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A Direção e o Sentido Da Intervenção Psicopedagógica
A Direção e o Sentido Da Intervenção Psicopedagógica
À FRENTE
1 HOUAISS,2001.p.1049
2
ESQUERDA DIREITA
ATRÁS
Sentido, segundo o mesmo autor,2 significa cada uma das direções
opostas em que algo pode se deslocar. Está relacionado a um sistema externo
de orientação, porque se situa fora do indivíduo, no ambiente. Por isso, refere-
se aos pontos cardeais, que são locais fixos no globo terrestre: o norte está
sempre no mesmo lugar, em oposição ao sul, assim como o leste em relação
ao oeste. Num sistema fixo com este, conhecer um elemento permite encontrar
os outros. Este é o mecanismo utilizado pela bússola, instrumento que permite
escolher o sentido do deslocamento a partir de uma direção dada.
Esta palavra pode adquirir também o significado de consciência
das coisas, discernimento, ponto de vista, o que não deixa de estar relacionado
com o primeiro significado. O sentido, sob o ponto de vista espacial, permite a
localização das coisas e das pessoas em relação á realidade exterior, situa o
indivíduo no mundo e, sob o ponto de vista de produção de significados, faz o
mesmo.
NORTE
OESTE LESTE
SUL
2 HOUAISS,2001.p.2547
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2-A direção :
Se direção, como dissemos, é um conceito relacionado com um sistema
móvel, porém interno, pensar a direção da intervenção psicopedagógica
compreende analisar sua especificidade e suas possibilidades.
Quanto ao primeiro aspecto, é preciso que fique clara a natureza da
atuação psicopedagógica definida no Código de Ética,documento que expressa
o consenso de determinada categoria profissional a respeito dos limites e
possibilidades de seu trabalho.
Reiteramos que a intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do
processo de aprendizagem humana, o qual jamais está dissociado de
processos de ensino.
Como animais sociais, aprendemos sempre com nossos semelhantes.
Os outros animais não precisam aprender tanto porque possuem uma base
instintiva muito grande e, quando o fazem, isso jamais ocorre com outros de
sua mesma espécie: são adestrados pelos humanos e repetem sempre as
mesmas ações, sem potencial criativo.
Aprender é uma possibilidade inerente à espécie humana, que permite
a criação da cultura. Tratando a cultura em analogia aos sistemas de
5
5 MOSTERÍN,1993.
6 MOSTERÍN,1993
6
2.1- Teorias:
7 MOSTERÍN,1993.p.28
8 MOSTERÍN,1993.p.32
7
11 VISCA,1987
12 FERNÁNDEZ,1990
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2.2. Técnicas :
13 BEYER,1996
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Em relação às técnicas, em nossa opinião, elas também
imprimem a direção da intervenção psicopedagógica. Podem ser mais diretivas
ou mais informais, dependendo do caso; podem ser baseadas na utilização de
jogos, dinâmicas de grupo, materiais inestruturados, como trabalhos com
sucata ou caixa de areia e também podem incluir o psicodrama.
Os jogos são muito utilizados no trabalho psicopedagógico e devem
conter, pelo menos, estas três características:
1. Permitirem o desenvolvimento das estruturas cognitivas, que
possibilitam a flexibilidade do pensamento;
2. Permitirem a vivência de situações imaginárias que possibilitam o
desenvolvimento da linguagem em suas distintas modalidades e a
construção de valores morais;
3. Permitirem a interação entre os participantes, facilitando a
comunicação e as relações interpessoais.
Sua aplicação, com maior ou menor intensidade, vai depender do
sentido da intervenção, o que vamos analisar posteriormente.
O brincar é um recurso psicopedagógico que resgata o prazer de
aprender. É por meio de brincadeiras que nós, humanos, construímos nossa
visão acerca do mundo em que vivemos, da cultura em que estamos inseridos.
Os jogos, pela sua estrutura, representam situações em que se tem de
enfrentar limites. Não somente os limites das regras neles implícitas, mas
também nossos próprios limites, que devem ser superados para que
possamos ter êxito. Sua variedade é muito ampla, permitindo uma abrangência
de escolhas entre jogos individuais ou grupais, jogos cooperativos ou
competitivos. Os jogos de computador são uma opção à parte e não podem ser
deixados de lado numa sociedade tecnológica como a de hoje, assim como
não se pode abrir mão dos jogos tradicionais como bolinhas de gude, 5 Marias
ou amarelinha. Cada um tem suas possibilidades no trabalho psicopedagógico,
ligadas à construção de um cenário lúdico, de desafio, distinto da realidade
escolar tão impregnada de vínculos negativos para a criança com dificuldades
de aprendizagem.
As dinâmicas de grupo são muito utilizadas pelo psicopedagogo na
instituição. Na dinâmica de grupo não há a competição interpessoal. Mas
existe a cooperação grupal, que se apóia na solidariedade da micro-unidade.
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Além de motivadoras, as técnicas de dinâmicas de grupos contribuem para a
criatividade, desinibição , avaliação do processo, fixação de conhecimento ,
fortalecimento e formação da personalidade individual, na medida em que as
pessoas se inserem positivamente em um grupo de trabalho ou estudo.
O método geralmente empregado nesta técnica é aquele que se baseia
na aprendizagem vivenciada de dentro para fora. As dinâmicas de grupo
permitem ao psicopedagogo observar a capacidade do sujeito de adaptação às
novas situações, facilitam o processo ensino/aprendizagem e permitem que
sejam evidenciadas as características de personalidade, com menor influência
dos mecanismos de defesa.
Em relação às dinâmicas, não basta simplesmente utiliza-las sem que o
profissional saiba como proceder de forma a que possam produzir os efeitos
esperados nas pessoas. Um recurso fundamental associado à sua aplicação é
o CAV- Ciclo de Aprendizagem Vivencial – que consiste na elaboração do
trabalho realizado, conduzido pelo dinamizador. É recomendável que o
psicopedagogo procure adquirir conhecimentos nas técnicas de mediação de
dinâmicas de grupo, principalmente quando trabalha em instituições.
A caixa de areia e as miniaturas são recursos de origem psicoterápica,
que costumam ser utilizados por psicopedagogos tanto na avaliação quanto no
processo corretor. O trabalho geralmente é adaptado às necessidades da
intervenção dirigida para o processo de aprendizagem.Teve sua origem na
Inglaterra, com Margareth Lowenfeld, em 1935; no entanto, segundo Estelle
Weinrib (WEINRLB, 1993), o próprio Jung deve ter sido o primeiro a envolver-
se com esta terapia, em 1912. O material consiste numa caixa retangular rasa,
com dimensões variáveis, e cheia até a metade de areia de praia peneirada. O
fundo pode ser pintado de azul claro para facilitar a impressão de água: rio,
lago ou mar. As miniaturas são objetos simbólicos do mundo real e imaginário,
tais como: animais - selvagens, domésticos, pré-históricos, terrestres, aéreos,
aquáticos, vertebrados, invertebrados; meios de transporte - aéreos, terrestres
e aquáticos; vegetação; moradias; meios de comunicação; pedras, vidros,
madeiras; personagens de contos de fadas; super-heróis, guerreiros,
personagens de história em quadrinhos; figuras humanas e outros. Quanto
maior for a variedade de espécies, mais rica será a construção na caixa de
areia, ampliando a possibilidade de imaginação e criatividade.
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Todo o movimento realizado na caixa de areia é observado e
considerado importante: como a criança se aproxima, olha, explora, manipula,
escolhe, pega, cria. Observamos também a expressão, os sons e vozes -
onomatopaicos, diálogos, imitações, gritos ou silêncio, o limite da caixa, a
organização - seleção, distribuição, quantidade de miniaturas que o sujeito faz
etc. Enfim, o seu envolvimento com a atividade. As construções realizadas
podem ser registradas, ensejando produção de textos e outros trabalhos
relacionados com a leitura/escrita.
A técnica do psicodrama aplicada ao trabalho psicopedagógico foi
trabalhada por Alícia Fernández em seu livro “Psicodrama em
Psicopedagogia”14 . Ela não considera que o jogar/brincar seja competência
apenas da criança, mas conduta humana que permanece durante a
adolescência e a maturidade. Em sua opinião, o psicodrama possibilita a
recriação de cenas significativas na história das aprendizagens pessoais,
facilita o trabalho de desenvolvimento da autoria de pensamento, é um dos
modos de por em operação o recordar e permite a emergência da
agressividade criativa.
A escolha de uma linha teórica e de técnicas específicas, indica a
direção da intervenção psicopedagógica, pois permitem a mobilidade
necessária a este profissional dedicado a estudar e atuar sobre o processo de
aprendizagem, o qual possui um dinamismo inerente à condição humana.
3- O sentido :
14 FERNÁNDEZ,2001
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deste aspecto inerente ao seu trabalho, conflitos podem surgir na relação com
outros profissionais.
A intervenção psicopedagógica só tem sentido se dirigida para o processo
de aprendizagem, seja para potencializa-lo ou para corrigi-lo. Porém, é preciso
pensar onde se quer chegar, num âmbito ou no outro e isso vai depender de
cada caso em particular. Sendo assim, o sentido de toda e qualquer
intervenção precisa ser definido previamente pelo psicopedagogo: o que ele
pretende ? qual é sua intenção com este ou aquele tipo de trabalho ?
De maneira geral,o trabalho psicopedagógico está sempre comprometido
com a mudança, seja de comportamentos, atitudes, hábitos ou sentimentos.
Desta maneira, seu objetivo é promover espaços para que a mudança ocorra e
possa ser percebida pelo sujeito e ou o grupo.
Encarado como um terapeuta da aprendizagem, o psicopedagogo é aquele
que cuida, que se desvela em direção ao outro procurando aliviar-lhe os
sofrimentos resultantes de um processo de “não aprendizagem”. É aquele que
cuida, não o que cura. Ele está lá apenas para por o sujeito nas melhores
condições possíveis, a fim de que este venha a se curar. É também aquele que
honra, e que, portanto, é responsável por uma ética subjacente à sua atividade.
Sem esta compreensão, a práxis psicopedagógica carece de sentido e
pode se tornar a repetição de práticas utilizadas por professores, como se
fossem “aulas particulares”.
Já que aprender é função tanto cognitiva quanto afetiva, a intervenção
psicopedagógica não pode se fixar num aspecto ou no outro, mas transitar de
um lugar objetivo para um subjetivo, articulando inteligência e desejo, abrindo
espaços transicionais, posicionando-se nas intersecções entre jogo e trabalho,
de forma a cumprir seu objetivo maior, qual seja o resgate do prazer e da
criatividade.
O sentido da intervenção é seu norte, ou seja, o objetivo para o qual se
dirige. Precisa ser definido, pois é fundamental para o êxito do trabalho.
Entretanto, isso não significa que seja imutável. Muitas vezes, o profissional
necessita mudar o sentido que está imprimindo à intervenção em função de
novas hipóteses de trabalho que se apresentam no decorrer das atividades, ou
em função da reação obtida com a direção escolhida.
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Se o psicopedagogo não é capaz de mudar de sentido, está inapto para
a tarefa psicopedagógica, pois esta é, essencialmente, dirigida para a
promoção de mudanças.
Toda práxis psicopedagógica é fruto da articulação teoria/prática e
constitui-se numa construção pessoal que faz parte da formação profissional
desta categoria. Geralmente inicia-se com o período de estágio supervisionado,
que deve acontecer ao final do curso de especialização. Desde as primeiras
atuações do estudante, a questão da direção e do sentido da intervenção deve
ser objeto de discussão com o supervisor, de tal forma que sua definição se
torne uma estratégia que garanta o sucesso do trabalho.
4- Conclusão :
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: