O GÊNERO LÍRICO

Conheça as origens e as particularidades da Poesia

A palavra poesia vem do verbo grego poiein (“fazer”, “criar”); e o substantivo poiêsis
designa “uma criação”. Segundo a mitologia grega, o primeiro poeta se chamava Orfeu. Ele era
o filho da musa Calíope. Ele cantava seus poemas sempre acompanhados com sua lira (daí a
palavra lirismo). Seus cânticos tinham o poder de encantar a natureza. Quando cantava,
Orfeu podia acalmar as tempestades, as feras mais selvagens e os homens mais cruéis e
violentos da terra.
A evolução do lirismo
Chamamos de lirismo a expressão de sentimentos pessoais. O lirismo é caracterizado
pela forte presença da primeira pessoa e o vocabulário da afetividade.
● Os poemas que surgiram na literatura Greco-latina e na Idade Média foram feitos para serem
cantados. O poeta medieval era chamado de trovador.
● No século XVI, o canto desaparece gradualmente, e o sentido da palavra lirismo se expande:
toda poesia se chama lírica em que o poeta expressa suas emoções, seus sentimentos
pessoais, seus humores. Os textos poéticos passam então a ser recitados, declamados.
● A invenção do soneto no século XIII pelo poeta italiano Jacopo da Lentini favoreceu ao
desaparecimento do poema cantado. Petrarca aperfeiçoou sua estrutura e esta passou a ser
difundida por toda a Europa. Do it. sonetto, literalmente “pequeno som”, é um tipo de poema
em que sua estrutura apresenta uma forma fixa, com duas quadras (estrofe de quatro versos)
e dois tercetos (estrofe de três versos), perfazendo o total de 14 versos.
● Em meados do século XIX, na França, Charles Baudelaire compôs os primeiros poemas em
prosa. Desde então, a poesia pode ser escrita em verso ou prosa.
● No século XX vários poetas em experiências individuais, como Guillaume Apollinaire na
França, ou através de formação de grupos poéticos de vanguarda, como o Concretismo no
Brasil, embarcaram em uma ampla variedade de criação de muitas formas poéticas
(caligramas, novas imagens, nova musicalidade, poesia visual, etc). A poesia experimental é
assunto dominante da modernidade.
● A sua dimensão poética deve-se a três elementos: sons (rimas, aliterações e assonâncias),
ritmo (métrica ou repetições) e imagens (símbolos, figuras de linguagem, alegorias).
Os temas abordados na poesia
Os grandes temas da poesia lírica são aqueles relacionados com a vida pessoal do
poeta (felicidade ou infelicidade no amor, nostalgia do país natal ou nostalgia do passado,
solidão, arrependimento, etc.), ou aqueles ligados a condição humana (sensação de que o
tempo passa rápido, reflexão sobre a morte). Como se vê, a Poesia vai além da expressão
pessoal para remeter ao universal, aos sentimentos vivenciados por todas as pessoas. Nessa
perspectiva, pode ter um alcance crítico, em particular quando denuncia o sofrimento devido
às injustiças da humanidade (guerra, racismo).
Os procedimentos da poesia lírica
O lirismo na poesia é identificável graças a certos métodos de escrita:
♣ uso frequente da primeira pessoa do singular; O poeta não escreve o poema. Quem escreve
é a voz poética chamada eu lírico.
♣ a predominância do vocabulário da afetividade (amor, arrependimento, dor, alegria…);
♣ a presença de interjeições que transmitem entusiasmo, desespero, reclamação, súplica (ai!
Oh!…) ;
♣ frases do tipo exclamativo e interrogativo, acompanhadas com pontuação específica para
expressar emoção (reticências, exclamação, ponto de interrogação, travessões…);
♣ o jogo de ritmo:
– versos curtos ou longos, abrangendo de um verso para outro criando efeitos de
continuidade e alongamento.
– ritmo regular refletindo suavidade e harmonia, ou cortes fortes criando rupturas.
– construção de paralelismos criando cadências regular.
♣ o jogo nos sons que criam efeitos em relação com significado. A queixa é muitas vezes
marcada por assonâncias (repetição do mesmo som) nasais ou vocálicas.
♣ a presença de figuras de estilo: a anáfora traduz a força de um sentimento ou choque
emocional; a comparação, metáfora ou analogia permitem expressar emoções através de
imagens marcantes (um coração adormecido); a antítese enfatiza a contradições que podem
caracterizar o campo da afetividade; o apóstrofo permite endereçar (a pessoa amada,
natureza, tempo, morte...); as figuras de intensificação, como hipérbole e gradação, fazem
perceber a extensão do sentimento.
A expressão da revolta, poesia comprometida
Um poeta pode colocar seus versos a serviço de uma causa: ele expressa assim sua
revolta, sua indignação, suas posições. Nós dizemos que sua poesia é engajada.
O poeta pode usar diferentes métodos para tocar o leitor e convencê-lo: protesto,
ironia contundente, apelo ao páthos (empatia) que gera piedade e que leva a revolta.
Em sua obra poética, e notavelmente em O navio negreiro, Castro Alves testemunha
o seu empenho político e de sua adesão à Libertação dos Escravos. O discurso da poesia se
torna ação. O poeta tem, portanto, o papel de guia, destinado a iluminar as consciências dos
homens e para empurrá-los para lutar contra as injustiças deste mundo.
Os sentimentos do poeta: morte e sofrimento
Machado de Assis, no poema à Carolina, evoca uma dor pessoal, o falecimento de
sua esposa; mas ao mesmo tempo que toca sentimentos universais ele dirige-se a todos as
pessoas. A linguagem poética é essa comunicação singela e nobre que fala mais ao coração
que a razão. Nesse poema ocorre uma fala indireta, tipo «Quando estou falando com você
sobre mim, estou falando com você sobre você». Dessa forma, pela magia da escrita poética,
Carolina viverá para sempre, pois tal é o poder da poesia, para imortalizar aqueles a quem a
morte faz desaparecer. Foi publicado por Machado no livro Relíquias da Casa Velha, em 1906.
Os sentimentos da poetisa: o racismo, desigualdade brasileira e falta de oportunidades
Carolina Maria de Jesus foi uma mulher independente que vivenciou na alma o que
é ser mulher-negra-pobre e viver sob esta condição no Brasil, um país tão injusto, de tantas
desigualdades econômicas, sociais e de acesso a serviços básicos como saúde ou educação e
de elevados crimes de ódio ocorridos por manifestações preconceituosas de gênero, raça,
religião, orientação sexual ou lugar de moradia. Nos seus poemas ela trata desses assuntos,
de injustiça social e preconceito racial, entre outros.