A) Contrariamente ao idealismo, lidade objectiva que existe fora e inde-
que considera o mundo c o m o a incar- pendentemente da consciência ; que a nação da «ideia absoluta», do «espírito matéria é um dom primacial, porque é universal», da «consciência», o realismo a origem das sensações, das represen- parte do princípio que o mundo, por tações, da consciência, enquanto a cons- sua natureza, é material; que os múl- ciência é um d o m secundário, derivado, tiplos fenómenos do universo são os porque representa o reflexo da matéria, diferentes aspectos da matéria em movi- o reflexo do sêr; que o pensamento é m e n t o ; que as relações e o condicio- produto da matéria, quando esta atinge, namento recíprocos dos fenómenos na sua evolução, um alto grau de per- estabelecidos pelo método dialético feição; mais precisamente, o pensa- constituem as leis necessárias do desen- mento é o produto do cérebro, e o cére- volvimento da matéria em m o v i m e n t o ; bro, o órgão do p e n s a m e n t o ; não se que o mundo se desenvolve segundo as poderia, por consequência, separar o leis da matéria, e não tem necessidade pensamento da matéria sem incorrer alguma do «espírito universal» ( i ) . num erro grotesco. A concepção realista do mundo O problema da relação do pensa- significa simplesmente a concepção da mento com o sêr, do espírito c o m a natureza tal c o m o ela é, sem nenhum natureza, é o problema fundamental de acréscimo estranho. toda a filosofia. Conforme a maneira A propósito da concepção materia- por que lhe respondiam, os filósofos lista, já na filosofia da antiguidade se dividiam-se em dois campos. O s que pode apreciar um excelente resumo d o s afirmavam a prioridade do espírito princípios do método dialético em Herá- c o m o relação à natureza formavam o clito, para quem «o mundo é uno e não campo do idealismo. O s outros, que foi criado por nenhum deus nem por n e - consideravam a natureza c o m o anterior, nhum h o m e m ; foi, é e será uma chama pertenciam às diferentes escolas do ma- eternamente viva, que se abrasa e se terialismo. extingue segundo leis determinadas». O mundo material, perceptível pelos B) Contrariamente ao idealismo, sentidos, a que nós próprios pertence- que afirma que só a nossa consciência mos, constitui a única realidade. O existe realmente, que o mundo mate- nosso pensamento e a nossa consciên- rial, o sêr, a natureza não existem senão cia por mais transcendentes que pare- na nossa consciência, nas nossas sensa- çam não são senão produto dum órgão ções, representações, conceitos, a con- material, corporal: o cérebro. A maté- cepção dialética parte do princípio que ria não é produto do espírito, m a s o a matéria, a natureza, o sêr é uma rea- espírito não é por si próprio senão o produto superior da matéria. A propósito do problema da matéria ( i ) Sobre o «espirito universal» veja este número de «Síntese», pág. 1 0 . e do pensamento, n ã o seria possível