforme as seguintes princípios:
 Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da
escola;
 Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou
equivalentes”.
Dentro da gestão democrática além do gestor os professores também se vêem mais
comprometidos com a formação do ser humano, desta forma é possível desenvolver na escola
um currículo integrado, atualizado e voltado para uma prática que desenvolva uma
aprendizagem mais ativa, investigativa e desafiadora ( PANDOLFO, 2007,14).
Sabemos que o caminho para a efetivação de uma gestão democrática é cheia de
obstáculos. O envolvimento, a participação da comunidade, nas partilhas de decisão sobre a
vida cotidiana da escola não é tão fácil de se conseguir. Assim, o grande desafio do gestor é
articular, compartilhar visões e ações.

O GESTOR E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

A qualidade da educação faz parte das preocupações dos gestores escolares há


décadas sendo objeto de atenção das políticas educacionais contemporâneas como a
Constituição Federal (88) e a LDB (9394/96) . Em seu artigo 61 a LDB 96 deixa bem
claro que: “A formação de profissionais de educação de modo a atender aos objetivos dos
diferentes níveis e modalidades de ensino e as características de cada fase de
desenvolvimento do educando terá como fundamentos:
 Associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço;
 Aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e
outras atividade”.
Podemos dizer que os fundamentos da formação do professor se baseiam na
relação teoria – prática, observando que a qualidade do ensino está diretamente ligada à
formação inicial e continuada desse professor.
Essas políticas enfatizam a missão da escola em criar estratégias que permitem a
formação continuada do professor na perspectiva de promover um ensino de qualidade.
Nesse sentido, os gestores têm a função de acompanhar e avaliar o desempenho do
professor analisando sua repercussão na aprendizagem do aluno a partir da visão de que a
escola é um espaço de práticas pedagógicas voltadas para a promoção de pessoas
(PARENTE, 2007, 23).
Para que essas políticas de qualificação profissional do educador se concretizem faz-se
necessário que os gestores considerem o nível de formação dos docentes, identifiquem a
qualidade de suas práticas profissionais pela observação da prática pedagógica; da
avaliação de projetos; da organização da sala de aula; do domínio das estratégias; da
gestão dos conteúdos; da capacidade de produzir saberes pedagógicos e desenvolver
competências. A formação se propõe a contribuir na capacidade de professor continuar a
aprender com responsabilidade(PARENTE, 2007, 23).

CONCLUSÃO
Com as mudanças que vêm ocorrendo em nossa sociedade podemos dizer que algumas
escolas já caminham com objetivo de promover gestão democrática, buscando uma efetiva
participação de pais, educadores, alunos, funcionários, entidade que participam da
comunidade, na tomada de decisões e que muitos gestores estão preocupados em combinar,
administrar adequadamente recursos disponíveis para atingir um objetivo, buscando
autonomia e qualidade de ensino.
Qualidade de ensino que passa pela formação em serviço do professor, efetivando através
dos Planos de Ensino, programas de formação desses professores, utilizando os espaços de
trabalho pedagógico coletivo para essa implementação. Vale lembrar que o papel do gestor é
de suma importância para que haja a concretização das políticas públicas no cotidiano escolar,
visto que ele é o principal articulador entre as leis criadas e o público a qual elas se destinam
desempenhando um papel importante de formador daqueles que as desconhecem.
REFERÊNCIAS

ASSIS, V.R.O. Projeto: Letramento e cidadania. (Internet, acesso outubro de 2007)

BRASIL, Constituição federal de 1988. Brasília: Governo federal, 2006.

BRASIL, Lei de diretrizes e bases da educação . Lei 9.394-96. Rio de Janeiro,


Esplanada, 1998.

PANDOLFO, S.S. A construção da democracia no universo escolar. In Gestão em


rede. n° 80. Curitiba: Consed, setembro 2007.

PARENTE, F.T. O papel da escola na formação do professor. In Gestão em rede. n° 80.


Curitiba: Consed, setembro 2007.

SCHNECKENBERG, M. A relação entre política pública de reforma educacional e a


gestão do cotidiano escolar. Em Aberto. Brasília, v 17, n° 72, p. 113-124, fev. /jun. 2000.

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