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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

GRADUAÇÃO EM DIREITO

Resenha Crítica de Caso


Viviane de Souza Corrêa

Trabalho da disciplina: Direito Processual


Penal II

Professor: Izimar Dalboni Cunha

Nova Friburgo

2020

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ACORDO DE NÃO PERCESUÇÃO PENAL
Referência: Negociando no processo penal após a "Lei Anticrime": acordo de
não persecução penal, por Luísa Walter da Rosa.

Incialmente, cumpre explicitar que esta resenha crítica tem por objetivo analisar o texto
de Luísa Walter da Rosa acerca do tema acordo de não persecução penal, preceituado pelo art.
28-A do CPP, que fora introduzido pela Lei 13.964/19, conhecida como pacote anticrime.
Trata-se de um instituto derivado da Justiça Penal Negociada, que permite ao investigado
negociar com o órgão acusador-Ministério Público- antes da ação penal.
Nesse sentido, há que se apontar que o acordo supramencionado era aludido nas
Resoluções n. 181/2017 e 183/2018 do Conselho Nacional do Ministério Público. Tal regulação
gerava controvérsias quanto a sua constitucionalidade, em virtude de alguns alegarem que cabia
ao Congresso dispor sobre o tema. Contudo, não há mais essa discussão, visto que o tema se
encontra consagrado em lei.
Ainda, importa ressaltar que, antes do pacote anticrime, já se observava a aplicabilidade
desse acordo, como bem elucida a autora do texto: “a prática ultrapassou a teoria, e os acordos
passaram a ser firmados e executados antes mesmo de existir uma previsão legal sobre o
assunto”, demonstrando-se que, em que pese não haver regulamentação legal, o instituto
mostrava-se funcional e proficiente.
Não obstante, é preciso enaltecer que a sua regulamentação foi essencial para o Direito
Processual Penal. Tendo em vista que, já existia a possibilidade da realização de acordos nos
crimes de menor potencial ofensivo e nos considerados mais graves, através da colaboração
premiada neste e da transação penal e suspensão condicional do processo naquele. Contudo,
não havia forma de negociar nos chamados crimes de médio potencial ofensivo. Dessa forma,
cabe especular que havia um vácuo na Justiça Penal Negociada, e que este foi suprido após a
normatização do acordo de não persecução penal, que abarca os crimes com penas mínimas
inferiores a quatro anos.
Ultrapassado isto, pertinente se faz aclarar as premissas para que essa forma de
negociação possa ser aplicada. O caput do art. 28-A do CPP determina que, além do requisito
da pena mínima de quatro anos (já consideradas as causas de aumento e diminuição), o
investigado deverá confessar formalmente, de maneira detalhada a infração cometida e não
poderá haver o emprego de violência ou grave ameaça na prática do crime. O que se mostra

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coerente, dado que não é possível negociar punição com quem não se considera culpado e não
se mostra proporcional conceder tal benefício à indivíduos que se valeram de meios violentos.
Ademais, há de se falar que somente o Ministério Público pode propor o acordo, o que
é o ideal, visto que é ele quem possui competência para definir se o acordo de persecução penal
será sanção suficiente ou se não irá surtir o efeito desejado, por configurar, na verdade, um
incentivo à prática de novos crimes. Isto porque, esse acordo garante ao investigado a
impossibilidade de prisão privativa de liberdade, ao passo que apenas deverá cumprir as
condições estipuladas nos incisos do art. 28- A do CPP de forma cumulativa ou alternativa.
Nesse diapasão, faz-se oportuno abordar os parágrafos do art. 28-A do CPP que
necessitam de maior enfoque. A priori é preciso atentar-se a uma das hipóteses de impedimento
de acordo, prevista no §2º, inciso II. Que preceitua que, não caberá acordo para reincidentes ou
para casos que existam elementos probatórios suficientes para indicar habitualidade na conduta
criminal, a não ser que, tal habitualidade se trate de prática reiterada de infrações penais
insignificantes.
Assim, a redação do inciso supracitado, fora infeliz ao utilizar o termo “elementos
probatórios”, uma vez que estes não existem na fase de investigação. Além disso, não foi
delimitado o que seriam infrações penais insignificantes, o que confere uma carga subjetiva ao
tema, ficando a cargo do Ministério Público a sua definição.
Nesse seguimento, o §5° prevê a faculdade de o Juiz determinar a reformulação do
acordo caso considere os termos inadequados, insuficientes ou abusivos. Sobre o tema a Autora
diz que haveria uma confusão de papéis, em virtude de acreditar que a possibilidade da análise
dos termos do acordo faz com que o Juiz exerça o papel cabível às partes.
Contudo, a este entendimento não cabe razão. Isto porque não há que se falar em
confusão entre as partes da negociação e o Juiz, tendo em vista que este não pode alterar os
termos negociados, somente julgar seu conteúdo e devolvê-lo para que o Ministério Público
reformule o acordo em consonância com o investigado. Dessa forma, é acertado conferir tais
poderes ao magistrado, posto que a revisão do acordo poderá evitar iniquidades.
Ainda, outro parágrafo que merece destaque é o 6°, que determina a fiscalização do
acordo de não persecução penal pelo juízo de execução penal. A vista disso, têm-se a garantia
de uma segurança jurídica, uma vez que o Conselho Nacional do Ministério Público não previa
essa fiscalização e recebia fortes críticas em decorrência disso.

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Por fim, no que concerne ao §11, evidente se mostra que este assegura grande vantagem
para o investigado que aceitar o acordo de não persecução penal, em razão de prever que o
acordo não irá constar na certidão de antecedentes criminais.
Isto posto, conclui-se que, o acordo de não persecução penal configurou um avanço no
processo penal. Primeiro ao enaltecer o Princípio da Economia processual, ao passo que
desafoga o judiciário por permitir que mais matérias sejam resolvidas através de acordos. Além
de, por trazer uma visão menos punitivista ao não impor penas privativas de liberdade, auxilia
na diminuição da superlotação dos presídios brasileiros. E por fim, mas não menos importante,
por garantir maior autonomia ao Ministério Público ao permitir que este determine os termos e
condições do acordo.

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