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Fundamentos do Racionalismo Concreto

II — Bases de Concepção Realista

A) Contrariamente ao idealismo, lidade objectiva que existe fora e inde-


que considera o mundo c o m o a incar- pendentemente da consciência ; que a
nação da «ideia absoluta», do «espírito matéria é um dom primacial, porque é
universal», da «consciência», o realismo a origem das sensações, das represen-
parte do princípio que o mundo, por tações, da consciência, enquanto a cons-
sua natureza, é material; que os múl- ciência é um d o m secundário, derivado,
tiplos fenómenos do universo são os porque representa o reflexo da matéria,
diferentes aspectos da matéria em movi- o reflexo do sêr; que o pensamento é
m e n t o ; que as relações e o condicio- produto da matéria, quando esta atinge,
namento recíprocos dos fenómenos na sua evolução, um alto grau de per-
estabelecidos pelo método dialético feição; mais precisamente, o pensa-
constituem as leis necessárias do desen- mento é o produto do cérebro, e o cére-
volvimento da matéria em m o v i m e n t o ; bro, o órgão do p e n s a m e n t o ; não se
que o mundo se desenvolve segundo as poderia, por consequência, separar o
leis da matéria, e não tem necessidade pensamento da matéria sem incorrer
alguma do «espírito universal» ( i ) . num erro grotesco.
A concepção realista do mundo O problema da relação do pensa-
significa simplesmente a concepção da mento com o sêr, do espírito c o m a
natureza tal c o m o ela é, sem nenhum natureza, é o problema fundamental de
acréscimo estranho. toda a filosofia. Conforme a maneira
A propósito da concepção materia- por que lhe respondiam, os filósofos
lista, já na filosofia da antiguidade se dividiam-se em dois campos. O s que
pode apreciar um excelente resumo d o s afirmavam a prioridade do espírito
princípios do método dialético em Herá- c o m o relação à natureza formavam o
clito, para quem «o mundo é uno e não campo do idealismo. O s outros, que
foi criado por nenhum deus nem por n e - consideravam a natureza c o m o anterior,
nhum h o m e m ; foi, é e será uma chama pertenciam às diferentes escolas do ma-
eternamente viva, que se abrasa e se terialismo.
extingue segundo leis determinadas». O mundo material, perceptível pelos
B) Contrariamente ao idealismo, sentidos, a que nós próprios pertence-
que afirma que só a nossa consciência mos, constitui a única realidade. O
existe realmente, que o mundo mate- nosso pensamento e a nossa consciên-
rial, o sêr, a natureza não existem senão cia por mais transcendentes que pare-
na nossa consciência, nas nossas sensa- çam não são senão produto dum órgão
ções, representações, conceitos, a con- material, corporal: o cérebro. A maté-
cepção dialética parte do princípio que ria não é produto do espírito, m a s o
a matéria, a natureza, o sêr é uma rea- espírito não é por si próprio senão o
produto superior da matéria.
A propósito do problema da matéria
( i ) Sobre o «espirito universal» veja este
número de «Síntese», pág. 1 0 . e do pensamento, n ã o seria possível

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