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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA


COORDENAÇÃO GERAL DE PESQUISA

RELATÓRIO FINAL PIBIC 2014/2015

TÍTULO DO PROJETO:
A FILOSOFIA POLÍTICA NA TEORIA CRÍTICA DO JOVEM HABERMAS
TÍTULO DO PLANO:
A CRÍTICA DE HABERMAS À LEGITIMIDADE POLÍTICA DO CAPITALISMO DE ESTADO.

RESUMO:
Esta pesquisa consiste em uma análise histórica que identifique os pressupostos que
que referenciam dimensionam a origens estruturais das instituições e suas formas
legitimadoras. Consiste também em estabelecer a relação entre as mudanças estruturais
ocorridas nos elementos histórico-políticos, como o aparecimento da burguesia como ideologia
de classe e a profundidade das transformações das estruturas fundamentais, de instituições já
estabelecidas em esferas; a esfera pública e a esfera privada. Através desta análise nos será
possível compreender a importância da crítica habermasiana ao modelo intervencionista em
que o Estado estabeleceu no controle do capital

PALAVRAS-CHAVE:
Política, Estado, Capitalismo, Esfera Pública, Privatismo.
1. INTRODUÇÃO
Habermas busca através da dialética empreender uma revisão do materialismo histórico a
partir de uma noção marxista de ideologia, substituindo as categorias marxistas para assim
elaborar uma nova base para a crítica da própria ideologia, e assim poder reinscrever a
dimensão do político na realidade das relações sociais e institucionais, elaborando também
uma crítica à compreensão tecnocrática do poder e aos problemas de legitimidade política
enfrentados pelo Estado capitalista.

Esta busca consiste em uma análise histórica que identifique os pressupostos que que
referenciam dimensionam a origens estruturais das instituições e suas formas
legitimadoras. Consiste também em estabelecer a relação entre as mudanças estruturais
ocorridas nos elementos histórico-políticos, como o aparecimento da burguesia como
ideologia de classe e a profundidade das transformações das estruturas fundamentais, de
instituições já estabelecidas em esferas; a esfera pública e a esfera privada. Através desta
análise nos será possível compreender a importância da crítica habermasiana ao modelo
intervencionista em que o Estado estabeleceu no controle do capital de algumas nações
europeias (Inglaterra, França e Alemanha).

Teremos então uma reconstrução teórica de Habermas a partir de uma releitura focada na
teoria crítica da sociedade moderna em construção, no período que corresponde ao
iluminismo e a revolução francesa ('revolução da burguesia' na visão de Marx) de uma
modelagem do social, que já modificada enquanto estrutura, dá-se-á nesse momento em
duas frentes de pesquisa: no lugar de uma análise de um suposto capitalismo liberal,
Habermas interpretará assim como Friedrich Pollock as transformações estruturais para
um capitalismo de Estado (cf. Habermas, Mudança estrutural da esfera pública, 1962).

É uma outra maneira de formular o novo “quadro” da relação que permeia o Estado e a
sociedade, na forma de um capitalismo tardio. Essa é a motivação da discussão filosófica
de Habermas e torno de Marx e do marxismo como crítica, em uma necessidade de
reconstrução ou mesmo do fim do materialismo histórico.

A releitura de Habermas da crítica da ideologia da teoria crítica clássica fica orientada


fracasso de Horkheimer e Adorno1, uma vez que fora esgotada toda a função crítica
marxista sobre a ideologia, em apresentar outra base (teoria social) para uma teoria crítica
da sociedade. Nesse sentido, tornou-se então necessário uma revisão da noção de
ideologia e a possibilidade de substituição das categorias marxistas (especialmente “luta

1 Escola de Frankfurt.

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de classes” e “ideologia”), que não se aplicavam mais no contexto fundamentador desta
forma de capitalismo de Estado.

Habermas recorre também ao diagnóstico de um colaborador do Instituto de Pesquisa


Social, Herbert Marcuse, para quem a nova condicionante deste capitalismo de Estado
alçou à primeira força produtiva, a ciência e a técnica. Nesse sentido, para Habermas, não
fazia mais sentido aplicar uma crítica da economia política (como ainda faziam
Horkheimer e Adorno), uma vez que, em um capitalismo de Estado, quem assumiu o
posto de primeira força produtiva foram a ciência e a técnica (Técnica e ciência como
‘ideologia’ - Habermas - 1968). Tratava-se, ao contrário, de elaborar um novo quadro
teórico para a crítica da ideologia, e o diagnóstico de Marcuse sobre o caráter ideológico
da ciência e da técnica ofereceu a Habermas uma tentativa de explicar melhor a
constelação que foi alterada.

A obra de Habermas Mudança estrutural da esfera pública (1962) é uma tentativa de


mostrar as consequências políticas da “mudança estrutural” inscrita na transição de um
capitalismo liberal para um capitalismo de Estado. Como conclusão, Habermas apresenta
o conceito dialético de esfera pública como a nova chave explicativa para a crítica que se
dirige ao funcionamento de um Estado plenamente intervencionista e a consequente
despolitização da esfera pública. A tese da “mudança estrutural” torna-se o cerne da leitura
crítica de Habermas no posicionamento político resignado de Horkheimer e de Adorno e o
que gera seu “afastamento” teórico da tradição política marxista.

2. METODOLOGIA:

A metodologia empregada para o desenvolvimento das atividades de pesquisa baseou-se


propriamente em pesquisas bibliográficas, em leituras das obras de Jürgen Habermas.
Além disso, rápidas leituras de comentadores foram previamente catalogadas, e discutidas
com o orientador também no Grupos de Pesquisa coordenado pelo orientador.

A pesquisa bibliográfica foi realizada principalmente com livros de acervo do Orientador,


que dispõe de uma bibliografia ampla e atualizada sobre o tema. Os relatórios e demais
materiais escritos foram sendo redigidos à medida que o material bibliográfico foi sendo
lido e interpretado.

Não houve grandes dificuldades como apresentando no início do projeto de pesquisa,


talvez pela manutenção do foco central do estudo nas obras primárias indicadas no plano
de trabalho, sem dispersar a atenção com comentadores secundários ou em questões
periféricas. Evitando isso, o plano de trabalho se concentrou no estudo em torno das obras
de Habermas, Técnica e ciência como ‘ideologia’ (1968) e Mudança estrutural da esfera
pública (1962) escritos nos anos 60, centralíssimos para a discussão no plano de projeto
de pesquisa aqui proposto, lançando mão outras leituras tais como comentadores e
suportadores, que são bem descritos por Habermas nestas duas obras.

Fora mantido também como metodologia na elaboração dos relatórios, a forma


interpretativa e especulativa da filosofia da História, que é síntese da metodologia do
próprio autor aqui pesquisado (Habermas), frisando e expondo categoricamente a tradição
da filosofia hegeliana deste.

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3. RESULTADOS DAS DISCUSSÕES :

A) Questão do domínio do materialismo sobre os indivíduos da sociedade moderna.


O indivíduo continua, em todas as categorias, o único e exclusivo proprietário do
pensamento, onde realiza-se o exclusivo e particular conceito de consciência universal, e
como essência de si, compraz a suma máxima de sua existência, ontológico e auto-
consciente desta primeira condição na realidade, o indivíduo como unidade,
hegelianamente estipulado na física, assim na natureza e no “mundo”, é categorizado por
Habermas nas seguintes fileiras; linguagem, instrumento e família, e a realização que
implica todas as relações (beziehung) possíveis entre os elementos categorizantes e a
unidade como ser individualizado, tal como é na realização do aspecto coletivo, da
condicionante implicada no ato de união de todas estas unidades, naturalmente, por assim
dizer, imposto pela condição da primeira categoria (família) em que a unidade, consciente,
inserido na realidade e na natureza, está definitivamente, em movimento, como unidade e
ao mesmo momento agente, que se relaciona com os objetos e sujeitos da própria
realidade, ou seja, é elementar que haja na relação (beziehung), tal como acontece
naturalmente na física, a manifestação indiferenciada das “forças” de domínio, e a este
conceito, o domínio, situaremos-lo parcialmente por um variado tempo, pertencente ao
universo da categoria linguagem, enquanto isso, utilizaremos ele como elemento
simbólico da categoria instrumento como ente-forma de propriedades mais sucintas e
minuciosamente articuladas para um melhor entendimento da questão sobre o conjunto de
possibilidades ontológicas, dos objetos e sujeitos, estes enquanto relacionados entre si.
Esta experiência, que resume Habermas no princípio teleológico, que entre as formas
supracitadas, em movimento na realidade, se pressupõe, a existência de uma condição
material em conjunto com uma outra realidade in-abstracto que coexiste em plena relação
(beziehung) e em plena troca de “forças” implicadas na condição enquanto regidas pela
natureza e pela física em absoluto, tais “forças” estão obscurecidas como elementos
diretores de uma unidade pela estrutura argumentativa e pela revelante inclusão das
relações de linguagem, como tais, já atribuídas ao universo fora da ontologia, fora da
realização exata em perfecta e absoluta igualdade (eco), acredito, que apesar da escola
hegeliana, a aplicação da técnica e da ciência pelo individuo em sociedade, implica na
realização de todas as condicionantes possibilidades de interação das próprias relações
indicadas como impostas, e pertinentes à realidade e assim ao mundo das coisas, e as
unidades conscientes, como agentes da realização material, ou como a obtenção das
autonomias destas unidades, porém como Habermas implica no início de seu texto
suscitando Hegel, no reduzir do ser, como unidade absoluta, que em si, já resolve de fato a
passagem de um ente tão universal quanto a unidade absoluta, tal ente que, apreendido ao
sujeito (nunca ao objeto como origem), realiza pelo próprio pensamento (filosofia), todas
as relações implicadas na realidade (e aí implica em uma liberdade dos domínios físicos).
Como ser que está em parcial, dinamizado pela possibilidade da ação racional, e que esta
racionalidade (resolução de Habermas por Weber), é o substrato ideológico (hegelianismo
do social) do corpo coletivo, ou seja, de inúmeras unidades, coexistentes em um mesmo

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espaço e em um mesmo universo condicionado pelas relações tanto dos sujeitos entre eles
próprios (mesmos entes autoconscientes) entre os sujeitos e os objetos e entre as
categorias já suscitadas e os sujeitos, gerando assim um complexo de estruturas que estão
apontadas como origem no sujeito (nunca no objeto), isto que se denomina subjetividade,
e que na ordem das coisas como formas materiais, se relacionam todas elas entre os
sujeitos, a realização de movimentos, e da relação entre objetos é de fato, em primeiro nos
sujeitos como autoconscientes, todos cogitos dotados em essência do ego, do Eu.

B) Sobre a possibilidade emancipatória do indivíduo e de um sistema social


emancipador perante o capitalismo como força de condicionamento. (crítica ao
modelo marxista).
Parte da estrutura que envolve a contextualização entre o uso da técnica como força
motriz, de um pressuposto fim, e daqueles que Hegel já apostando no fenomênico e
absoluto, achou apenas o caminho reverso dos sentidos de força entre as consciências, oras
o ser em si não é mais do que o Eu, em si mesmo, tanto como o ser em Hegel ou o ser em
Kant, ontologia, e disto nada mais se pressupõe, mas como é de fato uma abordagem
crítica, no entanto, é de fato que é uma abordagem que nos conduz à buscar o problema no
outro lado do subjetivo, ou no contraposto entre a realização do que será no futuro,
ontologia, mas com as análises e os instrumentos analíticos entrepostos no contexto e com
resoluções numéricas, que demonstram a eficiência de um determinado sistema, Marx o
define como superestrutura, Weber transcreve como as relações entre as atividades das
unidades autoconscientes, enquanto Hebert Marcuse, invoca a relação entre o próprio
sistema através das relações (beziehung) entre elas (já apontando uma possibilidade de
relação entre “objetos” fora do sujeito), isto coloca a condição de relações entre os objetos
como a forma objetiva, na teleologia o suposto fim dedicado àquela forma material, neste
caso a própria superestrutura com o objeto alheio ao sujeito, ao autoconsciente, levamos a
ideia que o suposto fim para o uso da superestrutura é a realização do objeto do trabalho
como sendo o trabalho forma de relação entre entes (lembrando que trabalho na
superestrutura marxiana, condiz na relação das unidades coletivizadas com a natureza em
transformação dos objetos), entre unidades autoconscientes, e no que esta como
condicionante na relação no sistema “trabalho” está a categoria linguagem como
mediadora dos símbolos que como ferramenta para o uso no sistema, para o uso na própria
superestrutura, se reforma na proposta instrumental, ou seja, quando a linguagem é
utilizada apenas como ferramenta para a manutenção e evolução dos sistemas de
dominação, esta é a via apontada por Habermas, entre caminhos que levam a dissolução
dos sistemas de opressão e conflitos entre os entes, a instrumentalização é levada a sua
máxima operabilidade em prol de um suposto crescimento econômico que não esta livre
(ela mesma a superestrutura e o sistema capital não insere na realidade a possibilidade de
liberdade, e de não domínio como forma dependente da relação material-superestrutura-
sujeito).
Afirmando a qualidade dos argumentos habermasianos sobre a importância destas
categorias inscritas na realidade da unidade autoconsciente, como determinantes
(determinismo científico, técnico e por fim sistêmico artificial como o ente artificial da
sociedade humana o leviatã de Hobbes) que levarão o movimento do absoluten geist,

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completo com todos os entes referenciados entre objetos e sujeitos teleologicamente,
como as funções já estabelecidas nas relações e estas se reduzem apenas à dominação e
liberdade, uma em contraposição a outra em todos os níveis teleológicos em todos os
sistemas, lembramo-nos a relação (beziehung) é no contexto cultural europeu, proveniente
de idéias abstratas e realizadas no âmbito do real, como a possessão (bezits) quando ocorre
as trocas de “forças” através da dialética racionalizada, pela linguagem e com teor
subjetivo, entre as unidades, o que faz Habermas defini-las como relações dialéticas
intersubjetivas, inscritas tanto na projeção cognoscente da unidade e a realidade, como
entre as unidades. A transformação dos objetos são em abstrato representações do
movimento de interação com as formas e com a natureza, esta é colocada como a relação
sujeito-objeto, ou entre a subjetividade consciente em operação com a objetividade
teleológica, conforme as convenções da linguagem, suas regras e a forma operativa
teleológica mesmo sendo racional (proposta da relação social de Max Weber) esta disposta
como um pressuposto na ação, e esta ação é denominada como comunicativa por
Habermas, acreditando ele ser este o foco aparentemente transformador no sistema
teleológico.
O jogo de linguagem aparentemente se apresenta como sistema dominador que tal qual,
condiciona a funcionalidade do sistema operativo, da operação condicionada à
superestrutura, tal como à própria sociedade humana, o sistema operativo é “evoluído”
pelas tendências das relações entre as unidades para um tipo de ferramental e é reflexivo
ao desenvolvimento da própria superestrutura (não é como deveria para o
desenvolvimento das unidades por igual a exemplo da necessidades de direitos individuais
constituintes nas leis de qualquer estado de dominação), como ação dos agentes
construtores, mantenedores, modificadores ou transformadores, como unidades
autoconscientes, esta ação fica denominada como instrumental onde implica em que algo
sendo objetivo e aplicável como ferramentas úteis no processo produtivo em grande
“eficácia”, que está supostamente além da realização da linguagem, está mais para o uso
utilitarista da eficiência enquanto as habilidades técnicas dos indivíduos, e dos resultados
estatísticos que estão em operação, juntamente com este determinismo maquinal, que se
coloca como forma vital da superestrutura, como vitalizante do esquema de ampliação do
modelo produtivo, entre todas as propostas de relações, a possibilidade de retorno aos
modelos mais arcaicos, se passa por um tipo de boicote ao atingimento das metas objetivas
inscritas na sociedade como metas morais ou de níveis da relação ética disposta na ação
comunicativa.
Existe como condicional a necessidade de que se mantenha para a continuidade das
unidades como um todo a aplicação do uso destas ferramentas destes aparatos
instrumentais, pois de fato, os pressupostos de toda a crítica de Marx, estão em operação
justamente no âmbito instrumental, por via da técnica que elaboradamente aplicada (ações
instrumentais) pelas unidades em encontro com sua relação intra-subjetiva, promove o
conflito, a coação estrutural através das práticas políticas que eram o intermeio regulador
da atividade da produção, esta coisa do estado burguês entre outras formas de controle e
manejo do governo dos entes, está inscrito a necessidade operativa.
Por conta destes conceitos condicionantes das ações participativas, das unidades e suas
relações, outro pressuposto abordado por Habermas como vital ao processo teleológico, é
o interacto nas ações, através do domínio inter-subjetivo das relações, que quando à priori,

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contemplam o modo lógico e objetivo através de uma racionalidade científica como
portadora única e exclusiva da eficiência dos modos operativos da produção, no caráter de
crescimento e não no caráter distributivo do sistema de produção como um todo, e nisso a
dominação das relações entre as unidades e suas inter-subjetividades em opostos pelas
necessidades coeridas em negação ou prioritariamente à necessidade e interesses do
individuo com relação ao outro (troca de “forças”), porém Habermas implica com a
condição coletivizante do sistema na ação teleológica racional, de forma a incutir e
depreciar o aumento da regulação técnica sobre a que anteriormente predominava, a
regulação política do estado dominante e da coação de condicionantes já artificializados
pelo uso determinista, integrado ao sistema capital.
C) Da formulação estrutural e suas origens, ou de como origina a força
dominante nas estruturas sociais (crítica a teoria social marxista).
Definitivamente a sociedade burguesa, evoluiu dentro de uma prevista racionalização no
Estado positivo de direitos, funcional e operante, para todos estes indivíduos, à um tipo de
controladora, reguladores e portadora do princípio propagandístico, é a classe
representante da dominância mental e emocional, sugere-se em um nível “global” que de
todo o empenho capital, o consumo dos produtos, ou os “objetos de consumo” sejam a
virtuosa força de domínio sob o contemplativo espírito coletivo de massa, em ação da
afecção, das ideias de felicidade, de conforto, de saúde, de alegria, amor e outras
demonizações propostas ao espírito que são de fácil dispersão no “mar” midiático,
facilmente propagável como fogo alimentado pelo combustível fóssil, não interessa
somente à estrutura desta societária forma de domínio, o controle do meio, mas
principalmente a ideia disposta a se propagar entre ele, voltamos ao cerne do idealismo de
Hegel, promovendo a conversão do quantitativo número de indivíduos, para dentro da
virtualização que promove também esta “união” mental de gêneros e escolhas, que ainda,
por causa da continuidade da “dominância”, manifesta a transformação exponente da
forma cultural de vida no social.
O que se pode tirar de crítica real, ao modelo acima descrito, é de que, deste movimento
não se deve esperar que as antigas mazelas do espírito humano ainda se desfaçam com sua
gradativa “elevação” a um certo grau de “evolução”. Não! Absolutamente não.
A farsa embutida na confirmação de toda a positividade no capitalismo, inverte novamente
a força implementada no sujeito, como centro estratégico do desenvolvimento individual,
para a coletivização no desenvolvimento material; desenvolvimento dos objetos, das
coisas, que estão além e supra-além das atividades que sustentam o corpo (objeto
corpóreo) do ser-animal homem. Este ser torna-se então a cópia imaginária no sistema
artificial, dentro do próprio modelo inscrito por sua “genialidade” em resolver o social, a
postura do formigueiro e do controle dele é de realizar não o entendimento, mas apenas a
prática do concreto da vida, sobreviver! A artificialidade também o faz, pois que como
cópia, possui os atributos em semelhança, sorte nossa, pelos deuses antigos que não em
essência, somente em verossimilhança.
O silício não possui a “divina chama” como start de sua auto-gênese, justificada apenas,
pela mesma história contada pelos senhores da boa sorte, de que estavam ali para servir
massivamente do mesmo propósito, servir.

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E é por esse caminho de abstrações, donde se deve entender que a estrutura da servidão é
questão de posse do objeto, as tentativas de redenção moral, que consiga resolver isto
como fato histórico, e, refletido no espelho como um comportamental inscrito na atividade
social humana, se faz deste esforço na implementação, ainda como desafio voraz do
pensamento, transcendente às lógicas sofisticadas em uso, como é a função da
contabilização do poderio econômico no mundo global, ao invés de uma farta promoção
finda e descontinuada da condição homem-natureza, como a resolução final, temos sim
uma fartura de non-sense information que nos leva a conhecer, se condicionar, e ter
ciência apenas da continuidade da produção afinal.
Não se tem isto descrito no modelo, esta forma descontinuada sugere uma desaceleração
dos processos produtivos, justificados pelos mesmos argumentos positivos sobre a
economia dos Estados e a economia dos indivíduos, que são unidades do Estado
“soberano” de direito, pois se a função de controle é da sociedade burguesa “evoluída”,
preparemos então nossa submissão de “súditos” virtualizados para a máquina monarco-
artificial, as corporações e a tecnocracia não são nada mais além do que a nova bélica-
bellum imposta e prevista pelos arcanos governantes.
O bem público, como é disposto na ideia de estado moderno determina e nos condiciona à
crer que interpretamos o conceito de público (publicity) como a questão organizada de
uma pólis grega ou o conceito mais amplo de sociedades que se desenvolvem dentro de
um contexto de comunidade, ou seja, são todos os indivíduos comuns do local onde eles
se socializam. Habermas conota que mesmo sendo atribuído o processo ao sistema grego
transmitido ao sistema de direito romano e logo prontamente ao formato do sistema feudal
já mercantilizado, ou como identifica Marx, o período histórico pré-capitalista, e
conforme a historicidade baseada nos eventos técnicos de grande importância (máquinas
de calcular, imprensa...), compete o crescimento e a estruturação orgânica da forma inicial
de um novo tipo de esfera pública.

D) A consciência de classe classificou o Estado, a sociedade civil e a relação estrutural


das esferas sociais.
Na teoria da auto-consciência temos como pressuposto, que o indivíduo responde
prontamente a suas próprias aspirações e pretensões, sendo elas de cunho pessoal ou
político; Na análise da concepção abordada por Habermas, deveríamos fazer
correspondência ao típico indivíduo que, analisado historicamente, possua as
características culturais, que separa uma classe específica de outra; por que esta inscrito
no cultural a separação de classes? Porque revelou-se ao longo do tempo a culturalização
que determina estas características. Habermas nos aponta o caminho da transformação e
de mudanças ocorridas no período feudal na Europa medieval até a industrialização
europeia nos meados do século XVIII; transformação essa que evidenciou a constante
construção iminente do Estado moderno, ou a transformação do estado renascentista para
o iluminismo científico, totalmente aderida a concepção da montagem de um Estado
plenamente burguês, que ao longo do processo histórico, desenvolve-se sem até presente
momento, mudar ou destarte desconstruir seus fundamentais estatutos legitimados e
institucionalizados pelo próprio cedimento comum, ou seja, existe claramente uma
adaptação para todas as concepções de esfera (pública e privada) que se desenvolvem no

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particular e na pretensão individual imposta pela aceitação e dominação dos instrumentos
dispostos no próprio sistema na sua mudança estrutural.
Habermas indica que a esfera pública será dentro de sua análise, mais que apenas um
simples fragmento de ideologia liberal, é ainda por concordar com o seguido "princípio"
organizacional das sociedades modernas. Toda a carga cultural que indica a forma de
utilização, vista historicamente, é proveniente da Grécia antiga, onde se corporifica as
influências do sistema de direito Romano e ainda as classificações culturais de
comunidade e socialização de origens gregas; o próprio movimento comportamental
aristocrático.
A concepção das esferas são bem distintas na corporificação grega, a concepção da pólis
comum aos cidadãos livres (koines) é completamente separada da chamada esfera da
oikos (casa em grego) que é particular a cada individuo (idia) a "vida" pública não se
restringe apenas a um local, para o caráter se originava a conversação, a prática
comunitária, um tribunal, um conselho. A forma organizacional se define com a economia
escravagista a nível de patrimônio, ou seja os escravos (indivíduos não-livres) eram
"explorados" como mercadoria e ao rigor da forma distinta do câmbio mercantilista ou
capitalismo arcaico.
A semelhança esta acentuada na percepção de como a economia e sua forma de
emancipação política decorre ao longo de todo o processo mercantilista e técnico.
Acrescentando que sempre existiu um declive estrutural, no que condiz o modelo em sua
forma técnica (tecnologia), e toda a instrumentação utilizada. Por isso a concepção de
esfera pública, requer uma analogia e uma interpretação que transcenda a relação entre, a
palavra "pública" e o uso desta nas "esferas"; e estas esferas conotariam o conceito da
coletivização do indivíduo.
O espaço público diferentemente do espaço privado, os transeuntes mesmo os iguais entre
si (homoloi), e os que se destaquem individualmente na pólis, no ato da conversação e do
grau de conhecimentos variados que trocavam entre si (aristoiein)2. As virtudes que
Aristóteles classifica só são reconhecidos neste meio "público". O modelo de "esfera
pública", helênica, "clássica", nos é transmitido até hoje a partir de um processo
ideológico. A diferença entre o público e o privado tem suas relações normativas
provenientes e adaptadas a partir das definições do direito Romano e tendo significativa
mudança a partir da implantação do Estado moderno, logo após a Revolução Francesa.
As mudanças da estrutura da esfera pública são adaptadas para a esfera orgânica e
privativa da sociedade civil que separada do Estado, definem por si só e claramente a
apreensão dos interesses de definidas classes sociais europeias, a inclusão do modelo de
estrutura de uma esfera pública burguesa.

2 A aristocracia (do grego αριστοκρατία, de άριστος (aristoi), os melhores, em sentido social, superlativo
de agathoi, “os bons”1 ; e κράτος (kratos), poder, Estado), literalmente "poder dos melhores", é uma forma de
governo na qual o poder político é dominado por um grupo elitista. (fonte Wikipédia)

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A antítese embutida no conceito de domínio privado (dominium), e o conceito de
autonomia pública (imperium); para a coisa pública, são todos eles, compreensíveis em
algo comum (allmende) publicamente acessíveis loci communes e loci publici.3
O Status de representatividade do poder de exercer o dominium tem em sua normatização
estrutural definida na Idade Média com o "senhorial", e esta “representação” possuía já a
questão de preparo ao teor específico de um tipo de “senhorio” como tal, sua forma
representativa; palavras como grandeza, soberania, majestade, glória, dignidade e honra
procuravam designar um ser capaz desta representação. Esta representação para Habermas
não tem nada a ver com a verídica representação pública.
Representação, neste caso a medieval, é a dominação, ao invés de ser pelo povo é
"perante" ao povo representa-se (através da unidade do monarca absoluto) o próprio
poder. Mas Habermas aponta que a origem estrutural da formação de uma esfera pública,
é a família. No seio da família burguesa, se encontra, a esfera íntima. Bem apontado, o
indivíduo da idia está intimamente inserido nela, é parte e é estrutura também de qualquer
esfera social, e se ele aparece na história ele aparece primeiramente na esfera íntima.

A análise de Habermas, está mais entrelaçada na forma cultural em que tais esferas se
reproduzem no “mundo da vida” conforme elas evoluem e se manifestam. Ele diz que: “A
família burguesa é a institucionalização de uma privacidade ligada ao público.”
Deste modo, a esfera íntima burguesa é uma nova instituição e de nível sintomático
quanto à natureza flutuante das relações entre os entes, principalmente os da mesma
família, ao mesmo tempo, rigorosamente convencionalizada da vida em sociedade como
numa esfera privada, que só no sentido burguês raramente é permitida. Uma intimidade
disfarçada que, onde quer que manifeste, diferencia-se, apesar de tudo, da intimidade
aparente da nova vida familiar. Por outro lado, diz Habermas - esta se separa da formas
mais antigas da comunidade da grande família (formas das sociedades tribais simples)
conforme elas ainda são mantidas pelo "povo", especialmente na zona rural - até bem
depois do século XVIII e que são pré-burguesas também no sentido de que não se
sujeitam à diferença entre "público" e "privado". Condiz então que independente da nova
instituição específica de esfera íntima, exista uma cisão, no que se diz respeito ao grupo,
ou da classe em que o grupo familiar se origina.
No grupo cultural resvala proeminentemente, a condição da própria cultura e ainda não da
política, hábitos dos indivíduos no âmbito da família correspondem à analise feita na
abstração dos tipos de esferas sociais e da própria vida “privada” e “pública”. No interior
das famílias já configuravam a forma com que cada indivíduo realiza ou se relaciona com
outros particípios das oikos.
Entre outros âmbitos, a cultura é primordialmente, mais importante, que meramente a
própria política. Habermas entende que enquanto o ente individual dentro da esfera
íntima, tem sua representação constituída através de uma forma hierárquica, das relações
de posse entre outras, descreve ele também, que o isolamento do "membro" da família,

3 Trad. Locais comuns e locais públicos, respectivamente.

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mesmo no interior da casa, passa a ser considerado como algo positivo[...] O processo de
privatização que, como ele mesmo afirma, [...]faz com que a casa se torne mais habitável
para o indivíduo, porém mais estreita e pobre para a família. Isto dá início ao processo de
“privatização” ou na abstração do privatismo do indivíduo dentro da esfera íntima,
construindo então, o que entenderemos como as reais mudanças de estrutura, em si, da
própria forma com que a família “burguesa” se desenvolve no âmbito ainda cultural e não
apenas político.
Deste modo para cada indivíduo dentro da esfera íntima segue a conduta da
hierarquização e claramente das divisões das funções perante a nova instituição
denominada como “a família burguesa”, e esta sistematização percorre juntamente com a
nova realização cultural, todo o segmento estrutural da própria família como um todo, é
um modelo a ser seguido com pretensa “facilidade” (ou felicidade) pelas diferentes classes
de forma homogênea, que vão dos elementos constitutivos da esfera íntima, até sua
externalização na figura do Estado de direitos como a critério de incutir na realização
individual do “privatismo” ou do aspecto privativo, de um certo modo um assertivo da
individualização que ocorre já mesmo no primeiro espaço coletivo que o homem, a
mulher e a criança irão subjazer.
Diz Habermas que - esta consciência parecia ser espontânea e fora fundada por indivíduos
livres e comuns da região e de sua cultura (koines) na manutenção da não coação; ela
parece repousar na permanente comunhão amorosa dos cônjuges; ela parece resguardar
aquele livre desenvolvimento totalitário das faculdades que distinguem uma personalidade
culta da outra (através de um fomento literário), um pressuposto da consequência da
“privatização” dentro da esfera íntima familiar, sendo que, mais três momentos - do livre-
arbítrio, da comunhão de afeto e da formação – conjugarão-se também aí, num conceito
de humanidade que pretende ser inerente a todos os homens, definindo-os certamente
enquanto seres humanos: a emancipação que ainda ressoa quando se fala do puramente ou
simplesmente "humano", uma interioridade a se desenvolver segundo leis próprias e livre
de finalidades externas de qualquer espécie. É essa inicialmente a primeira percepção da
justificativa pela adoção gradual do modelo como tal.
Estas são as relações conservadas pela formação do modelo de estrutura da esfera íntima,
que começa a designar o funcionamento do desenvolver da esfera pública, que até então
não estava definida como o que de fato discorre na analise histórica. No campo da
realidade do modelo imposto, Habermas indica a ordem referencial dos elementos
constitutivos dentro da família, assim em analogia aos elementos que estão fora da esfera
privativa da intimidade familiar e estão estes, nas ruas, praças e lugares determinados
como “públicos” para uma demonstração deste relacionamento, Habermas faz uma
abordagem sobre as autonomias, que estariam fora do âmbito político (hierarquização,
acato da ordem...) e começam a se desenvolver no âmbito cultural, o que se destaca é a
repetição dos padrões que foram colocados no âmbito da esfera social do “público”; Ele
diz que a autonomia do proprietário no mercado e na empresa privada correspondia
exatamente à dependência da mulher e dos filhos em relação ao marido e ao pai: a
autonomia privada lá convertia-se cá em autoridade tornando totalmente ilusória uma
pretensão de livre-arbítrio.

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A realização da forma institucional que estava sendo desenvolvida, é a de um sentido dado
na forma de uma verdadeira instituição real, sem cuja validade subjetiva a sociedade não
teria habilidade de reproduzir no real. Com um novo conceito específico de humanidade,
expandiu-se na burguesia uma concepção do existente que promete a salvação da coação
da ordem vigente (negativação do poder exercido pelo “monarca”) sem se evadir para um
mundo que transcende a si próprio, que não caracterizava apenas a liberdade dos
indivíduos dentro de uma possibilidade de privação na ordem das necessidades, essas
gerais, mas que também se opunha por contra-partida, à tal liberação.
O estágio de privação do indivíduo do regime coletivo dentro da esfera íntima, continha
já, o pressuposto relacionado às formas e modelos que impugnarão a forma estrutural da
esfera pública, já que a reprodução dela na realidade continha os mesmo elementos
imanentes ao modelo estrutural. Isso na palavra de Habermas - eleva a ideologia burguesa
para além do próprio ideológico, de modo mais originário exatamente ali onde a
experiência de “humanidade” tem seu ponto de partida: na humanidade dos
relacionamentos íntimos das pessoas enquanto “seres” humanos no abrigo da família.
A transição cultural ocorre com as relações dinâmicas e orgânicas compostas no modelo
social da convivência nos espaços comuns (loci comunes) o que já correspondia com o
âmbito do “público”, de forma a se reproduzir através de modo subjetivo, pondera
Habermas; que já desde o início existe um interesse psicológico crescente na dupla relação
para consigo e para com próximo: a introspecção se une em parte por curiosidade, em
parte por simpatia, às oscilações da alma do outro ego. Esta subjetividade, como corte
cisório no interior do privativo, já é, desde sempre, ligada ao público. A antítese à
intimidade intermediada literariamente é a indiscrição e não somente publicidade
enquanto tal.
Por isso nas camadas estendidas da burguesia, a esfera do "público" surge inicialmente
como ampliação e, ao mesmo tempo, suplementação da esfera da intimidade familiar. Já
que o surgimento de uma esfera do social, cuja sua regulamentação à opinião pública
disputa com o próprio poder público, tematicamente a esfera pública modernizada, em
comparação com a antiga forma familiar da esfera íntima, ocorre o deslocamento das
tarefas propriamente políticas de uma comunidade de cidadãos agindo em conjunto para
as tarefas mais propriamente civis, de uma sociedade que debate publicamente (para
garantir a troca de mercadorias).
A tarefa política da esfera pública burguesa é especificamente a necessária regulação
planejada da sociedade civil (por oposição à res publica ou coisa pública, comum); tendo
já a experiência de uma esfera privada íntima, enfrenta normativamente a autoridade de
uma monarquia, de uma totalização e concentração de poder em um único indivíduo da
sociedade civil, de forma estabelecida, porém, ela tem, desde o começo de sua atuação,
caráter privativo e polemizado.
Ao modelo grego de esfera pública faltam ambos os traços, pois o estatuto privado do
senhor da casa (oikos), do qual depende o seu “status político” como cidadão, baseia-se na
dominação sem qualquer aparência de liberdade. A questão do domínio, ainda é constante
na transição dos modelos estruturais das esferas sociais, e perdurará todo o ciclo até os
tempos atuais.

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No âmbito político, o desenvolvimento da esfera pública moderna, ocorre em estruturas
definidas não em etapas, mas todavia, entremeios do próprio movimento de mudanças
culturais, que saindo da esfera íntima familiar tornam-se partes elementares da estrutura
da vida “pública” destes indivíduos das casas (idias, oikos). É exatamente neste
entendimento de transformações que se estabelece o confronto com a vida “privada” para
a vida “pública” e Habermas elabora um novo esclarecimento para todos os conceitos que
foram abordados na mudança estrutural da esfera pública europeia (Inglaterra, França e
Alemanha). Já entendemos aqui que a abordagem elementar constitui duas referências
principais; a cultural e a política. Até aqui a análise condiz no elemento cultural dos
grupos de indivíduos das esferas sociais europeias. Em resumo, esta análise demonstra a
regularidade dos movimentos de transição do poder de domínio sobre o que é instituído a
força, de modo a crivar um modelo imposto, planejado e que como crítica, é precisa e
suficiente a abordagem feita por Marx na sua crítica a economia europeia (lê-se crítica ao
domínio da política econômica europeia). E assim se determina a influência das
consciências de classes sobre a evolução das esferas sociais, a pública e a privada.

E) Da intervenção estamental com o poder institucional, os privilégios individuais


das “classes” e a legitimação estatal do controle sobre o capital e a economia (oikos
nomos).
Desde o começo, o interesse psicológico cresce na dupla relação para consigo e para com
próximo: a introspecção se une em parte por curiosidade, em parte por simpatia, às
oscilações da alma do outro ego... Esta subjetividade, como corte interior do privativo, já
é, desde sempre, ligada ao público. A antítese à intimidade intermediada literariamente é a
indiscrição, não a publicidade enquanto tal. Por isso a função da privacidade é
desempenhar a proteção ao controle das hierarquias nas “oikos”. As instituições são
primevas nas “casas” (Palácios, Ministérios, Tribunais … ) e é fundamento a constituição
hierarquizada conforme sua representação de origem na esfera íntima e assim uma réplica
estrutural da esfera privada fora da “abrangência” de domínio e influência do “senhorio”
geral.

Como aspecto cultural iminente Habermas identifica nas camadas mais amplas da
burguesia, a esfera do "público" insurge inicialmente como ampliação e, ao mesmo tempo,
suplementação da esfera da intimidade familiar.

O tamanho da polêmica, dentro da qual a esfera pública chega, durante o século XVIII, à
eficácia política, já havia sido, durante os dois séculos precedentes, desenvolvida na
controvérsia de Direito Público em torno do princípio da soberania absoluta. A literatura
laudatória em torno do segredo de Estado fornece ao príncipe ou ao regente da “casa”
principal meios para, com a ajuda das outras “casas” dos juristas (jura imperii), chefes de
“casas”, poderem afirmarem sozinhos a sua soberania que pretendem assegurar a
manutenção da dominação sobre o povo, que é considerado imaturo. A prática do segredo
de Estado é mais tarde contraposto ao princípio da "publicidade".

À "lei", essência das normas gerais, abstratas e permanente, cuja mera aplicação é
pretensiosa na redução da dominação, fica inerente uma racionalidade em que o correto

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converge com o justo (veritas non auctoritas facit legem4 – Hobbes analisado por
Habermas). Historicamente, a polêmica pretensão dessa espécie de racionalidade
desenvolveu-se contra a política do segredo de Estado praticada pela autoridade
principesca no contexto do raciocínio público das pessoas privadas. Assim como o
segredo serve para manter uma dominação baseada na voluntas, assim também a
publicidade deve servir para impor uma legislação baseada na ratio. Então entendemos
que a legis serve não especificamente à esfera pública mas efetivamente na privacidade
das instituições enquanto necessidade de manutenção do controle racional sobre a vontade
dos indivíduos, não há liberdade nem liberalidade no processo em que encerra a
legitimação dos privilégios (privacity légis).

As diferenças de "estados" são rigorosas. É bem verdade que certos negociantes ricos
compravam, normalmente na terceira geração, um título de nobreza, em geral ligado às
mordomias de altos cargos burocráticos; mas, com isso, eles saíam da esfera da produção
e da circulação. A nobreza que fica fora do comércio, da indústria manufatureira e dos
negócios bancários como ocupações indignas cai economicamente, numa relação de
dependência com a governança.

O negativo da igualdade burguesa está estabelecido: todos, exceto o soberano único (e


alguns funcionários) são igualmente súditos, igualmente sujeitos apenas à autoridade: são
pessoas privadas. A esfera delas é, sejam elas burguesas ou não, a sociedade civil - quadro
que, durante o século XVIII, não pode ser analisado facilmente da perspectiva da teoria
das classes. Sob vários aspectos, a burguesia ainda continua prisioneira do estado
corporativista, como se mostra no papel feudal dos parlamentos burgueses e na adaptação
da alta burguesia à nobreza; e, de modos vários, a nobreza bem antes da própria burguesia,
abre o seus salões ao modo iluminista de pensar de intelectuais burgueses.

A esfera pública com atuação política passa a ter o status normativo de um órgão de auto-
mediação da sociedade burguesa com um poder estatal que corresponda às suas
necessidades. O pressuposto social dessa esfera pública "desenvolvida" é um mercado
tendencialmente liberado, que faz da troca na esfera da reprodução social, á medida do
possível um assunto particular da as pessoas privadas entre si, completando assim,
finalmente, a privatização da sociedade burguesa. A partir desta avaliação de Habermas,
encontramos a tendencia da legitimação de um controle estatal estabelecido, conforme
identificado este “status” é a concepção de um capitalismo liberal organizado, avaliado e
com sua “promoção” cerceada pelo Estado. Torna-se a ideia do conceito de capitalismo
liberal para o capitalismo de Estado.

Com as liberdades básicas do sistema de Direito Privado, também se articula a categoria


da capacidade jurídica universal, garantia para o posicionamento jurídico da pessoa; esta
já não é mais definida conforme o estamento e o nascimento. O status libertatis, o status
civitatis e o status familiae cedem lugar ao status naturalis que, agora, passa a ser
aplicado genericamente a todos os sujeitos de direito. E as grandes codificações do direito
burguês, desenvolvem um sistema de normas asseguradoras duma esfera privada em
sentido estrito, ou seja, o intercâmbio das pessoas privadas entre si livres de encargos

4 Trad. A verdade e não a autoridade, é que faz a lei.

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corporativistas e governamentais, Garantem a instituição da propriedade privada e, como
seu ponto de ligação, as liberdades básicas de contrato, de empreendimento e de herança.

O direito relativo a dívidas, pressupõe, a grosso modo, liberdade contratual, mas as


regulamentações locais são cheias de controles de preços, taxas, variadas obrigações
regulando a entrega e a oferta, uma horda de limitações de produção e compromissos de
balanço que frente a um regime jurídico abstrato, geral e, por isso, aparentemente livre e
economicamente individualista, contrapõe-se uma desmedida quase opressiva série de
obrigações administrativas, profissionais e corporativas do direito contratual, do direito
trabalhista, do direito de moradia e do direito imobiliário, tanto sociais quanto
econômicos. Habermas identifica a autocracia monopolista privativa sangrando sobre as
engrenagens da máquina administrativa do Estado.

Pollock contribuiu para análise de mudanças estruturais feitas por Habermas a seguinte
condição das estamentais de empreendimentos privados - A empresa privada de tamanho
médio e de livre comércio em uma base para o desenvolvimento das gigantescas forças
produtivas dos homens no século XIV, estão gradativamente sendo destruídas pela
condicional prole do liberalismo (vide privatismo e privilégios assegurados, na análise
histórica de Habermas), monopólios privados e interferência do governo. Concentração da
atividade econômica nas gigantescas empresas, com suas consequências nos preços
demasiadamente rígidos, e uma concentração cada vez maior de auto-financiamentos, o
controle governamental do sistema de crédito e comércio exterior, as posições de quase-
monopólio dos sindicatos com o crescimento exponencial que se seguiu do mercado de
trabalho, desemprego em grande escala do trabalho e e enormes gastos de capital do
governo para cuidar dos desempregados, são os muitos sintomas para o declínio do
sistema de mercado. Eles se tornaram característica em vários graus para todos os países
industrializados após a primeira guerra mundial.

Ou seja, para a contradição de um capitalismo de Estado que fora desenvolvido através da


necessidade de um controle efetivo das antigas “casas” da aristocracia, criando
tecnocracia e autocracia, como governança paralela à concepção de soberania estatal.
Enquanto o plano filosófico originário de um “status equalitatis” interfere em
contrapartida com a apropriação, do controle e do domínio, de capital, recursos, meios de
produção, forças produtivas em geral, através dos indivíduos que são privilegiados dentro
de um sistema adequado historicamente para tal procedimento.

CONCLUSÃO:

A esfera pública burguesa se rege e cai com o princípio do acesso a todos. Uma esfera
pública, da qual certos grupos fossem "eo ipso" excluídos, não é apenas, digamos,
incompleta: muito mais, ela nem sequer é uma esfera pública. Designamos o local
histórico e social em que se desenvolveu esta concepção de si mesmo: na esfera íntima
ligada a um público da pequena família patriarcal é que cresce a consciência dessa, caso
assim se queira, humanidade sem forma precisa. Esta esfera pública continua literária
também quando assume funções políticas; formação cultural é um de seus critérios de
admissão - A propriedade é outro critério. De fato, ambos os critérios cobrem
grandemente os mesmos círculos de pessoas, pois formação educacional era, naquela

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época, antes uma decorrência do que um pressuposto de um status social que, por
sua vez é determinado primariamente por títulos de propriedade.

Se o sistema de mercado, deve ser substituído por outra forma de organização, o novo
sistema deve executar certas funções que estão necessariamente relacionadas com a
divisão do trabalho. Em termos mais amplos, nestas funções "necessárias" caberão três
grupos: a coordenação das necessidades e dos recursos; direção de produção; e
distribuição.

Aqui entendemos o “rompimento” teórico de Habermas com as teorias formadoras da


filosofia de Marx, que não é exatamente um rompimento mas uma nova leitura, mas
mesmo assim, fica assegurada toda a sistematização e a inevitável influência de controle
sobre a “superestrutura” pelas esferas sociais. Pollock mesmo identificando a necessidade
de mudanças, não pode ainda conceber ao processo produtivo do materialismo-histórico
uma real liberação da autocracia e da tecnocracia, estas estão estabelecidas como base
fundamental da forma de capitalismo de Estado. E a emancipação feita pela legitimação
de indivíduos privilegiados é o engodo mítico questionável que ainda permanente,
percorre as “veias” da velha máquina leviatânica hobbesiana a serviço de uma
representação de poder privado. Mesmo o Estado sendo administrado por forças
produtivas do lado da “classe” de trabalhadores ainda sim, depende dela sua sobrevivência
na “gerência das casas e suas atividades mercantis” ou seja na economia. Habermas nos
coloca presente nas discussões sobre governos liberalistas e governos socialistas,
indicando a permanência do domínio da força objetiva inserida na prática do capitalismo.
A esta força ainda rege a influência do materialismo-histórico e do materialismo enquanto
sub-dependências do indivíduo moderno. Enquanto houver sociedade, haverá intervenções
mais estatizadas na cultura do que simplesmente na forma econômica de qualquer
governança seja ela democrática ou não.

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REFERÊNCIAS:
HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1984. [1962]

___, Teoria e práxis: estudos de filosofia social. Madrid: Tecnos, 1987. [1963]

___, Técnica e ciência como ‘ideologia’. Lisboa: Edições 70, 1993. [1968]

POLLOCK, Friedrich. State capitalism: its possibilities and limitations, in ARATO, Andrew
& GEBHARDT, Eike (Ed.) The Essential Frankfurt School Reader. New York: Continuum,
1982, p. 71-94.

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