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RESPONSABILIZACAO CIVIL NO DIREITO DE FAMILIA: direito de danos em casos de adogao frustrada durante 0 estagio de convivéncia! Daviane Soares da Costa Melo Mylena Rodrigues de Oliveira . Restumo: No presente trabalho foi abordada a responsabilizagio dos adotantes quando da adogio frustrada na etapa {do estigio de convivéncia ¢ os consequentes danos causados 20 adotando, considerando os prinefpios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da fungSo social da familia, da igualdade juridica de todos os filhos, da protegio integral crianga e ao adolescente e da afetividade, que se aplicem ao Direito de Familia e, sobretudo, ao institute da dogo. Para tanto, discorreu-s, inicialmente, sobre o instituto e suas implicagdes legais. Ainda, foram abordadas detalhadamente as etapas do processo de adogio, e, espevificamente, sobre o periodo do estigio de convivencia. Por fim, sobre a responsabilidade civil em caso de adogdo frustrada, com amparo na doutrina, artigos cientificos ¢ jurispradéncia acerca do tema em questi. O assunto € bastante polémico ¢ de grande relevncia, sobretudo considerando que 2 adoglo deve priorizar © melhor interesse do menor, o qual pode ser seriamente prejudicado ‘quando da “devolugio” ¢ da adogdo frustrada. Palayras-chave: Adogdo. Desisténcia na adoco, Estigio de Convivénci esponsabilizaglo civil 1 Introdugio Sabe-se que a familia, base da sociedade e icleo de organizagao social, recebe especial Protecio'do Estado, conforme dispde 0 artigo 226 da Constituigio Federal, e sua evolugdo 20 longo do tempo, sob o ponto de vista das relagdes socioculturais, propiciou a consequentemente 0 Direito, sobretudo o Direito das Familias, com vistas a atender is novas demandas da sociedade. Nessa esteira, a questo da adog#o no Direito de Familia é um tema muito relevante, sobretudo sobre o direito de danos em caso de adogio frustrada, o qual merece ser discutido, questionado, ¢ também repensado, com vistas a garantir os direitos e protegio da crianga e do adolescente, tendo como base os principios norteadores da dignidade da pessoa humana, © presente trabalho objetiva analisar 0 instituto da adogdo, bem como da responsabilizagdo civil em caso de adogio frustrada durante o estagio de convivéncia, assunto esse polémico e que divide a opiniio dos doutrinadores © estudiosos, além de ser tema recorrente na jurisprudéncia brasileira atual “Trabalho de Curso apresentado & Faculdade UNA de Catalio, como requisito parcial para a integralizagio do curso {de Direito, sob orientagio da professora Patricia Fortes Lopes Donzele Cielo, yore, %. oe Obeeira Para tanto, inicialmente, discorrer-se-A sobre os principios constitucionais do Direito de Familia diretamente ligados ao instituto da adoglo, quais sejam: proteeo integral da crianga e do adolescente, da dignidade da pessoa humana, do melhor interesse da crianga e do adolescente € da afetividade. Apés, sera abordado 0 conceito tedrico da adogdo ¢ suas especificidades ¢ ctapas. Em sequéncia, seré discutido sobre 0 estigio de convivéncia em si, ponderando os aspectos negativos da adogao frustrada para 0 adotando durante esse periodo e, por fim, sobre responsabilidade civil quais as suas implicagdes no ambito das adogdes frustradas. Serio suscitados os seguintes questionamentos: quais as implicagdes legais sobre a devolugio imotivada em raziio de adogio frustrada durante o estigio de convivéncia? Quais os aspectos constitucionais ¢ infraconstitucionais relacionados ao tema? Quais sio os impactos, paraa crianga € 0 adolescente devolvido em caso de adogao frustrada durante 0 estigio de convivéncia? E cabivel a responsabilizagao civil dos futuros pais adotivos que devolvem a crianga ou adolescente e, em caso positive, em quais hipéteses? Qual entendimento atual dos tribunais acerca da responsabilizagdo civil nesses casos? Ser a responsabilizagio civil o camino mais adequado para evi frustrada? 1 devolugdo imotivada do adotando em caso de adogao Insta salientar que se trata de um tema muito relevante ¢ bastante discutido no ordenamento juridico, fazendo-se necesséria a consulta a legislago, doutrina, jurisprudéncia, artigos cientificos sobre o tema e estudos que contém a opiniio de juristas, estudiosos profissionais da érea do Direito sobre o tema em questio.. Com 0 fito de atingir os objetivos propostos, serio utilizadas para elaboragio deste trabalho de curso as seguintes fontes: legislaglio, doutrina, artigos cientificos, textos informativos, bem como jurisprudéncia. A pesquisa & de teor bibliogrifico ¢ levantamento documental, realizadas consultas em tcoria, estudos cientificos sobre o tema ¢ pesquisas de jurisprudéncia atual sobre o tema. Isto posto, presente trabalho focar na devolugio do adotando na fase do estégio de convivéncia, e a consequente responsabiliza¢do civil do adotante em razdo da desisténcia da medida durante o estégio de convivéncia do processo de adogao. & 2 Prinefpios Constitucionais do Direito de Familia intrinsecos ao instituto da adocao Inicialmente, cabe tecer acerca dos principios constitucionais que regem o instituto da adogio, dentre eles o principio da dignidade da pessoa humana, da fungo social da familia, da igualdade juridica de todos os filhos, da protegdo integral 4 crianga ¢ a0 adolescente © da afetividade. © Principio da Dignidade da Pessoa Humana, um dos fundamentos da Repiiblica Federativa do Brasil ¢ elencada ja no artigo 1°, inciso Il, da Constituigao Federal, trata do Fespeito e garantia aos direitos fundamentais, que englobam 0 acesso educagio, satide e moradia, lazer, integridade, dentre outros. Nesse sentido, é importante dizer que “( .) a nogaio juridica de dignidade traduz um valor fundamental de respeito 4 existéncia humana, segundo as suas possibilidades © expectativas, patrimoniais afetivas, indispensiveis a sua realizagdo pessoal e a busca da felicidade. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2021, p. 28) Nessa esteira, os autores trazem 0 conceito de dignidade como um conceito de vida plena, ampla, que tem dimensio metaindividual, que abarca vérios aspectos da vida humana, que, Juntos, trazem qualidade de vida ao individuo. Ji especificamente no ambito familiar, ha 0 Prinefpio da Fungdo Social da Familia, insculpido no artigo 226 da Constituigdo Federal, que traz a familia como base da sociedade, devendo esta ter especial protegdo do Estado. Gagliano e Pamplona Filho (2021, p. 38) assim entende: (..) a funcionalizagio social da familia significa o respeito ao seu carter eudemonista, enquanto ambiéncia para a realizaglo do projeto de vida e de felicidade de seus membros, respeitando-se, com isso, a dimensdo existencial de cada um.” Ainda na seara familiar, © mesmo artigo 226, agora no parigrafo 6°, trata do Principio da Igualdade Juridica de Todos os Filhos, estabelecendo que os filhos havidos dentro ou fora do casamento, assim como os adotados, possuem os mesmos direitos e no podem ser tratados desigualmente. Além disso, também a Carta Magna, no artigo 227, preceitua a obrigagao da familia, da sociedade e do Estado assegurarem A crianga e ao adolescente, com prioridade os direitos & inerentes a estes: UGiteres OR. oe Obevrc. ‘An. 227 E dever da familia, da sociedade e do Estado assegurar & crianga, a0 adolescente © a0 jovem, com absoluta prioridade, o ire A vida, 4 sae, 4 alimentagio, & edicagi0, a0 lazer, i profssionalizagio, & cultura, 4 dignidade, 20 respeito, i liberdade e & convivéncia familiar € comunitiria,além de colocélos salvo de toda forma de negligencia, discriminagio, exploragio, violéncia, erueldade opressio. (BRASIL, 1988) Tal principio € também regulamentado no Estatuto da Crianga e Adolescente, especialmente nos artigos 3°, 4° ¢ 5°. Sendo vejamos: [Ant 3° A crianga e 0 adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes & pessoa lumana, sem prejuizo da protegio integral de que trata esta Lei, assegurando-se les, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de thes facultar 0 desenvolvimento fisico, mental, moral, espiritual e social, em condigbes de liberdade e de dignidade. Art. 4° E dover da familia, da comunidade, da sociedade em geral e do poder piiblica assegurar, com absoluta prioridade, a efetivagao dos direitos referents & vida, & saide, & alimentagio, & edueagie, a0 esporte, 20 lazer, a profissionalizagio, i cultura, & dignidade, a0 respeit, a liberdade e & convivéncia familiar ¢ comunitiri, Ar. 5* Nenhuma erianga ou adolescente seri objeto de qualquer forma de negligéncia, discriminagio, exploragdo, violencia, crueldade e opresséo, punido na forma da lei qualquer atentado, por agdo ou omiss4o, aos seus direitos fundamentais. (BRASIL, 1990) Segundo esse principio, deve prevalecer o melhor interesse da crianga e do adolescente, diante de todas as questdes que dizem respeito ao Poder Piiblico, & familia ¢ & sociedade, o que melhor atenda as necessidades, anseios e da crianga e adolescente, sobretudo no proceso de adogio. Nesse sentido, “(...) todos os integrantes do niicleo familiar, especialmente os pais ¢ mies, devem propiciar 0 acesso aos adequados meios de promogio moral, material e espiritual das criangas ¢ dos adolescentes viventes em seu meio.” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2021, p. 38). Ainda, & de se reconhecer também que o prinefpio da afetividade permeia o instituto da adogio, no sentido de que a crianga deve crescer cm meio familiar, em clima de felicidade, de amor € de compreensio, envolta em lagos de afeto, sendo este o elemento estrutural da familia contemporinea e principal fundamento das relagdes familiares. Os lagos nfo so biologicos, mas sim afetivos, construidos no ambiente familiar propicio ao desenvolvimento saudavel da crianga e adolescente. Assim considerado, apresentados os princfpios ligados ao Direito de Familia, com vistas, a protegdo infanto-juvenil, a seguir serd abordado o instituto da adogdo e suas particularidades. Q— UGytne a. Chere 3 Adocio: implicagées legais, A adogio, dentro da instituigdo familiar, tem sofrido constante evolugdo a0 longo do tempo, € por conseguinte, 0 Direito, em especial o Direito de Familia, acompanha tais mudangas, promovendo adaptagées, principalmente com 0 surgimento de novos modelos de familia, Sobre 0 conceito de adogdo, Gagliano e Pamplona Filho (2021) entendem que nio se trata de um negécio juridico, mas que se aproxima do conceito de ato juridico em sentido estrito, no sentido de que seus efeitos estio legalmente previstos ¢ nio ha liberdade na escolha das Consequéncias juridicas. Nesse sentido também entende Labo (2019), de que o referido instituto ‘tem natureza complexa, porque para produzir os efeitos legais, depende de decisto judici A adogdo €, pois, de ordem piiblica, e é um ato juridico solene, voluntério e irrevogavel, devendo ser cumpridos requisitos para tal, ¢ tem inicio com a habilitagio e, posteriormente, com 4 efetivagtio da adogdo em si, garantindo seguranca juridi as partes envolvidas. Como um processo de construgtio de parentalidade, ¢ de formagio de vinculo, exige responsabilidade extrema do pretenso adotante, em todo o proceso, desde a habilitagao até o final do processo judicial, o qual deve ter em mente todo o miinus que € 0 ato de adotar, assim como toda expectativa gerada pelo adotando em torno dessa oportunidade. Adotar €, segundo Doretto (2021), um ato de amor por um ser que, por uma “magica Juridica passa a ser filho”. Nesse mesmo sentido: ‘Adotar é langar ao solo sementes de amor, mas esse ato precisa se dar no terreno da responsabilidade ¢ da conscigneia de que as relagdes paterno ou matemo-filias, uaisquer que sejam as suas origens, sio repletas de arestas que demandam paciéncia, resilincia e efeto para setem aparadas". (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2021, p 245) Para tanto, € de extrema necessidade 0 acompanhamento psicolégico da equipe multiprofissional do Tribunal de Justica para viabilizar esse processo ¢ evitar transtornos ¢ rejuizos para as partes, principalmente para o adotando, Quanto aos requisitos, vale destacar que o Ministério Pablico do Parand (MPPR), em sitio cletrénico oficial elaborou orientagdes sobre os requisitos, e também as diividas frequentes sobre a — © processo de adogio, sobre o que se falaré adiante. Ufone oe Olde Quanto A idade, esté apta a adotar toda pessoa com mais de dezoito anos de idade, independentemente do estado civil, conforme disposto no artigo 42 do Estatuto da Crianga e do Adolescente (ECA). No caso de adogio conjunta, exige-se que se comprove que a familia € estivel. J4 0 adotante deve ser idade superior em dezesseis anos do adotando. A adogio de adultos é regida pelo Cédigo Civil e de competéncia da Justia Comum ¢ a de menores, pelo ECA. Dito isso, cumpridos os requisitos exigidos, o pretenso adotante, sem necessidade de advogado, deve procurar a Vara da Infincia ¢ da Juventude ou a Promotoria de Justiga no Forum, de preferéncia na Comarca onde reside, até mesmo para facilitar 0 proceso. ‘Nao hd necessidade de comprovacdo de renda familiar, Na oportunidade, o pretenso adotante sera orientado pelo serventudrio da justiga e instado a preencher requerimento especifico, voltado a sua habilitagdo 4 adogao, devendo juntar documentos que comprovem a idoneidade moral dos pretendentes, assim como frequentar um curso preparatério para a adogdo, oferecido gratuitamente pelo Poder Judiciério e, posteriormente, se submeter a uma avaliagdo técnica, que demonstrard se esté apto para a adogio ia, ¢ aguardard a analise da habilitacdo pela Autoridade Judici Quando do deferimento da habilitagdo, 0 pretendente seré inserito no cadastro respectivo existente na comarca, assim como no Cadastro Nacional de Adogio (CNA), e respeitaré as regras de ordem de inscrigio, perfil escolhido, sempre em consondncia com o principio do melhor interesse da erianga e adolescente, insculpido na Carta Magna. Assim, segundo consta do rol de orientagdes contidas no sitio eletrénico do MPPR (2021), um pretenso adotante recém-inscrito no Cadastro Nacional de Adogo pode ser encaminhado para 0 estigio de convivéncia antes mesmo de alguém que tenha sido habilitado ha mais tempo, desde que o nivel de exigéncia com relagaio ao ‘perfil’ da crianga seja menor. Quando da efetivacdo da adogo, a sentenga que a concede ¢ constitutiva, ¢ somente producziri efeitos a partir de seu trinsito em julgado e averbaco no Cartério de Registro Civil da Comarca onde se efetivou a adogao, ‘A adogio atribui ao adotado a condigio de filho, para todos os efeitos de direito, pessoais € patrimoniais, inclusive sucessérios, em regime de absoluta isonomia em face dos filhos bioldgicos, segundo o ECA: “Art. 41. A adogio atribui a condigHo de filho ao adotado, com os Uiferen Re Obes mesmos direitos ¢ deveres, inclusive sucessérios, desligando-o de qualquer vinculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.” (BRASIL, 1990). Isto posto, em seguida seri abordada uma das etapas mais importantes do processo de adogo, que é 0 estigio de convivéncia, periodo este em que sera verificada @ adaptabilidade da crianga no seio da nova familia. 4 Estgio de conviveneia: grandes desafios © processo de adogio € permeado de grandes desafios, assim como requer grande responsabilidade ¢ convicgio por parte dos adotantes. Dada essa grande responsabilidade, o legislador optou por fixar um periodo chamado estigio de convivéncia, visando & adaptagio do adotando ao novo lar, considerando o principio do melhor interesse do menor. Assim, por estigio de convivéncia entende-se que & 0 periodo no qual a erianga ou o adolescente passa a ter proximidade com o pretenso adotante, sendo avaliado, nesse periodo de adaptacio, a construgdo da parentalidade © a formagio do vinculo afetivo entre adotante ¢ adotado, e seu tempo de durago pode variar de acordo com o caso conereto, O Instituto tem por objetivo propiciar um inicio de convivéncia entre os candidatos que estejam Previamente habilitados no Cadastro Nacional de Adogao. Sendo vejamos o que prevé o ECA: Ant. 46, A adogio seri precedida de estigio de convivéncia com a crianca ov Adolescente, pelo prazo maximo de 90 (noventa) dias, observadas a idade da erianga ou adolescente as peculiaridades do caso. § 1.°O estigio de convivéncia poders ser dispensado se 0 adotando jéestiver sob a tutela ‘ou guard legal do adotante durante tempo suficiente para que soja possivel avaliar @ conveniéncia da constituigdo do vinculo, §2.°A simples guarda de fato nio autoriza, por si s6, a dispensa da realizagao do estigio e convivéncia, § 2.*-A. O prazo miximo estabelecido no caput deste artigo pode ser prorrogado por até igual periodo, mediante decisio fundamentada da autoridade judiciria. § 3° Em caso de adogio por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do Pais, 0 estigio de convivéncia seri de, no minimo, 30 (trinta) dias e, no maximo, 45 (quatenta e cinco) dias, prorrogivel por até igual periodo, uma tinica ver, mediante devisio fundamentada da autoridade judiiéria, § 3A. Ao final do prazo previsto no § 3.° deste artigo, deverd ser apresentado laudo indamentado pela equipe mencionada no § 4: deste artigo, que reeomendari ou no 0 deferimento da adogio & autoridade judiciéia § 4° 0 estigio de convivéncia seré acompanado pela equipe interprofissional a servigo a Justiga da Inffneia c da Juventude, preferencialmente com apoio dos téenicos ‘esponsiveis pela execueio da politica de garantia do dircto & convivéncia familiar, que ‘apresentardo relatério minucioso acerca da conveniéncia do deferimento da medida, VG fore 8. on Olea § 50 estgio de convivéncia sera cumprido no terrtério nacional, preferencialmente na comarca de residéncia da crianga ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade Timitrofe, respeitada, em qualquer hipétese, a competéncia do juizo da comarca de residéncia da erianga. (BRASIL, 1990) Nesse sentido, segundo Venosa (2021), esse estégio tem por finalidade adaptar a convivéncia do adotando ao novo lar, sendo um periodo em que se consolida a vontade de adotar e de ser adotado. E nesse intersticio temporal que seré possivel ao juiz avaliar a conveniéncia da adogio. Por outro lado, o juiz poderd dispensar o estagio se 0 adotando ja estiver na companhia do adotante tempo suficiente para poder ser avaliada a conveniéncia da constituigo do vinculo, conforme disposto no artigo 46, § 1°, do ECA. Gagliano e Pamplona Filho (2021, p. 240) apontam que o “(...) estigio de convivéncia € fundamental, a fim de que seja firmada a consciéncia ¢ a certeza no corago dos adotantes acerca da importincia e da definitividade do ato de adogao”. Abordam que este estégio de convivéncia serve para mitigar as grandes expectativas experimentadas pelos adotantes, de forma que quanto mais informagdo e seguranga tiverem os pretensos pais sobre a adogio, maiores as chances de ela dar certo. Pereira (2020) intitula o estégio de convivéncia como a “prova de fogo” da adogio, como se fosse uma pré-adocao. Uma das formas de seguranga no atual arcabougo juridico ¢ o estigio de convivéncia, seja nas adogGes nacionais ot internacionais, precedido da habilitagdo, que faz uma pr selegdo de quem tem cepacidade para ser pai/mie, recebendo 20 final, uma chancela do Estado de que “pode ser pai ou mic”. (PEREIRA, 2020, p. 464) E importante mencionar que 0 estégio é momento oportuno para que a autoridade judiciéria, com auxilio de equipe técnica interprofissional, possa avaliar a conveniéncia da adogio. Ao final do prazo, a referida equipe técnica deveri elaborar ¢ apresentar laudo circunstanciado, recomendando ou no a adogio ao juiz. Nesse diapasio, conforme citado por Cleber Couto (2014), em seu artigo intitulado “Responsabilidade civil por abandono afetivo, entre pais ¢ fills”, 0 estigio de convivéncia nfo pode ser considerado como uma espécie de “estégio probat6rio” para se avaliar a viabilidade ou nao da adogio, mas sim, avaliar se a adoco seré melhor para o infante, se este se adaptou ao UG gare Bo Otro. lar ¢ & convivéncia com a nova familia, tudo isso em consondncia com o principio do melhor interesse da crianga e adolescente, Dito isso, importa destacar que o estigio de convivéncia ndo pode ser entendido como um “teste” de viabilidade © nem conveniéncia, de modo que a desisténcia pode sim gerar responsabilizagio civil e consequente obrigagao de reparacao do(s) dano(s) causado(s), tema que seri abordado adiante. 5 “Desadogio”: desisténcia da adogio durante o estigio de convivéncia O termo “desadogao” vem sendo recentemente utilizado por muitos autores para se referir desisténcia da adogo durante o periodo do estigio de convivéncia e a consequente devolugao do infante. Veja-se: ‘Nao hi nenhuma provisto legal de “desadoglo™. Uma ve7 filho, adotado ou nfo, seré ‘para sempre, que filhos e pais mesmo depois da morte permanecem vivos dentro de rds, Nao hi hipdtese da revogagio da adogio, adogio inexistente, nula ou anulével, como se pode dizer na formagio de uma familia conjugal pela via do casamento. Ademais com 0 desenvolvimento da teoria da socioafetividade, que tem o principio da afetividade como norteador de todo o Dircito de Familia, o procedimento da adogio no pode se submeter a rigidez das formalidades processuais. Se o Direito deve proteger ‘muito mais @ esséncia do que a formalidade que o cerca, nas adogBes essa premissa deve ser ainda mais levada a séri, (PEREIRA, 2020, p. 467) Sobre esse tema, Gagliano e Pamplona Filho (2021) citam em sua obra que um caso emblemitico, e por sinal muito polémico, bem divulgado na midia a época: o caso de um garoto chamado Huxley, de origem chinesa, que foi adotado em 2017 por um casal de americanos os quais, trés anos depois, desistiram da adogdo e 0 “devolveram”, pois o garoto tinha autismo © a familia no conseguiu se adaptar e atender is necessidades dele, Nessa esteira, Gagliano e Barreto (2020) tratam dessa “devolugo”, como um termo ligado mais a bens do que ao ser humano, Tal termo objetifica o adotando, tendo um duro significado para se referir & desisténcia na adogo, como se fosse um objeto com defeito que no correspondeu as expectativas de quem o adquiriu, desconsiderando o principio constitucional da dignidade da pessoa humana. Os mesmos autores também pontuam acerca das consequéncias para o adotando, o qual sesente rejeitado, revitimizado, pois além de ter sido originalmente rejeitado pela familia biol6gica, é também “descartado” pela familia que o adotou. VG yene Ms oe rere 10 ‘Ainda, cumpre destacar que, acerca do tema de responsabilizagao civil frente a devolugio do adotando, delimitam trés diferentes momentos: durante o estigio de convivéncia ‘em sentido estrito; no ambito da guarda proviséria para fim de adogao; ¢ depois do transito em julgado da sentenga de adogao. Quanto & fase do estigio de convivéncia, como essa fase é de adaptagio e, de certa forma, um “teste”, os autores concluem que a desisténcia em prosseguir com o proceso de adogio nessactapa é legitima ¢ ndo autoriza a reparagio civil, salvo excegdes, de acordo com 0 caso conereto. Quanto & desisténcia no ambito da guarda proviséria para fim de adogdo, os autores ponderam que é mais complexa, hi formagdo de vinculo afetivo ¢ seu periodo de duragdo se estende, a0 contririo do estigio de convivéncia, ensejando responsabilizacao civil pelos danos constando do artigo 187 do Cédigo Civil, em decorréneia do abuso de direito. No que diz respeito desisténcia depois do transito em julgado da sentenga de adogio, salientam os autores 0 teor do artigo 39, parigrafo 1° do ECA ¢ que nio existe, no ordenamento brasileiro, base juridica para “devolugio” de um filho apés concretizada sua adogao, sendo,portanto, clara a possibilidade de compensagao civil dos danos pereebidos. ‘Ao contririo, entende a defensora piblica Cristiana Mendes Carvalho de Oliveira em matéria publicada no sitio eletrénico do Instituto Brasileiro de Direito de Familia (IBDFAM) que 1 responsabilizagdo civil em caso de desisténcia da adogio durante o estigio de convivéncia € possivel: “A desadogdo € a reedigio do abandono, é cruel e aviltante, A doutrina € oscilante © se percebe a necessidade de se estudar cada vez mais a responsabilidade civil nessa seara, na medida em que a pessoa humana merece respeito ¢ nio pode ser tratada de forma coisiicada.” (2021) E indiscutivel que a “desadogo” tem consequéncias drésticas para o infante, pois ha a quebra abrupta de expectativa em relagdo a ser adotado, ter um lar ¢ uma familia ¢ nessa circunstincia, experimenta 0 sentimento de rejeigdo, que ja é recorrente em virtude do primeiro abandono: o de nfo ter tido uma familia ou ter deixado de té-Ia. ‘A“‘desadogdo” representa, assim, a perda de uma chance de ter uma familia, 0 que enseja possibilidade de reparagdo civil pelo dano, com custeio de tratamento psicoterépico, pensio Ao— alimenticia, dentre outros, tema que sera abordado adiante. hed BH. ow Qhredo_ 11 6 Responsabilidade civil pela desisténcia na adogio Segundo Mendes e Rocha (2018), sempre quando existir um dano, deve-se o direito de repard-lo, e essa responsabilizagio é devidamente utilizada nas relagdes familiares, visandod protecdo e garantia dos direitos inerentes a estas relagdes. Hé, pois, a possibilidade de responsabilizagdo civil em favor do adotando devolvido, em consonincia com os prineipios constitucionais que regem o Direito de Familia, e, sobretudo, o instituto da adogao. - © artigo 186 do Cédigo Civil dispde “aquele que, por ago ou omissio voluntéria, negligéncia ou imprudéncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilicito.” (BRASIL, 2002). Nesse sentido, quando da desisténcia imotivada, e em destespeito a0 principio constitucional do melhor interesse da crianga e do adolescente, & configurada uma violagdo a0 direito, consequentemente uma conduta ilfeita, que enseja o dever de reparacao do dano. Ainda, conforme disposto no artigo 187 do mesmo Diploma Legal reconhece que “também comete ato ilicito o titular de um direito que ao exercé-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econémico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.” (BRASIL, 2002). O artigo 927 do mesmo Codigo aduz que “aquele que, por ato ilicito (arts. 186 ¢ 187), causar dano a outrem, fica obrigado a reparé-lo” (BRASIL, 2002). Quando o periodo de convivéncia é longo e a devolugao do adotando se dé sem motivo ‘ou por algum motivo fitil ou por situagio de violéncia para com o adotando, configura-se a pritica de ato ilicito por parte dos adotantes. Assim, caberd a responsabilidade civil dos adotantes quando desistirem da adogio, devolvendo 0 adotando, por deniincia vazia, quando ja estabelecida a guarda, 0 estégio de convivéncia e 0 convivio filial durante significativo periodo de tempo. Quando ocorre a devolucao do adotando, apés longo decurso do tempo, sem motivo justo, esta sendo cometida grande violéncia contra aquele, que esté sendo rejeitado mais uma vez (sendo a primeira por sua familia natural), ocorrendo abuso do direito por parte dos adotantes, que ndo estdo lidando com uma coisa que ndo tem mais utilidade, mas com uma pessoa, detentora de sentimentos ¢ expectativas. VG tere Oe Quveede 2 Acerca do entendimento dos tribunais sobre a matéria, ha diversas decisdes versando sobre a responsabilizagio civil em caso de devolugo de criancas ¢ adolescentes durante 0 periodo de convivéncia, Nesse sentido, a jurisprudéncia: APELACAO CIVEL. ACAO CIVIL PUBLICA. MINISTERIO PUBLICO, LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM OCORRENTE, GUARDA PROVISORIA. DESISTENCIA DA ADQCAQ DURANTE O ESTAGIO DE CONVIVENCIA. NEGLIGENCIA E IMPRUDENCIA DOS ADOTANTES CARACTERIZADA. DANO MORAL CONFIGURADO. DEVER DE INDENIZAR PRESENTE. VALOR DA INDENIZACAO MANTIDO. RECURSO NAO PROVIDO. 1. O artigo 201 da Lei 8069/1990 ~ Estatuto da Crianga © do Adolescente confere leptimidade ativa ‘extraordindria 40 Minstéio Pablico para ingressar em juizo na defesa dos interesses socigis © individuais indisponives afetos & erianga e a0 adolescente. 2 Assim, 0 Ministerio Pablico tem legitimidade para propor agio civil pablica, cujo objeto & responsebilizar aqueles que supostamente teriam violado dircito indisponivel do adolescente3.1 embora seja possivel desisir da adoglo durante 'o estigio de convivéncia, se ficar evidenciado que o insucesto da adogio esta relacionado negligéncia e 8 imprudéncia dos adotantes e que esta attude resultou em comprovado dano moral para o adotando, este deve ser indenizado, 4. © arbitramento, da indenizagdo pelo dano moral levari em conta as consequéncias da lesto, a condicao ‘ocioecondmica do ofendido e a eapacidade do devedor. Observados esses elementos, o arbitramento deve ser mantido. 5. Apelago civelconhecida e nfo provida, mantida @ fentenga que acolheu em parte a preiensbo inicial, rejeitada uma preliminar. (T)-MG- AC: 10702140596124001 MG. Relator Cactano Levi Lopes, Data de juigamento 27.03.2018, Data de publicagdo: 06.04.2018) A apelagio acima citada tramitou no Tribunal de Justiga de Minas Gerais, na qual 0 juizo negou provimento as alegagées do apelante contra sentenga que condenou os adotantes a pagarem indenizagdo no valor de RS 10.000,00 (dez mil reais) ao adolescente Alexandre, o qual foi devolvido apés adogdo frustrada. Segundo consta da apelagio, 0 menor Alexandre mudou 0 comportamento apés 0 nascimento do filho biolégico destes. No entanto, os adotantes apresentaram laudos psicol6gicos e também provas testemunhais, nfo conseguiram comprovar que a adogdo nao se coneretizou por motivos alheios a vontade destes. Os relatores conclufram, diante das provas apresentadas nos autos, que os adotantes, apés 0 nascimento do filho biolégico, negligenciaram os cuidados com 0 menor Alexandre “deixando-o a propria sorte” e concluiram estarem presentes requisitos para responsabilizagio civil dos adotantes. A apelagdo nao foi provida ¢ foi mantida a sentenga fixou reparag3o no montante de RS 10.000,00 (dez mil reais) em favor do menor. No supracitado acérdio, restou evidenciado que: B [Lo] embora a adopio nio tenka se concretizado através de sentenga, eabe considerar {que © institut da guarda proviséria nfo se trata de mera detencio de ‘algo’, tendo em Vista que implica em obrigagdes para os pretensos pais adotivos © tem ampla repercussio na vida da erianga € adolescente, sobretudo no ambito emocional. (TIMG, 2018) Segundo os relatores, o estigio de convivéncia no é o periodo para os pretensos pais “decidirem” se querem adotar ou no, sendo que essa decisdo deve ser tomada antes do inicio do proceso. Nao hi, pois, direito “devolugo”, em respeito ao artigo 15 do ECA, que dispoe sobre os direitos de liberdade, respeito e igualdade as criangas adolescentes. Nesse mesmo sentido também entendeu 0 Tribunal de Justiga de Sio Paulo no julgamento da apelagio civel n. 10078329320188260048, de relatoria de Marcia Dalla Déa Barone, de 0S de margo de 2020: ‘Ago indenizatoria - Danos morais - Responsabilidade civil pela devolugdo de erianga adotada ~ Intempestividade do recurso ~ Inocorréncia — Aplicagdo do prazo de 15 dis previsto no Cédigo de Processo Civil - Cerceamento de defesa ~ Nio ocorréncia ~ Juiz, na condigdo de destinatério das provas, deve indeferir providencias meramente protelatérias ~ Acervo probatirio farto ¢ suficiente para a resolugio da lide ~ Mérito ~ ‘Abuso de direitos dos pais adotivos em devolver a crianga inserida no seio famili Responsabilidade objetiva — Abuso de direito ~ "Venire contra factum propriu Danos morais “in re ipsa” - Valor da indenizago bem fixado pela r. sentenga no valor de RS 150,000,00 que no comporta redugio ~ Sentenga mantida — Recurso no provido. Nega-fe provimento ao recurso, (TJ-SP - AC: 10078329320188260048 SP 1007832-93.2018.8.26,0048, Relatora: Mercia Dalla Déa Barone, Data de Julgamento: (05/03/2020, 4 Camara de Direito Privado, Data de Publicagii: 11/03/2020). Trata o julgado acima de uma apelagdo interposta junto ao Tribunal de Justiga de Sio Paulo na qual, no mérito, os adotantes alegam nfo ter havido abuso de direito quando da devolugio da crianga, afirmando que a crianga tinha comportamento rebelde temerério ¢ que no causaram danos @ crianga ¢ combateram também a fixagio do dano moral em RS 150,000,00 (cento e cinquenta mil reais) e alegaram ter sido 0 tempo do estigio de convivencia ‘muito curto para conhecerem melhor 0 adotando e se adaptarem. © recurso foi conhecido ¢ nao provido, ¢ na deciséo foi destacado que, no caso em analise, observou-se uma quebra de expectativa entre a crianga idealizada pelo casal adotante ‘a crianga real, em estigio de desenvolvimento, por vezes vitima de agressdes, humilhagdes, € mégoas, sobretudo quando a adogdo ocorre fora da chamada “jancla de adocdo” (que engloba criangas de até quatro anos de idade), como ocorreu no caso concreto do julgado. Ep gure on Qhve “4 Assim, foi mantida a condenagdo do pagamento indenizagdo no quantum jé fixado ¢ foi ressaltado no acérdio que: [..] no se pode admitir que os adotantes se comportem de maneira inconsequente quanto & decisio de adotar e receber a erianga em seu seio familiar sob a qualidade de um filho. Deve-se compreender que estdo lidando com um ser humano e que atitudes imesponsiveis podem ocasionar danos irrepariveis & crianga, Nessa perspectiva, nota-se que, nos casos de desadogio e devolugio da crianga, é sim cabivel a reparagdo por dano moral e material, se comprovado, sendo que as fungdes da angio so punitiva e/ou compensatoria, de forma a mitigar a ocorréncia dessas devolugies imotivadas, como também “reparar” os danos causados aos adotandos, de forma simbélica, considerando que os danos percebidos tem natureza por vezes irreversiveis ¢ comprometem seriamente 0 pleno desenvolvimento psiquico e social desse menor abandonado e desprotegido, quando da “desadogao”. Cabe ressaltar que é cabivel ¢ tal reparagio na esfera civil tem objetivo reparatério & compensatério, como também pedagégico, no sentido de evitar que soja institucionalizada a conduta imotivada e radical de mera “devolugdo” da crianga ¢ do adolescent, considerando as conscquéncias desastrosas para a vida do adotando ¢ os imrepardveis prejuizos sofridos em decorréncia de um novo abandono. 7 Consideragées finais tema da adogiio e suas implicagdes legais ¢ deveras complexo e merece andlise a luz de tegras, valores prineipios constitucionais ligados & familia, tais como: protegio integral da crianga ¢ do adolescente, da dignidade da pessoa humana, do melhor interesse da crianga e do adolescente ¢ da afetividade. presente trabalho tratou de abordar o instituto da adogdo, as suas varias ctapas até a sua coneretizagdo, a qual é irrevogével apés a sentenca transitada em julgado, ¢ uma das etapas foi especialmente destacada: o estigio de convivéncia. objetivo principal desse estigio de convivéncia, previsto no artigo 46 do ECA, é 0 de possibilitar a adaptagio do adotando & nova familia, € nlio como um periodo de “teste”, no qual se verifique se 0 adotando atende ou no as expectativas idealizadas pelos adotantes. Sere @- ee Odierion 15 A devolugio do adotando no curso do estigio de convivéncia, também chamado por alguns autores de “desadogio”, é uma forma de coisificar o adotando, o qual passa a ser tratado como mercadoria, tem seus direitos desrespeitados, estando clara a Pratica de um ato ilicito, o qual enseja a responsabilizacao civil pelos danos percebidos, nos termos dos artigos 186 e 187, bem como 0 artigo 927, todos do Cédigo Civil. A desisténcia do processo de adogio durante o estigio de convivéncia, abrupta e imotivadamente, causa grave prejuizo emocional ou psicolégico ¢ material ao adotando, revitimizando aquele que jé foi abandonado e rejeitado, restando evidenciado que a conduta de Aesistir do processo de mancira imotivada, configura ato iliito e por isso enseja q reparagao de danos. E necesséria a conscientizagao dos adotantes de que 0 processo de adogio ¢ de grande responsabilidade, nfo se trata de um “teste”, requer paciéncia e tolerancia, Dado 0 exposto, conclui-se que é possivel sim a responsabilizaeao civil dos adotantes nas hipoteses de devolugio ou também chamada de “desadogao” durante o estégio de convivéncia, ¢ essa reparacdo tem o condio reparatério e também pedagégico, como forma de amenizar os danos morais ¢ psicolégicos causados ao adotando, bem como mitigar a ocorréncia destes atos, os quais indiscutivelmente violam os dircitos fundamentais assegurados as criangas e adolescentes. 8 Referéncias bibliogrsificas BRASIL. Constituigio da Reptiblica Federativa do Brasil. Disponivel em: . Acesso em 18 de ago. de 2021 Lei Federal n, 8.069, de 13 de julho de 1990, Dispde sobre o Estatuto da Crianga e do Adolescente c —da_—outras.—providéncias, —Disponivel_ cm: ‘. Acesso em 18 de ago. de 2021. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Cédigo Civil. 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