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Vilanir Pereira Faustino

Bernardo Soares:

Bernardo Soares (1888-1935) um dos Heterônimos do escritor português


Fernando Pessoa,  ou melhor, um semi-heterônimo, pois “não sendo a minha
personalidade a minha [de pessoa], é, não diferente da minha, mas uma simples
mutilação dela.”

Bernardo Soares foi um escriturário, nas palavras de Pessoa, um "ajudante de


guarda-livros na cidade de Lisboa”. Teria conhecido Pessoa num boteco, ou uma “casa
de pasto”, como dizem os portugueses. Ali, entregou-lhe o Livro do Desassossego, do
qual Pessoa seria, portanto, o editor.

 Órfão de mãe, Bernardo Soares perdeu a mãe quando tinha um ano de idade,


era solitário e se vestia com certo “desleixo não inteiramente desleixado”. No rosto
pálido, havia um ar de sofrimento. Morava com simplicidade em um quarto
alugado e escrevia durante a noite. Soares comia pouco e fumava tabaco de onça. Era
observador, tinha um interesse especial nas pessoas. Ele também tinha uma voz “baça e
trêmula”, sem nenhuma esperança.

Sobre a obra do autor, notar-se que foi escrita em forma de fragmentos, O “Livro
do Desassossego”  É um livro fragmentário, sempre em estudo por parte dos críticos
pessoanos, tendo estes interpretações díspares sobre o modo de organizar o livro.

É considerado uma das obras fundadoras da ficção portuguesa no século XX, O


“Livro do Desassossego” ao encenar na linguagem várias categorias que vão desde o
pragmatismo da condição humana até o absurdo da própria literatura. É uma obra
composta de fragmentos que revelam as reflexões de Bernardo Soares. É considerado
também como uma espécie de diário fragmentado, mas sem a indicação de datas. Sua
obra é portanto, prosa. Às vezes, prosa poética. Apresenta também um aspecto caótico,
condizente com o fluxo de pensamento humano.
“Isto”

Dizem que finjo ou minto


Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,


O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio


Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério de que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Analisando o poema “Isto”, notamos quê, o assunto que predomina no poema


seria, o fingimento e a criação artística; a racionalização dos sentimentos (sentir com a
imaginação, não usando o coração), ele apresenta-se como uma espécie de
esclarecimento em relação á questão do fingimento poético enunciada em
“Autopsicografia” – não há mentira no acto de criação poética; o fingimento poético
resulta da intelectualização do “Sentir” da racionalização. Aqui o sujeito poético vai
mais longe já que, negando o “Uso do coração”, aponta para simultaneidade dos actos
de “sentie” e “Imaginar”, apresentando-nos a obra poética como uma espécie de síntese
onde a sensação surge filtrada pela imaginação criadora. A comparação presente na 2 º
estrofe (vv.6-9) evidencia o facto de a realidade que envolve o sujeito poético ser
apenas a “ponte” para “outra coisa”: a obra poética, expressão maxima do Belo.

Na 1º Estrofe: Reconhecimento do que dizem e negação de que finge ou mente


“sinto com a imaginação/ Não uso o coração” – expressão da intelectualização do
sentimento. Na 2º Estrofe “Tudo o que sonho ou passo/ O que me falha ou finda”
(Primeiro termo da comparação) “(…) um terraço/sobre outra coisa ainda” (Segundo
termo), ou seja, o mundo real (“terraço”) é reflexo de (“Sobre outra coisa ainda”) um
mundo ideal (“essa coisa é que é linda” – conceito oculto ou platónico, mundo que
fascina o sujeito poético). Na 3 º estrofe, introduzida pela expressão “Por isso” de valor
conclusivo/ explicativo, o sujeito poético recusa a poesia como expressão imediata das
sensações. O sentir, no sentido convencional do termo, é remetido para o leitor.
Referências:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Livro_do_Desassossego

https://storamjoao.blogspot.com/search?
q=Isto+Dizem+que+finjo+ou+minto+tudo+que+escrevo

https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/bernardo-soares.htm

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