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A Reprodução Assistida e Os Embriões
A Reprodução Assistida e Os Embriões
Fortaleza
Agosto – 2009
1
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-
Graduação em Direito
Constitucional como
requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre
em Direito Constitucional,
sob a orientação de
conteúdo da Professora
Doutora Gina Marcílio Vidal
Pompeu.
Fortaleza - Ceará
2009
2
__________________________________________________________________________
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
Prof. Dra. Gina Marcílio Vidal Pompeu
Universidade de Fortaleza
________________________________________________________
Prof. Dr. Martonio Mont’ Alverne Barreto Lima
Universidade de Fortaleza
________________________________________________________
Prof. Dra. Maria Vital da Rocha
Faculdade 7 de Setembro
4
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Wilson Campos e Maria de Fátima Parente Campos, por me ensinarem a
ser forte diante das adversidades da vida sem deixar de lado a alegria e o entusiasmo
que são minhas notas distintivas, meu eterno agradecimento.
Ao meu marido, Eduardo Lago Castello Branco, pelo incentivo, atenção e compreensão
nos momentos difíceis. Por todas as vezes que se colocou a minha disposição. Enfim,
pelo amor incondicional que sempre demonstrou ter por mim.
A minha querida orientadora, Professora Doutora Gina Marcílio Vidal Pompeu, por todos
os momentos dedicados à orientação desta pesquisa e por servir de exemplo de
autenticidade, caráter e perseverança.
A Professora Núbia Maria Garcia Bastos e ao Professor José Bastos pela atenção e
presteza com que me receberam.
Aos meus amigos Ivan Magalhães e Virginia Batista, Gilson Rios e Alice Becco, Ivan Dias
e Thereza Novais, João Henrique Dummar Antero e Talitha Vieira, Diego Capibaribe, por
acompanharem de perto o desenvolver deste estudo, por entenderem todas as vezes que
tive de dizer não aos seus convites e ainda assim me incentivarem a seguir adiante.
RESUMO
ABSTRACT
The search for knowledge on natural events and the phenomenon of creation of
life seems to have motivated man to follow towards the continuous and rapid
development of science. In this process each discovery lead to new questions that
stimulated man to keep moving on. With the advances in science and its resulting
specification, was created a branch called "life science", dedicated to the study of
the human being. It was matter of time until man came to dominate certain
processes that were previously considered strictly natural. As a result of this
concern, man was able to create human life in a laboratory, in order to circumvent
the conjugal sterility. The field of assisted reproduction techniques has surficed
questions of ethical, legal, psychological and religious order. This work is aimed at
discussing some of these issues and help broaden the debate on ethical and legal
issues. Thus, an approach is initially taken about two new sciences as a basis for
the present research, namely: the Bioethics, and the principles that inform it, and
Biolaw. In a second moment, we present the techniques of medically assisted
human reproduction, then, an exposure on the issue of surplus embryos from
those techniques, as well as the destinations they can be given. We later analyze
the problem of legal protection aimed at those surplus embryos. Following, is the
presentation of the theories involved in setting the initial term of life and suggests
that these embryos are comprehended in a new legal status that needs special
protection status from the ordenment in proper juridic statute. Comments are
made to art. 5 of Law No. 11105 of March 24, 2005 (Law on Biosafety), regarding
research with embryonic stem cell, Resolution No 1358 of 11 November 1992, the
Federal Council of Medicine, and the major project bills dealing with assisted
reproduction. Finally, it promotes a critical analysis of the decision of the Supreme
Court at the Direct Action of Unconstitutionality No 3510 of 30 May 2005 which
authorized the studies with embryonic stem cells. Concludes with the assertion
that human life must be respected, based on the principle of human dignity and
the right to live, even human life created and maintained in the laboratory.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 11
1 A BIOÉTICA E O BIODIREITO 21
1.1 A Bioética 22
1.1.1 O princípio da beneficência 25
1.1.2 O princípio da não-maleficência 27
1.1.3 O princípio da autonomia 28
1.1.4 O princípio da justiça 30
1.2 O Biodireito 33
2 A REPRODUÇÃO ASSISTIDA E OS EMBRIÕES EXCEDENTES 37
2.1 A inseminação artificial – IA 39
2.2 A fecundação in vitro – FIV 41
2.3 A transferência intratubária de gametas – GIFT 46
2.4 A maternidade de substituição 47
2.5 A doação de embriões 48
2.6 Os embriões excedentes 49
3 A TUTELA JURÍDICA DOS EMBRIÕES EXCEDENTES 64
3.1 O início da vida 65
3.1.1 A doutrina concepcionista 67
3.1.2 A doutrina genético-desenvolvimentista 69
3.1.3 A doutrina natalista 72
3.2 A dignidade da pessoa humana e o respeito à vida 74
3.3 A personalidade no Código Civil 78
3.4 A questão do aborto 84
3.5 O embrião como um novo status jurídico 87
3.6 Lei de Biossegurança 90
3.7 Resolução nº 1.358/92 do Conselho Federal de Medicina 93
10
INTRODUÇÃO
A ciência não pode ser considerada, por si só, como boa ou má. O que a
caracteriza como tal é o uso que lhe é empregado. É justamente neste ponto que
atua o Direito, impondo os limites necessários às atitudes do homem, em prol dos
interesses do próprio homem enquanto ser individual e social.
12
Outra situação que pode acontecer é o ser humano ser gerado no útero de
outra mulher, o que daria ensejo à dúvida sobre quem deverá ser considerada
mãe, a que gerou ou a que confiante aguarda o nascimento de um filho que talvez
não chegue aos seus braços? Seria possível a locação de um útero? Há ainda a
possibilidade de ser um dos cônjuges manipulado pelo outro a recorrer a uma ou
outra técnica por meio de chantagem ou de outro artifício, desconhecido pelo
médico, fazendo-se questionar se seria lícita a interrupção da gravidez nestes
casos.
Estas são apenas algumas das situações que podem surgir com a
utilização das técnicas de reprodução assistida. O fato é que, ainda hoje,
aproximadamente quarenta e um anos após o nascimento do primeiro bebê de
proveta, o Brasil ainda não tem uma lei que regulamente a reprodução humana
assistida, impondo limites a sua utilização, deixando a critério dos médicos e
14
éticos e jurídicos é o seu principal objetivo. Dentre elas uma merece especial
atenção, qual seja: a que se refere à doação do embrião excedente para pesquisa
científica.
Assim, este trabalho se dedica ao estudo de questões que têm como sujeito
o embrião excedente das técnicas de reprodução assistida. Procura-se, para
tanto, analisar: quais os efeitos causados no ordenamento pátrio pelos novos
paradigmas das ciências biotecnológicas, notadamente os das técnicas de
reprodução assistida que tem, na maioria das vezes, como produto final os
embriões excedentes? Quais as maiores dificuldades enfrentadas pelo Direito,
notadamente no que diz respeito à proteção desses embriões diante da
possibilidade da sua coisificação pelas pesquisas científicas? Como tornar
possível a assunção desses novos paradigmas com a finalidade ética do
ordenamento jurídico brasileiro?
diversos destinos que podem lhes ser dados. Desta forma, ponderam-se os
seguintes temas: congelar ou não congelar, destruição, descarte direto ou
descarte simulado de embriões, doação de embriões de casal para casal ou para
fins de pesquisa científica.
1 A BIOÉTICA E O BIODIREITO
1.1 A bioética
O termo bioética surgiu a partir da junção dos termos gregos bios e ethos,
que significam vida e ética, respectivamente. Foi utilizado pela primeira vez por
Van Rensselaer Potter, biólogo e oncologista norte-americano, da Universidade de
Wisconsin, em Madison, em sua obra intitulada Bioethics: a Bridge to the Future,
publicada em 1971. Nesta obra, a bioética foi compreendida como uma “ciência da
sobrevivência”, voltada para a ideia de uma ética global, relacionando-se com a
vida em geral (FABRIZ, 2003, p. 73). Era vista “como uma questão ou um
compromisso mais global frente ao equilíbrio e preservação da relação dos seres
humanos com o ecossistema e a própria vida do planeta.” (COSTA; GARRAFA;
OSELKA, 1998, p. 15).
Deve-se ter em mente que nem tudo que é tecnologicamente possível seja
necessariamente ético e deva ser protegido pelo ordenamento jurídico. É
exatamente neste ponto que o estudo da Bioética se faz necessário, investigando,
questionando, analisando possibilidades, sejam elas relacionadas aos acertos e
erros, aos prós e contras, bem como quanto aos benefícios e malefícios,
decorrentes do uso indiscriminado dessas novas tecnologias, com o escopo de
alertar a sociedade quanto ao perigo da não regulamentação do uso dessas novas
técnicas. Cabe à Bioética realizar juízos de valor sobre essas novas
biotecnologias.
Referido dever não tem, todavia, caráter absoluto, visto que pode ocorrer
de dois deveres iguais entrarem em conflito, ou ainda, que o dever de praticar o
bem conflite com um dever maior, situações que demonstram o caráter
condicional da beneficência. Por exemplo, manter alguém que se encontra em
estado vegetativo vivo por tempo indeterminado, com o auxílio de aparelhos,
somente para satisfazer a família, sem pensar no consequente sofrimento
experimentado pelo paciente.
À capacidade que o ser humano tem de decidir o que julga melhor para si,
dá-se o nome de autonomia. Relata Oliveira (2008, p. 48) que:
Este critério foi introduzido na ética médica nos anos 70, quando houve
uma revolução no relacionamento médico-paciente. Eis que emergiu
desse comportamento uma relação entre sujeitos, em que o paciente não
era mais percebido como objeto. É uma relação de sujeitos autônomos, e
que estabelecem relações entre si, compartilhando decisões em parceria
e no gozo de plenos direitos [...]
O paciente tem o direito de ser ou não ser informado, de acordo com sua
convicção, sobre o seu diagnóstico, prognóstico, bem como sobre as condutas
diagnósticas e terapêuticas a serem utilizadas, visto que só assim poderá dar seu
consentimento livre e esclarecido para a realização daquelas condutas. Seguem o
mesmo entendimento Muñoz e Fortes (1998, p. 65):
Vale lembrar que o ser humano não nasce autônomo, ele se torna
autônomo, e essa autonomia não deve ser um direito absoluto. O que se garante é
o direito e proteção à vida, mas não a disposição sobre ela. Equipara-se o
significado dessa autonomia ao da capacidade para o exercício de direitos, ou
seja, todos nascem sujeitos de direito, contudo a capacidade para exercê-los vem
com o tempo e maturidade suficientes.
Ocorre que os gastos com a saúde pública passam longe de ser suficientes
para o atendimento da demanda. Deveria haver um maior investimento na área da
saúde, porém, a quem cabe decidir não interessa a questão. Não se está pedindo
um nível de excelência em saúde pública digno de países de primeiro mundo, mas
que sejam atendidas as necessidades básicas, que seja garantido a todos um
atendimento com um mínimo de qualidade. Giovanni Berlinguer, em seu livro Ética
de la Salud (SIQUEIRA, 1998, p. 71), afirma que: “Ontem a ética tratava de
Justiça, do acesso aos serviços de saúde, dos direitos dos enfermos; hoje, fala-se
unicamente da racionalização dos tratamentos médicos”.
O princípio da justiça refere-se ao meio e fim pelo qual se deve dar toda
intervenção biomédica, isto é, maximizar os benefícios com o mínimo
custo, Nesse ‘mínimo custo’, devem estar abrangidos não apenas os
aspectos financeiros, que quando bem equacionados permitem a
igualdade de acesso aos serviços de saúde, mas também os custos
sociais, emocionais e físicos. Ou seja, justa é a intervenção médica que
leva em conta os valores do paciente, bem como sua capacidade de
deliberação e unidade psicofísica.
1
Fabriz (2003) faz parte de uma corrente que entende existir uma trindade ou tríade de princípios
bioéticos, quais sejam: beneficência, autonomia e justiça. Segundo este autor, o princípio da não
maleficência é uma decorrência do princípio da beneficência.
33
1.2 O Biodireito
Infere-se daí que o Biodireito é um novo segmento do saber jurídico, que tem
como objetivo a proteção da vida e da dignidade humana, através da elaboração
de teorias, legislação e jurisprudência sobre os constantes avanços das ciências
biotecnológicas. Para Hironaka (2003, p. 43):
humana. Diante das infinitas possibilidades trazidas pelos avanços nas técnicas
de reprodução humana, a exemplo do risco do descarte de embriões, da sua
utilização como objeto de pesquisas, da eugenia, da clonagem, entre tantas
outras, o Direito não pode quedar inerte.
2
Posição supina – Neste caso, o que será mantido elevado em relação ao corpo é o quadril.
3
Capilar – Tubo de plástico, de diâmetro interno muito pequeno, utilizado para a inserção dos
espermatozóides.
4
Azoto – Nitrogênio. Substância utilizada para o congelamento dos embriões.
40
5
Canal cervical – Porção interna do colo uterino.
6
Subfertilidade – fertilidade precária ou insuficiente.
41
Superada a primeira fase, ocorre a coleta dos óvulos, que é feita mediante
punção. Consiste na aspiração por agulha de óvulos e fluido folicular, que são
imediatamente levados ao laboratório, onde o fluido é examinado para saber se
contém óvulos. Anteriormente feita por laparotomia8 ou por laparoscopia9, com
anestesia geral, hoje a maioria das punções é realizada sob controle ecográfico. A
ecografia fez com que a punção folicular se tornasse um procedimento menos
invasivo, diminuindo o tempo do procedimento e podendo ser realizada com uma
leve anestesia, que pode ser geral ou local. O mais moderno e seguro método de
punção é a sonda ecográfica vaginal.
8
Laparotomia – Abertura cirúrgica do abdômen.
9
Laparoscopia – Exame endoscópico da cavidade peritoneal (membrana serosa que reveste
internamente a cavidade abdominal e pélvica, bem como os órgãos nela contidos).
43
Para que seja indicado uso desta técnica, é necessária a existência de dois
pressupostos, quais sejam: esterilidade tubária feminina e esterilidade masculina.
Em termos médicos, não há qualquer problema que inviabilize o uso desta técnica.
Contudo, a esterilidade masculina pode vir a se transformar em um grande
problema para o casal, mais especificamente para o homem, afastando a
possibilidade do uso da referida técnica. Ocorre que os homens tendem a rejeitar
10
Endometriose – Condição patológica em que são encontrados focos múltiplos de endométrio
ectópico - mucosa que reveste a cavidade uterina.
44
doadora que já esteja passando por esse tratamento. Ocorre que nem sempre
isso será possível, mas se o fosse diminuiria consideravelmente a quantidade de
embriões excedentes, que têm na estimulação ovariana uma de suas principais
causas.
Segundo Leite (1995, p. 50), o uso desta técnica tem maior aceitação pela
Igreja, mas para que haja uma total aprovação da técnica pelo Vaticano, seriam
necessárias duas medidas: que o esperma fosse coletado durante a relação
sexual, de modo que não fosse caracterizada nem a masturbação, nem a
contracepção; e que espermatozóides e óvulos fossem “separados por bolha de ar
no cateter de transferência, de tal forma que a fecundação ocorra in vivo”, motivo
pelo qual a transferência intratubária de gametas fosse denominada por alguns
críticos como “a bolha do papa”.
47
tornando-se assim uma alternativa não só para os casais estéreis, mas para
aqueles cujo projeto parental, do qual esses embriões são provenientes, foi bem
sucedido e resta acabado, ou seja, não têm interesse em uma nova gravidez.
11
Iatrogênica – Alteração patológica no paciente decorrente de tratamento de qualquer natureza.
52
devido à pressão exercida sobre os pulmões; disfunção renal, visto que com a
diminuição significativa de sangue a passar pelos rins, menos sangue é filtrado,
com consequente diminuição do volume de urina; mudanças no volume
sanguíneo, entre outras tantas que podem levar à morte de pacientes jovens e
saudáveis.
Como dito em outra oportunidade, vários são os destinos que podem ser
dados aos embriões excedentes das técnicas de reprodução assistida, bem como
várias são as teorias que tentam dar suporte a cada um deles. Basicamente
existem 7 (sete) destinos para esses embriões, quais sejam: congelar, não
congelar, destruir, descarte direto ou descarte simulado, doar para casais e doar
para investigação científica.
12
Criopreservação – Preservação da estrutura celular mediante técnica de congelamento.
54
haja sobras, destruindo os demais óvulos, uma vez que com o seu congelamento
não tem alcançado o desempenho almejado, ou a sua doação para uma receptora
acometida pela esterilidade.
13
Blastocisto – Esta fase se caracteriza pelo surgimento do blastócito, que é uma célula embrionária não
diferenciada.
56
14
Endométrio – Mucosa que reveste a cavidade uterina.
57
15
Gêmeos univitelinos – Que provêm de um mesmo ovo.
58
(oito) células, mas vida humana em fase inicial de desenvolvimento, pela qual
todos um dia passaram, portanto, merecedora de respeito e dignidade.
o
Art. 5 É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de
células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos
por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento,
atendidas as seguintes condições:
I – sejam embriões inviáveis; ou
II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da
publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta
Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de
congelamento.
o
§ 1 Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.
§ 2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa
ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter
seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética
em pesquisa.
o
§ 3 É vedada a comercialização do material biológico a que se refere
este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei no
9.434, de 4 de fevereiro de 1997. (grifo do original).
A questão nesta seara não é tão simples quanto parece. Embora a doação
embrionária de casal para casal atenda a uma boa causa e seja feita de forma
altruísta, quando se fala em doação de embrião, o mesmo parece não passar de
uma coisa, que pode ser livremente disposta de acordo com a vontade das partes
59
envolvidas. Esta forma de pensar o embrião in vitro não pode ser aceita por se
mostrar contrária ao princípio da dignidade humana. O destino a ser dado a estes
embriões é nobre e condizente com a finalidade ética do ordenamento jurídico.
Apenas a nomenclatura é inadequada por não se estar tratando de coisas, mas de
seres humanos, razão pela qual se poderia falar, analogamente, em adoção de
embriões.
16
Clonagem terapêutica – Técnica através da qual são criados embriões exclusivamente para a extração das
células-tronco.
61
Já nos dois últimos casos, o que existe é um pseudo fim altruísta, que
preconiza a cura de diversas enfermidades através da destruição em massa de
embriões humanos, uma vez que para a obtenção destas células-tronco
embrionárias se faz necessária a morte dos mesmos. Não se trata de manipulação
do embrião para seu próprio bem, mas de sua destruição para uma possível cura
de enfermidade alheia. A instrumentalização do ser humano neste caso é notória e
não pode ser admitida pelo Direito, por afrontar diretamente o direito fundamental
à vida e o princípio da dignidade humana, ambos insculpidos no corpo da
Constituição Federal.
17
Pré-embrião – É o produto da fertilização, ou seja, o conjunto de células referente aos 14 (catorze)
primeiros dias da concepção. Convencionou-se chamar de pré-embrião pelo fato de antes desses 14 (catorze)
dias não existir nenhum esboço de estrutura nervosa.
62
O Direito, antes tido como uma ciência sólida, deparou-se com diversas
questões decorrentes da difusão e utilização das técnicas de reprodução assistida,
que culminaram com a quebra de paradigmas considerados imutáveis pelos
estudiosos daquela ciência, tais como: as presunções de que pater is est quem
justae nuptia demonstrat19 e que mater semper certa est20.
18
Nidação – Implantação do ovo na mucosa uterina.
19
Pater is est quem justae nuptia demonstrat – Pai é quem demonstra justas núpcias.
20
Mater semper certa est – Mãe é sempre certa.
65
Assim, para que seja possível avaliar as teorias acerca do início da vida,
faz-se necessário o conhecimento do início biológico da vida. Sobre o tema
manifesta-se o geneticista francês Lejeune (apud VASCONCELOS, 2006, p. 37-
38):
21
Fertilização será aqui compreendido como sinônimo de fecundação e concepção.
22
O vocábulo pessoa deve ser entendido como atributo ou qualidade inerente ao ser humano.
68
própria, que o distingue da mãe. Tal assertiva é comprovada pelo fato de que o
embrião, ainda na proveta, dá início por si só ao seu desenvolvimento. Fazendo
do ambiente uterino um fator extrínseco, que apenas contribui para o seu bom
crescimento, o que com o progresso científico poderá restar substituído por um
ambiente totalmente artificial. Ao tratar da doutrina concepcionista Vasconcelos
(2006, p. 37) afirma que:
Para os defensores desta teoria, nascituro e embrião in vitro não têm nem
nunca terão o mesmo significado, salvo se a lei assim o determinar. Até porque se
a lei não confere personalidade civil ao nascituro, que se encontra no útero
materno em pleno desenvolvimento, não a conferirá a um embrião que não se
encontra no ventre materno e que nem se sabe quando se encontrará.
23
A partir deste momento dar-se-á preferência à utilização da expressão dignidade humana, ao
invés de dignidade da pessoa humana, por se filiar a autora à corrente que entende ser o vocábulo
pessoa um atributo do ser humano, de forma que seria redundante falar-se em pessoa humana,
haja vista que somente seres humanos podem ser considerados pessoas.
75
Observa-se, pois, que toda relação jurídica tem por titular o ser humano.
Também os embriões excedentes oriundos da reprodução assistida devem ser
assim considerados, uma vez que lhes é inerente a qualidade de ser humano.
Entretanto não é isto que se observa na legislação brasileira. Segundo Meirelles
(2000, p. 47):
Entende-se por prole eventual aquela que ainda está para ser concebida.
Difere, portanto, do conceito de nascituro haja vista que este é ser humano já
concebido. Segundo o entendimento de Pontes de Miranda, citado por Meirelles
(2000, p. 54), “[...] a prole eventual constitui todo ente humano que pode vir a ser
concebido, é o nondum conceptus, o ente humano futuro”.
Não há muito que se dizer sobre uma possível relação entre prole eventual
e embriões excedentes, não são sequer semelhantes. Todavia, uma ressalva
merece ser feita em favor da defesa dos direitos daqueles embriões. Se o Código
Civil protege os interesses de um ser que ainda não existe no mundo dos fatos,
com mais razão devem ser estendidas aos embriões excedentes as proteções
conferidas ao nascituro, haja vista se tratar de ser humano já concebido.
Para não deixar o problema sem solução, enquanto não existe um estatuto
jurídico do embrião, melhor seria afastar da concepção clássica da doutrina, que
compreende o nascituro como o embrião já implantado no útero materno, para
conceituá-lo de acordo com a etimologia do termo, como aquele que está por
nascer, abrangendo assim o embrião em qualquer situação, esteja ele nidado ou
não. Da mesma maneira, a palavra aborto deve ser compreendida como a
privação do nascimento e não da gravidez, ao contrário do que pretendem a
doutrina tradicional. Posicionamento este que autoriza punição da destruição do
embrião como crime de aborto, sem qualquer impedimento legal.
87
[...] Nunca é demais observar que o direito não cria fenômenos naturais,
mas sua função é apenas regulamentá-los, seja a priori ou a posteriori,
como forma de gerar segurança à comunidade, por meio da pacificação
social.
No campo dos direitos do embrião, essa pacificação se faz urgente,
através da emanação de regras jurídicas próprias sobre a matéria,
enfeixadas em um instrumento que provisoriamente podemos denominar
por Estatuto do Embrião, e que visa criar instrumentos eficientes de
proteção e impedir os conflitos que vêm surgindo entre os cientistas, a
Igreja e a comunidade, em vista da discussão em torno do início da vida
e da dignidade da pessoa humana do conceptus. (grifos do original).
º
Art. 5 É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de
células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos
por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento,
atendidas as seguintes condições:
I – sejam embriões inviáveis; ou
II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da
publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta
Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de
congelamento.
o
§ 1 Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.
o
§ 2 Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa
ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter
seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética
em pesquisa.
o
§ 3 É vedada a comercialização do material biológico a que se refere
o
este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei n
9.434, de 4 de fevereiro de 1997. (grifo do original).
criopreservação, “expressar sua vontade, por escrito, quanto ao destino que será
dado aos pré-embriões criopreservados, em caso de divórcio, doenças graves ou
de falecimento de um deles ou de ambos, e quando desejam doá-los”. A
interpretação deste item deve, todavia, obedecer à regra de não ser possível a
destruição ou descarte do embrião, bem como àquela que proíbe sua manipulação
para outros fins que não os reprodutivos. Como se percebe, a única opção é
quanto à doação do embrião para um casal que deverá ser desconhecido dos
doadores (item 2, seção IV).
Neste ponto, a principal mudança trazida pelo Projeto Substituto é que por
ele só podem as clínicas que praticam a reprodução assistida manter
criopreservados os gametas femininos e masculinos, não mais os embriões, que
como se pode observar devem ser implantados a fresco.
Cumpre salientar que nenhum dos Projetos de Lei pode ser considerado
perfeito, mas na pior das hipóteses evitam diversos questionamentos de ordem
ética e jurídica que decorrem da utilização indiscriminada das técnicas de
reprodução assistida. A inversão do ônus destas técnicas para as pretensas mães
é algo inovador e digno de aplausos. Inobstante os riscos enfrentados pela mulher
100
o
Art. 5 É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de
células-ronco embrionárias obtidas de embriões humanos
produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo
procedimento, atendidas as seguintes condições:
I – sejam embriões inviáveis; ou
II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da
publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta
Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de
congelamento.
§ 1o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.
o
§ 2 Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa
ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter
seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética
em pesquisa.
o
§ 3 É vedada a comercialização do material biológico a que se refere
o
este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei n
9.434, de 4 de fevereiro de 1997.
Supremo Tribunal Federal, bem como que seja realizada audiência pública,
prevista no artigo 9º, § 1º da Lei nº 9.868, de 10 de novembro de 1999, levando-se
em consideração a relevância e especificidade do tema em pauta. (FONTELES,
2005, p. 09-11).
[...] não se nega que o início da vida humana só pode coincidir com
o preciso instante da fecundação de um óvulo feminino por um
espermatozóide masculino. Um gameta masculino (com seus 23
cromossomos) a se fundir com um gameta feminino (também portador de
igual número de cromossomos) para a formação da unitária célula em
que o zigoto consiste. (grifos do original). (BRITTO, 2008, p. 35).
Pelo que foi exposto, seria razoável imaginar que o Ministro Relator
desenvolveria todo o seu raciocínio com vistas à proteção do embrião
independentemente da forma como se deu a sua concepção ou a sua fase de
desenvolvimento. Todavia não foi isso que se pôde observar no decorrer do seu
voto.
É que a nossa Magna Carta não diz quando começa a vida humana.
Não dispõe sobre nenhuma das formas de vida humana pré-natal.
Quando fala da ‘dignidade da pessoa humana’ (inciso III do art. 1º), é da
pessoa humana naquele sentido ao mesmo tempo notarial, biográfico,
moral e espiritual (o Estado é confessionalmente leigo, sem dúvida, mas
há referência textual à figura de Deus no preâmbulo dela mesma,
Constituição). E quando se reporta a ‘direitos da pessoa humana’ (alínea
b do inciso VII do art. 34), ‘livre exercício dos direitos [...] individuais’
105
(inciso III do art. 85) e até dos ‘direitos e garantias individuais’ como
cláusula pétrea (inciso IV do § 4º do art. 60), está falando de direitos e
garantias do indivíduo-pessoa. Gente. Alguém. De nacionalidade
brasileira ou então estrangeira, mas sempre um ser humano já nascido e
que se faz destinatário dos direitos fundamentais ‘à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade’, entre outros direitos e garantias
igualmente distinguidos com o timbre da fundamentalidade (art. 5º).
(grifos do original). (BRITTO, 2008, p. 24-25).
Ora, diante de tal afirmação, ainda que não se considerasse que há vida
humana no embrião humano desde a sua gênese, tão somente pelo fato de que
este conduz à formação de um “indivíduo-pessoa”, o mesmo seria merecedor de
proteção jurídica à luz do princípio da dignidade da pessoa humana. O embrião
humano é ser humano no início da vida, não importa a fase em que se encontre e,
enquanto não houver um estatuto jurídico próprio, deve ser entendido e protegido
como nascituro, haja vista que nascituro deve ser entendido como “aquele que
está por nascer”, ou seja, já concebido, mas que ainda não nasceu.
107
Alega, ainda, o Ministro Relator que a opção feita pela Lei nº 11.105/2005,
pela utilização dos embriões excedentes das técnicas de reprodução assistida em
muito se assemelha à doação de órgãos e tecidos:
Há mais o que dizer. Trata-se de uma opção legal que segue na mesma
trilha da comentada Lei 9.434/97, pois o fato é que um e outro diploma
normativo se dessedentaram na mesma fonte: o § 4º do art. 199 da
Constituição Federal, assim literalmente posto:
‘A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção
de
órgãos, tecidos e substâncias para fins de transplante, pesquisa e
tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e
seus derivados, vedado todo tipo de comercialização’. (grifos do original).
(BRITTO, 2008, p. 59).
A ciência que pode matar, é certo, também pode salvar, é mais certo
ainda. E se o direito ajusta o que a ciência pode melhor oferecer para que
viva melhor àquele que mais precisa do seu resultado, não há razões
constitucionais a impor o entrave desse buscar para a dignificação da
espécie humana. Entendo que a utilização da célula-tronco embrionária
para a pesquisa e, conforme o seu resultado, para o tratamento –
indicado a partir de terapias consolidadas nos termos da ética
constitucional e da razão médica honesta - não apenas não viola o direito
à vida. Antes, torna parte da existência humana o que vida não seria,
dispondo para os que esperam pelo tratamento a possibilidade real de
uma nova realidade de vida.
CONCLUSÃO
Não obstante ocupe-se a Bioética de levantar questões que têm como cerne
a importância do respeito à dignidade da vida humana, cabe ao Biodireito traçar as
exigências mínimas para que se efetive uma real compatibilização entre os
avanços na área biomédica, o que certamente representa a ruptura de paradigmas
e a continuidade da observância ao princípio da dignidade da pessoa humana, já
que se pode inferir que nem tudo que é tecnologicamente possível é ética e
juridicamente aceitável.
Como visto, foi graças aos avanços obtidos na área da biogenética que
pôde o homem contornar a tão temida esterilidade. As pesquisas neste campo da
ciência deram vazão ao estudo de cada uma das técnicas atualmente utilizadas na
119
prática da reprodução assistida. O estudo que ora se conclui teve como foco a
técnica da fertilização in vitro, haja vista que somente por meio desta modalidade
de reprodução assistida se encontra a figura do embrião excedente.
Para a classe médica este risco, por si só, é capaz de justificar a fertilização
de tantos óvulos quantos forem possíveis, ainda que ao final sejam congelados
aqueles embriões que excedem ao projeto parental. Não resta afastada, todavia, a
possibilidade de futura implantação dos mesmos, seja em função da primeira
tentativa não ter logrado êxito, seja em razão de um novo projeto parental.
daquela técnica, ou melhor, para aquela tentativa, com o intuito de que não haja
sobras.
genético único que o diferencia de qualquer outro ser humano; desde a sua
origem se desenvolve com autonomia própria, sendo a mãe apenas um “ambiente
favorável” àquele desenvolvimento.
O Direito Civil brasileiro confere aos seres humanos nascidos com vida,
denominados pessoas naturais, uma gama de direitos e obrigações. Ele resguarda
os direitos do nascituro (aquele que está para nascer), assegura, ainda, vantagens
à prole eventual (seres humanos que ainda não foram concebidos). Evidenciou-se
que comumente se defende o fato do embrião in vitro não poder ser enquadrado
em nenhuma das categorias clássicas acima mencionadas, posto que entende a
doutrina tradicional que nascituro é aquele ser humano já implantado no útero
materno. Com o presente trabalho, por outro lado, defende-se que o embrião in
vitro deve ser tratado como nascituro, e por esta razão como pessoa, enquanto
não houver uma legislação que o proteja contra as arbitrariedades da biociência.
Sob a alegação de que o vazio jurídico torna tudo possível, não se pode
pretender a aprovação de uma legislação em desconformidade com a realidade
das técnicas de reprodução humana hodiernamente disponíveis. É necessário um
estudo mais aprofundado sobre o tema, e que este não seja feito só por juristas ou
médicos, mas por uma equipe multidisciplinar, composta por juristas, médicos
especializados em reprodução humana, biólogos, psicólogos, sociológicos, entre
outros que se fizerem necessários à realização de um estudo completo sobre o
tema, por conseguinte de um projeto de lei mais completo e adequado.
2005, conhecida como Lei de Biossegurança, que permite a pesquisa com células-
tronco embrionárias humanas.
REFERÊNCIAS
CHAVES, Benedita Inês Lopes. A tutela jurídica do nascituro. São Paulo: LTr,
2000.
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
2006.
EÇA, Lilian Piñero. Por que não à terapia com células tronco embrionárias –
CTEHs?. In: MARTINS, Ives Gandra (Coord.). Direito fundamental à vida. São
Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 526-541.
LEÃO JUNIOR, Paulo Silveira Martins. O direito fundamental à vida dos embriões
e anencéfalos. In: MARTINS, Ives Gandra (Coord.). Direito fundamental à vida.
São Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 216-258.
MELLO, Gustavo Miguez de. Direito fundamental à vida. In: MARTINS, Ives
Gandra (Coord.). Direito fundamental à vida. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p.
264-281.
MONTANO, Pedro. In dúbio pro vita. In: MARTINS, Ives Gandra (Coord.). Direito
fundamental à vida. São Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 260-262.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. O direito do nascituro à vida. In: MARTINS, Ives
Gandra (Coord.). Direito fundamental à vida. São Paulo: Quartier Latin, 2005. p.
114-122.
SIQUEIRA, José Eduardo de. O princípio da justiça. In: COSTA, Sérgio S. I.;
GARRAFA, Volnei; OSELKA, Gabriel (Org.). Iniciação à bioética. Brasília:
Conselho Federal de Medicina, 1998. p.71-80.
SOUZA, Carlos Fernando Mathias de. Umas poucas palavras sobre o direito à
vida. In: MARTINS, Ives Gandra (Coord.). Direito fundamental à vida. São Paulo:
Quartier Latin, 2005. p. 156-170.
VARI, Massimo. O direito de nascer. In: MARTINS, Ives Gandra (Coord.). Direito
fundamental à vida. São Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 172-174.
ANEXOS
136
ANEXO A
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Art. 4º Esta Lei não se aplica quando a modificação genética for obtida através
das seguintes técnicas, desde que não impliquem a utilização de OGM como
receptor ou doador:
I - mutagênese;
III - fusão celular, inclusive a de protoplasma, de células vegetais, que possa ser
produzida mediante métodos tradicionais de cultivo;
Art. 5º (VETADO)
Art. 6º (VETADO)
139
I - (VETADO)
§ 3º (VETADO)
Art. 11. Constitui infração, para os efeitos desta Lei, toda ação ou omissão que
importe na inobservância de preceitos nela estabelecidos, com exceção dos §§ 1º
e 2º e dos incisos de II a VI do art. 8º, ou na desobediência às determinações de
caráter normativo dos órgãos ou das autoridades administrativas competentes.
Art. 12. Fica a CTNBio autorizada a definir valores de multas a partir de 16.110,80
UFIR, a serem aplicadas pelos órgãos de fiscalização referidos no art. 7º,
proporcionalmente ao dano direto ou indireto, nas seguintes infrações:
III - liberar no meio ambiente qualquer OGM sem aguardar sua prévia aprovação,
mediante publicação no Diário Oficial da União;
§ 1º Se resultar em:
b) perigo de vida;
d) aceleração de parto;
§ 2º Se resultar em:
b) enfermidade incurável;
d) deformidade permanente;
e) aborto;
143
§ 3º Se resultar em morte;
§ 1º Se resultar em:
b) perigo de vida;
d) aceleração de parto;
§ 2º Se resultar em:
b) enfermidade incurável;
144
d) deformidade permanente;
e) aborto;
§ 3º Se resultar em morte;
Art. 14. Sem obstar a aplicação das penas previstas nesta Lei, é o autor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.
Art. 15. Esta Lei será regulamentada no prazo de 90 (noventa) dias a contar da
data de sua publicação.
Art. 16. As entidades que estiverem desenvolvendo atividades reguladas por esta
Lei na data de sua publicação, deverão adequar-se às suas disposições no prazo
de cento e vinte dias, contados da publicação do decreto que a regulamentar, bem
como apresentar relatório circunstanciado dos produtos existentes, pesquisas ou
projetos em andamento envolvendo OGM.
145
ANEXO I
- não-patogênico;
B. Vetor/inserto
- não-patogênicos;
ANEXO B
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
CAPÍTULO I
Art. 4o Esta Lei não se aplica quando a modificação genética for obtida por
meio das seguintes técnicas, desde que não impliquem a utilização de OGM como
receptor ou doador:
I – mutagênese;
151
IV – clonagem humana;
CAPÍTULO II
§ 1o Compete ao CNBS:
IV – (VETADO)
§ 2o (VETADO)
§ 2o (VETADO)
CAPÍTULO III
c) Ministério da Saúde;
g) Ministério da Defesa;
§ 8o (VETADO)
§ 2o (VETADO)
CAPÍTULO IV
III – emitir autorização para a importação de OGM e seus derivados para uso
comercial;
CAPÍTULO V
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VII
Art. 20. Sem prejuízo da aplicação das penas previstas nesta Lei, os
responsáveis pelos danos ao meio ambiente e a terceiros responderão,
solidariamente, por sua indenização ou reparação integral, independentemente da
existência de culpa.
Art. 21. Considera-se infração administrativa toda ação ou omissão que viole
as normas previstas nesta Lei e demais disposições legais pertinentes.
I – advertência;
II – multa;
V – embargo da atividade;
XI – intervenção no estabelecimento;
Art. 23. As multas previstas nesta Lei serão aplicadas pelos órgãos e
entidades de registro e fiscalização dos Ministérios da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, da Saúde, do Meio Ambiente e da Secretaria Especial de
Aqüicultura e Pesca da Presidência da República, referidos no art. 16 desta Lei,
de acordo com suas respectivas competências.
CAPÍTULO VIII
Art. 24. Utilizar embrião humano em desacordo com o que dispõe o art. 5o
desta Lei:
§ 1o (VETADO)
§ 2o Agrava-se a pena:
I – de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se resultar dano à propriedade alheia;
III – da metade até 2/3 (dois terços), se resultar lesão corporal de natureza
grave em outrem;
CAPÍTULO IX
166
Art. 30. Os OGM que tenham obtido decisão técnica da CTNBio favorável a
sua liberação comercial até a entrada em vigor desta Lei poderão ser registrados e
comercializados, salvo manifestação contrária do CNBS, no prazo de 60
(sessenta) dias, a contar da data da publicação desta Lei.
Art. 33. As instituições que desenvolverem atividades reguladas por esta Lei
na data de sua publicação deverão adequar-se as suas disposições no prazo de
120 (cento e vinte) dias, contado da publicação do decreto que a regulamentar.
"ANEXO VIII
Art. 39. Não se aplica aos OGM e seus derivados o disposto na Lei no 7.802,
de 11 de julho de 1989, e suas alterações, exceto para os casos em que eles
sejam desenvolvidos para servir de matéria-prima para a produção de agrotóxicos.
Roberto Rodrigues
Humberto Sérgio Costa Lima
Luiz Fernando Furlan
Patrus Ananias
Eduardo Campos
Marina Silva
Miguel Soldatelli Rossetto
José Dirceu de Oliveira e Silva
ANEXO C
DE MEDICINA
170
O Conselho Federal de Medicina, no uso das atribuições que lhe confere a Lei nº
3.268 de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto nº 44.045 de 19
de julho de 1958 e,
Resolve:
I - PRINCÍPIOS GERAIS
1) Toda mulher, capaz nos termos da lei, que tenha solicitado e cuja indicação não
se afaste dos limites desta resolução, pode ser receptora das técnicas de RA,
desde que tenha concordado de maneira livre e consciente em documento de
consentimento informado.
2) Estando casada ou em união estável, será necessária a aprovação do cônjuge
ou do companheiro, após processo semelhante de consentimento informado.
1) Toda intervenção sobre pré-embriões “in vitro”, com fins diagnósticos, não
poderá ter outra finalidade que a avaliação de sua viabilidade ou detecção de
doenças hereditárias, sendo obrigatório o consentimento informado do casal.
174
2) Toda intervenção com fins terapêuticos, sobre pré-embriões “in vitro”, não terá
outra finalidade que tratar uma doença ou impedir sua transmissão, com
garantias reais de sucesso, sendo obrigatório o consentimento informado do
casal.
ANEXO D
SEÇÃO I
IV - a receptora da técnica seja uma mulher capaz, nos termos da lei, que tenha
solicitado ou autorizado o tratamento de maneira livre e consciente, em
documento de consentimento informado a ser elaborado conforme o disposto no
art. 3º;
SEÇÃO II
DO CONSENTIMENTO INFORMADO
SEÇÃO III
SEÇÃO IV
DAS DOAÇÕES
SEÇÃO V
SEÇÃO VI
DA FILIAÇÃO DA CRIANÇA
Art. 11. A criança terá assegurados todos os direitos garantidos aos filhos na
forma da lei.
Art. 12. A criança nascida a partir de gameta ou embrião doado ou por meio de
gestação de substituição terá assegurado, se assim o desejar, o direito de
conhecer a identidade do doador ou da mãe substituta, no momento em que
completar sua maioridade jurídica ou, a qualquer tempo, no caso de falecimento
de ambos os pais.
SEÇÃO VII
DOS CRIMES
SEÇÃO VIII
Art. 15 Esta Lei entrará em vigor cento e oitenta dias após sua publicação.
185
ANEXO E
SEÇÃO I
DOS PRINCÍPIOS GERAIS
II - a receptora da técnica seja uma mulher civilmente capaz, nos termos da lei,
que tenha solicitado o tratamento de maneira livre e consciente, em documento a
ser elaborado conforme o disposto nos arts. 4º e 5º desta Lei;
SEÇÃO II
DO CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
189
SEÇÃO III
DOS ESTABELECIMENTOS E PROFISSIONAIS QUE REALIZAM A
PROCRIAÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA
III - pelo registro de todas as informações relativas aos doadores desse material e
aos casos em que foi utilizada a Procriação Medicamente Assistida, pelo prazo de
cinqüenta anos após o emprego das técnicas em cada situação;
191
§ 3º O registro citado no inciso III deste artigo deverá conter, por meio de
prontuários, elaborados inclusive para a criança, e de formulários específicos, a
identificação dos beneficiários e doadores, as técnicas utilizadas, a pré-seleção
sexual, quando imprescindível, na forma do art. 17 desta Lei, a ocorrência ou não
de gravidez, o desenvolvimento das gestações, os nascimentos, as malformações
de fetos ou recém-nascidos e outros dados definidos em regulamento.
§ 5º As informações de que trata este artigo são consideradas sigilosas, salvo nos
casos especificados nesta Lei.
SEÇÃO IV
DAS DOAÇÕES
§ 1º Não será permitida a doação quando houver risco de dano para a saúde do
doador, levando-se em consideração suas condições físicas e mentais.
193
SEÇÃO V
DOS GAMETAS E EMBRIÕES
SEÇÃO VI
DA FILIAÇÃO
Art. 21 A morte dos beneficiários não restabelece o pátrio poder dos pais
biológicos
SEÇÃO VII
DOS CRIMES
Parágrafo único. Não se pune a redução embrionária feita por médico se não
houver outro meio de salvar a vida da gestante.
III - a fresco ou sem que tenha sido submetido ao controle de doenças infecto-
contagiosas:
Art. 38 A prática de qualquer uma das condutas arroladas nesta seção acarretará
a perda da licença do estabelecimento de procriação medicamente assistida, sem
prejuízo das demais sanções legais cabíveis.
SEÇÃO VIII
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 42 A União poderá celebrar convênio com os Estados, com o Distrito Federal
e com os Municípios para exercer, em conjunto ou isoladamente, a fiscalização
dos estabelecimentos que praticam a Procriação Medicamente Assistida.
Art. 43 Esta Lei entrará em vigor no prazo de um ano a contar da data de sua
publicação.
201
ANEXO F
CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS GERAIS
Art. 1º Esta Lei regulamenta o uso das técnicas de Reprodução Assistida (RA)
para a implantação artificial de gametas ou embriões humanos, fertilizados in vitro,
no organismo de mulheres receptoras.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, atribui-se a denominação de:
I – embriões humanos: ao resultado da união in vitro de gametas, previamente à
sua implantação no organismo receptor, qualquer que seja o estágio de seu
desenvolvimento;
II – beneficiários: às mulheres ou aos casais que tenham solicitado o emprego da
Reprodução Assistida;
III – consentimento livre e esclarecido: ao ato pelo qual os beneficiários são
esclarecidos sobre a Reprodução Assistida e manifestam, em documento,
consentimento para a sua realização, conforme disposto no Capítulo II desta Lei.
Art. 2º A utilização das técnicas de Reprodução Assistida será permitida, na forma
autorizada nesta Lei e em seus regulamentos, nos casos em que se verifique
infertilidade e para a prevenção de doenças genéticas ligadas ao sexo, e desde
que:
I – exista indicação médica para o emprego da Reprodução Assistida,
consideradas as demais possibilidades terapêuticas disponíveis, segundo o
disposto em regulamento;
II – a receptora da técnica seja uma mulher civilmente capaz, nos termos da lei,
que tenha solicitado o tratamento de maneira livre, consciente e informada, em
documento de consentimento livre e esclarecido, a ser elaborado conforme o
disposto no Capítulo II desta Lei;
203
CAPÍTULO II
DO CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
CAPÍTULO III
DOS SERVIÇOS DE SAÚDE E PROFISSIONAIS
§ 4º As informações de que trata este artigo são consideradas sigilosas, salvo nos
casos especificados nesta Lei.
§ 5º No caso de encerramento das atividades, os serviços de saúde transferirão
os registros para o órgão competente do Poder Público, determinado no
regulamento.
CAPÍTULO IV
DAS DOAÇÕES
CAPÍTULO V
DOS GAMETAS E EMBRIÕES
CAPÍTULO VI
DA FILIAÇÃO DA CRIANÇA
CAPÍTULO VII
DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES
Art. 21. A prática de qualquer uma das condutas arroladas neste Capítulo
acarretará a perda da licença do estabelecimento de Reprodução Assistida, sem
prejuízo das demais sanções legais cabíveis.
CAPÍTULO VIII
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 22. Os embriões conservados até a data de entrada em vigor desta Lei
poderão ser doados exclusivamente para fins reprodutivos, com o consentimento
prévio dos primeiros beneficiários, respeitados os dispositivos do Capítulo IV.
Parágrafo único. Presume-se autorizada a doação se, no prazo de 60 (sessenta)
dias, os primeiros beneficiários não se manifestarem em contrário.
Art. 23. O Poder Público promoverá campanhas de incentivo à utilização, por
pessoas inférteis ou não, dos embriões preservados e armazenados até a data de
publicação desta Lei, preferencialmente ao seu descarte.
Art. 24. O Poder Público organizará um cadastro nacional de informações sobre a
prática da Reprodução Assistida em todo o território, com a finalidade de organizar
estatísticas e tornar disponíveis os dados sobre o quantitativo dos procedimentos
realizados, a incidência e prevalência dos efeitos indesejados e demais
complicações, os serviços de saúde e os profissionais que a realizam e demais
informações consideradas apropriadas, segundo se dispuser em regulamento.
Art. 25. A Lei nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995, passa a vigorar acrescida do
seguinte art. 8º-A:
“Art. 8º-A. São vedados, na atividade com humanos, os experimentos de
clonagem radical através de qualquer técnica de genetecnologia.”
Art. 26. O art. 13 da Lei nº 8.974, de 1995, passa a vigorar acrescido do seguinte
inciso IV, renumerando-se os demais:
“Art. 13. ......................................................................................................................
IV – realizar experimentos de clonagem humana radical através de qualquer
técnica de genetecnologia; ..............................................................................” (NR)
214
Art. 27. Esta Lei entra em vigor 180 (cento e oitenta) dias a partir da data de sua
publicação.
Senado Federal, em de junho de 2003
Senador José Sarney
Presidente do Senado Federal