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Quando foi derrotado nas eleições para prefeitura de São Paulo por Jânio

Quadros, Fernando Henrique Cardoso, então apenas um sociólogo-senador que não era
conhecido pelas iniciais do nome, comentou em entrevista á imprensa que aquele evento
fazia parte da democracia. Perdeu e o cargo, com todas as suas atribuições, agora
deveria ser ocupado pelo vencedor. Acrescentou ainda que dentro de quatro anos
haveria nova eleição.
Fernando Henrique Cardoso estava se reportando, sem se remeter explicitamente,
à forma clássica como Schumpeter define democracia. Em suma, fazia eco ao
procedimentalismo proposto pelo colaborador de Max Weber.
Essa forma de procedimentalismo é uma versão teórica do cânone democrático
liberal. Pensa-se em partidos políticos organizados legalmente que disputam a
preferência dos eleitores sazonalmente. Bem entendido, tal disputa se dá explicitamente
na época de eleições, mas também se desenrola ao longo de todo período de gestão do
partido ganhador. Essa disputa continuada acontece, ademais, nos canais institucionais
estabelecidos.
A pesquisa acadêmica, especialmente a de extração americana, já possui uma
longa tradição de explorar formas outras de expressão política de setores da sociedade
que não os partidos políticos. Os grupos de pressão foram seu objeto mais estudado.
Situados nas margens do sistema político, produzem poderosa pressão sobre este.
Por outro lado, não se pode deixar de notar a contribuição específica de Habermas
ao debate. Partindo da noção de Esfera Pública, o filósofo alemão coloca o problema
dos inputs ao sistema político em eixo algo diverso da contribuição americana. Nesta
trata-se de interesses situados na sociedade civil que chegam ao aparelho estatal sob a
forma de lobbies mais ou menos articulados. Competidores privados inserem-se nas
esferas de decisão pública, nem sempre significando isso que o debate sobre o “bem
público” se afina ou não com suas posições. Não é esta especificamente a posição do
autor de conhecimento e Interesse. Para ele a esfera pública não se confunde com a
sociedade civil. Naquela, o debate já circula na sociedade, já é público de alguma forma.
A diferença é sutil. Com os interesses dos grupos específicos de grupos localizados na
sociedade civil, o que circula na Esfera Pública tem em comum o fato de não estar
situado no sistema político do Estado.
Não é nosso objetivo reproduzir Esse debate é importante na medida em que traz
à tona algo que a teoria de Schumpeter pretende cuidadosamente expurgar.
Participação significa expansão do cânone democrático?

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