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Seminário Himmelfarb
Seminário Himmelfarb
PARTE BECCA
Trazendo diferentes perspectivas do Liberalismo, a obra se destrincha em uma
variação de conceitos através do tempo e espaço, que exploram a relação entre liberdade e
justiça social. O autor argumenta que o princípio da liberdade não pode se desvincular da
política, partindo do pressuposto de que ele próprio possui consequências políticas e
éticas, responsáveis por uma ruptura com um modo primitivo de Liberalismo. Tal
pensamento limitava-se às ideias de individualidade - e liberdade - como parte de um
bem comum e coletivo, conciliando a moral e o individual, com a sociedade e política,
originando a "virtude republicana", que se resume a uma concordância social.
Sendo assim, pode-se afirmar que tal modo de pensamento não se relaciona apenas
a como o indivíduo se comporta, mas também como a sociedade é organizada, tal como a
decisão de seus representantes políticos, feita através do povo que deve escolher
homens de virtude e sabedoria. Ou seja, há a presença da liberdade civil mas não em
excesso e sempre conjugada com a virtude, inclusive em seu poder de escolha.
Entretanto, Tocqueville apresenta as primeiras turbulências em relação à
individualidade excessiva e a própria democracia que, de acordo com o autor, precisam
da presença de associações privadas para cumprir o papel de mediador entre os
interesses individuais, estatais e religiosos. Em contraste com Mill, Tocqueville via a
religião como uma aliada, partindo do pressuposto de que elas se baseiam no crer sem
discutir ou questionar, anulando o vício norte americano de apenas utilizarem de si
mesmo como padrões de seu julgamento e sendo reconhecida como a primeira das
instituições políticas.
Sendo assim, pode-se encontrar uma modalidade de liberalismo que precede A
Liberdade e atua como um possível corretivo a ela. O próprio Mill assume uma segunda
linha de pensamento - o "outro mill" - que nega que os assuntos sociais possam ser
compreendidos dentro de um princípio único e simples. Portanto, o homem deve usar
do seu próprio julgamento mas não apenas confiar no seu próprio juízo. Para isso, o
indivíduo deve ser tirado de um estágio de independência selvagem, adquirindo uma
moralidade proveniente da educação, opinião, leis e organizações sociais,
reafirmando o conceito de que o governo apenas existe com a finalidade de
aprimoramento do homem como ser moral e inteligente.
Em adição, o autor afirma que o erro dos filósofos estava relacionado a uma
necessidade de anular qualquer reverência que o homem possua por algo que fosse
superior a ele e eliminando o fato de que tais limites que o costume impunha, serviriam
como ferramenta regulatória das fantasias e inclinações do próprio homem. Além
disso, deixaram de notar que a própria sociedade constrói-se em uma série de influências
civilizadoras e restritivas, que se derivam de um sistema de educação iniciado na infância e
que segue por toda a vida, tornando possível que o indivíduo subordine seus impulsos e
anseios e, dessa forma, mantendo vivo os sistemas de governança.
A ascensão do nazismo e do comunismo provocaram um sentimento
comunitário de que a única resolução contra um regime absolutista seria o princípio de
liberdade absoluto, onde assim, o totalitarismo só poderia ser combatido com uma ideologia
tão intensa quanto a própria. Sendo assim, qualquer tipo de ação não justificada por tal
liberdade absoluta é considerado um ato de tirania que, de acordo com os Liberais,
representa um golpe à liberdade de expressão. Em adição, defende-se o próprio
distanciamento da Igreja em relação ao Estado e assim, evitando que subsídios
governamentais sejam utilizados para obras, por exemplo, de caráter cristão.
Entretanto, surge-se uma contradição relacionada ao caráter Liberal: a anulação das
liberdades particulares em razão de um conceito absolutista da palavra. Dessa maneira,
inválida-se os princípios que constroem este caráter particular, tais como leis, costumes e
caráter, adquirindo a responsabilidade de privar liberdades específicas, não atuando como
uma forma moderada de liberdade, mas sim, como uma fonte imoderada de controle
governamental. Além disso, outro efeito da ascensão de um caráter liberal absolutista é a
ilegitimidade de sociedades liberais no sentido tradicional, lógica que automaticamente
relaciona tais ideais políticos com a tirania. Para Václav Havel - presidente da
Tchecoslováquia - o conceito de liberdade que antes restringia os próprios cidadãos a vícios
e tendências comportamentais (algo que fora apoiado de maneira sucinta, visando sua
utilização para operações diárias do regime totalitário), fora rompido, abrindo-se para uma
ordem que limitasse mas não explorasse tais vícios, baseando-se na responsabilidade
individual, mas que não consegue se firmar, justamente por demorar anos para sua
implantação.
Sendo assim, ao colocar o indivíduo em uma relação antagônica com a sociedade e
com o Estado, tal conceito de liberdade torna-se um perigo para o próprio Liberalismo, já
que não respeita o senso moral de comunidade e sendo incompatível com as demandas
legítimas da sociedade.