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Liberdade para Os Bebes
Liberdade para Os Bebes
Patrícia Gimael 1
sumário
‘
Introdução 3
Gestação e Nascimento 16
Quando o vínculo falta 17
O papel do adulto e a formação permanente dos formadores 18
Brincar 32
Os principais estágios no brincar livre 33
Os doze sentidos 36
O desenvolvimento motor 39
A introdução alimentar 43
Bibliografia 50
INTRODUÇÃO
Esse material busca apresentar um olhar global sobre o recém-nascido a partir das
descobertas, pesquisas e estudos de Emmi Pikler e da neurociência de maneira geral.
Pois, quando nasce o bebê, ele precisa se adaptar ao mundo em que chegou e o seu cui-
dador também, ambos precisam caminhar juntos nessas descobertas, de modo a cons-
truir uma relação com o máximo de segurança e confiabilidade possível. E para auxiliar
nessa jornada há parâmetros básicos que ajudam a nortear os cuidados e é nessa pers-
pectiva que essa apostila traz esclarecimentos.
Emmi Pikler dizia que “Toda criança é boa e competente”, essa afirmação transmite
o quanto a sua perspectiva é a de ter confiança no natural desenvolvimento infantil e em
cada criança individualmente.
crianças de um bairro operário que subiam em árvores, brincavam e corriam pelas ruas
ras observações, já como pediatra na Clínica Pirquet. Observando estas diferenças, ela
convenceu-se de que a criança que pode mover-se livremente, sem restrições é mais
prudente e aprende melhor como cair sem se machucar, enquanto a criança super-
Casada com um pedagogo progressista húngaro, György Pikler com quem teve sua
primeira filha em 1.931, ela e o marido decidiram não acelerar o desenvolvimento da filha
infância até uma postura mais autônoma, baseada no movimento livre e no brincar inde-
pendente. Seu marido esteve preso por questões políticas de 1936 a 1945, sendo judia,
Emmi Pikler e sua filha só sobreviveram à perseguição aos judeus na Segunda Guerra
Mundial graças à ajuda dos pais de seus pacientes que as esconderam e protegeram.
Após a Segunda Guerra Mundial, a pediatra foi mãe mais duas vezes.
Em 1940, Emmi Pikler publicou um livro chamado “O que sabe fazer o seu bebê?”,
nele ela descreveu o que aprendeu como médica de família acompanhando o desen-
ção para crianças órfãs ou abandonadas pelos pais onde ela confirmou suas ideais so-
motor. Em 1986, o Instituto Lóczy passou a se chamar Instituto Emmi Pikler em homena-
Com isso, observar os bebês é uma importante forma de auxiliá-los nesta transição,
o que vai possibilitar entendê-los nas suas características individuais.
Observar, no entanto, não é algo simples ou fácil. Para que seja possível observar é
necessário um estado de quietude e atenção focada que não acontece quando a mente
O desenvolvimento infantil é muito amplo, há vários aspectos que podem ser obser-
vados. As atitudes durante os cuidados, a vocalização e a palavra, o brincar, o desenvolvi-
mento motor (que pode ser dividido entre a coordenação motora global e a coordenação
motora fina), o controle dos esfíncteres, o ritmo do sono, a dentição, alimentação, o ba-
nho, a saúde física, o relacionamento entre os pares e com os adultos, os humores, etc.
A Abordagem Pikler elegeu cinco áreas de observação da atividade infantil, são elas:
• Desenvolvimento motor;
“Os olhos não bastam para ver. Tem que saber observar, sen-
tir e pensar no lugar da criança, poder entrar no seu mundo,
identificar-se com ele” (Emmi Pikler)
Para Emmi Pikler, o registro promove reflexão, amplia a percepção e possibilita uma
maior presença do educador, o compartilhamento de descobertas, além de ajudar a estabe-
lecer relação entre teoria e prática, uma vez que foi dessa forma que nos deixou o seu legado.
• Não fazer nada com pressa ou afobação, sempre dar o tempo necessário para que
o bebê aproveite a experiência;
Anteriormente vimos os princípios que norteiam a Abordagem Emmi Pikler que pro-
movem o pleno desenvolvimento infantil. Por meio deles é possível identificar quatro
dimensões que ajudam a compreender a forma dinâmica e a relação entre eles.
TERRA
Essa primeira dimensão pode ser identificada pelo elemento terra, pois trata-se de
uma dimensão física, material, representada pelo imóvel, pelas instalações e equipa-
mentos utilizados. Pode ser observada na organização do espaço físico para o banho,
para a alimentação, o brincar e o sono.
O ambiente precisa ser amplo o bastante para que os bebês tenham espaço para
se movimentar livremente desenvolvendo suas capacidades motoras enquanto brincam:
deitar-se de lado, de bruços, rolar, rastejar, engatinhar, sentar-se, ficar de pé e andar.
É preciso que os brinquedos estejam a uma distância acessível para que eles pos-
sam alcançá-los com as suas mãos. Eles não devem estar suspensos ou fixados.
plástico, pequenas panelas, vasilhas, argolas de madeira, cestos, tecidos pequenos colo-
sempre iniciada pela própria criança, sem interferir diretamente em suas brincadeiras ou
em seus movimentos.
No espaço do brincar são utilizados cubos de madeira para que a criança possa
subir e descer, bem como um labirinto (a criança pode entrar e sair, subir e descer) e um
trepa-trepa.
No jardim externo há um tanque de areia, trepa-trepas, uma piscina bem rasa (utiliza-
Ao lado do trocador, ficam as fraldas e o material necessário para o banho. As roupas uti-
criança ainda não se senta sozinha, ela será alimentada no colo da educadora. Depois
que a criança passa a se sentar sozinha, ela será acomodada em uma mesa e cadeira
fixa (parece uma carteira escolar). E só depois de aprender a se alimentar sozinha, ela irá
A saúde física dos bebês e crianças recebe uma atenção especial, pois é a base ne-
A segunda dimensão é representada pelo elemento água, pois são os processos que
fluem diariamente no tempo, isto é, a metodologia de cuidados, a técnica e procedimen-
tos utilizados nos cuidados diários, no banho, na troca de fraldas, na alimentação e no
preparo para o sono.
• Segurar a mamadeira pela extremidade inferior para que o bebê tenha espaço
para colocar suas mãos;
• Jamais se deve dar uma colher a mais de comida do que as que forem aceitas com
prazer;
• Não interromper a educadora que estiver dando a refeição para uma criança, prin-
cipalmente as que estão entre 12 e 15 meses.
O banho deve ser preparado com antecedência, deixando todo o material necessá-
rio disponível e organizado, esta preparação também faz parte da rotina. Na Abordagem
Pikler há uma técnica específica de banho que começa no trocador com algodão e óleo.
Todo o corpo do bebê é limpo primeiro com óleo, depois com uma luva macia o bebê é
ensaboado e posteriormente colocado na banheira para que seja enxaguado, retirando o
sabão. A educadora volta para o trocador com o bebê para enxugá-lo e vesti-lo.
AR
A terceira dimensão é representada pelo elemento ar, trata-se da atmosfera das re-
lações. Os gregos tinham duas palavras para designar o tempo, uma era Cronos (o senhor
do tempo), o tempo cronológico medido pelo relógio, o tempo quantitativo; e o outro era
chamado de Kairós, este é o tempo vivido, o tempo das relações, o tempo qualitativo. É
este tempo que nos permite a valorização do cuidado, a atenção e o tempo necessário
para desenvolver vínculos saudáveis e de confiança entre os bebês e os adultos.
Ao nascer o bebê ainda se sente parte da mãe, não tem noção da sua individualida-
de e precisa de um adulto de referência que garanta a sua sobrevivência e valorize a sua
existência dando a ele um nome e oferecendo os cuidados adequados. Deste modo, ele
pode formar através dos seus sentidos e do seu desenvolvimento motor uma primeira
imagem de si mesmo, conquistando a possibilidade de identificar-se como um ser dife-
rente da mãe ou cuidadora, um indivíduo.
É durante os cuidados cotidianos que a mãe ou o cuidador se relaciona com o bebê. Tem
início um diálogo por meio de sinais não verbais, por parte do bebê, que estabelece contato
visual e respostas por gestos, relaxamento ou tensão a cada ação ou estímulo recebido.
O adulto informando o que será feito durante os cuidados e buscando uma resposta a
cada interação convidará o bebê a participar. Estimulando a autonomia desde muito cedo
contando sempre com a participação possível do bebê em cada fase. Ajudando na forma-
ção da sua imagem corporal (consciência do próprio corpo) ao nomear as partes do corpo
do bebê que forem tocadas. E colaborando para a compreensão e aquisição da fala.
• Não fazer nada com pressa ou afobação, sempre dar o tempo necessário para que
o bebê aproveite a experiência;
O SOL
Luz Visão
SOL Calor Valores
Identidade
Fogo Missão Sutil
Invisível Clima
Sensível Comunicação / interação
AR Relações Tempo
Volátil Liderança
Existencial
Ocupa espaços Motivação (Kairos)
Na vida intrauterina o feto já tem os seus sentidos ativados: ele escuta, sente gosto,
abre e fecha os olhos, sente seu corpo tocar nas paredes do útero. O ambiente intrau-
Nessa perspectiva, para que ocorra uma gestação saudável alguns quesitos são bá-
sicos, como:
• Nutrição adequada;
Os cuidados maternos nos três primeiros anos de vida são fundamentais para a saúde
mental. Bebês que não recebem os cuidados e a atenção necessária podem entrar em de-
pressão, isto é, deixar de interagir, de estabelecer contato visual, de responder a estímulos
externos, parar de se alimentar, adoecer e em casos extremos, se não obtiverem cuidados
intensivos, podem vir até mesmo a falecer. Após a Segunda Guerra Mundial, casos como
estes puderam ser observados em abrigos lotados na Romênia em que as educadoras não
tinham tempo para dar atenção à grande quantidade de bebês que havia por lá.
Se o bebê se sente afetivamente seguro, ele procura, por si mesmo, desenvolver sua
coordenação motora grossa e fina, por exemplo: sentar-se, ficar de pé, andar, subir, pegar
objetos etc. Também se interessa em conhecer pessoas e objetos que o cercam e estabe-
lecer relações com o espaço e o tempo. Desta forma, a criança adquire equilíbrio psíquico e
a atividade motora livre embasa o seu desenvolvimento intelectual. Quanto à recuperação
dos efeitos da privação da figura materna, estudos mostram que as deficiências sociais
podem ser mais difíceis de reverter, do que as cognitivas (Frank, ET al., 1996).
Cabe ao educador estabelecer uma rotina de cuidados que respeite o ritmo indivi-
dual de cada criança, ao mesmo tempo em que lhe dê continência, segurança física e
afetiva, garantindo um desenvolvimento físico saudável. Como o próprio dicionário nos
conta: a palavra rotina significa alguma coisa feita de forma mecânica, monótona, sem
entusiasmo ou significado especial.
Nos cuidados com os bebês é necessário estabelecer intervalos regulares, uma pe-
riodicidade, isto é, um ritmo que não seja mecânico e que tenha significado, logo, o ideal
seria substituir a palavra rotina pela palavra ritmo, é o que buscaremos estabelecer aqui.
Quando nos ocupamos demais, sem descansar adequadamente ou não nos alimen-
tamos bem o resultado é conhecido, adoecemos, esta é a resposta natural do nosso
organismo aos nossos excessos. É uma necessidade do homem adulto alternar de forma
rítmica atividade e descanso, assim como na respiração inspiramos e expiramos o ar, o
sol que todos os dias nasce e se põe determinando o dia e a noite.
Não adianta querer apressar os passos dos bebês, pois cada nova habilidade é o aper-
feiçoamento de uma anterior ou a combinação de outras já aprendidas. Quem comanda
tudo é o cérebro, não os pais, educadores etc., e seu amadurecimento se dá em etapas
que precisam ser respeitadas. Vamos a uma das que mais desperta a curiosidade dos pais.
Na intimidade dos momentos de troca é possível criar um forte vínculo entre mãe
e bebê e construir uma relação de confiança, respeito e gratidão. Assim sendo, é uma
grande oportunidade para o estabelecimento de um vínculo forte e saudável, para a for-
mação dos laços afetivos.
O desenvolvimento da fala também pode ser afetado pela retirada precoce das fral-
das. No segundo ano de vida a criança está justamente aprendendo a falar. Reter e expul-
sar são as ações necessárias tanto no desenvolvimento da fala quanto no aprendizado
do controle das necessidades fisiológicas, se o processo for muito impositivo criando um
ambiente muito tenso, afetará também o desenvolvimento da fala.
O desfralde, quando precoce, sem dúvida exige métodos rígidos de controle e ob-
servação. Adultos que passaram por processos muito rígidos na infância podem muitas
vezes se tornar ordenados, meticulosos, obsessivos, não tolerantes a mudanças e fre-
quentemente sem criatividade. O controle e a rigidez se tornam o seu modo de vida.
Pois, estas primeiras experiências emocionais e afetivas influenciam na formação da
individualidade.
Dependendo da forma como é feito o treino do uso do vaso sanitário, a criança pode
vivenciar este treino como uma violência exercida contra o seu corpo. Quando o resulta-
do positivo, o uso adequado do vaso sanitário, gera prazer compartilhado com o adulto,
este é vivenciado como uma recompensa em relação à violência sofrida. Esta vivência
pode levar a relações conflituosas em que há punição e recompensa, ou seja, uma vio-
lência exercida contra o outro e um alívio que traz prazer a ambos, o que se torna muitas
vezes a origem das relações sadomasoquistas.
Ele ou ela estarão maduros psiquicamente para este processo quando expressarem
o desejo de fazer xixi e/ou cocô, compreenderem o que lhes é dito, demonstrarem inte-
resse pelo uso do vaso sanitário ou pedirem para retirar as fraldas.
• Limites claros;
• Ritmo e consistência;
Como entender e lidar com esse elemento? Quais suas causas e consequências?
Muitos estudiosos elegeram como tema dos seus estudos a agressividade entre os
seres humanos. Freud, por exemplo, afirmava que a agressividade é um instinto natural e
arcaico do ser humano.
Para Imre Hermann, psicanalista húngaro, não se trata de um instinto natural e sim
uma forma de proteção. Ele fez suas pesquisas com irmãos orangotangos e observou
que a agressividade aflora se as necessidades básicas não estão satisfeitas.
conclui em suas pesquisas que em 3/4 das vezes a agressividade tem êxito, o agressor
O que podemos fazer para que o agressor não consiga o que deseja? E para que o
É fundamental não rotular as crianças, não a relacionar ao papel que ela assumiu na-
quele dia, seja de agressor ou de vítima. Crianças aprendem muito rapidamente e podem
sua inteligência emocional, a capacidade de lidar com as situações diárias sem recorrer
à violência ou agressividade.
Harlow fez uma pesquisa com duas macacas mães. Uma de arame, fria e dura, onde
ficava fixada uma mamadeira com leite e outra macaca artificial coberta com tecido. O
macaquinho ia para a mãe de arame, só para mamar e ficava o resto do tempo agarra-
do na mãe de tecido. No ser humano, colocar o dedo na boca, enrolar o cabelo, morder
a gola da roupa, pode ser um substituto do instinto de agarrar, assim como, quando os
adultos se agarram, por exemplo, na cadeira do dentista. Este instinto tem a ver com a
• Fome
Crianças com fome, assim como os adultos, se tornam mais agressivas. No Day Care
tadas em primeiro lugar. Os educadores oferecem torradas ou algum outro petisco para
• Ansiedade de separação
Dificuldade para se afastar das pessoas de referência, como pai, mãe ou educadora.
A antropóloga Margareth Mead descreve uma tribo primitiva na qual as mães ali-
• A quantidade de brinquedos deve ser suficiente para que não haja disputa;
• Separar as crianças que engatinham das que estão andando previne atritos;
• As crianças podem suportar algumas incoerências, mas na maior parte das vezes
O animal que apresenta mais agressividade, o macho alfa, está mais apto a sobrevi-
ver e a se reproduzir perpetuando a sua carga genética.
Quando aplicada no caso de seres humanos, quem não apresenta agressividade tem
mais dificuldade para conquistar os seus objetivos, sejam pessoais, profissionais ou sociais.
2. Teoria da reordenação
3. Teoria da imitação
1º) Experimento em que um cachorro inflado é colocado em uma sala onde está
um grupo de crianças. Alguns adultos entram na sala e agridem o cachorro inflável, logo
depois deixam a sala. Em seguida as crianças imitam a atitude dos adultos, batendo no
cachorro de forma ainda mais agressiva, sem nenhuma censura.
A VOCALIZAÇÃO E PALAVRA
Os órgãos vitais que servem para respiração e alimentação também servem para a
fala. São eles pulmão, faringe, laringe, traqueia, esófago, boca, dentes e lábios. Sendo
que a respiração e alimentação são necessidades básicas, mas a fala ou comunicação
estão ligadas à vontade, ou seja, ao desejo. O ser humano pode viver sem falar.
Para colaborar no desenvolvimento da fala, fale com os bebês muito antes deles
começarem a falar. De que forma?
• Descreva a situação que a criança está vivendo ou acabou de viver, por exemplo:
Você está se divertindo com este brinquedo, não é mesmo?
Atrasos ou dificuldades com a fala podem ocorrer quando há dificuldades para sim-
bolizar, para compreender e entrar no código. Algumas causas:
• Autismo;
• Gorjeia;
• Balbucia;
Sinais de alerta
Sinais de alerta
• Crianças mudas balbuciam quando são bem pequenas, mas param entre 8 e 9
meses;
Sinais de alerta
- Vocabulário limitado;
Deitado de costas sobre uma superfície firme, o bebê tem a possibilidade de exerci-
tar os seus músculos oculares, focalizando e organizando os movimentos da cabeça em
função dos estímulos visuais e auditivos que o entorno oferece.
O bebê move as mãos diante do rosto, aproxima e afasta as mãos dobrando e esten-
dendo os cotovelos, junta as mãos, coloca as mãos na boca, pega uma com a outra e as
separa. Escuta os sons que os objetos produzem.
A criança passa a pegar um objeto, mas ainda não é capaz de deixar o objeto (o acaso
ainda predomina).
Pega com segurança um objeto e coloca na boca, passa de uma mão para a outra,
apalpa etc. Simetria e sincronicidade. A criança passa o brinquedo de uma mão para a
outra sem deixar cair.
Pega com segurança e estuda o objeto. Move um brinquedo pela base, tocar, em-
purrar, balançar e observar o efeito que é produzido. Os brinquedos escorregam, batem,
tremem, rolam, fazem barulhos etc.
Põe dois objetos um dentro do outro, tira, sacode dois objetos um dentro do outro etc.
A forma côncava dos objetos começa a chamar a atenção, a criança começa a co-
locar objetos menores dentro dos maiores, começa a perceber o que cabe e o que não
cabe dentro do que.
Coleciona objetos, isto é, junta, classifica, organiza por forma, tamanho, cor etc. E
começa também a ter uma atitude científica, isto é, a seguir o resultado das suas ações,
compará-las com o resultado imaginado e modificá-lo se necessário para encontrar ges-
tos mais efetivos. A criança aprende a aprender.
É por meio dos sentidos que estabelecemos contato entre o mundo interno e o mun-
do externo. Tudo o que vemos, ouvimos, tocamos, experimentamos exerce um reflexo
físico, uma ação (pequena, média ou grande), e um reflexo psíquico, sensações e senti-
mentos. Os sentidos nos “informam” sobre o mundo externo e transformam nosso mundo
interno, o que acontece dentro de nós. Os sentidos vão preenchendo nosso mundo inter-
no com as impressões e informações recebidas do mundo que nos rodeia, também vão
construindo um outro mundo que aprendemos a reconhecer e dominar como próprio, o
corpo físico, a casa que habitamos.
São os sentidos que solicitam maior atenção nos sete primeiros anos de vida. São es-
tes sentidos que nos informam diretamente as condições do nosso corpo, nossa natureza
física, são chamados de sentidos corpóreos ou volitivos (da vontade), são eles:
Eles trazem o mundo externo para o mundo interno, informando o que existe na na-
tureza e no mundo que nos rodeia, são eles:
doce, suave, picante, salgado, agradável etc. O paladar se relaciona ao bom gosto, em
todos os sentidos. As palavras sabor e saber tem a mesma origem nas línguas latinas.
VISÃO – nos mostra todos os espaços e os seus conteúdos. Cores, formas e inter-re-
lações. O olho apreende o mundo da luz. Este é o sentido mais consciente e nos auxilia
luz externa (sol) encontra a luz interna o que faz com que os olhos brilhem.
alma). Alegria, interesse e entusiasmo estão presentes quando existe calor no ambiente.
Quando os quatro sentidos básicos (tato, equilíbrio, movimento e vital) são obser-
São os sentidos que nos permitem o desenvolvimento das qualidades sociais que
AUDIÇÃO – a capacidade de ouvir o outro. Por meio dos sons penetramos na essên-
cia dos objetos, identificamos a pureza dos materiais como do ouro ou do cristal através
própria essência por intermédio dos sons e tons, seja os sons da natureza ou a linguagem
dos homens.
a qualidade do movimento.
O DESENVOLVIMENTO MOTOR
Quando o bebê completa três meses já é possível colocá-lo no chão de barriga para
cima quando estiver acordado e não estiver sendo cuidado. O piso ideal é o de madeira
porque não é frio, sendo ao mesmo tempo acolhedor. O bebê precisa de uma superfície
firme que dê suporte e sustentação para os seus movimentos livres.
Quando o bebê é colocado em decúbito dorsal (de barriga para cima), a coluna ver-
tebral oferece um eixo de equilíbrio, o bebê se move flexionando e estendendo os mem-
bros provocando oscilações laterais e estiramentos que permitem modificar os apoios
da cintura escapular e pélvica. O que vai possibilitar virar de lado e depois de bruços.
O corpo é uma ferramenta de conhecimento, logo, o bebê deve ser o único a iniciar
seus movimentos e posturas. Ao se mover o bebê está tomando posse do próprio corpo
conhecendo suas capacidades e possibilidades e aprendendo a aprender.
Colocar o bebê sentado antes que ele possa ir para essa postura sozinho faz com
que o bebê fique tenso. O bebê que é sentado pelo adulto fica rígido, a cabeça e o tron-
co formam um só bloco, a articulação do pescoço fica com pouca mobilidade, fica difícil
para ele levantar sua cabeça e virá-la para esquerda ou para a direita, o rosto fica sério
e concentrado. A rigidez se torna visível, os músculos se crispam até os dedos dos pés
fazendo com que os calcanhares se levantem do chão. Na tentativa de buscar equilíbrio,
as pernas ficam na horizontal, esticadas e estendidas, afastadas uma da outra, formando
um triângulo aberto a partir do tronco. Os pés formam um ângulo reto com o tornozelo
As habilidades motoras são cumulativas, isto é, cada uma das posições intermediá-
rias são estágios necessários para a aquisição de uma nova postura. Quando observamos
estes estágios intermediários, podemos perceber que a criança está no seu caminho de
desenvolvimento adquirindo e treinando cada nova habilidade. As posições e movimen-
tos que são adquiridos precisam ser treinados até que o bebê consiga realizá-los com
segurança e domínio, para só então, passar para uma nova etapa.
• Subir escada I – entre 15 e 27 meses (sobe escada com o apoio dos pés e das
duas mãos)
A maneira progressiva que a criança tem de encontrar as posturas permite que ela vol-
te com segurança à postura anterior. Desta forma, ela pode permanecer tranquila na posi-
ção anterior até que a nova esteja totalmente assimilada, sem precisar da ajuda do adulto.
No princípio de cada estágio percebemos dúvidas, tentativas e erros. Mas, uma vez
adquirido o gesto ou movimento podemos notar a boa qualidade da coordenação e a
economia de esforço. Sentindo-se satisfeita, a criança aprende a aprender e realiza até o
fim o que começou.
Comer é muito mais do que alimentar o corpo. Embora a fome seja um estado somá-
tico, uma necessidade fisiológica, comer pode proporcionar não só saciedade, mas tam-
bém prazer, satisfação, a possibilidade do encontro e o estabelecimento de um vínculo
de confiança. Ao alimentar um bebê ou criança pequena, estamos oferecendo também
segurança, confiança, aconchego e aprendizado. Fazemos de 4 a 5 refeições por dia que
podem ser tanto prazerosas quanto uma triste obrigação ou um tormento terrível.
Por volta dos seis meses, quando a criança deixa de ser alimentada apenas com o
leite do peito ou com a mamadeira e tem início a introdução dos alimentos, ela começa a
desenvolver o paladar experimentando o que é doce, amargo, azedo, ácido, salgado etc.
E os alimentos também têm cor, cheiro, textura e sabor. Um mundo inteiro de sensações
e experiências novas se abrem para os bebês.
Como a Abordagem Pikler se preocupa muito com as transições, cuidando para que
sejam suaves e não tragam estranhamentos ou dificuldades desnecessárias, uma das
práticas dentro dessa abordagem é fazer a introdução da papinha no colo, na mesma
posição em que o bebê é amamentado.
Para alimentar o bebê no colo, é preciso preparar a fruta ou papinha que será ofere-
cida, colocar uma almofada em um dos braços de uma poltrona ou cadeira com braço,
apoiar bem os pés no chão, o educador (ou mãe) deve acomodar a si mesmo e ao bebê
O bebê pode ser alimentado desta forma até que aprenda a se sentar sozinho,
sem nenhum apoio por volta dos 8 ou 9 meses. No cadeirão, muitas vezes a criança
se sente presa e obrigada a comer, no colo isso não acontece e geralmente a criança
come melhor.
Segundo a Abordagem Pikler, alguns fatores que colaboram para uma boa refeição:
• Para que tenha sentido e significado a interação não deve ser mecânica ou
apressada;
- Deixar que a criança que ainda não tem habilidade coma sozinha;
• Ajudamos quando:
- Ensinamos a não mergulhar muito fundo a colher e a não virar a colher ao con-
trário quando chega na boca.
IMPORTANTE
O cérebro de um feto produz praticamente duas vezes mais neurônios do que vai
eventualmente precisar, o que funciona como uma margem de segurança, aumentando
as chances dos recém-nascidos terem cérebros saudáveis. No nascimento, o cérebro hu-
mano está muito pouco desenvolvido, a maioria dos 100 bilhões de neurônios ainda não
está ligada em rede, isto é, não estabeleceram sinapses. A principal tarefa do desenvol-
vimento cerebral inicial é a formação e o reforço dessas ligações. “As conexões entre os
neurônios se formam à medida que a criança em crescimento experimenta o mundo que
a cerca e estabelece ligações com os pais, com os membros da família e com os outros
cuidadores (Shore, 2000 pág.51).”
Sentido de propagação
Nódulo de Ranvier
Terminal do Axônio
Corpo Axônio (terminal de transmissão)
Bainha
de Mielina
O primeiro ano de vida é o período mais plástico no desenvolvimento do ser humano: daí em
diante o indivíduo nunca irá aprender tanto, ou em tão pouco tempo.
Aos 2 anos, o cérebro produz o dobro de sinapses (as conexões entre os neurônios) e conso-
me o dobro de energia que o cérebro de um adulto.
Aos 3 anos, o cérebro já pesa em torno de 1100 gramas e quando adulto 1400 gramas. O aumen-
to de peso e volume cerebral resulta das sinapses. De zero aos três anos são construídas 90%
das sinapses que formam os circuitos responsáveis por ligar as diferentes áreas do cérebro. As
sinapses produzidas neste período irão modelar o cérebro do bebê em relação à motricidade,
à psique, à aprendizagem e às experiências afetivas e amorosas, resultantes da sua interação
com o ambiente. Assim, as experiências vividas, sejam positivas ou negativas e as condições
afetivas, materiais, sociais e culturais serão determinantes para sua maturação, saúde mental
e para a expressão de suas potencialidades e competências emocionais, motoras e cognitivas.
ria, assim como sinais fisiológicos que incluem mudanças no ritmo cardíaco, na pressão
SÍNTESE
Muitos projetos vêm sendo desenvolvidos com o intuito de estimular e promover o de-
senvolvimento inicial de crianças, alguns dos mais conhecidos exemplos incluem o Perry
Program, e o Head Start and Early Head Start nos Estados Unidos; o Integrated Child
Development Service (ICDS) na Índia, obtiveram uma pontuação maior em testes de ap-
mais adequado do que crianças que não participaram (Chaturvedi and others 1987). ICDS
permaneceram na escola 4 anos mais do que as crianças que não frequentaram pré-es-
versam sobre a grande importância dos cuidados com a primeira infância para o desen-
volvimento global do ser humano. É possível e necessário atuar através de projetos para
que o desenvolvimento infantil seja mais sadio. Os retornos econômicos dos investimen-
tos no desenvolvimento da primeira infância são altos, na medida em que trazem vários
benefícios sociais, promovendo a saúde psíquica garantindo uma melhor e maior produ-
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dagogia. São Paulo: Antroposófica, 1995.
• Holanda <www.pikler.nl>
• <thepiklercollection.weebly.com>
• Formação Biográfica.
• Infância Vivenciada.
• Ampliando Horizontes.
Estuda a Abordagem Pikler, tendo participado do curso organizado pela
• 2013 cursou “Difficult for the child, difficult for the adult” e “What does
the Piklerian approach offer for the family?” com Anna Tardos e equipe
Buenos Aires.
- SC.
• 2017 cursou “Supporting the team, supporting the caregiver” e fez dois
Children em Budapeste.