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Singular 1 José Maria Duarte

Poemas

SINGULAR
(José Maria Duarte)
Singular 2 José Maria Duarte

MÁRCIA

Quando não se pode dizer Adeus


É porque tudo ainda continua no seu lugar
Seu sorriso, sua seriedade, descontração,
Sua compenetração, sua dedicação.
Não há como se dizer Adeus porque não se pode parar
o tempo
É que a imagem do Adeus fica gravada em forma de ida
E Táta todo dia ta aqui, junto à gente
Na luta pela melhoria de vida de nossos irmãos
Na busca pela igualdade social,
Quando não se diz Adeus se vive por muita eternidade
Todo dia ela junta-se a nós, por cada centímetro de
vida e atos praticados.
Quando não se pode dizer...Adeus!
Não se pode ir e já não há o que voltar
Não tocar não significa não estar
Táta, todo dia vive na extensão infinita do tempo
Em todas as transformações da vida, na vontade
perdida e no amor que se despe do segredo
Singular 3 José Maria Duarte

FILHOS
(para Duarte Neto e Amália Eloi)

Existe um amor eterno que vos dou


Todo dia, antes de dormir.
Todo noite, depois de acordar
Como o sangue que preenche as veias
Como uma sombra que se faz acompanhar
E se busca sorrisos e gestos
E se encontra paz e saudade
Toda noite sempre a sonhar
Durante o dia que se faz esperar

Existe uma falta que faz gritar


Por dentro de veias encharcadas
Por fora dos olhos distantes
De tão longe que se fazem os caminhos
Onde vocês estão.

Em cada minuto são


Nesse cenário de silencio e lembranças
Existe um amor pulsante
Que vos dou também
Toda vez que meu coração contrai
A cada vez que minha respiração me trai.

Existirão momentos definitivos


Onde estaremos a três
Para se completar
Para sorrir
Viver
Para nos ser.
Singular 4 José Maria Duarte

Pé de Umbu

Decifrar um umbuzeiro
Mas antes observar
Do lado de cá da rodagem
Seu tronco torto e enrugado
As folhas verdinhas, miudinhas.
Um monte de galhos emaranhados
Desafiando tempos e memórias
Ouvindo verdades e mentiras
Isso somente a imaginar
O que possa passar por um umbuzeiro

O Pé de umbu é uma outra historia


Que minha infância escreveu
Pela sombra, pelo balanço.
Pelo filho bem moço e doce
Pelo fruto maduro e amarelo
É toda minha saudade
Das brincadeiras das subidas
Das conversas sem planos
Do chamado da casa grande!
Das reclamações de Jesuína

Aquele umbuzeiro
É um quadro ainda vivo
Onde, arrodeando sua imagem.
Estão o curral e o leite de madrugadinha
O grupo fechado
O agave espalhado
O depósito escancarado
Um sol e nenhuma nuvem cheia
E diante dele
Eu.
Singular 5 José Maria Duarte

Vou Indo

Virou-se contra a noite


Olhou-a por dentro
Achou que não via nada
Mas o nada não existia
E naquele escuro, havia pontos que brilhavam
Bastava se fixar neles.
Riu de um vento...
Baixou os olhos perante a lua que imunizava uma
saudade e, nutria uma solidão.
Então, de sobreaviso diante de um ponto de luz
Percebeu que a sua frente pulavam pererecas
bichos todos em tamanho P,
Riu outra vez
É.A noite acaba.
Tudo se voltará ao começo
Mas o tudo não existia
A viagem começou.
Singular 6 José Maria Duarte

Uma Filha da Lua

Mesmo que nada te dê.


receba
Tudo que minhas letras não dizem
leia
Uma folha em branco
Pode ser recriada todo dia
Mesmo que não queira
aceite
Mesmo que se afaste de mim
entenda
Tudo que é sol um dia vira lua
Tudo que é lua, é cercada de estrelas
Tudo que é cercado
É protegido
Mesmo que não acredite
observe
Tudo que é ilusão se transforma
Tudo que é mentira se suicida
Tudo que é fácil é farto.
Mesmo que não espere
Sinta.
Singular 7 José Maria Duarte

Um Toque

Vivendo as diferenças
as teclas se alternam
os sons se multiplicam
cada nota revela uma historia
seus dedos
suas mãos
sua audição

a boca que murmura


o olhar que corre numa cauda longa
a viagem com hora marcada

todas as imaginações silenciarão


quando você começar a tocar
quando pretos e brancos sentirem
teus toques
quando juntos, e cada um ao seu jeito
transformar em vida
toda poesia que existe em você.
Singular 8 José Maria Duarte

Alma suada...

Tua alma leve se confunde com o mar


tudo que se forma
tudo que se imagina
Teu sorriso solto se identifica com o sol
uma liberdade de nome fácil
uma invasão de interrogações
uma cor azul
outra amarela

Uma alegria nova se adentra no mar


uma onda que quebra
areia que molha
um desejo que vence rochedos e frios
Isso acontece quando a vontade de te conhecer
Explode em meus olhos
Aguça minha alma
leve e suada
como o mar...
Singular 9 José Maria Duarte

Linha

Um dia a distancia acabou


que dia era?
Quase lua, respondeu ela.
Sem entender de saudade
fitou o sol vermelho
sentiu o abraço do vento
misturou cores e desejos
arqueou a sobrancelha
esperou a vontade parar de arder

e sentou
sozinho,
Na exata linha que divide o antes e o depois...

Que dia era?


Dia de luz, responderia ela
se não fosse uma estrada absurda
numa contramão atrevida.
Singular 10 José Maria Duarte

Dor, não.

Dor não cura


Se retalha na alma
Se espeta na gente
Dor não cura
Se sente na carne
Se espelha na lágrima
Se espalha na noite
Se intromete no dia
Dor não cura
Nem há jeito a tomar
Nem forma de tomar
Dor não cura
Invade futuros
Devolve passados
Entrega saudades.
Dor não cura
Dor
Não.
Singular 11 José Maria Duarte

17.

A escuridão formava o desejo


Suficiente pra descobertas

Pra invadir territórios


Conquistar prazer

Nada se via.
Tudo era negrume

A sinfonia que ouvia


Saia da alma
Das frases provocadas
Da calma esquecida

O cheiro que sentia


Vinha da pele aquecida
Do suor que escorria
Das entranhas umedecidas
Da boca escorregadia

Tudo era tão escuro


Que somente a luz dos teus olhos
Tinha o dom de clarear
A estrada que vamos percorrer
Como aquele amanhecer frio e agasalhado
Que anunciava o inicio do tudo.
Singular 12 José Maria Duarte

Lágrima nos Olhos


(para Geovanna Gouveia)

Tenho lágrimas em meus olhos


Todo sal que escorre
Mancha minha saudade
Seca meu desejo
Lembra a dor

Tenho lágrimas em meus olhos


Toda água que brota
Lambe meus sonhos
Atiça meu passado
Varre o terreiro da ilusão

Tenho lágrimas em meus olhos


Todo brilho que surge
Mostra um horizonte tardio
Uma noite devorada
Abuso de poder

Tenho lágrimas em meus olhos


A mão que afaga a face
Dilacerou minha calma
A lágrima entre os dedos
É a parte de mim
Que resta no mundo lá de fora!
Singular 13 José Maria Duarte

Sobre uma água

O tempo apaga as coisas


Os rabiscos
Traços
As fotos
Rastros
Como se uma chuva
Molhasse o nunca
Clareasse todo o risco
Enxugasse toda a historia
Que depois de contada
Só é lembrada
Depois da palavra saudade
Antes disso
Poucos saberão do tempo
Em que coisas, retratos, frases, momentos.
Não era tudo que o tempo fazia esquecer...

Amália Eloi/ José Efigênio


Singular 14 José Maria Duarte

Dia...

O dia que começa tudo é exatamente assim.


O sol nasce ou não.
Chove ou não.
Carros fazem barulhos ou não.
pedestres assoviam ou não.

Amores caem no chão

Desejos acordam cansados do não

Os olhos buscam a vida na palma da mão

voce me liga ou não.


o coração bate ou não.
Todo dia começa tudo de novo
e tudo é tão novo
que a gente jura que é sequencia daquele dia que
passou
ou não...
Singular 15 José Maria Duarte

O Onze
(Para Duarte Neto)

Quem é mais que dez primeiro é onze.


Então primeiro é o que sente e o que se quer
Entender as mudanças
Concordar com as nuances
E aceitar a cara marcada.
Não se consegue ser mais que dez, sem antes passar
pelo onze
Nessa passagem veja e se encante com ele
Na Noite que deseja o dia
No dia que procura a guia
Na guia, que somos todos nós
Que amamos, respeitamos,aceitamos
Que queremos e morremos de saudade
Um dia após o dia dez é outro seu dia
O dia de Dudu,Zé Maria, Mourinha, Duarte Neto, Du
Dia de... fuckingates.( sei lá o que é isso!)
Dia do meu filho.
Que também é meu amor.
Singular 16 José Maria Duarte

“Quiança”
(Para Carol Queiroz)

Havia, em um lugar definido.


Uma quiança.
Uma quiança que gritava por dentro os desejos de ser
feliz
Gritava tanto, que por fora, se fazia ouvir
Havia uma quiança
Dotada de todo respeito adulto
De toda admiração que só é normal aos que são bons
E em toda sua extrema sinceridade
Fazia-se ouvir.
Mesmo com os olhos marejados
Mesmo com outros assuntos a resolver
Fazia questão de fazer alguém feliz
Em tom, áspero, firme e incrivelmente,
compreensível.
Ah Quiança!
Quiança Feliz que vai se casar
Tu num tem idéia de quanto tu é importante
Pra você quiança
Que seja definitivo absoluto esse teu lugar chamado
FELICIDADE!
Singular 17 José Maria Duarte

Minha

Do que é feito uma pessoa além dos sonhos?


De tudo que é de bom.
De risos e chocolates
De folgas e feriados
De segundas e tardes românticas
E de um monte de outras coisas boas.

As pessoas que são feitas de sorrisos


Também são feitas de algo mais
Onde a verdade nasce antes da resposta
Onde a resposta significa cuidado
Onde o silencio é tudo que há pra dizer
E tudo se torna compreensível.

Você se acomoda direitinho em mim


E todo dia eu recebo mais de você
Quando eu falo que te quero tanto
È que, em toda vez que te recebo
Cada vez cabe mais...

De que é feito você, afinal?


Singular 18 José Maria Duarte

Fragmentos

Sou feito de fragmentos


Pedaços grandes, pedaços pequenos
Consistentes e muitos significativos
Pedaço de Amália, pedaço de Dudu
Um tanto de Táta, de Delly, de Eugenio
Um monte de Irece
Outro monte de um Zé
Feito de alegria, de esperanças
De duvidas, certezas e esperas
Sou efeito Peter Pan
Que ao encontrar Wendy
sentiu a possibilidade de rever a “terra do sempre”
Sou feito de amores e saudades
sou cria do concreto e do abstrato
pedaços pequenos, pequenos grandes
Sou feito de você!!!
Singular 19 José Maria Duarte

Giz
(para Amália e Dudu)

Diz giz!
O pálido ser devia ser proibido na hora do giz
(que é uma maneira de grudar alegria na cara de
alguém)
Abacaxisssssssss!
Tudo leva a crer que só nesse momento se pode ser
feliiiiiiiiiiz
porque na busca do angulo perfeito
a boca se abre, os dentes escondem a amígdala
(que é um a maneira de dizer que ta bem)
Diz Giz.
Diz de tu, de mim, dele, do acolá
diz por todos que acreditam que o giz
risca e rabisca na calçada do querer
nos quadros do tempo
todas as poses do amar
Giz.
Giiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiz!
Singular 20 José Maria Duarte

Para que se Faça...

O motivo para um sorriso se alastrar


Para se contagiar
Depende de qualquer motivo
Qualquer qualquer
Desde que sinta o desejo
Que o desejo de sorrir
Se faça espalhar
Por todos os motivos
Qualquer qualquer. . .
Singular 21 José Maria Duarte

Outras Verdades

Quando faço
Quando sinto
Quando ouço
Quando aconteço
Quando toco
Quando penso
Quando sonho
Quando vejo
Quando me entrego a você
São nesses momentos que
Vivo mais.

Quando te amo.
Singular 22 José Maria Duarte

Assim mesmo.

Eu que me achava tão desprendido


Querendo acreditar
Que meu mundo não mudaria
Depois de tantas oportunidades
Depois de você me dizer adeus

Eu que fugia do que poderia saber


Buscava uma verdade que não existia
Como se fosse um refugio saber pouco de você
E depois de viver tantos caminhos
Nunca encontrei a estrada que leva de volta
Ao teu coração

Eu, eu mesmo!
Que não acredito que fui teu um dia
Permito-me todos os dias não te esquecer
Querendo que fosse mentira
O que tua vida mostra a minha vida
Como se fosse castigo
Não saber ficar com você

Eu que vi teus olhos se aproximando


Resolvi abrir meus olhos
Resolvi abrir minhas mãos
Resolvi deixar aberta minha vida
Quem sabe você não acha a estrada
Que leva você de volta ao meu coração.
Singular 23 José Maria Duarte

Nada Absoluto

A dificuldade em saber de ti
Torna meu querer furioso
E tão frágil
E tão nada...

Se a cada desejo você viesse


Sempre estaria aqui
Seria fácil
Seria muito

O pouco que te roubo


Alimenta minha alma
Fazendo bem
Fazendo sonhar

O que mata a sede de te ver


É o rápido beber de ti
Quando passas
Quando olhas

Quando me deixas mesmo sem saber


Morro na esperança
Da ressurreição
Para outra vez
Toda vez
Dirigir-me ao nada absoluto
Onde você não estar
Onde nunca poderia estar.
Singular 24 José Maria Duarte

Jamais

Quais os destinos das luzes ao amanhecer?


Para onde vão as mágoas de outra vida?

De lágrimas muito se sabe


De saudade também
De solidão? Tamanho do céu.
Pouco se sabe de um
Quando dois não sentem falta

Esquecer não é necessário


È preciso não lembrar sempre
O que dói não cura nunca
E nisso não há mistério
Porque quando amanhecer
- daqui a pouco -
Mesmo a luz do sol
Não será capaz de enxugar
As águas dos olhos de minha alma
Ou apagar as luzes que mostram você!
Singular 25 José Maria Duarte

Olhos Abertos

Vá se acostumando
Com meus olhos te falando
E de breve em breve relance
As frases que só teu coração
Sabe escutar

Quando minha boca falar outra língua


Leia meu olhar
São palavras inaudíveis
Monossílabos exclusivos
Que você
Só você sabe escutar

È bom que teus olhos


Mande noticias suas
Faz tempo que nada diz
Nada se ver
Nada se tem
Nada...
Singular 26 José Maria Duarte

Janeiro

Coisas do mar
Naufragar no sol
Em busca de cor e desejos
De bocas e beijos
De tanto sonhar
Porque o verão é moreno
E os corações se pedem
E se perdem
No reflexo do luar
Tantas coisas surgem em tanto mar
Que já não há a vontade de querer remar
Só as ondas sabem os limites
Dos náufragos do sol
E a cor, apesar de interessante...
Não despertam os corações cansados de tanto chover
As coisas do mar na segunda estação
Podem ser um porto seguro
Pra quem um sentimento
Ardido de doer
E, isso fica só
Entre o sonho e o sonhador
Coisas das férias!
Singular 27 José Maria Duarte

Nevoeiro

Do silencioso nevoeiro refiz minha calma


A melancolia que perseguia meus passos
Era mais um estado da minha alma
Eu procurei explicações gentis
Para uma vida mal amada
Entre tempestades de palavras cuspidas a fogo
Busquei a paz sonhada
E só, no silencioso nevoeiro!
Foi que achei minha calma
Torturas, pedras no caminho...
Passaram por mim numa estrada
Que não levava a nada
Não preciso de palavras para ser feliz
Ou de qualquer outra forma errada
As atitudes que me fizeram dormir
Transformara-se em traumas
E esse solitário nevoeiro que me deixa calma
É hoje um motivo pra viver
Pra quem viver por nada.
Singular 28 José Maria Duarte

Cartazes

Desejos, sonhos estranhos


Vida se faz exótica
Olhos castanhos, meus olhos
Finais medíocres, finais felizes
Cicatrizes que a fantasia faz
Ah, eu vou ser feliz
Bem mais que possa imaginar
Cartazes em que possam ler
O mundo que eu mesmo fiz
Amores revessos pelo ar
Vida se fez cantar
Costumes ao avesso, outro luar
Sonhos travessos sem versos
Perdem-se nos sonos esquecidos
Aflições soníferas de devaneios
Querem apenas serem felizes
Mas eu sou feliz!
Não é bem o mundo que eu quis
São cartazes que a vida propôs
Vivermos agora, tristezas depois.
Singular 29 José Maria Duarte

Madrugada

Sou a madrugada fria que envolve teu sono


A energia da desnutrição
Dos amores sem sono
Tudo que resta de mim
A ti interessa
Meus olhos, minha voz, minha vida aberta
Você não me olha, você nem chega a me imaginar
Sou as palavras amargas que ferem teu ego
As ilusões afáveis que transformam teu medo
Mesmo se a madrugada é nada
Você não me acha, nem tenta me sonhar
A solidão que te pega
Depende de mim
A velha dúvida de ser, não é tão velha assim
Mesmo se a madrugada é cinza
E você não sabe se vem
Você não me escuta, nem pensa em me acordar.
Singular 30 José Maria Duarte

Finalmente

Sinto que não tenho razões


Para ser outra vez triste
Outra vez imaginário
Outra vez sozinho
Sei de tudo que penso
O que me espera pode ser longínquo
Mas não vai ser diferente
A definição do meu desejo
Torna-o definitivo
E o infinito desse sentimento
Mostra-me razoes para ser alegre
Não existe distancias
Entre o que sinto agora
E sentirei na eternidade
Por isso te quero
Por isso não estou sozinho
Nem vivo de imaginações.
Singular 31 José Maria Duarte

Olhos de Gata

Eu sei e teus olhos me dizem


Que podemos ser mais
A vontade de viver
Coincide com o querer ser feliz
Onde eu olho
É por onde eu passo
Há incerteza em tuas palavras
E desejos nos teus olhos
Onde escrevo
Fica parte de mim
As dúvidas da razão
Atrapalham a necessidade da paixão
Uma paixão de pele marrom
Boca sensual, cabelos ondulados...
Olhos de gata!
Singular 32 José Maria Duarte

Fragilidade

As falsas filosofias
Não procuram me entender
Apontam-me uns caminhos
Onde eu não sei como começa
E me julgam, me acusam
Com olhos, com malicia
Os mortais que se abusam
Lambuzam-se quando vão se prostituir
Falam tanto, quase nada
A fragilidade de minha alma
Não consegue fingir-se forte
Será o fim?
O universo que uso
São paredes mal pintadas
Velhas portas desgastadas
- Todos podem entrar e sair –
Minha fragilidade vai se esconder
Entre mundos divididos
Entre sonhos esquecidos
Onde ninguém vai adormecer
Qual é o fim?
Singular 33 José Maria Duarte

Estranha Razão

Eu não consigo entender


A razão de perder tuas mãos
Quando sopra os bons ventos
Em direção as velas de nossas vidas
Aos sábados, domingos e todos os dias do tempo
É mais difícil de te ver
Nessa solidão sem explicação
Só me falta entender
A razão de perder teus desejos
Teus anseios e meu juízo
Eu não consigo conter a emoção
De estar falando contigo
Por isso que tanto tento
E só consigo ficar aflito.
Singular 34 José Maria Duarte

Trilha

Tenho uma solidão que mora ao lado


Bem próxima ao pecado
Onde não existe dor
Tenho meu peito abandonado
Meu coração sufocado
Por esse tal amor
Há uma saudade infinita
De teus olhos, teus dentes;
De tudo que lembra você
E não existe fuga
Não há forma de disfarce
Nem chance de defesa
Minha noite começa tarde
E pode acabar a qualquer momento
Às vezes nem há
Tudo depende
Nada impede
Enquanto os sonhos desvirginam o começo do dia
De olhos abertos
Corpos deitados
E o medo de ter que ir
Entre o sonho e o pecado
Prefiro viver!
Singular 35 José Maria Duarte

Ansiedade

Um dia a gente se entrega


A solidão do próprio dia
E se esquece que a noite logo chegara
E teme a noite dentro da solidão do dia
Porque a noite é vazia
Segredo
Também a noite às vezes é fria
E a noite nos faz medo
Um dia a gente se pergunta porque ainda é dia
E se entrega a ânsia noturna
A noite que a gente pensa nunca chegar
Porque ela é cheia
A noite é aventuras, vadia
Tão nossa, tão ao nosso lado
E assim, por enquanto
A noite torna-se bela
Até chegar um outro dia
Singular 36 José Maria Duarte

Noite Branca

Tenho medo de perder aquilo que nunca tive


Mas que faz parte dos meus sonhos
Uma inevitável angustia
Em saber que o amanhã ainda virá
A agonia que faz parte de mim agora
Pode já não ser em poucos minutos
É uma dependência infinita
De uma noite que insiste em começar
Meus olhos estão inertes
Minha boca muda
Meus desejos bailam em lugares distantes
Tenho uma necessidade insaciável
De querer todos iguais a mim
O absurdo da noite vazia
Faz com que eu sinta saudades
Saudades do que nunca tive
Enquanto meus olhos estão inertes
E a noite não tem fim
A dor,
Tem fortes razões para insistir em doer...
Singular 37 José Maria Duarte

Proteção

Proteja-se dos meus olhos


Principalmente antes de deitar
Eles podem não te deixar dormir
Levar você por imaginações desconhecidas
Fazer com que seus olhos só enxerguem os meus
Proteja-se dos meus lábios
Mesmo antes de me olhar
Porque eles serão capazes de provocar você
E nunca se sabe
Até que ponto pode ir uma provocação
Se ao ponto de saturação ou
Ao ponto G.
Defenda-se de minhas mãos
Elas podem dominar teu corpo
Podem molhar você
E sempre se sabe que o prazer
Começa no suor
É importante que se afaste de meu corpo
Proteja seus anseios de minhas idéias
Seus olhos de meus delírios
Seus sussurros de minhas vontades
Proteja seu sonho de minha saudade
Seus seios de minha sede
Sua boca de meus dentes
Proteja-se de mim.
Singular 38 José Maria Duarte

Gritos Perdidos

Há gritos perdidos nas esquinas


Onde flutuam solidões
Meus passos parados
Meus olhos fechados
Meu coração...
Há gritos perdidos nas ruas
Onde caminham ilusões
Minha vontade em desejos
Minha boca
Meus beijos
Minha sede de acreditar.
O que sinto é forte
Meus gritos perdidos ecoam em mim
Mas ninguém vai ouvir
Ninguém vai entender ou mesmo
Querer saber quem sou
Eu grito por mim
E sei o que vou sentir
Há gritos perdidos em vidas,
Minha vida sabe onde me encontrar
Singular 39 José Maria Duarte

Teu Olhar

Um olhar teu me apavora


Outro, simplesmente me evapora...
Um olhar teu me devora
Outro só ignora
As vezes é sempre hora
Em outras, como demora.

Um olhar teu me absorve


Outro ousadamente me absolve...
Um olhar teu me remove
Outro, me comove
Às vezes me resolve
Em outras, logo dissolve.

Um olhar teu me é razão


Outro, ardentemente me é paixão.
Um olhar teu me é coração
Outra apenas ilusão.
Às vezes faz emoção
Em outras, é todo solidão.

Um olhar teu é vaga-lume


Outro me mata de ciúme
Às vezes é lume
Em outras, mais que azedume.

Um olhar teu me dá vida


Faz despedida
Outro, devagarzinho me mata
Sempre, sempre deixando marcas.
Singular 40 José Maria Duarte

Realidade

Era somente bom dia até o dia


Que sonhou demais
Não queria mais se libertar do sonho
Não tinha mais sono
Não era preciso
Não dava ouvidos a quem falava de fantasia
Nela vivia.

E se entregou de uma vez


Tanto tempo, um mês
Continuava alucinado, um tanto quanto obcecado
Pelo sonho de amar
Todo mundo falando, todo mundo olhando
Ele poder brincar
Brincava de vida, coisas esquecidas
Só sabia sonhar

Passado o tempo
Nenhum tormento, nada de lamentos
Estava feliz
Só ele sabia
Que se entregar pra utopia não era demais
Que a vida tem mais beleza
Quando se sente pureza em tudo que se faz
E ficou a sonhar
Sonhar mais e mais.
Singular 41 José Maria Duarte

Presença

Eu sou seu grito forte


Que explode seco no verbo amar
A faca de dois gumes, cega
E que ainda corta
Eu sou a mensagem exposta no meio da porta
Pra me anunciar
A solidão do cais depois de tanto chover
Sem sequer chorar
Eu sou a palavra torta
Que se escreve por linhas certas
Todas as emoções da vida me fazem existir
A canção que se faz ouvir
Tem um pouco de mim
Eu tenho alguns versos que te farão lembrar
Que eu sou a linha dessa vida
Que vai te dividir
Os sonhos que se buscam afoitos
Por todos os mares vão me encontrar
Nos sonos que se perdem fáceis
Nas noites compridas a te agoniar
Eu sou presença em tua vida
Ilusão sofrida a te martirizar
O coração que bate no teu peito
Já me guardou como protetor
Eu sou presença em tua vida
Como a esperança é do sonhador.
Singular 42 José Maria Duarte

Assim Somos Nós

Há ternura no nosso olhar


Quando nos vemos
Existe a fé no acreditar
Quando sonhamos
Tudo é quase perfeito entre nós dois
E a harmonia dessa união
É a luz desse nosso amor
É a vida desse meu querer
É vida.
Tanta beleza que se tem
Nas noites sem sono
Existe firmeza no pensar
Quando falamos
Tudo é bonito entre nós dois
Tão vivido
Toda canção de amor que ouvir
É você quem vai cantar
Ou sou eu a te lembrar
Que somos felizes
Já não sei o que é viver sem você
Já não entendes o que és sem mim
A confiança no sentir
Faz parte de vida
E a vida desse amor
É tudo que há pra viver
É vida.
Singular 43 José Maria Duarte

Coração de Março

Meu coração de março


Anda batendo por aí
Atônito e com frio
Não sabe porque bater
Ferve de sentimento e busca
Em cada peito proteção
Nunca se acha em sua vida
Nada além de decepção
Ilusão. Violenta forma de se viver
Por você meus dias são negros
Desistir de alcançar a vida
E não haver ninguém a me julgar
Nada a me acusar
Nada a me derrotar
Meu coração de março
Não sabe aonde ir
Pode se recusar a bater
Nos segundos que estão por vir
Mas enquanto insistir no peito
Mesmo cansado e desfeito
Eu o guio por ai.
Singular 44 José Maria Duarte

Garras

Sinto saudade de você


De tuas unhas por dentro de minha carne
Fazendo sangrar meus desejos
Gosto quando me olhas com o olhar de pantera
Quando avanças pra mim sedenta de mim
Adoro quando minha língua sozinha
Encharca teus lábios e boca
Despertando teus dentes

Como sinto falta dos teus sussurros


Teus gemidos e teus ais
Teu cabelo molhado
No lado em que teu pescoço se oferece a mim
Gosto também de tua língua
Roçando meu peito
Meu céu e todo meu prazer

Sinto saudades de você


De minha carne dentro de tuas unhas
Arranhando meu desejo
Levando ao êxtase
A loucura total
Singular 45 José Maria Duarte

Tempestade

Eu me falei nem tentar


Agora sou causa
Culpado e causador
Há dias que não nasce o sol
Um sonho tão real
Que deixa o mundo poder sonhar
Metáforas foram ditas
Tanta coisa dentro de mim
Uma fuga meio vulgar
Eternizando o moral
E quando acaba a tempestade
Você estar em pedaços
Jamais irá se recompor
Há dias que nasce sol
Há dias que você não dorme
E quando acorda
Tudo pertence a você
Sem um pecado original.
Singular 46 José Maria Duarte

Ninguém

Ninguém nunca me olhou com tanta promessa


Nunca me foi exagerado
Nunca me abraçou tão forte
Não me foi ousadia
Canto.
E a força do meu canto estar em você
Que me olha com o amanhã
Que me é tão muito
Que aperta com força
E me é tão atrevida.

Ninguém nunca me foi espera


Nunca me lutou com desejos
Não reclamou meus beijos
Nunca me foi tanta poesia
Canto.
E a liberdade do meu canto estar em você
Que procura por cada canto
Que tem vontade de mim
Que minha boca molha teu corpo
E me faz teu poeta
Singular 47 José Maria Duarte

Impacto

Nada me assusta
Só o medo de perder você
Suas ameaças e desejos
A ausência dos teus beijos
E o toque de tuas mãos
Além disso
Nada me amedronta
A não ser
O silencio da tua voz
A falta do teu sorriso
Dos teus braços e abraços
Do teu corpo junto ao meu
Dos teus olhos flertando os meus
Apenas isso me coloca fora do prumo
Tem também a saudade
E a necessidade de você
Mas isso tudo te pertence
E você me assusta.
Singular 48 José Maria Duarte

Labirinto

Acho que me desconheço


Eu que sempre fui
Tão suficiente de mim
Encontro-me agora emaranhado
Em um oceano de palavras desertas
A saudade que fica
É aquela que deixa cheiro na roupa
Busco a razão do meu sorriso
E não encontro motivo para chorar
O meio termo sempre existiu
Vejo-me em labirintos
De palavras incertas
- talvez, não sei, acho-
a vontade que sente
é aquela que não te deixa dormir
que te faz querer ser homem
quando se tem solidão.
Singular 49 José Maria Duarte

Rejeição

Sinto que às vezes não existo


Todos têm uma forma de viver
Um porque para sorrir
As paredes que me cercam
Refletem angústia
Enquanto eu as olho como se petrificado
Elas me mastigam calmamente
E depois, toda minha rebeldia reprimida
É absorvida por bocas alheias
A cama onde durmo
É também mesa, musa e confidente
Sinto que quase sempre sou inútil
Incapaz de atrair ou conquistar algo
As pessoas que me olham
Dificilmente consegue me perceber
Esquecem que eu faço, parte de uma parte
Sentimental do mundo
Isso em prática é uma agonia
Tenho um sentimento contrário a rejeição
Fortíssimo. Dominador. Possessivo.
E isso nunca foi impressão
Aconteceu ainda antes na minha vida real.
Singular 50 José Maria Duarte

Tristeza

Sorri
Como se deve se não há o que sentir
As esperanças não nasceram em mim
E em toda minha vida eu me feri
Sair
E me perder em terras que eu nunca vivi
Ter de novo as mesmas interrogações
E procurar noutra pessoa o que fugiu de mim
Sorrir
Como se deve se eu não sei o que é sorrir
Onde é que eu acho emoções para chorar
Se em outros beijos eu não me descobri
Perder-me
Entre as selvas desse amor fulgas
Entre as solidões dos seres únicos
Depois sentir
Que a verdade é pior que a ilusão
Que não existe realidade para um coração
Singular 51 José Maria Duarte

Burguesia

Hoje
Eu quis fazer um poema
Tatuar a rebeldia nos alicerces sociais
Mas o tempo fechou.
Censura que corta o sonho da arte
Fez a burguesia vir atrás de mim
E como são loucos!
Ridiculamente loucos...
... hoje eu quis fazer de tudo
mas o escárnio social
cortou metade de mim.
Singular 52 José Maria Duarte

Caminhada

Lentamente caminho só
Sem ter rumo certo
Olho com desinteresse ao redor
Tudo me parece deserto
É tudo confuso em minha mente
Tudo é você de perto
É o desejo de tudo em meu peito aberto
É um desses sonhos atrevidos
Tudo são anomalias quando estar aflito
Falsas utopias, tudo incerto
Mesmo cansando continuo a caminhada
Fazendo poemas com versos ignorantes
Ditos por uma ilusão mal contida
Que não sabe o prazer de duas vidas
Paro quase de repente, meio impressionado
Para onde vou ? aonde vai essa estrada?
Dos lábios , uma canção para meu mundo
Logo, sigo ansioso, no rastro de minha caçada.
Singular 53 José Maria Duarte

Poder Pirata

A letra de minha liberdade


Estar na minha camisa
Meus atos
Revoltas
Artes
A letra “A” estar
Na sua liberdade de ser
Causas
Transas
Rebeldia
Censura
Mas você é escravo
Do poder careta
Que toma teus atos
Abusos e sonhos
Você é escravo
Do poder pirata
Que rouba teus pensamentos
Teu momento e tua ideologia
Liberte-se do imperialismo
Vista minha camisa
Use minha liberdade.
Singular 54 José Maria Duarte

Nada Eterno

Tudo que surge


Naturalmente desaparece
Nem sequer as mães
O tempo as esquece
Vem a ilusão
Às vezes dói o coração
Às vezes cresce
Cresce tanto que chega a paixão
E como se nada houvesse
Normalmente desaparece.

Nada que surge


Eterno permanece
Pois as mães como os sentimentos
Naturalmente desaparece
As imagens sacras em preces
As aves e suas penas leves
Os cômicos bonecos de neve
A solidão que aparece
Logo o tempo esquece
Naturalmente,desaparece
Singular 55 José Maria Duarte

Passarela

Os homens andam rua abaixo


Uns com suas mágoas
Suas raivas e alegrias
Suas vontades de não serem homens
Para não terem pressa
Uns caminham com suas dores
Escondidas em trajes a rigor
Outros com a felicidade
Estampada nos rostos e camisas
Enquanto isso a inflação consume sua rapidez
Os homens andam rua acima
Temendo que o dia acabe
Uns com suas magoas
Suas revoltas e sonhos esquecidos
Suas coragens de serem homens
Para saberem que o dia não tem nada
Uns se movem com seus problemas íntimos
Que quase todos ao lado sabem
Outros procuram segredos
Ditos em reuniões formais
O dia acabou
Para eles o presente significa passado
Todos sentados envolvidos em saudades
Esperando a vida acabar
Enquanto isso, a noticia diz de um suicídio.
Singular 56 José Maria Duarte

O Terceiro Sexo

Homens de mentira
Vestidos de noite
Acompanhados de desilusões
E oposições
Reféns de preconceitos
Assumem o prazer de horas difíceis
São felizes com o medo
São atrizes que as esquinas eternizam
Loucos de silencio
Praguejam a realidade
Vendem o corpo em busca da alma
Riem, se embriagam de sonhos
Produzem-se e se acham únicos
E por muito pouco tempo
Conseguem amar
Como as mulheres de mentira.
Singular 57 José Maria Duarte

Teu Corpo

As mãos que buscam teus cabelos


Passam antes por tua pele
E sinto teu corpo
As suas formas me delicia
(todas as formas)
uma silhueta de arte mágica
que me envolve de prazer
os cabelos que recebem o toque de minhas mãos
Deixa-me sonhar com as curvas do teu corpo
imaginar que é meu em definitivo
e eu passo a viajar por esse mapa
tão bem arquitetado
a cada centímetro de pele
uma surpresa, uma paixão
teus quadris me fazem feliz
porque teu corpo é o próprio amor
todas as formas
amo teu corpo
misterioso corpo
que só conheço
quando se veste de poesia
Singular 58 José Maria Duarte

Outro Motivo

Eu não tenho forças


Tudo que se arrasta por mim nunca se completa
Essa indefinição parece ser definitiva
À parte que eu não queria
A herança que eu não busquei
As forças que procurava também são escassas
E tudo pode morrer na areia
Sem luz, ou qualquer brilho.
Tudo poderia ser naquela hora
Ouvindo aquele barulho
Que nada dizia e tanto fazia
E nada significa tudo perdido
Como a falta de cor naquela faixa preta
Porque o mar quando ta escuro
Não se ver a palidez da areia
E não faltarão motivos
Pro farol não me alcançar.
Singular 59 José Maria Duarte

Tantos

Quantos beijos se procuram


Nos desertos de tantos lábios ?
Quando os corações preferem a solidão
Quando a solidão é o refúgio da esperança
E quando a esperança é a passagem para a ilusão.
Tantos beijos, todos os lábios.

Quantos olhos ardem só de pensar em chorar


Nos destroços de uma paixão mal resolvida?
Quando não mais se tenta a emoção
Quando a emoção só representa saudade
E quando a saudade pode ser sozinha.
Tantos olhos, todas as emoções!

Quantas mãos escrevem palavras


Que poderiam ser ditas pelos lábios desertos
Quando já não há mais motivo para escrever
Quando o escrito não merece ser lido
Pelos olhos já ardidos de tanto chorar ?
Tantas mãos, todas as palavras
Singular 60 José Maria Duarte

Ausência

Eu sei que me faltam teus beijos


Pra me fazer sorrir
Disfarço de noite
Pra ter voce maia perto de mim
Porque à noite
Voce sempre vinha me fazer feliz
Desfaço em lágrimas
Que não afogam o passado
No travesseiro que voce fez pra mim

Eu sei que me faltam teus braços


Pra me proteger
Me visto de homem
Encaro a vida
Com a mesma fragilidade que tive quando criança
Porque homem voce me fez
E nunca disse que viveria sem voce
Me dispo das luzes
Que ardem meus olhos
E que voce apagava pra me ver sonhar

Eu sei que me falta toda voce


Sei que voce me quer feliz
E dar de cara com a realidade
Não me torna imune às conseqüências
Porque voce que é ausência agora
Antes de ser
Me ensinou a esperar a chuva passar
E eu sou feliz por estar
Tão perto de voce!
Singular 61 José Maria Duarte

Migalhas

E eu nem quero falar de saudade


Mas ta difícil não lembrar tua boca
Tua voz, tuas palavras que ferem.
Tua insistência em não me esquecer
Na verdade, voce não me faz mal.
Sua ausência é que prejudica
É quando passo a buscar migalhas
Restos de dias, sobras de noites.
E tento buscar razões para não pensar em voce
Numa taça de vinho, numa música repetida
Em uma letra já escrita e decorada
No silencio ensurdecedor
Naquele bastante incômodo sonhar
Em todas as noites sozinhas...

Não posso falar em saudade


Mas não consigo esquecer teu curto sono
Teu medo do escuro, da chuva forte
Teu cheiro de dengo
Tuas palavras tão sinceras
Que sempre são traídas pelo coração.
Singular 62 José Maria Duarte

Teu Nome

Tem cheiro de você em minha mão direita


Justamente aquela em que uso para quase tudo
Agora, para lembrar mais de você...
Tem teus olhos que se fecham e se tremem
Quando percebe que a mesma mão se aproxima
Tem cabelo molhado e tem também o frio
Que só se sente quando se sente os pés
Tudo isso tem nome de motivo
E nenhum outro título haveria
Que não fosse o teu nome
Em tão pouco longo tempo
Todo distante se fez tanta vontade
Que o desejo ao se confundir com o inesperado
Tornou-se medo de perda
Pânico.
Sempre digito mais com a mão direita
A cada tecla, teu cheiro reaparece.
Justamente aquele que também não me deixa
Parar de pensar em você
Agora, mais que os dias que se foram...
Singular 63 José Maria Duarte

FAROL

Nas noites de sonhos vagos


- aquelas em que o sono teima em ficar acordado-
Busco o farol que me mostra vida
Caminho por léguas compridas
Querendo encontrar uma luz que me faça
Quieto
Feliz
Companheiro
Aí penso em você
-Tanto tempo que já penso -
Que me aproximo lá do alto
Onde possa te encontrar
Ver o negro do mar escuro
E ao sair pras estrelas eu vou te levar,
E com a ajuda da brisa no mar te mostrar aonde ir
Ao chegar, apresento-lhe a lua e o sol,
E no céu vai ter mais um farol
Que é a luz do seu olhar.
Singular 64 José Maria Duarte

Três Segundos

Assim que você me esqueceu,


Nenhuma musica se fez ouvir
Nenhum desejo se fez surgir
Nada por perto ou muito longe se fez viver
Logo assim que você se perdeu de mim
Não muito mais que 3 segundos
Após você não me querer mais
Não me lembro de ter visto sol
Sentido chuva
Ouvido o vento ou...
Farejado teu cheiro, como um cão abandonado.
Um sujeito oculto numa frase desfeita
Foram os mais longos e terríveis momentos
Os 3 segundos que desprezamos tanto
Ali, naquele momento, frente a mim.
Decidindo a minha sorte
Decifrando o meu norte
Infeccionando meu corte
Tudo aconteceu porque você não escreveu
E foi assim, logo assim que você me esqueceu!
Singular 65 José Maria Duarte

Tão Tarde...

O que eu não teria naquela tarde?


Se o sol não fosse embora tão rápido
Se os olhos que não enxergam
Vissem demais
Na verdade, que futuro viria
Após aquela tarde?
Quente, envolvente, sincera.
Havia muito sol dentro de nós
Ansioso pela lua cheia
Havia também muito querer
Ansioso por acontecer
Viver da duvida do destino daquela tarde
Angustia. Aflige. Da saudade.
A espera de novos dias faz parte
De um uma novela de vida
Onde tudo pode acontecer
Menos você se afastar, assim de vez
Pois toda vez que tento, não sei por onde começar.
E agora, que já é noite, e aquela tarde
Existiu em termos normais, passa a ser lembrança
É a responsável por essa saudade que dói em mim.
Singular 66 José Maria Duarte

Andrelly

Faria o sol nao se esconder


Se essa lágrima não cair
Pra nao ver voce partir
Pra eu nao ficar sem tua alegria
A poeira nao incomoda
As luzes vermelhas sim!
O cheiro de diesel agora faz mal
E a saudade começa antes de senti-la
O poema não mais se faz
Companheiro nem absoluto
Faz-se com o refúgio .
Como se fosse o ultimo caso
E a verdade é que não é somente
Tua alegria que se vai
Mas minha tristeza que fica

Um portao a fechar
Uns metros a percorrer
Na volta nada se ver
Mas o vazio que quer me consumir
Antes,deixa o sol se esconder
E a lagrima cair
É tarde, voce se foi...
Singular 67 José Maria Duarte

Apartamentos
O que você viu quando olhou pela janela do teu
apartamento?
Viu outro apartamento? Outros apartamentos
De dimensões diferenciadas
De janelas enfeitadas e portas fechadas
Viu o transito que com seu barulho
Incomoda a retina do próprio vizinho
Viu seu vizinho?
A moça triste que brigou com a insônia
A filha que disse que voltava e ainda não chegou
O moço sozinho que ria da própria agonia
O velho e ainda não cansado lutando contra o sono
Viu aquela lagrima, a qual você não saberia definir
a emoção dela?
O que significa aquele andar nervoso?
Aqueles passos pesados e...
Ouviu isso?
Um barulho? Uma campainha? Um telefone ou um
estampido?
Quem provoca determinada reação em minha
curiosidade?
Será seu vizinho?
A insônia que enfim convenceu a moça triste e
desacordada?
A agonia que fitava o moço que, momentos antes era
sozinho e agora é só uma lembrança?
O sono que não venceu aquele velho cansado e
abusado...
Se você conseguir abrir a janela
Talvez haja tempo de perceber que tudo visto e
relatado
É você no reflexo de um vidro empoeirado e delatador
É sua vida, que precisa da minha,
Sua vida
Nesse apartamento...
Singular 68 José Maria Duarte

TEMPO

Não faz muito tempo aí eu vi você...


e desse tempo pra cá, você vive em mim
não há mais tempo para se querer ir embora
não dá tempo
Não é longe o tempo em que vi teu olhos
esperando o tempo certo de fugir de mim
há tanto tempo pra viver
que se é possível esperar um monte de tempo
pra que tudo se faça dois tempos
como um esporte coletivo
tipo parceria
Par
Plural
Todo o tempo

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