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Autoconstrucao de moradias ¢ espoliacao urbana (0 “problema” habitacional nfo pode ser analisado isoladamente de outros pi € politicos mais amplos, na ‘conjunto de contradigdes especficas] Assim, numa pri- ‘meira instincia€ preciso verificar as modalidades produ tivas a partir das quais a moradia éconfeccionada, Neste articular, convémn mencionar que o sistema capitalist Dressupde a destruigdo dos meios autOaomos de vida, ba- sieamente, na expropriagdo da terra dos instrumentos produtivos. Passs a produzir o que antes trabalhadores Independentes realizavam para prover sus propria sub sistencia, eriando mercadorias que slo consumidas por meio do salirio ganho através da venda de sua forea de itabalho, Esta &a marcha histrica geral do proces acumulagdo, cuja obviedade torna desnecessrias maio- res clarfieagGes, a nfo ser aquela que aponta para o fato fesenvolvimento das forgas produtivas ndo se di fe maneira uniforme ¢ lines, fo, ocorre de o desigual, forma erticulada empresas com alta densidade de capital constante e uni- ddades cujas modalidades produtivas difielmente pode- riam ser earacterizadas como plenamente capitalistas, 10 interesse desta qu em pensicla em rela- io a habitaglo das classes trabalhadoras urbanas, Se de tim lado, em quase todos os ramos da evonomia, perdi ram unidades produtivas “arcaleas” de tipo manufati- reiro, por outro lado, a confecedo de bens para a auto subsistncia deixou de ser, prineipalmente nas cidades, luma pritica generalizada isto inerente & mercantiliza- ‘io da economia, em que o consumo decorre da produ Glo realizada através de extragio de mais-valia, forms {que consubstancia © processo de valor de troca a partir ddo-qual a mercadoria assume a sua plena dimensgo ‘Ora, no processo de produsdo da habitaclo, se exis tem empresas de porte nitidamente industrial bern como ‘unidades com caractersticas manufatureias, as classes trabalhadoras em proporgées gue varlam ein cada cida- dde, mas que sfo sempre signifcativas, solucionam seu problema de mocadia~aldm do aluguel de ha Aeterioradas e da construcdo de bartacos em favel através da auoconstrugdo de suas reidenctas, Ar desta espécie de ‘economia natural” em pleno sistema urbanocindustral, cuja mola propulsora e dominante centra-se nas empresas com alta densidade de capt hada tém de anacronico, pois a produgdo capialista or- ganizase, no para prover os trabelhedores com os rmelos de vida necessiris para sua subsisténcia, mas para realizar um excedente que éprivadamente apropria: 0, Ressalte-se que a produsio de habitagSes,cuja con- feegdo inclui uma gama variada de insumos, resulta de ‘uma complexa rede de agentes, inclusive comerciase f= ranecires, na qual o “controle” sobre a terra urbana constitu um fator fundamental no prego das mersado- Flas colocadas no mercado. Aponte-se também, para 0 fato que as atividades econdmicas que fesultam na mer ceadoria-habitagho esto cada vez mais fundidas em tor- ro da dindmica do grande capital, evidéacia que se gene- taliza em varias regies do Brasil, principalmente em Sto Paulo. Do ponto de vista da realizacto do capital, 08 iteresses dai resutantes tendem a produsir uma merci oria socialmente adequada quanto ao seu padrio de ha- 6 ta tom ma ade de St Pal no lo bitaidade para as fixas de renda mais elevadas, vedan- Go 0 acess pata a grande maria dos trabalhadores que preciam, por conseguine, enconteer tras formulas Para se reproduc nas clades enquanto. mercadoria para o captel,® 'No eao da autosonstruso, que na sua inelidade essinca nto deve ser entendida como uma forme de rapang mat enquanto uma soludo de subistencia, Grae um dos letentos - t moran = indiapensiveis como melo de vids, que acaba por ae constituir uma fx mula que rebaina o custo de reprodugdo ds forc de tr Balho, permitindo realizar uma extragho do exeedente _sconbimeo apoiaga em saltios que podem ser constan- temente deprimidos. Ademais, princpalmente as cds des, 0 problema” habtacional esta dretamente arel do 20 fornesimento de bens de consumo coleivo, No ual a agto do Estado tem ganho crescent importancla pois os investmentospablcessio cada ver mas respon: ives por ese componente também bisico da reprods ‘do da forga de traalho, Nao sem menor importancia, fo “problema” da ha ‘questio da torres caje adequarto ataace A eisdocia de us ite fracetrtura. de servis. Portanto, os investimentos piblicos também sob este Angulo aparecem como fator {eterminante no prego inal das moradias,constituindo Se num elemento poderoso que id condicionar onde ede gue forma as diversas casos socials poder se loalzar to Ambito de uma coofiguracio espacial que sisune, todas as, metropoler brass, earacteriscas i mente segrepadoras ‘Mas ndo €s6 do Angulo do pro da tera urbana, das caacterineas do setorimobilro-constrtor 08 do papel do Estado que a qustio deve ser equacionada. © Pauriohabitacional enquanto elemento basieo da epro- Eee eco yg ct tra a a “REM contrat EBS pire omeerenterniessty | | componente essencal ‘Assim, 0 chamado “problema” habitacional deve ser equacionado tendo em vista dois processos interliga des, O primeira refee-te as condigdes de exploragdo do ‘wabalho propriamente ditas, ou mais precisamente 48 condigdes de pauperizapio absolta ou relativa a que es Uo sujeits os diversos segmentos da classe trabalhado- + 0 segundo processo, que decorre do anterior e ques6 pode ser plenamente entendido quando analisado emt ra ‘Bo dos mavimentes contraditerios da acumulacio do capita, pode ser nomeado de espoliagdo urbana: & 0 30- ‘atGrio de exiorsdes que se opera através da inexisténcia fu precariedade de servigos de consumo coletivo que se apresentam como socialmeate neoessirios em relagdo 40s niveis de subsisténcia'e que agudizam ainda mals 8 dilapidagio que se recliza no Ambito das eelagbes de ru batho, Em ambos os provessos o papel do Estado & fond ‘mental. Em primeito lugar, por ctiar 0 suporte de infra ‘strutura necessirio & expansio industrial, finanelundo « curto ov longo prazo as empresas e por agi dretamen- te enquanto investidor econdmico. Ademais, por set 0 ‘agente que tem por encargo gerar os bens de consume coletivo ligudos as necessidades da reproducio da forea se trabalho, Em segundo lugar por manter a “order so- cial” necessiria &realizagio de um determinado "mode. lo” de acumulagio. Neste aspecto, quando os recursos estatais se canalizam preponderantemente para os impe- rativos da acumulagao de capital em detrimento daque: les mais dietamente acoplados &reproduglo da forea de trabalho, aclrando 0 processo de expoliagao urbans, ¢ quando a criagdo de excedente se realiza também através ‘da pauperizacao absoluta de vastos contingentes socisis, 6 Estado, pata viabilizar semelhante “modelo de ordem social” de curacteristias selvagens para a forea de aba Tho, $6 pode wssumir feigdes nitidamente autortarias € tepressoras4O controle econtengdo dos movimentos te vindieativos passam a ser condiglo pars a efeuvagio de semethante modelo excludente de repatigo dos benef Clos, que, por sna, tem sido a tnice do processo de acu: ‘ulagio recente-no Brasil = Tendo em conta tas processos é que o “problema” habitacional ransparece plenaments, De fat a5 agE0- Cias governamentais tom empregado vultosos rects0s no finaaciamento das habitagées. Contudo, a imensa parcsla dos montantes empregados segue uma logica de Financiamentoditada pela fe doluero, destinando-se 20s estratos de renda que podem pagar 0 prego de mercado di construgfo habitaconal ‘Até mesmo 0s programas que se destinam para a as- sim chamada demand de “interes socal", n80 36 580 Guantitativamente.pouso expressivos, como. tumbém, freqtentemente, as eamadas que deveriam ser benefit as ndo tm condigbes de amortizar as prestagdes previs- tas plas fantasosas solugbes oficias. O resultado & que as habitagBes ou ficam vasias ou acabam sendo transfer das para os grupos de rends mais elevada enquanto ‘Que ts pessous a quer se destinavam ox programas sub- Sidiados pelo poder publico acabam voltando as sus condigdes originais de moradia, que, alii, #80 aquelas ‘que imensa parcels da classe rabalhadora pesiea adotar para continuar se reproduzindo nas cidades.’ F 0 alu uel de um edmodo de cortigo localizado em areas dete Tloradis ude uma casa de minimas dimensSes nas “per ferias” dstantes da cidade, ambas as solugBes implicando em condigdes de habitablidade extremamente preciits xno mais das vezes, em gastos de alugueis que compri mem ainda mais 0 jé minguado orgamento de consumo is Tamas trabalhadoras {A solugdo de sobrevivencia, ‘mais condmics, mas também a mass dristica, € fala, RHEE Ue dodo Base Une Cn ae he a8 o para onde, como sever no capitulo seguinte, os os patamares mais pobres da classe trabalhadora. ‘A solucio mais importante do ponto de vista quai titativo na eidade de Sto Paulo &a autoconstrucio, esta ‘magnifica formula que o capitalise dependents delagrou para rebaixar o custo de reprodugdo da forea de traba- tho, compatibilizsndo uma alta taxa de acumulagio com salirios erescentemente deteriorados. Vale a pena trans- ‘rever a longa citagdo: “Uma ndo insignificant porcen- tagem das residéncias das classes trabalhadoras foi cons- truida pelos préprios proprietiios, utilizando dias de Folgas, fins de semana e formas de cooperacto como © “mmutiao'- Ora, a habitagdo, bem resultante dessa opera> Go, se produz. por trabalho no-pago, isto & sobre. {rabalho. Emora esse bem ndo seja desapropriado pelo se(or privado da produgdo, ele contribui para aumentar ‘taxa de exploragdo da fore de trabalho, pos o seu re- Sultado ~ a casa~reflete-se numa baixa sparente do cus. to de reproducio da forga de trabalho ~ de que os gastos com habiteglo sfo um componente importante - e para Aeprimir os saléios reas pagos pelas empresas. Assim, uma operacdo que é,na aparéncia, uma sobrevivéncia de praticas de"economia natural” dentro das cidudes, cas Se admiravelmente bem com um processo de expansio ‘apitalista, que tem uma de suas bases e seu dinamismo na intenss exploragdo da forga de trabalho”.* Realizada através do trabalho adicional e gratuito, que freqilentemente perdura por anos, a confeceto da asa propria 86 pode levar& redugdo de outros itens vie tais da cesta do consumo, inclusive & diminuigao do pa- rio alimentar que, para muitas familias, passa a se {uae abalxo dos nivels minimos de sobrevivéncia, A RONDE Nao ROLNCK, nau her capes esc he rhe Ssh OLU SPR oa a sim, a autoconstrugio enquanto uma alquimis que serve para reproduzi a forea de trabalho a baixos custos para © capital, constiturse aur elemento que scirra ainda ‘ais'a dilapidagio daqueles que s6 tm energia sica Data oferecer a um sistema econdmica que de per si jt presenta caracteristicas marcadamente selvagens. Pot outro lado, este longo processo redunda, no mais das ve- 2s, numa moradia que, além de ser desprovida deintra- fesirutura basica ede se stuar em dreas distantes dos lo- fais de emprego, apresenta padrées bastante bales de hhabitabilidade, Alem disto, @ casa se deteriora rapide mente pois ¢feita por trabathadores ndo-specializados, {ue utilizam tGenicas produtivase feramentas rudimen tares, onde a divisdo de trabalho & praticamente inexis- fente e sua construgio efetuada aos poucos e sem se- (léncia programada. Adernsis, a casa, por ser produzida ‘om materiais de qualidade inferior, exige constantes re- pares, implicando por parte das familias um esforgo de Festauraglo praticamente permanente, * 'Em sintese, pode-se afirmar que a constructo da casa propria leva a um endividamento que, face & dete- toragdo salaral imperante, s6 pode ser coberto através, {do prolongamento da ja extensdjornada de trabalho. Se ‘este tempo forem adicionadas as horas gastas a Toco mocio diaria e as reerentes a eonfecgéo da moradia, ini ihitacomeereenoseres Saree mc emerernenes lao ee East cdceeoeamentnaeaes ‘Shubin bs py ASUS Tatacaiiepen shapers Cs ep a tem-se um quadro claro do desguste daqueles que ingres- sim na aventura de possut uma propriedade, freqente- ‘mente marcada por baixo valor de revenda. Uma vee apontadas as modalidadese consequéncias dda autoconsirugio da moradia, be introduzie algumas {questdes mais centradas no angule da acumulagdo recen- {eno Brasil a fim de especificar alguns pontos ligados ao proceso de reproducdo daforca de trabalho. O primelro Ponto a ser ressaltado € que, 2 diferenca da maioria dos paises latino-americanos,o Brasil nfo & uma regido eco homies em que as empresas multinacionais criaram um mero enclave exportador ou onde buscam vantagens ‘omparativas para produzir uma estreta gama de arti- 08 visando, primordialmente, exporté-los para o merea- 49 internacional. Trata-se ao contrario, de uma socieds- ‘de onde, nos ltimos 20 anos, o capital multinacional ge- Tou um patamar industrial diversifieado ecomplexo,vol- {ado tanto para a produglo de bens de consumo durd ‘el, como de bens intermediarios ou de eapital, que fo- Foge do ambito deste ensaio discutir as contradi- Bes do capitaismo dependente. Pretende-se, simples- ‘mente, apontar alguns provesios especiicos que parecem star na Taiz do acirramento das eontradigbes que se es- pelham na questio da reproducio da forca de trabalho. E dbvio que uma economia dependente implica na nfo inernalizagao de parte ponderivel do excedente local- ‘mente produzido, na implantaglo de pacotestecnolégi- 60s com alta densidade de capital que desarticulam coonomia préexistene, inclusive a agricola, elevando fm muito as migragSes que se dirigem para as cidades, onde a taxa de empregos tende @ aumentar em ritmo inf 9 je CARDOSO, ends Hogs « PALETTO, Ee - Pot Sept {Ste et ep Senor ah a tor ao increment du forg do table poten * Aid dts ts da cops multsacen seus Gina logic Secapech decictons bassda nan sate facets senda on katie ineteatona 35 pode evar aun ror cxaprometineato quate 3 co Relat do decmecners to tuna questo que feed em aero pis ansbor- dae mult ants dhprene euler: ue o- fuado a qn o span dpendete chase te fia ethic epectn ao eater de see deenelve into “astigdo te bse espereaporste eter. {vada fsa detrabutno om stse melyae gba. ta» Som pend xtapol les frase esc fara a soos pelabca, oofenets Pir aoe bath plas aberrant SS cian ees i Noe iin: FRAN Ant Gane “Caton nd Undress (is ot on nt cor CARDOGD, Fee Henne A Noe Te Ehscettn ntuomannec seuss Pattee ees a ciclo de expansio recente da economia brasileira proces: Sousse através de ucentuada potenciagdo das foras pro- dutivas traduzidas no aumento de produtividade do tre batho no setor industrial que subiu, entre 1968-73, 32% 30 mesmo tempo que osalirio mediano dos trabalhado: Tes urbanos, também em padrbes reais, decresceu em no periodo considerade. " Nao resta divida que 0 assim chamado “milagre brasileiro”, diferenca daquele realizado na Alemanha ou Japio, onde os salaios reais, entre 1958 e 1970, subicam, respectivamente, 95 © 92% fenconirou um dos tus sustentéculos na pauperizagdo ab Soliia de, pelo menos, a metade dos trabalhadoresindus- AA afirmagio segundo a qual o setor dinimico da cconomia que utiliza tecnologia avancada nfo precisaria, Dasear sua acumulaedo numa evolugto regressva dos sa lirios, pois pode alcercar seu erescimento no aumento dda produtividade do trabalho, & vilide para as socieda des onde as organizagSes operirias apresentam um alto rau de defesa dos seus interesses. No caso brasileiro, Fetomada do crescimento econdmico teve como coralée rio a repressio sobre as alutinagSes da sociedade civil, com conseqléncias nefastas nos salrios da maioria dos trabalhadores. Nesta conjuntura, em que o modelo de desenvolvimento encetado sbriu' um vasto expago para as inversOesestrangeras,o provesso de pauperizagio ve- " ES Sa en TE Se cine me titfeado fo} um fatoradicionl de relevancia na exizagbo eexcedentes, aumentando sida mais as margens deli fo das empress com alla denidade de capital, em pat- ticular as mulinacionas.Algm dist, 0 modelo econd- frioo posto em marcha canallzouse para um mereado baste resto, o que se combinou com a poli de tensa, conoentragie’ de rende em tornados exreitos ‘reals que iram consumir ab soistcadas mereador produsides pelo nove lee deindistriasimplantadas no Pai E inegdvel que es empresas multinacionais eriardm um espago politico que permits maximirar deforma ex tremariente rapid a matragdo ea denagem para oex- terior dos recursos invests legislaco tarfaria pete rencial para importagio de equipamentos,engSes fs as, financiamentos a juros.decescenes, Taslidades part exportacio de excente uma gama de medidas uc grou situgSesalament piviegadss do ponto de vista da acumulagio do capitals" Mesmo acetando-se a hipatese qu, por rarDeestritament ligadas a0 proceso prodativo, a pauperzasdoabsluta ado consitula num Elmento necesiro para atvar a expansdo ampliads Go grande eaital~o que j 6 uma qusifo dacutvel = nfo Festa divide que um modelo eeondmico marcado por {antas"coneesdesiberticidas" 3 podera contraporse {um clima de "debate social”. Det forma, parece et Possivelslirmar que, mesmo deixando-s de lado a8 vi Ensitudes do proceso de acumulagio, a viabizacto politica do assim chamado “milagre brasileieo”~ argui- {etado, fondamentaimente pare benefice? 0 oigopelo ‘raeaco de» feo Canta. hor Ur 4 or Qa Seats ce Coke EasoNiSris arises oe Rey a internacional ~ implicava um controle mais rigido de partidos, sindieatos, rgios de imprensa e demais grupos dda Sociedade Civil que se opunham ao excludente mode- lo de ereimento posto em march, 0 que, ase turn, $8 poderia levar 2 contengio das revindiesgbes opersrias, facirrando a deterioracdosalaral de vastas parcelas da elasse trabalhadora ‘Ademais, a velocidade com que se operou a amplia- lo © entrada de plantas industrais de grande porte tor- now necessirio que o Estado criasse uma vaste infra- cstrutura de servigos, gerando os pré-requisitosnecessé- os a um procesto de acumulagio cujo patamar havia se ampliado ripida e enormemente. Este ponto, além da ‘depressio salarial, & fundamental para caracterizar @ questio da reprodugdo da Tocca de trabalho. Na verds de, o Estado invest enormes somas para dar condigbes de realizagdo para a empresa oligopolstca, colocando: se de maneira cabal a servigo da reprodugio ampliada do capital. O Estado, em plena paca popista, ja se orien tava neste sentida, sem eontudo desprezarinteiramente {ett investimentos bisicos para a reproducdo da fora de trabalho, que a propria ambigdidade do pacto poli <0 do periodo tomnava necessérios, Contudo, com o evan 0 do processo de acumulagdo,o Estado perde sua ambi- lidade: converte-se em pressuposto da redizagio do grande capital, fornecendo insumos bisicos e tomnando- se ele proprio um agente produtor, o que levow & crescen- tw exclusto das massas trabalhedoras, agora tanibem no ‘ue se refere aos servis de consume coletivo, De fato, os gastos do Estado com “capital social”, ‘que slo aqueles dretamente acoplados as necessidades {de reprodugio do capital, passaram de 54%, entre 1950. 54, para 835, nos dois primelros anos do governo Geise enguanto of recursos destinados as despesas em "bem: ‘esta social entre aquele periodo e 08 anos de 1970-73, sdeeresciam de 7 para 2%. "0s gastos do Estado nos tl: limos 25+ anos tém-se voltado fundamentalmente 20 atendimento das necessidades de desenvolvimento capi- {alista, 2 manutengdo das condigBes de segurangs (or dem social) desse desenvolvimento, a0 lado da parcela nienor dedicada s bemestar social (ou necessidade de trabalho), Um Estado, enfim, estruturalmente 8 servigo do capital”. " NNesie particular, 0 Banco Nacional de Habitagio (BNH) nao 's6 se tornow um poderoso instrumento da stcumulagdo, pois drenou uma enorme patcela de reeur- 508 para ativaro setor da consttugdo civil - recursos por Sinal advindos em grande parte de um fundo retiredo dos proprios assalariados (FGTS) = como também vole louse para a confeceio de moradias destinadas is fainas de tenda mais elevadas. De fato, 0 BNH. entre 1964 ¢ 1977, aplicou 1 ndo desprezivel soma de 138 bilhdes de cruzeiras financiando 1,739,000 habitagdes, que forem destinadas, de modo particular, a familias com rend Imentos superiores a 12 salrios minimos, ” Mas no s6 a habitagdo passou a ser tratada en- {quanto instrumento de aceleragdo econémica, Os servi 08 de consumo coletivo também passaram a ser geridos stravés de uma logicacaleada na rentabilidade Tal fend cap ene ace Satna as ae, ass Eee ‘meno expressa-se nas taras cobradas pelo Estado, quen- do do fornesimenta de cettosservigos pblcos, que, fre- Uentemente, tornam-se.incompativess com os rend mentos da familia que deveriam set beneiciadas. "En: Uretano, ¢ na enaglo’ dos servos urbanos pelo stor pri vado que triunfaram os imperativos de expanso do ea. pital: 2 "solugio" dos problemas urbanos tem sido equ Gionada a partir de vultosos empreendimentos = princi- palmente, saneamento sistema vidrioe de transportes, = {ue geram enorme massa de excedentee, direta ou indi= Feeamente, uma produgho de mercadorias em escala cre centemente ampliada que responde aos interesesIuerAt vos da dinimice econOmica,servindo como dinamizador do provesso de acumulacio'etrezendo minguados tesul- fo an pe Pn Sen — natn naellbgao tados em termos de methorar os servos bésicos para a reproducio da forga de trabalho,” 10 nicleo destas quesides, entzetanto, ¢ de cardter 0. Padrées de habitabilidade mais clevados que im & existencia de servigos de consurio coletvo | materiale culturalmente adequados para a reprodugdo dos (tabalhadores 68 sero atingidos quando estes consegue ‘em desenvolver eansis de Fetvindieagdo vigorosos tt ‘Gnomos, tanto no que se refere As condigSes de trabalho como os que dizem respeito is melhorias urbana. Neste sentido, o adequado em relagio a reproducio da forea 4e trabalho ndo decorre apenas do grau de desenvolvi- ‘mento das forgas produtivas mas, sobretudo, da capaci- dade que apresentarem as clases trabalhadoras de se propriar de uma parcela da riqueza gerad pela socie- \ dade, Em outras palavras, decorre do grau de organiza- lo das diferentes classes ecamadss sociais que se con- Frontam na arena social numa determinada conjuntura historica. Por outro lado, & preciso fisar que as necess- dades sociais sfo forjadas historicamente e, neste senti- do, nada leva a afirmar que a conquista de certs beneli- clos tenha como consegléncia amortecer 0 confito de classes: este €, por defnigdo, dindmico einsolivel dentro de umrsstema mareado pela apropriasio privada do ex- ‘edente econémien. ‘Colocado no ambito das lutas soca, o processo de spoligedo urbana, entendido enquanto uma forma de fextorquir as eamadas populares do acesso 20s servigos {de consumo coletivo, assume seu pleno sentido: extorsd0 significa impedir ou tire de alguém algo a que, por algu- ‘ma tazio de cardter socal tem direito. Assim como a ci- © Yo nae, pte ee SILVA A Ami Pane Ur ibe eS Pu ni iH less ‘Seema cence dren econ cise Fe ‘atero chance rore at eked tse ur ase ‘ee nasncm eden preven er pre epee tucson ls ‘So esc Cope, Eee Oban

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