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A REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS NA

CONSTITUIÇÃO DE 1988.

Ana Beatriz Pereira Ferreira


Asaph Kalebe Queiroz Ibernon
Ricardo Leonel Lima Filho
Rodrigo de Almeida Grangeão
Prof. Neuton Alves de Lima
Universidade do Estado do Amazonas - UEA
Escola de Direito - ED
Graduação em Direito
12/06/2023

RESUMO

O presente paper busca analisar o artigo “A repartição de competências na constituição de


1988” de Paulo Mohn, no qual realiza-se descrição analítica do sistema de repartição de
competências adotado no Brasil a partir de 1988, atentando-se a essa repartição também
como uma repartição de poderes entre os entes federativos. Dessa forma, aspira resumir e
comentar a obra e o seu objeto.

Palavras-chave: Competências. poderes. constituição.

1 INTRODUÇÃO

O autor oferece inicialmente um panorama histórico das formas de


configuração das federações nos Estados modernos conceituando paralelamente as
formas de repartição de competências e suas diferentes aplicações. A partir disso, é
dado um panorama da tradição federativa brasileira, com suas peculiaridades e
movimentos pendulares de centralização e descentralização, sendo então
aprofundado o tema da repartição de competências no âmbito da atual Constituição
e a forma horizontal e vertical aplicada entre os entes federativos.
2. A repartição de competência.
O estudo do federalismo conduz a qualificação desse modelo em dois tipos, o
clássico e o moderno, também chamados de federalismo dual e o federalismo
cooperativo, tendo em vista a forma de repartição das competências.

2.1. A repartição horizontal e o federalismo dual


Consiste na separação radical de competências entre os entes federados,
atribuindo-lhes competência exclusiva ou privativa abrangendo toda uma matéria,
sem margem de interferência dos outros. Esse modelo clássico inaugurou o modo
de se pensar as federações no âmbito dos estados modernos, uma vez que foi
adotado pela Constituição dos Estados Unidos, a qual delimitou em seu texto as
competências enumeradas da União e deixou a cargo dos Estados-membros as
competências remanescentes (não atribuídas à União nem vedadas aos Estados).
Apesar do esforço de pôr-se em relevo a capacidade dos Estados, o federalismo
dual não foi suficiente para conter a progressiva tendência de empoderamento das
esferas federais, por vezes necessária, nos países em que foi adotada.

2.2. A repartição vertical e o federalismo cooperativo


Em meados do século XX, a experiência federalista mostrou necessário
rearranjo da distribuição de competências entre os entes federativos, muito por
conta da necessidade de implantação de políticas públicas e incrementos sociais os
quais os Estados-membros por si só não poderiam lidar. Assim, o aparato do poder
federal se colocou como eficiente em auxiliar os Estados em diferentes campos.
Foi nesse cenário que se concebeu o chamado federalismo cooperativo, este
representou reformulação do Estado federal, passando-se a permitir participação de
uma esfera em outra no desempenho de competências, promovendo-se a
cooperação vertical dos entes federados, apesar desse modelo não ter sido
uniformizado e com variações singulares nos diversos Estados em que foi adotado.

2.3 A repartição de competências na Constituição de 1988


A tradição federalista brasileira nos revela uma forte tendência de
centralização de poder na esfera federal, muito por conta de a República ter sido
originada da estrutura de um Estado Unitário. Durante a história republicana, por
vezes tentou-se combater essa tendência promovendo-se a descentralização das
competências, o que não foi feito nos anos anteriores à atual Constituição, dado o
caráter ditatorial do regime militar. Assim, a Constituição de 1988 buscou a
reformulação do federalismo de modo a promover maior descentralização das
competências e um federalismo de equilíbrio.
Pelo atual sistema, estão presentes tanto a repartição horizontal como a
repartição vertical de competências, sendo a predominância de interesse o princípio
geral que norteia a repartição entre as entidades do Estado federal, de modo que
compete à União as matérias de interesse nacional, aos Estados as matérias
regionais e aos Municípios as matérias de interesse local. A inclusão destes últimos
representou uma inovação que colocou o Brasil como um dos poucos países no
mundo a adotar três níveis de esfera federativa.
No tocante à repartição horizontal, foram elencadas no texto constitucional as
competências da União, cabendo aos Estados as competências remanescentes e
os Municípios com as competências definidas expressamente. Singularmente, o
Distrito Federal acumula competências pertinentes tanto a Estados quanto a
Municípios. Já a repartição vertical, aplica-se onde se verifica atuação concorrente
dos entes federativos, ficando previstos domínio de execução comum, em que
ocorre atuação concomitante e cooperativa entre União, Estados, Distrito Federal e
Municípios.

2.4. As competências materiais privativas da União


Existem atividades de óbvia pretensão da União, enquanto representante da
coletividade, entretanto merecem certa flexibilidade para a administração estadual.
Por isso, a Constituição Federativa elencou as competências privativas da União.
Elenca a art. 21 da CF, essas competências recebem algumas indagações
quanto a natureza de sua privatividade e a assertividade do constituinte nessa
classificação, pois, alguns autores colocariam algumas competências dessas como
comuns, a exemplo de Almeida (2005, p. 91) que sugere a de planejar e promover a
defesa permanente contra as calamidades públicas (inc. XVIII), especialmente as
secas e inundações.

2.5. As competências legislativas privativas da União


Não seria prático ou lógico conferir competências materiais à União e suas
contrapartes formais a outros entes federativos, por isso a Constituição cumpre o
paralelo, mas não se limita a isso, existem competências formais da União que não
tem ligação direta com suas competências materiais. A exemplo dessas
competências sem paralelo direto temos assuntos de sistemas de caráter nacional,
como o transporte; e de relação com o exterior.; e ainda domínios jurídicos que
seriam matéria estranha a qualquer outro ente que não abarcasse todo o território
nacional (ex.: Direito penal); entre outras privatividades.
Vale ressaltar que, por motivos de celeridade e concretização do mover
público, a Constituição autoriza a União delegar matérias específicas de suas
competências privativas aos estados, se respeitados os devidos princípios
constitucionais.

2.6 Competências remanescentes dos Estados.


O artigo 25 da Constituição relata as competências residuais reservadas aos
Estados do país concedidas também ao Distrito Federal conforme o art.32 da CF.
Esse modelo está presente desde a primeira constituição brasileira motivada
pelo modelo norte-americano que retrata um meio segregado quanto aos Estados.
No entanto, os Estados estiveram sempre com a função de ser responsáveis àquilo
que não se atribuía à União. Bem como os municípios constituíram-se aos entes e
tiveram que partilhar essas competências. Dessa forma, restam-se apenas
competências não ligadas à União, tampouco aos municípios. Com exceção ao gás
canalizado, já que por seu grande valor e interesse por parte da União e Municípios
restringe-se apenas aos Estados para evitar uma possível confusão dos entes.

2.7 Competências privativas dos municípios


Outrossim, tem-se a criação dos municípios que a priori exige uma lei
estadual e uma complementar federal conforme o art. 18 da Constituição e Emenda
Constitucional número 15 para conter e equilibrar a quantidade de municípios na
União. Logo, os municípios possuem sua própria organização respeitando as
normas impostas da Constituição e do seu Estado correspondente. A Constituição
adota um sistema misto no que tange a competência material e legislativa
(ramificada em privativa e concorrente). Cabe ao município também promover um
ordem sob seu território conforme seu planejamento de uso e apresentar seus
interesses locais aos diretores de planos regionais e federais com a intenção de
sempre garantir o bem a todos os cidadãos residentes locais.
2.8 Competências comuns (materiais concorrentes)
As competências comuns entre a União, Estado e município listadas no art.
23 incluem áreas como saúde, educação, meio ambiente, assistência social e
segurança pública. Essas entidades colaboram por meio de convênios, repasses de
recursos, consórcios públicos e integração de sistemas com o objetivo de
implementar conjuntamente políticas e programas de interesse mútuo. Sua
cooperação é essencial para promover a eficiência e o desenvolvimento harmonioso
em todas as áreas do governo. A cooperação entre esses entes é essencial para
promover a eficiência, a complementaridade e a articulação das ações
governamentais em benefício da sociedade como um todo.

2.9 Competências Legislativas Concorrentes


Por definição, as competências legislativas concorrentes se dão, quando há a
possibilidade que mais de um ente da Federação legisle sobre um mesmo domínio.
São classificadas, conforme a doutrina, em cumulativas (ou clássicas), ou
não-cumulativas (ou ilimitadas).
A concorrência cumulativa ocorre quando não são estabelecidos limites para
a prática das competências por parte dos Entes Federativos. Nos casos em que há
um choque entre normas estaduais federais, prevalece a norma da União, tendo em
vista o princípio do interesse nacional. Nesse sentido, a tarefa dos Estados se
remete, basicamente, ao preenchimento de lacunas, e da complementação da
norma federal.
Nessa perspectiva, as normas concorrentes não-cumulativas se dão quando
há uma repartição vertical de competências legislativas, no qual há uma
correspondência entre o âmbito federativo de abrangência das leis. Sob essa ótica,
cabe a União dispor sobre as normas gerais e aos Estados, as normas
suplementares, guiadas para os âmbitos de interesse e especificidade da atuação
desses Entes. Em resumo, as competências legislativas são mais divididas e
específicas nessa classificação, não é movida por lacunas, como na primeira.
No que tange a competência legislativa dos Municípios, a Constituição
Federal de 1988 expõe que os Municípios podem suplementar a legislação federal e
estadual no que couber (art. 30, inciso II). Esse tópico é alvo de muitas críticas entre
os doutrinadores, tendo em vista que os Municípios, embora sendo conceituados
como Entes Federativos, não foram contemplados pela competência legislativa
concorrente e mereciam um tratamento constitucional mais adequado em relação ao
tema.
Nesse âmbito, aos Municípios ficou reservada a competência residual, a
possibilidade de legislar sobre “o que couber”, o município deve dispor sobre os
interesses locais que não foram abrangidos pelas normas federais e estaduais.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Federalismo é caracterizado por ser um modelo que confere autonomia


necessária aos seus entes, para que sejam respeitadas todas as especificidades e
diversidades regionais presentes no Brasil, do mesmo modo, zela, também, pela
unidade e concisão de todo o sistema. Visto isso, o tópico de repartição de
competências legislativas entre os Entes da Federação, é um assunto que gera
muitos debates no meio social, sendo alvo muitas vezes de ADIs julgadas pelo
Supremo Tribunal Federal.
Nesse ínterim, o modelo de repartição de competências adotado pela
Constituição de 1988 é um modelo híbrido, que mescla o modelo de repartição
horizontal, corrente adotada pelo federalismo clássico pelo qual não há
compartilhamento de repartição entre os entes, e o modelo de repartição vertical,
em que os entes atuam em conjunto ou de forma concorrente. Dessa maneira, a
adoção dessa mesclagem de sistemas, apesar de possuir falhas, faz com que as
competências sejam melhores divididas e que sejam estabelecidas as maneiras
para a solução de lacunas na legislação

REFERÊNCIAS

FEDERAL, Senado. Constituição. Brasília (DF), 1988.


MOHN, Paulo. A repartição de competências na Constituição de 1988. Revista de
informação legislativa, v. 47, n. 187, p. 215-244, 2010.

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