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RESENHA ACADÊMICA

Narrativas do cotidiano no ambiente escolar

Resenhista
Gabriela Ferreira da Silva1

SÁ JÚNIOR, Lucrécio Araújo de. Narrativas do cotidiano no ambiente escolar. In: BARBOSA,
Tatyana Mabel Nobre; SÁ JÚNIOR, Lucrécio Araújo de (org.). Práticas discursivas e ensino
de Língua(gens). Natal, RN: EDUFRN, 2014. p. 241-248.

O capítulo “Narrativas do cotidiano no ambiente escolar”, de autoria do professor


associado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Lucrécio Araújo de Sá Júnior, está
inserido no livro Práticas Discursivas e Ensino de Língua(gens). O livro, VI volume da coleção
Ciências da Linguagem Aplicadas ao Ensino, do Grupo de Estudos Linguísticos do Nordeste
(GELNE), traça reflexões acerca do ensino de Língua(gens).

No último capítulo da obra, Sá Júnior aponta a problemática da limitação imposta pela


escola de cumprir apenas o currículo oficial sem que se permita que os alunos se expressem
para além do conteúdo pré-definido. O autor destaca a importância de que o objetivo
pedagógico do Currículo Escolar no Ensino Médio se volte para o aperfeiçoamento intelectual
e crítico do aluno, levando em consideração a aplicabilidade dos saberes científicos à realidade
cotidiana do educando. Para isso, ressalta a pertinência da prática da escuta das vivências e
experiências como meio de verificação dos saberes já internalizados e de participação ativa do
aluno na construção do seu conhecimento.

O capítulo está dividido em quatro seções. Na primeira seção, intitulada “A perspectiva


etnográfica”, Sá Júnior aborda as diferenças culturais, de posturas morais, de linguagens, dentre
outras, observadas nas relações aluno-professor e aluno-aluno, e aponta qual o papel das
pesquisas etnográficas voltadas à educação enquanto mediadora dessas diferenças:

a etnografia tem como principais desafios contrabalancear as relações sociais


existentes na cultura escolar, [...] e introduzir métodos que se chocam com as
práticas pedagógicas que cristalizam conteúdos, por meio da reprodução
acrítica de saberes escolares e de prescrições de comportamentos sociais
desejáveis. (SÁ JÚNIOR, 2014, p. 242).

1
Aluna do curso de graduação em Letras Francês da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
O autor rememora de forma pertinente que a escola deve ser um local de
compartilhamento de saberes e experiências, pautado na liberdade de expressão, e que deve ser
um veículo de formação de indivíduos críticos, capazes de construir seu saber de forma
autônoma e de empregar os saberes adquiridos à vida em sociedade.

Na segunda seção, intitulada “Narrativas do Cotidiano no Contexto Escolar”, o professor


e pesquisador apresenta argumentos sobre a importância da narrativa reflexiva e do
compartilhamento de experiências no ambiente escolar na construção do trabalho de ensino e
aprendizagem. Para corroborar com seu ponto de vista, o autor traz considerações de autores
como Freire e Larrosa (Cf. FREIRE, 1996; LARROSA, 1994).

A terceira seção, denominada “Muitas narrativas, muitas constituições...”, reitera a


necessidade de que a escola deve se abrir para o compartilhamento das experiências que
constituem o indivíduo. Além disso, destaca a importância do papel do professor reflexivo
enquanto narrador de suas experiências e mediador da escuta das narrativas dos alunos como
ferramenta de aperfeiçoamento do seu fazer pedagógico, permitindo que se reinvente e se
adeque à realidade e às necessidades da comunidade escolar no qual está inserido.

Na última seção, Sá Júnior conclui sua argumentação e enfatiza que é papel do professor
“estimular o desenvolvimento de um pensamento conceitual, crítico” (SÁ JÚNIOR, 2014, p.
248), para que o aluno consiga estabelecer relações entre a teoria aprendida na sala de aula e a
sua realidade, para que o conhecimento adquirido se torne instrumento de transformação social.
O autor reforça que a prática do compartilhamento das narrativas em sala de aula pode ser um
instrumento crucial para a formação desse aluno crítico e atuante na sociedade na qual está
inserido.

O capítulo traça uma importante reflexão acerca da construção do processo de ensino-


aprendizagem por meio do compartilhamento das narrativas individuais dos sujeitos que o
compõem. Os argumentos utilizados por Sá Júnior constituem uma referência pertinente não
apenas para professores em formação, como também para professores atuantes que estão em
busca de percorrer um caminho diferente daquele imposto pelos currículos engessados, que não
permitem ao aluno expressar suas vivências e individualidades e assumirem seu papel de sujeito
ativo na construção do seu conhecimento.

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