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Artigos Completos - R. J. Rushdoony - A Fé Bíblica e A História Americana-Mesclado
Artigos Completos - R. J. Rushdoony - A Fé Bíblica e A História Americana-Mesclado
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O Passado
A f é Bíblica, primeiro que tudo, começa com o Deus
soberano Que, em Sua graça e misericórdia, redime ao
homem por meio da obra expiatória de Jesus Cristo. Visto
que Deus é soberano, Sua obra de salvação é um ato de
graça soberana. Qualquer coisa que careça disto não é
bíblico: é outra religião, não importa sua f orma
aparentemente cristã. Jesus não pode ser nosso
Salvador se Ele não é nosso Senhor.
Santo Agostinho, a quem a Igreja deve muito por sua ênf ase na predestinação de Deus, f oi
inconsistente quando se af astou de Deus para o mundo. Seu neoplatonismo tomou o controle, e
entregou nas mãos do inimigo o mundo e a história. A obra de Cristo f oi substancialmente reduzida
a uma, salvar almas. Como escreveu Tuveson sobre Agostinho, “Ele entendia essencialmente a
religião como uma experiência individual, um contato transf ormador imediato da alma com a verdade
e a graça divina [1]“. Esta ênf ase, em Agostinho e em todos seus sucessores até o presente, trouxe
uma releitura da Bíblia como um livro de consolo espiritual para a alma. Seja interpretando as leis de
Êxodo, Levítico e Deuteronômio, ou o Livro de Apocalipse, tudo f oi espiritualizado e transf ormado em uma
mensagem para a alma. As cores usadas no tabernáculo, e os números citados nas prof ecias, trouxeram
mensagens espirituais de grande importância, enquanto os signif icados mais simples eram considerados
(e passados por alto) como carnais e destinados a uma geração carnal.
A inf luência de Agostinho na escatologia prevaleceu por mil anos, e está novamente conosco. Com a
decadência do neoplatonismo, houve um avivamento do pós-milenismo. Uma de suas consequências f oi a
grande era da exploração. Há muitas indicações de que os Americanos f oram “descobertos” repetidas
vezes ao longo dos séculos, por Europeus e Asiáticos, por Fenícios e Árabes do Oriente Médio, por
Chineses, Escandinavos e quem sabe outros Europeus. Nada surgiu destes “descobrimentos”. O
pensamento dos tempos não f azia de uma nova terra algo signif icativo. Somente quando o pos-milenismo
começou a aparecer, e com o novo sentido da Grande Comissão, os homens, verdadeiramente,
propuseram-se a explorar e exercer domínio. A maior parte dos exploradores, desde Colombo, qualquer
que f ossem seus def eitos, tinham uma motivação pos-milenista e missionária, bem como econômica. O
interesse econômico, de f ato, era um aspecto de um sentido renovado do mandamento da criação de
exercer domínio e subjugar a terra.
Todas as áreas da vida começavam a ser vistas nos termos Bíblicos. No início da história da igreja, o
f ortemente Helênico Orígenes tinha se castrado para escapar da carne, somente para descobrir que a
luxuria reside na mente e no coração do homem. Na Idade Média, o Cantar dos Cantares de Salomão f oi
espiritualizado e convertido em um sem sentido. Teólogos Puritanos como Willian Gouge e outros
ref eriam-se a ele como uma f onte de instrução do perf eito amor dentro do marco do matrimônio. Um texto
Puritano f avorito era Gênesis 26:8, que conta sobre Isaque acariciando sua esposa Rebeca. Os Puritanos
usavam este texto para atacar a abstinência estoica e o celibato sacerdotal, do qual Gouge disse que era,
“Uma disposição de nenhuma maneira ordenada pela Palavra”. T homas Gatker, em um sermão matrimonial
de 1620, atacou a ideia de que a f é Bíblica é indif erente às coisas f ísicas ou que está desinteressadas nos
deleites matrimoniais. Este quadro f also da f é Bíblica, declarava ele, é:
Uma ilusão de Satanás, com a qual geralmente persuade às Gregas f elizes do mundo: Que se dedicam-se
ao Serviço de Jesus Cristo, então, devem dar uma eterna despedida a toda alegria e deleite; que então,
todos seus dias de f elicidade terão ido; que no reino de Cristo; não há nada exceto suspirar e lamentar, e
jejuar e orar. Mas aqui há o oposto: também no reino de Cristo, e em sua Casa, há matrimônio e entrega
em matrimônio, beber vinho, celebração e regozijo sobre a mesma f ace de Cristo [2].
Erasmo f alou do matrimônio como ref inando-se por meio da abstinência das relações sexuais. O
proeminente Puritano Elizabethiano Henry Smith declarou que 1 Corintios 7:3 é “[Um] mandamento para
renunciar a este direito [as relações sexuais], e é legal proclamá-lo como um mandamento; e não f azê-lo é
um não cumprimento do mandamento.” William Whately disse que nem o marido nem a esposa poderiam
“negá-lo sem grave peado” quando o outro desejasse à relação. Gouge f alou do sexo conjugal como “um
dos atos mais próprios e essenciais do matrimônio.” Em Massachussets, na Corte do Candado de
Middlesex em 1966, Edmund Pinson queixava-se de que Richard Dexter tinha o dif amado ao dizer que
Pinson quebrou o coração de sua esposa com muita dor porque “estaria separado dela por três semanas
completas enquanto ele estava em casa, e que nunca se aproximaria, e coisas similares. [3]”
Apenas algumas gerações anteriores, a abstinência no matrimônio era uma marca de santidade, agora era
uma calúnia ser acusado disto. A mudança f oi grande e dramática. Contudo, a mudança não esteve limitada
ao matrimônio. Em todas as áreas da vida, o homem deveria deleitar-se na salvação de Deus, os gozos da
vida do pacto, f ísica e espiritual, e de avançar com conf iança para exercer domínio e subjugar a terra. O
mundo material agora era importante porque Deus o criou, e porque Deus exigiu que o homem o
subjugasse, que exercesse domínio sobre ele, e que regozijasse nele perante ao Senhor.
Desta maneira, o Puritanismo Americano conscientemente deu-se à taref a de estabelecer a Nova Sião de
Deus sobre a terra, e f azer da América a base de onde o mundo ia ser conquistado. Um resultado f oi o
grande movimento missionário do século dezenove e a primeira parte do vinte. Em 1954, o Capitão Edward
Johnson publicou em Londres sua Uma História da Nova Inglaterra, ou a Maravilhosa Providência do
Salvador de Sião com o propósito de recrutar Cristãos para colonizar o novo mundo, declarando:
Jesus Cristo, com a intenção de manifestar seu Oficio Real para suas Igrejas muito mais
plenamente do que viram até agora os Filhos dos Homens, incita seus servos como Arautos de
um Rei para fazer esta Proclamação por Voluntários da Seguinte maneira.
Oh, Sim! Oh, Sim! Todos vocês, o povo de Cristo, que estais aqui oprimidos, aprisionados e
caluniosamente difamados, reuni-vos, vossas esposas e vossos pequenos, em resposta a seus
muitos nomes, que são enviados para seu serviço, no Mundo Ocidental, e mais
especificamente, para plantar as Colonias unidas da nova Inglaterra; onde vocês se ocuparão
no serviço do Rei dos Reis, na divulgação desta Proclamação pelos seus Arautos em armas.
Poderia, César, ter listas tão rapidamente de novas forças para mobilizar da Europa a Asia?
Quanto mais Cristo que criou todo o poder, convocará por sua vontade esta liga Oceânica
formada por 900 pessoas, instrumentos que ele pensa reunir para fazer uso deste lugar. Sabe-
se que este é o lugar onde o Senhor criará um novo Céu, e uma nova Terra, em novas Igrejas,
e juntas uma nova Comunidade [4].
Os puritanos tinham um projeto para o “novo Céu, e uma Nova Terra, em novas Igrejas e uma nova
Comunidade” que o Senhor planejava construir na América. Este projeto era a Bíblia. Tuveson observou:
Os ingleses, disseram que, verdadeiramente, são o povo de um livro: a Bíblia. O resultado, não
menos importante, de sua preocupação com a Palavra, foi que eles, o mesmo que seus
companheiros Protestantes em outros países, chegaram a ter um estreito contato com uma
filosofia da história muito mais sofisticada, muito mais universal e ainda mais flexível que
qualquer um que tenha fornecido algumas das grandes tradições clássicas [5].
Ainda mais, os Americanos converteram-se no povo do livro, e na tremenda energia expansiva de ambos
povos, Ingleses e Americanos. A vitalidade escatológica de ambos vinha da f é pos-milenista que, por um
tempo, dominara o pensamento em ambos os países.
O Novo Modelo
Portanto, não f oi surpreendente, visto a dedicação Puritana à Escritura, que olhavam à Bíblia em busca de
um novo modelo, não somente para a igreja, mas também para o estado. A partir deste mesmo princípio, as
colônias, especialmente na Nova Inglaterra, f ixaram seus olhos na Bíblia em busca de suas leis. Pelo
senhorio real, no que concernia aos estatutos coloniais, uma certa quantidade de lei real Inglesa também
f oi retira para evitar conf litos com a roa. Mas os puritanos queriam essencialmente um novo modelo, um
baseado na Escritura, para todas as áreas da ida; temos o Novo Modelo do Exército de Cromwell; temos
igrejas com novos modelos; caso após caso, as coisas f oram remodeladas nos termos da Escritura.
Segundo uma f alácia moderna, criada pelo antinomianismo, a Escritura é lei somente parcialmente, e essa
lei pode ser dividida em cerimonial, civil e moral. Tal distinção, primeiro que tudo, deixa muito pouco da Bíblia
como lei. Segundo, a divisão é artif icial. A assim chamada lei cerimonial é intensamente moral: trata com o
f ato do pecado e o plano de expiação de Deus; a lei civil também é moral como qualquer lei pode ser, já que
trata com o roubo, o assassinato, o f also testemunho, o adultério, o crime e o castigo em todas as
f ormas.
Esta f alácia tem suas raízes em alguns Puritanos antinominianos, mas a opinião mais comum dos
Puritanos era ver toda a Escritura como a lei de Deus. Eles assumiam corretamente que o único tipo de
palavra que o Deus soberano pode f alar é uma palavra soberana, uma palavra-lei, já que é uma palavra
com caráter obrigatório. Um Deus soberano não pode f alar uma palavra incerta ou hesitante. Como
resultado, os Puritanos examinavam a Escritura em busca de direção em todas as áreas da vida, pois a
Escritura para eles era, na verdade, a palavra obrigatória e inf alível de Deus.
Assim, não devemos nos surpreender que voltaram para e usaram a lei Bíblica. Foi [assim] até que os
Platonistas de Cambridge introduziram o neoplatonismo no Puritanismo, minando-o assim, que cessaram
de mostrar interesse na lei Bíblica. Era o meio ordenado por Deus para edif icar Sua Nova Sião na América e
de usar a América como um meio para conquistar o mundo inteiro.
O pregador Medieval buscava alegorias na Escritura, e signif icados não históricos e espirituais. O Puritano
buscava leis para viver, mandamentos para a vida pessoal, f amiliar, a vida na igreja, estado, área vocacional
e social. Seu propósito era tanto prático como teológico, para estabelecer a Nova Sião de deus na
América.
Como resultado, uma acusação característica começou a marcar o púlpito Americano desde a segunda
geração nascida na Nova Inglaterra até toda América nos dias de hoje, a lamúria. A lamúria é o lamentar-se
de que a nação é inf iel para com o Senhor . Assume uma responsabilidade particular, por parte do povo
Americano, de ser f iel para com o Senhor, por terem sido particularmente abençoados por Ele. Enquanto na
França a apelação à renovação nacional é humanista e cita “a glória da França” como o impeto, na América
o ímpeto é muito mais, normalmente, religioso, e é teológico em seu interesse e ênf ase.
Assim, o marco da vida Americana f oi teológico. Podemos encontrar def eitos no desenvolvimento dessa
teologia, e desvios dela, mas o contexto teológico da América é muito real. De maneira que, qualquer coisa
que possamos dizer sobre O Hino de Batalha da República, este verá claramente a missão da América,
incluindo, se não é que enf aticamente, a justiça e o juízo de Deus. A chegada dos Exércitos é identif icada
com a chegada do Senhor em juízo. Seu coro é um hino triunf ante de louvor, uma doxologia: “Glória, glória,
Aleluia, Nosso Senhor marchando está!”. No século vinte, também os não Cristãos f alavam
voluntariamente e livremente sobre “a missão da América”. A corrente Puritana é ainda f orte, ainda que,
entre eles, a rejeitem.
O Presente
Não podemos começar a entender a condição presente dos Estados Unidos separada da decadência da
Fé Ref ormada. A guerra de Independência f oi um triunf o para o pós-milenismo Puritano, mas também f oi
um f ator importante para sua decadência. A f é Puritana sof reu em dois sentidos. Primeiro, pela guerra
estar identif icada tão proximamente com o Puritanismo, e especialmente com os Presbiterianos
Escoceses-Irlandeses, todos os pastores Puritanos, de qualquer af iliação eclesiástica, estiveram muito
ativos na capelania. As igrejas sof reram, em algum grau, por esta perda. Segundo, e mais importante,
muitas de suas igrejas f oram destruídas, queimadas deliberadamente pelas f orças Escocesas. Isto
constituiu uma perda importante e devastadora para um povo algumas vezes já empobrecido. O
Puritanismo nunca se recobrou plenamente deste revés. Em vez de aparecer diante do povo em tempos de
paz com uma posição imponente, o Puritanismo surgiu da guerra com perdas desastrosas e em
organização.
Ao mesmo tempo, enquanto a f é Agostiniana no decreto de deus estava declinando, estava f lorescendo
um desespero Agostiniano. Em vez da esperança na conf iança de que o reino de Deus prevaleceria, existia
uma nova crença, f ortalecida pela Revolução Francesa, que o homem, o homem ímpio, antes que Cristo,
teria o comando nas nações. Como resultado, a ideia medieval de que a igreja é a única esperança do
homem este mundo, e que a igreja deve ser um convento ou monastério que os Cristãos se retiram,
capturaram a América. O resultado f oi o avivamentalismo [6].
O flagelo do avivamento
Com o avivamentalismo aconteceram mudanças dramáticas. Alexandre Hamilton, vendo a inércia da ênf ase
cristã, planejou antes da sua morte começar uma nova entidade política chamada Partido Constitucional
Cristão. Com o novo espírito monástico tal ideia f oi impossível. Deixou-se a política aos políticos; os
Cristãos estavam decididos em secularizar a ordem política. Os sermões sobre eleições e o antigo
interesse Puritano com o governo civil, transf ormaram-se, agora, em algo obsoleto, e, também, vistos
como evidência de mundanalidade.
O mesmo termo mundanalidade assumiu um signif icado monástico. Não signif icava um interesse ímpio no
mundo, mas qualquer interesse genuíno no mundo.
Uma mudança similar e de amplos alcances aconteceu na educação. Anteriormente, toda educação tinha
sido Cristã; somente existiam escolas e colégios Cristãos. Após alguns anos, depois que começara o
avivamentalismo, encontrava-se já no caminho o movimento pelo controle estatal da educação. Alguns
pregadores e prof essores de avivamentos denunciaram as escolas Cristãs como ímpias e insuportáveis.
Sustentaram que as escolas Cristãs tinham substituído a experiência de avivamento com conhecimento e
preparação para a regeneração. Sustentavam que ocorria uma experiência mais clara de conversão se a
mente de uma pessoa não estava atestada com o conhecimento das Escrituras. Devemos recordar que, o
movimento de avivamento inaugurado por Charles G. Finney, também considerava que a leitura da Bíblia
nas reuniões de avivamento tinha um ef eito ruim, de resf riamento ou como água f ria, sobre aqueles que
estavam presentes.
O termo e a ênf ase chave era salvar almas. Mas isto não é tudo. Os pregadores de avivamentos atuavam
como se virtualmente não houvesse almas salvas até que eles apareceram, como se todos os que haviam
precedido não f oram pastores ou guias espirituais, mas lobos. Além disso, o mesmo termo, salvar vidas,
assumiu um novo signif icado. A alma na Escritura signif ica de maneira comum a vida de um homem, de
maneira que a salvação da alma nos termos Bíblicos enf oca a vida e o ser total do homem, e a salvação do
alma signif ica a regeneração do homem total. A salvação estava agora, por implicação, limitada a um lado
do homem, sua alma ou espírito, e a salvação tinha um signif icado interno em vez de um signif icado total e
cósmico.
O resultado f oi um retiro do mundo, e da vida total do homem, essa alma interior redef inida. Jesus Cristo
como Salvador estava, agora, limitado em Sua f unção de ser simplesmente um salvador da alma. Não é de
se surpreender que, para o século vinte, o Rev. Carl McIntire insistira logicamente em negar o mandamento
da criação, e que a Universidade Bob Jones negara o Senhorio de Jesus antes do reino milenar. A lógica do
Arminianismo requeria uma rendição do reinado de Cristo e uma redução de Seu papel àquele de um
Salvador. Também este papel era diminuído pela negação da graça soberana. O homem era, de f ato, o
salvador; o homem escolhia ou negava a Cristo; o homem tomou a decisão e o decreto. A predestinação
f oi transf erida de Deus para homem.
O flagelo do Arminianismo
Assim, pois, o Arminianismo transf eriu o governo dos homens de Cristo ao dos homem. Isto signif ica que
não há evangelismo Bíblico para a sociedade, mas apenas um evangelho humanista ou social. O
modernismo era um produto do avivamentalismo, e alguns eruditos Arminianos estão f elizes de mostrou
que o avivamentalismo produziu o nascimento do evangelho social. O f undamentalismo Arminiano e o
evangelho social modernistas são nascidos de uma linhagem comum, a negação da graça soberana. Não
surpreende, pois, que exista uma crescente receptividade do f undamentalismo Arminiano para com o
evangelho social.
Quando Pilatos disse a Jesus: “A tua nação e os principais dos sacerdotes entregaram-te a mim.”, sendo
Ele seu rei (João 18:33-35), Jesus deixou claro que Ele não era um Rei cujo reinado vinha dos homens:
“Meu reino não é desde mundo” (João 18:36), p.ex., não se deriva deste mundo, mas está sobre este
mundo, e é “Meu reino”.
O arminianismo coloca o reino de Cristo ou no f uturo (o milênio) ou f ora deste mundo. Os Barthianos, por
exemplo, insistem em trabalhar por uma ordem socialista, mas são enf áticos ao declarar que Deus é
“totalmente Outro”, totalmente longe e f ora deste mundo, de maneira que não tem nenhuma relevância
real para nosso mundo hoje. O pregador de avivamentos olha para o reino somente no milênio, ou no
mundo mais longe da Segunda Vinda.
Os resultados da tal teologia encontram-se aqui conosco. Em um país onde mais da metade das pessoas
são membros de igrejas, esta atitude conventual ou monástica sobre o reinado de Cristo conduziu a uma
rendição do mundo ao homem. O problema real nos Estados Unidos é o Arminianismo, que é uma f orma de
incredulidade modif icada. O arminianismo propõe a crença em Jesus Cristo, mas atua baseando-se na
crença no homem. O resultado de tal prof issão [de f é] é exatamente o que temos hoje nos Estados
Unidos.
Assim, nosso problema central não é o ateísmo aberto ou o humanismo aberto, ainda que ambos são,
claramente, sérios problemas. É a f alsa teologia, o Arminianismo. Na maior parte dos países Ocidentais o
humanismo aberto é operante ou é religião nominal com humanismo tácito. Nos Estados Unidos, é o
Arminianismo; ainda que o Arminianismo é semelhante e pertence a f amília do humanismo, é ainda
dif erente, e apresenta uma f achada Cristã. É importante que desde a década de 50 até a década de 70, o
homem nos Estados Unidos que seguiu sendo a f igura pública mais signif icativa e sumamente considerada
é o pregador do avivamento [7], o Rev. Billy Graham. Durante esses mesmos anos, quando um ministro
recebeu o status nacional mais alto em Washington, D.C, que jamais f oi concedido a algum ministro, os
Estados Unidos também sof reram a mais desintegração moral. Legalizou-se o aborto, a pena de morte f oi
virtualmente abolida, a revolução sexual segue em caminho, o socialismo está adquirindo o controle
rapidamente, a ideia da benef icência social segue veloz, e o hedonismo é corrente.
A coincidência destes dois f atores não é acidental. Onde os homens adotam uma redenção tão organizada
dos direitos reais do Rei Jesus sobre o mundo, necessariamente isto deve ter consequências práticas. A
redenção do mundo coincide com o crescimento de uma f alsa espiritualidade.
A Constituição dos Estados Unidos, em suas cláusulas monetárias, mostra claramente a inf luência do Rev.
John Witherspoon, cujo dinheiro sólido, os princípios padrões do outro deixaram sua marca na América.
Hoje, alguns pastores denunciam o interesse no ouro ou na prata, no campo econômico, como algo não
espiritual. A brecha entre Withrspoon e o presente é muito grande, e a razão daquela brecha é o
Arminianismo.
O único remédio, portanto, é a Fé Ref orma, a proclamação de Deus soberano, Sua graça soberana, e Sua
lei soberana.
Parte 3 : O Futuro
No início do século vinte, os radicais Americanos, agudamente conscientes da irrelevância das igrejas,
caricaturaram f erozmente seu papel e sua mensagem, e algumas vezes a f izeram de maneira blasf ema. A
mais popular de tais caricaturas f oi o hino, “No Doce Adeus”, que converteu-se em ” Bolos no Céu, Adeus,
Adeus”. Os f undamentalistas, unicamente, tornaram-se mais monásticos, enquanto que os modernistas
adaptaram mais o socialismo dos radicais.
O resultado líquido f oi que a Fé Bíblica f oi negada por ambos, e a Fé f oi f eita algo irreal. As igrejas
cresceram numericamente, mas, enquanto isto, declinavam tanto em f orça quanto em ef etividade. A
mudança entre os f inais das décadas de 40 e 70 f oi ilustrada dramaticamente por uma enf ermeira, que
depois de alguns anos de ausência da prof issão, regressou ao hospital onde tinha começado sua carreira.
Estava em uma cidade do sul, bem no Cinturão da Bíblia, onde quase todos f requentam à Igreja, e a maior
parte das igrejas são f undamentalistas. Em princípio, os pacientes da emergência que vinham ao hospital
oravam e solicitavam a presença do pastor. Nas décadas de 70, depois de dois anos de experiência,
descobriu que somente uma pessoa mencionou ao menos uma vez ao Senhor no momento de crise. O
resto estava satisf eito com o dia seguinte quando seu pastor chamava, mas sua f é prof essada não era
essencial para eles. Visto que Deus é soberano e absoluto, nossa f é n’Ele irá governar cada área da vida,
do pensamento e ser, ou f inalmente Ele será negado em todas. Não podemos ter a metade de Deus: a
religião Bíblica é uma proposição de tudo ou nada. Mas os homens querem a f orma de piedade, mas não a
Deus. Tentar usar a igreja como um esconderijo de Deus. São Paulo adivertiu a Timóteo sobre tais
pessoas, que são homens ”Tendo aparência de piedade, mas negando a ef icácia dela. Destes af asta-te.”
(2 Timóteo 3:5). Contudo, a igreja moderna, modernistas e f undamentalistas, está empenhada em
satisf azer os tais em vez de se af astarem deles.
O resultado é a religião barata, a religião muito popular, pois promete ao homem o céu sem nenhum custo.
É religião antinomiana: não exige produção de f ruto para o Senhor, não há dízimo, não crescimento,
unicamente uma “decisão” por Cristo, que é esperada agradecida e conscientemente do homem, o
soberano. Tal religião é como a semente semeada em terreno pedregoso, que a tribulação ou a
perseguição destrói com rapidez (Mt 13:18-22). Tem um presente muito promissor, mas não tem f uturo.
Então, qual é o f uturo da f é Cristã na América? A crescente crise nos Estados Unidos, um aspecto da
maior crise mundial que o mundo conheceu, é a crise do humanismo e sua irmã, o Arminianismo. A crise
criada pelo humanismo e o Arminianismo agora começa a destruí-los. Os homens trabalham para adiar o
juízo, para criar soluções provisórias e colocar f itas adesivas sobre o câncer da civilização, mas isto
nunca f uncionará.
Ou o mundo entrará miseravelmente em uma Era Obscura de caráter selvagem, ou será conquistado pela
Fé Bíblica. Não há outras alternativas.
Esta crise coloca uma grande responsabilidade sobre os campeões da graça soberana. Sua f é deve ser
mais que igrejismo: pelo contrário, deve ser a declaração dos direitos reais do Rei Jesus em todas áreas
da vida. Cristo, o Rei, deve governar a pessoa, a igreja, o estado, a escola, a f amília, as vocações, as
artes e as ciências, e todas as demais coisas. Ele deve ser servido pelo homem onde quer que esteja e
com todo seu coração, mente e ser.
Isto é possível? Podem os pequenos números de homens da graça soberana triunf ar f rente a um inimigo
tão grande? A resposta simplesmente é esta: é impossível para o Deus soberano não conquistar. Seu
propósito em todas estas coisas é abalar todas as coisas que podem ser abaladas, de maneira que
somente permaneça o que não pode ser abalado (Hb 12:25-29).
Além disto, as Escrituras são claras em [dizer] que o poder do inimigo, apesar de ser aparentemente
grande e estar bem enraizado, é um assunto de curto prazo. Davi, que viu os malvados prosperaram e
persegui-lo como se f osse um animal selvagem, ainda assim podia declarar, “O ímpio tem muitas dores,
mas àquele que conf ia no Senhor a misericórdia o cercará.” (Salmos 32:10). Novamente declara, “Pois os
braços dos ímpios se quebrarão, mas o Senhor sustém os justos” (Salmos 37:17). Certamente, “os
mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz” (Salmos 37:11, cf . v.10).
Asaf e declara, “Pois eis que os que se alongam de ti, perecerão; tu tens destruído todos aqueles que se
desviam de ti” (Salmos 73:27). Salomão deixa clara o propósito de Deus:
Nosso Senhor conclui Seu Sermão do Monte declarando que toda “casa”, ou seja, pessoa, vida,
instituição, igreja ou nação, que estiver edif icada sobre a areia perecerá nos juízos que Deus de maneira
regular envia à terra, enquanto que somente as pessoas, instituições e nações que estejam estabelecidas
sobre a Rocha, o mesmo Jesus Cristo, resistirá aos abalos e as provas (Mt. 7:24-27).
Nos estamos enf rentando um tempo de julgamento. Todas as outras casas cairão e serão varridas pelos
ventos da história e das correntes do juízo. Somente aqueles que edif iquem sobre Cristo, o Senhor, irão
perdurar.
Então, este é um tempo para edif icar, para edif icar sobre o f undamento de Jesus Cristo. As escolas
Cristãs, as igrejas, os seminários, as agências políticas, as empresas econômicas, as operações
vocacionais e muitas, muitas outras devem ser iniciadas, de maneira sábia e cuidadosa, mas também com
entusiasmo como uma oportunidade para apresentar e estabelecer os direitos reais de Cristo, o Rei.
Isto já começou. Somente em uma área o mundo está assustado por nosso êxito. As escolas Cristãs
estão crescendo em um ritmo constante e se tornando destaques inclusive para os não crentes. Aqueles
que há poucos anos criam que a Fé Ref ormada estava morta, agora, estão sendo desaf iados por ela em
todos os ângulos. Estão aparecendo novas igrejas, e a causa da graça soberana está se expandindo
rapidamente. Estamos à beira do maior crescimento tanto em alcance como em poder, da Fé
verdadeiramente Bíblica que o mundo jamais viu.
O lema do Estado de Nevada é adequado para nossa causa: “Nascido para a Batalha”. Na parábola do
semeador, o calor do sol e da adversidade, f azem que a f alsa semente pereça, pelo terreno pedregoso de
seu ser. A adversidade f ortalece unicamente ao piedoso. Nascidos na batalha, crescem na adversidade e
voltam homens f ortes em Cristo. Assim, o f uturo é nosso em Cristo, pois “Do SENHOR é a terra e a sua
plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Salmos 24:1). Estamos pelejando em terreno conhecido
sob Cristo, o Rei. Com São Paulo devemos dizer, “ Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos
8:31)
Rev. R. J. Rushdoony
Novembro, Dezembro 2001. Janeiro 2002
1- Ernest Lee Tuveson, Millennium and Utopia (Gloucester, MA: Peter Smith [1964], 1972), 15.
2 – T homas Gataker y William Bradshaw, Dois Sermões sobre o Matrimônio(Londres, 1620), 14, citados
por Roland M. Frye, “O Ensino do Puritanismo Clássico sobre o Amor Conjugal,” em Arnold Stein, ed., Sobre
a Poesia de Milton (Greenwich, CT: Fawcett Publications, 1970), 104.
3- ibid., 105ss.
4 – Albert Bushnell Hart, A História Americana relatada por seus contemporâneos, vol. 1 (Nueva York:
Macmillan,1897), 366ss.
6 – Nota do Tradutor: Por “avivamentalismo” deve-se entender o movimento centrado no homem e apenas
em sua conversão, sendo assim, não há relações com os movimentos puritanos que obtiveram grande
êxito como Jonathan Edwards.
A Importância da Lei
monergismo.com /v1/
Quando Wyclif escreveu de sua Bíblia em inglês que “Esta Bíblia é para o governo do povo, pelo povo,
e para o povo”, sua declaração não atraiu nenhuma atenção até onde dizia respeito sua ênfase sobre
a centralidade da lei bíblica. Que a lei deveria ser a lei de Deus era mantido por todos; Wyclif afastou-
se da opinião aceita ao dizer que o próprio povo deveria não somente ler e conhecer essa lei, mas
também em algum sentido governar bem como ser governado por ela. Nesse ponto, Heer está correto
ao dizer que “Wyclif e Hus foram os primeiros a demonstrar à Europa a possibilidade de uma aliança
entre a universidade e o anelo das pessoas por salvação. Foi a liberdade de Oxford que sustentou
Wyclif”.[1] A preocupação era menos com a Igreja ou Estado do que com o governo pela lei-palavra de
Deus.
Brin disse, sobre a ordem hebraica social, que ela difere de todas as outras pelo fato de considerar-se
fundamentada e governada pela lei de Deus, que a deu especificamente para o governo do homem.[2]
Não menos que o Israel antigo, o cristianismo acredita ser o reino de Deus porque é governado pela
lei de Deus como apresentada na Escritura. Há afastamentos dessa lei, variações dela, e lassidão na
fidelidade a ela, mas o cristianismo se vê como o novo Israel de Deus e não menos sujeito à Sua lei.
Quando a Nova Inglaterra começou sua existência como entidade legal, sua adoção da lei bíblica foi
tanto um retorno à Escritura como um retorno ao passado da Europa. Foi um novo começo em termos
dos antigos fundamentos. Não foi um começo fácil, visto que muitos dos servos que vieram com os
puritanos mais tarde estavam em plena revolta contra a fé e ordem bíblica.[3] Todavia, foi um retorno
resoluto aos fundamentos do cristianismo. Dessa forma, os registros da colônia de New Haven
mostram que a lei de Deus, sem qualquer sentido de inovação, tornou-se a lei da colônia:
3 de abril de 1644: Ordenou-se que as leis judiciais de Deus, como entregues por Moisés… sejam a
regra para todos os tribunais nesta jurisdição em seus procedimentos contra ofensores…”.[5]
Thomas Shepard escreveu, em 1649, “Pois todas as leis, quer cerimoniais ou judiciais, podem ser
remetidas ao decálogo, como apêndices a ele, ou aplicações dele, e assim abranger todas as outras
leis como seu resumo”. [6]
É uma ilusão sustentar que tais opiniões eram simplesmente uma aberração puritana, e não uma
prática verdadeiramente bíblica e um aspecto da vida persistente do cristianismo. É uma heresia
moderna a que sustenta que a lei de Deus não tem nenhum significado ou nenhuma força obrigatória
para o homem de hoje. É um aspecto da influência do pensamento humanista e evolucionário sobre a
igreja, e ele postula um deus que evolui e se desenvolve. Esse deus “dispensacionalista” se
expressou na lei numa época antiga, então mais tarde se expressou pela graça somente, e agora
talvez se expresse de alguma outra maneira. Mas esse não é o Deus da Escritura, cuja graça e lei
permanecem a mesma em todas as épocas, pois ele, como o Senhor soberano e absoluto, não muda,
nem precisa mudar. A força do homem é a perfeição do seu Deus.
Tentar estudar a Escritura sem estudar a sua lei é negar a Escritura. Tentar entender a civilização
ocidental à parte do impacto da lei bíblica dentro dela e sobre ela é procurar uma histórica fictícia e
rejeitar vinte séculos e todo o seu progresso.
As Institutas da Lei Bíblica tem como seu propósito uma inversão da tendência atual. Ela é chamada
“Institutas” no significado antigo dessa palavra, i.e., princípios fundamentais, neste caso, da lei, pois a
intenção é ser um começo, instituindo uma consideração dessa lei que deve governar a sociedade, e
que governará a sociedade sob Deus.
[1] Friedrich Heer, The Intellectual History of Europe (Cleveland: The World Publishing Co., 1966), p.
184.
[2] Joseph G. Brin, “The Social Order Under Hebrew Law,” The Law Society Journal, vol. VII, no. 3
(August, 1936), pp. 383-387.
[3] Henry Bamford Parkes, “Morals and Law Enforcement in Colonial England,” The New England
Quarterly, vol. 5 (July, 1932), pp. 431-452
[4] Charles Hoadly, ed., Records of the Colony and Plantation of New Haven from 1638 to 1649
(Hartford: for the Editor, 1857), p. 69.
[6] John A. Albro, ed., The Works of Thomas Shepard , III, Theses Sabbatical (1649) (Boston: Doctrinal
Tract and Book Society, 1853; New York: AMS Press, 1967), p. 49.
Fonte: Extraído da introdução do excelente livro The Institutes of Biblical Law, Volume
1.
A Lei Marxista
Rousas John Rushdoony
A doutrina marxista da lei é uma grande força no século 20.2 Para Marx
e Lenin, o fato básico é visto como a negação da verdade. O Marxismo é
relativista; ele nega que haja qualquer verdade absolta, qualquer certo ou
errado fundamental no universo. Ao invés de Deus como o fundamento da
verdade e da lei, o Marxismo insiste que todas as idéias de verdade e lei
simplesmente refletem a vontade de uma classe governante. Assim, para o
comunismo a lei é simplesmente a vontade da classe governante declarada
como estatutos e requerimentos legais, de forma que a lei meramente espelhe
as políticas da classe governante à medida que essa funciona mediante o
Estado. Como resultado, para o Marxismo não existe nenhuma verdade em
alguma lei; nenhuma lei tem qualquer relacionamento com qualquer certo ou
errado absoluto, pois nenhum certo ou errado absoluto existe. Isso significa
que a lei comunista não é mais verdadeira que a lei capitalista; isto é, que a lei
soviética e a lei da China comunista não são mais verdadeiras em nenhum
sentido absoluto que a Constituição dos Estados Unidos. A única diferença
que os marxistas fazem é esta: a Constituição supostamente representa, não o
povo, mas a vontade de uma classe governante capitalista, enquanto a lei
marxista é mais democrática; ela supostamente representa a vontade do
proletariado. E, visto que o Marxismo é humanismo econômico, o homem é o
seu único padrão de valor; portanto, a vontade do proletariado é relativamente
melhor que a vontade dos capitalistas, pois existem mais proletariados no
mundo. Albert Weisbord, um marxista proeminente, atacou a Constituição
dos Estados Unidos, não porque fosse verdadeira ou falsa, mas porque ele cria
que a mesma era anti-democrática, anti-proletariado e em seu estudo, The
Conquist of Power (A Conquista do Poder), ele viu a Convenção Constitucional
de 1787 como parte de “uma conspiração secreta” contra o povo (vol. I, p.
71). A Constituição, sem dúvida, afirma implicitamente a supremacia da lei
sobre todas as classes e povos, e, como Edward S. Corwin apontou, ela
pressupõem uma “lei superior”, a lei de Deus (Edward S. Corwin, The “Higher
Law” Background of the American Constitucional Law, 1928, Ithaca: Cornell, 1955).
Mas, para o Marxismo, todo discurso sobre Deus e a lei de Deus é uma ilusão
e engano usado por uma classe governante para suprimir o pobre.
Para o Marxismo, a lei é simplesmente a vontade do Estado. Ela não
tem nenhuma referência a qualquer certo ou errado absoluto, nem existe
alguma lei superior além do Estado. A lei é simplesmente um sistema de
1
E-mail para contato: felipe@monergismo.com. Traduzido em setembro/2007.
2
Nota do tradutor: O presente texto foi escrito entre 1966 e 1967.
3
Nota do tradutor: O Grande Expurgo foi uma ação persecutória movida pelo ditador soviético Josef
Stalin (1879-1953) contra seus opositores políticos, verdadeiros ou não, entre os anos de 1934 e 1939.
Sétimo, isso significa que para os marxistas os únicos crimes reais são
crimes contra o socialismo, isto é, oposição ao totalitarismo marxista. Assim
sendo, novos crimes são inventados e ouvimos agora o termo “crimes contra
a paz” livremente usado. Um crime contra a paz é qualquer tipo de guerra
contra o Marxismo. Esse é um conceito novo e perigoso, pois envolve uma fé
que o Marxismo é o único deus verdadeiro, e qualquer oposição a ele é um
pecado mortal. Não tem havido nenhum desafio a esse conceito marxista; ele
foi apenas desenvolvido mais plenamente. As únicas reclamações reais contra
Stalin por seus sucessores eram por ofensas a marxistas governantes, não por
suas ofensas contra a justiça verdadeira. Milovan Djilas, em seu livro
Conversations With Stalin (Conversações com Stalin), disse: “Enquanto por um
lado os sucessores de Stalin estão se lamentando, por outro lado, vítimas
individuais do governo arbitrário entre 1937 e 1955 não fazem senão falar
sobre os milhões de vítimas da perseguição bolchevista entre os camponeses,
as classes médias e a elite intelectual russa; não podemos crer que eles se
apartaram honesta e sinceramente dos métodos de opressão violenta e de
terror”.
Isso nos traz a um oitavo aspecto do sistema soviético de lei. Porque ele
é lei totalitária e política, assegura um Estado perpétuo de guerra civil. De
fato, ele cria uma dupla guerra civil. Primeiro, cria uma guerra civil dentro dos
comunistas governantes. A União Soviética tem sido uma longa guerra civil,
primeiro, entre os sucessores de Lenin, depois, entre os sucessores de Stalin, e
a cena presente está longe de ser quieta. Os comunistas da China Comunista
estão no meio de uma guerra civil entre os assassinos governantes, e o triunfo
de uma parte ou outra não findará o problema. O segundo tipo de guerra civil
criada pela lei marxista é entre o Estado e o povo, e as guerras do Estado
contra seu próprio povo como um inimigo. Porque o Estado comunista
sempre considera seus sujeitos como um inimigo, que deve ser re-feito por
lavagem cerebral e força bruta, ou esmagado pelo terror e violência, paz entre
o partido e o povo é uma impossibilidade. Porque o Estado soviético é o
poder totalitário e absoluto, ele não pode cometer nenhum erro, e as pessoas
são, portanto, por definição erradas se não se submetem totalmente ao
Estado. Além do mais, as pessoas também estão no erro mesmo quando se
submetem. Quando o comunismo comete um engano, ele recusa aceitar a
culpa, pois é por definição o sistema perfeito. Alguém deve ser feito o bode
expiatório, e o bode expiatório se torna porções do Partido Comunista, ou
então o povo, ou ambos. Esse alguém deve ser então punido. Como
resultado, o comunismo, porque não é e nem pode ser perfeito ou livre de
falhas, deve com toda falha fazer guerra civil contra si mesmo e o seu povo.
Isso significa que o comunismo nunca pode trazer paz, pois sua teoria
marxista de lei garante a guerra civil perpétua. Assim, a lei marxista ao invés de
ser lei, é uma garantia de guerra perpétua e a destruição daquilo que a lei é
suposta assegurar – justiça e ordem.
A ascensão do antinomianismo nas fileiras da igreja possibilitou a ascensão do estado humanista. Visto que toda
moralidade e lei se assentam sobre premissas religiosas, para a igreja, o colapso da aplicação universal da lei de
Deus resultou na sua total irrelevância nas questões de ordem social; na negação do poder soberano de Deus
sobre todas as instâncias, incluindo a lei e o estado; e, por fim, no recuo para o politeísmo prático. Nos Estados
Unidos, 50 milhões de membros de igrejas evangélicas que deveriam ser defensores dos direitos reais do Senhor
sobre o governo civil são completamente indiferentes à realeza de Cristo. Por conseguinte, o governo civil espelha
antes os princípios do ateísmo do que os da fé bíblica.
Ora, tanto os evangélicos quantos os modernistas colaboram na afirmação do antinomianismo. Andrew Jackson
Young, no período em que atuou como embaixador dos Estados Unidos nas Nações Unidas, expressou, numa
entrevista, a seguinte “confissão de fé”:
“Para mim, a moralidade é raciocinar claramente através das alternativas e assim fazer uma decisão
que é a melhor para o maior número de pessoas... Aprendi minha política externa nas aulas de
teologia, e não na igreja. Eu estava lendo Reinhold Niebuhr, Paul Tilich, Dietrich Bonhoeffer... Meu
entendimento acerca de Jesus Cristo é que Ele veio para cumprir a lei. E tu estás a falar com base
na lei moral, na qual eu não creio.”
Ora, somos salvos pela graça de Deus na e por meio da expiação de Cristo; todavia, não somos salvos a fim de
sermos desregrados, mas, sim, fiéis à retidão ou justiça de Deus tal como estabelecidas em Sua lei. A lei é, pois,
nosso meio de santificação.
As raízes históricas do humanismo se estendem nas profundezas da história; na verdade, sua primeira declaração
se encontra em Gênesis 3:5 – cada homem como seu próprio deus, conhecendo ou determinando o bem e o mal
para si mesmo. O ateísmo é um desenvolvimento lógico e tardio na história do humanismo. Embora tenha sido
uma tendência um tanto vaga na história ocidental, foi somente no século XIX, ou nos fins do século XVIII, que se
tornou um movimento aberto e manifesto.
Foi em Ludwig Feuerbach (1804-1872) que o ateísmo encontrou seu filósofo e sua clássica expressão. Ora,
Feuerbach considerava a ideia de Deus como uma objetificação das ideias e ideais humanos. Destarte, para ele, a
ideia de Deus era um produto da experiência humana. Aquilo que o homem diz acerca de Deus revela aquilo que
sente com relação a si próprio; desse modo, quando a teologia afirma: “Deus é amor”, tudo que temos aqui é uma
revelação de quão importante é o amor para o ser humano. Portanto, para Feuerbach, todas as afirmações
teológicas eram manifestações psicológicas. Para Karl Marx, valendo-se de Feuerbach, as afirmações teológicas
eram expressões da mitologia exploradora das classes dominantes, de maneira que, segundo seu entendimento, a
1/4
religião era o ópio do povo.
Para os philosophes franceses, a crítica da religião era o ponto de partida da filosofia. O homem autônomo
somente poderia ser livre com a morte de Deus. Bakunin, o anarquista, defendia: “Se há um Deus, o homem é um
escravo; todavia, o homem é livre, portanto, não há Deus”. Partindo da premissa da inexistência de Deus e da
autonomia e liberdade do homem, Feuerbach reduziu a ideia de Deus à experiência humana. Tal redução colocou a
psicologia humana na linha de frente, como se fosse a chave interpretativa da vida; e, com Freud, por seu turno, a
psicologia substituiu a filosofia e a religião como força cultural central.
Com o ateísmo, a lógica do humanismo veio claramente à tona. Benjamim Franklin foi um dos primeiros defensores
da moralidade humanista; seu famoso provérbio, “a honestidade é a melhor política”, sumariza essa nova fé.
Assim, a honestidade agora se assenta não no mandamento divino, mas na utilidade humana. O fator chave é a
melhor política; para Franklin, a honestidade, de fato, era a melhor política, mas para Nietzsche, todavia, a
desonestidade veio substituí-la como uma forma moral, isto é, como a melhor política. O resultado foi o triunfo das
leis humanistas, que assumiram o lugar da lei de Deus, e a ascensão das razões de estado como a base lógica da
lei. O estado moderno legisla, atua e planeja como se não existisse Deus; sua premissa básica e implícita é que
Deus e o cristianismo estão ambos mortos.
Como resultado, temos, então, um novo estabelecimento da religião que subjaz à lei, a saber, o estado humanista
e ateísta. Ao mesmo tempo, o ateísmo como força organizada retrocedeu[1], visto que seu êxito estonteante tornou
desnecessária qualquer causa ateísta formal. Suas premissas fazem parte agora da igreja, do estado e da escola.
A era vitoriana rompeu com o cristianismo, embora dissimuladamente demonstrasse respeito a ele mediante a
observância superficial das formas morais. Seus objetivos religiosos eram helenistas, e sua pátria espiritual era
antes a Grécia e Atenas antigas do que Israel e Jerusalém. Desde então, paulatinamente, as formas superficiais de
cristianismo também foram desaparecendo, até que, conforme MacIntyre assinalou, “chegasse ao ponto no qual a
física e a política – usando aqui ambos os termos no seu sentido mais lato – definissem um mundo no qual não há
lugar algum para o teísmo”. O homem autônomo agora cria suas próprias leis; declara sua liberdade com relação a
Deus, bem como sua liberdade em aceitá-Lo ou rejeitá-Lo. A ênfase arminiana no livre-arbítrio apoia e coexiste
pacificamente com o ateísmo. Citando MacIntyre novamente:
Mas caso se exclua a possibilidade de opção por crenças em verdades de tipo factual, segue-se que
é impossível que tal crença excluída tenha, como seu objeto, verdades de tipo factual.
Consequentemente, se a moderna teologia cristã considera a crença cristã como uma dessas
crenças que não são passíveis de opção, por conseguinte, as verdades da ortodoxia cristã devem
ser tomadas como algo outro que não do tipo factual.
Os líderes eclesiásticos paulatinamente diluíram o conteúdo do cristianismo, de maneira que é justo afirmar que,
“cada vez menos, os teístas estão oferecendo aos ateus algo em que não acreditar”.
Nos dias atuais, a lei tem sido divorciada de Deus, tornando-se, assim, essencialmente ateísta; afinal, ela
pressupõe um homem soberano, e não o Deus soberano. Por meio de sua aceitação da lei não-bíblica
contemporânea, os ministros cristãos têm assentido ao ateísmo como religião da sociedade. O resultado disto é o
desaparecimento virtual do ateísmo como um movimento organizado, visto que nossas igrejas antinomianas
advogam precisamente aquilo que o ateísmo se esforçou por implantar, isto é, a substituição da lei bíblica
teocrática pela lei estadista-humanista. O ateísmo no século XX conquistou a igreja, o estado e a escola – sua
visão de uma ordem social despojada da lei de Deus foi, afinal, concretizada.
2/4
Entretanto, o fato mais lastimável de tudo isto é que o antinomianismo pietista foi o maior aliado do ateísmo. Os
teólogos da igreja despojaram o mundo da glória e governo de Deus. Frequentemente tais homens me dizem que a
ideia de um estado cristão é teológica e escatologicamente impossível. Na “era do Evangelho”, afirmam eles, o
mundo está sob o domínio de Satanás. Conforme Arend J. ten Pas demonstra, em The Lordship of Christ [O
senhorio de Cristo], trata-se de uma escola de pensamento a qual nega que, nesta era, Cristo possa ser Senhor, ou
sequer ser assim chamado.
Nossa atual dificuldade se encontra em desenvolvimento há três séculos, de modo que não desaparecerá da noite
para o dia. Ora, há, no pensamento contemporâneo, uma perniciosa falácia que nos foi legada pela Grécia,
nomeadamente, o conceito do deus ex machina, isto é, o deus proveniente de máquina. Para os gregos antigos, o
universo gerou a si próprio a partir do caos. Os deuses, portanto, não controlavam todas as coisas, mas eram eles
próprios governados pelo destino. Como seres superiores, os deuses poderiam, no máximo, interromper por vezes
a história e, fora de contexto, resgatar os homens e causas. Destarte, Páris foi arrebatado da morte certa no campo
de batalha, sendo transladado para o quarto de Helena e, desse modo, para um encontro mais feliz. Não raro os
cristãos anseiam por um resgate semelhante, o qual faz violência ao universo e história providenciais de Deus. Ora,
nas Escrituras, não há conflito entre o sobrenatural e o natural, posto que ambos são criação de Deus. Seu modo
de atuação com relação a nós, com a história, e com todas as demais coisas se dá geralmente como ensinado em
Isaías 28:10: “Preceito sobre preceito, preceito e mais preceito; regra sobre regra, regra e mais regra; um pouco
aqui, um pouco ali”. Neste universo de Deus, as paredes são erguidas a partir de sua fundação . Esperar algo
diferente é pecado.
Os humanistas, nossos gregos modernos, também sustentam o conceito deus ex machina[2], mas destituído de
deuses. Para esses pensadores, a intervenção súbita e salvífica na história se dá por parte do homem, o que
significa por meio da revolução. Para Karl Marx, a revolução é o deus grego cuja intervenção ex machina na
história corrigirá todos os erros. Os resultados dessa fé foram a servidão e a morte, e não a salvação.
Vários líderes eclesiásticos compartilham dessa fé. Eles estão inclinados a pensar em resistência armada quando
nem sequer trabalharam com base na lei de Deus, nem se valeram dos meios legais que lhes estão disponíveis.
Com efeito, Deus não honra esse atalho humanista.
_
Notas:
[1] É necessário ter em mente o momento histórico no qual Rushdoony teceu essas conclusões. Afinal,
diferentemente de seu diagnóstico da situação, atualmente nos deparamos com o chamado “Ateísmo Militante” ou
“Neoateísmo”, um movimento cujas raízes e motivações são antes de natureza emocional (ou política) do que
necessariamente intelectual. As obras de críticos da religião como Sam Harris, Richard Dawkins, Christopher
Hitchens e Daniel Dennett (os chamados “Quatro Cavaleiros do Apocalipse”) são extremamente populares, não
obstante, com exceção talvez de Dennett, não existir nelas quase nenhum embasamento filosófico ou teológico
sólido. É interessante notar que tais pensadores e suas críticas receberam atenção no contexto cultural e midiático
mundial especialmente a partir dos atentados terroristas do 11 de setembro de 2011, os quais, conforme sabemos,
foram levados a cabo por razões geopolíticas e principalmente religiosas. Destarte, a religião passou desde então
a ser ojerizada e considerada, especialmente pelo meio acadêmico científico, como um elemento essencialmente
causador de distúrbios, violência e conflito. Para uma crítica e refutação desses autores, ver: A morte da razão , de
Ravi Zacharias; A verdade sobre o cristianismo , de Dinesh D’Souza; Progresso e Religião, de Christopher Dawson;
e O livro que fez o seu mundo , de Vishal Mangalwadi (Nota do Tradutor).
[2] Deus ex machina, ou deus proveniente de máquina, era um recurso utilizado pelos dramaturgos gregos,
especialmente nas tragédias, a fim de proporcionar o desenlace de uma situação que havia se enredado a tal
ponto, que nenhuma solução ou alternativa possível (tomando em consideração a estrutura narrativa interna) se lhe
apresentava. Destarte, quando destes nós narrativos indesatáveis, os dramaturgos, mediante máquinas e
engrenagens, literalmente faziam descer ao palco uma figura representando alguma divindade, a qual, imediata e
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prontamente, resolvia todos os conflitos de modo maneira miraculosa. Aristóteles, em sua Poética, critica a
utilização desse recurso, visto que não somente rompe com o princípio da verossimilhança, mas também
demonstra a precariedade da técnica narrativa do autor: “Tanto nos caracteres como na estrutura dos
acontecimentos, deve-se procurar sempre ou o necessário ou o verosímil de maneira que uma personagem diga ou
faça o que é necessário ou verossímil e que uma coisa aconteça depois de outra, de acordo com a necessidade ou
a verossimilhança. É claro que o desenlace dos enredos deve resultar do próprio enredo e não de uma
intervenção ex machina, como na Medeia ou como na Ilíada na altura do embarque” (ARISTÓTELES, 2008, p. 68).
Ana Maria Valente, em seu comentário ao trecho acima, explica: “A expressão consagrada ex machina resulta do
uso de uma espécie de plataforma (mechane) para pôr em cena uma divindade (ou mais), geralmente para
anunciar a resolução do conflito e inaugurar um culto. Na tragédia de Eurípides, aqui citada, é Medeia que, não
obstante ter acabado de sacrificar os próprios filhos, aparece no carro do Sol (ou Hélios, pai de seu pai), com os
cadáveres dos filhos, dizendo que nele irá para a terra de Erecteu, defendendo-se assim de mãos inimigas. Agindo
como um deus ex machina, anuncia ainda a instituição do culto dos filhos em Corinto. Quanto à Miada (11.110-
206), trata-se de uma situação diversa: quando os soldados se preparavam para a retirada a que Agamémnon os
incitara, apenas para os pôr à prova, Atena inspira a Ulisses um discurso que os leva a perseverar no cerco de
Tróia” (nota de rodapé 76). Edição consultada: ARISTÓTELES. Poética. 3.ed. Tradução e notas Ana Maria Valente.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008. No presente caso, Rushdoony critica a esperança pietista que, em
vez de se lançarem num esforço produtivo e bíblico em prol da verdade e da manifestação do Reino de Deus,
espera, de maneira ociosa e ingênua, uma intervenção divina direta, que ignora a ação providencial de Deus no
cosmo (Nota do Tradutor).
4/4
Uma Visão Reformada
umavisaoreformada.blogspot.com.br /search/label/Van%20Til
CRIACIONISMO E PSICOLOGIA
por R. J. Rushdoony.
A psicologia humanista nos dá uma doutrina do homem em desacordo radical com as Escrituras. Para
os clérigos, tornou-se rotina olhar para psicologias humanistas como guias para o aconselhamento
pastoral, e livros aplicando essas psicologias para os problemas pastorais têm tido um mercado
receptivo e uma ampla influência. O resultado tem sido a constante infiltração nociva do humanismo
em círculos cristãos e a erosão paulatina das doutrinas bíblicas do homem e da salvação.
Isto significa, em segundo lugar, que o homem tem uma história curta, não um passado longo e
desconhecido. Essa história curta é muito amplamente documentada pela Escritura, bem como pelos
registros do próprio homem. O homem é, portanto, sujeito à explicação por um registro documentado,
não um passado longo e hipotético. Este registro documentado faz toda desculpa e evasão menos
sustentável, enquanto um passado desconhecido corrói a responsabilidade e introduz confusão e
incerteza. Assim, para o cristão, a psicologia do homem é um registro documentado.
Em terceiro lugar, em virtude do fato da criação seguir um padrão, o eterno propósito e conselho de
Deus, (e à sua imagem), a psicologia do homem não é um fato em evolução, mas uma realidade fixa.
O homem é mais do que um ser existente que está em processo de elaboração e definição de si
mesmo; ele já foi feito e definido por Deus. Assim, a psicologia do homem posta por Freud, [1] ou por
Sartre, [2] e outros, é falaciosa. A natureza do homem não é fixada por um passado evolutivo, nem por
uma questão em aberto a ser determinada pelo homem. É um fato dado por Deus.
Em quarto lugar, o homem foi criado um ser maduro, não uma criança. Este é um fato de importância
central. Nós, portanto, não podemos fazer psicologia infantil como base para a compreensão do
homem. De acordo com Jastrow,
"O que podemos aceitar é o princípio de que a criança é uma autêntica encarnação da
mais antiga, racialmente mais velha, mais persistente, mais autêntica natureza, guardiã
da psicologia comportamentalista (behaviorista) natural." [3]
A psicologia humanista olha para trás, para um passado primitivo, a fim de explicar o homem, ao
passo que a psicologia bíblica não olha nem para a criança nem para um passado primitivo para
explicar o homem, mas para uma criatura madura, Adão, e para o propósito de Deus na criação do
homem. Se o homem em sua origem é um produto de um passado evolutivo longo, o homem é, então,
melhor compreendido em termos do animal, o selvagem e a criança. No entanto, desde que o homem
era em sua origem uma criação madura, sua psicologia é melhor compreendida em termos de fato. Os
pecados e falhas do homem não representam um primitivismo persistente ou uma reversão para a
infância, mas uma deliberada revolta contra a maturidade e contra os requisitos da maturidade.
Atribuir ao homem, como psicologias humanistas fazem, um substrato básico de primitivismo e
infantilidade racial, é dar a essa revolta contra a maturidade uma justificativa ideológica; a estudada e
desenvolvida imaturidade do homem é incentivada e justificada de forma madura. Se o homem é
lembrado, sim, de que foi criado em Adão para a maturidade e responsabilidade e que sua revolta é
contra a maturidade e responsabilidade, sua auto-justificação é quebrada. Tornou-se comum para as
pessoas procurarem aconselhamento para discutir, não o seu problema, mas sua infância, seus pais e
seu ambiente, a fim de "explicar" a sua presente "situação", isto é, o seu fracasso. O fato de uma
criação madura é um dos fatos básicos e mais importantes de uma psicologia bíblica. É um fato de
importância incalculável.
Em quinto lugar, o homem foi criado um ser maduro nos termos do propósito soberano de Deus, de
modo que o sentido da vida do homem transcende o homem. O homem nunca pode ser entendido em
termos de si mesmo, mas apenas por referência ao propósito soberano de Deus. A psicologia
humanista sempre nega essa transcendência e, portanto, nega ao homem o sentido da sua existência.
O Existencialismo é mais honesto aqui do que a maioria das filosofias e psicologias humanistas; mas
ele nem define o homem nem atribui um significado à vida e do homem: "O homem é." Para o
Existencialismo, se o homem é qualquer coisa, é porque o homem molda e define a si mesmo. Esta
auto-definição é essencialmente um processo anarquista, em que cada homem é seu próprio universo
e o deus daquele universo privado. Segundo as Escrituras, entretanto, o homem foi criado, e todo
homem nasce dentro de um já definido universo feito por Deus, e cada um tem uma responsabilidade
específica para com o Deus Triúno e aos homens e ao universo feito por Deus. Não apenas a
existência do homem é um fato criado e definido, mas as condições de sua vida também são. Em
nenhum ponto de sua vida ou a imaginação pode o homem pular fora de ordem ordenada de Deus
para um reino de liberdade humanista ou liberdade feita pelo homem. A liberdade do homem é em si
uma condição da Criação de Deus. Cada fio de cabelo na cabeça do homem, toda a imaginação de
seu coração, e cada fibra de sua vida e experiência, é um aspecto da Criação de Deus e de Seu
propósito soberano.
Em sexto lugar, o homem foi criado à Imagem de Deus. Como Van Til apontou,
"Ele é portanto como Deus em tudo em que uma criatura pode ser como Deus. Ele é
como Deus no fato de que ele também é uma personalidade. Isto é o que queremos
dizer quando falamos da Imagem de Deus no sentido mais geral e mais amplo. Em
seguida, quando queremos enfatizar o fato de que o homem se assemelha a Deus
especialmente no esplendor de seus atributos morais, dizemos que quando o hoemem
tinha conhecimento verdadeiro quando foi criado, verdadeira justiça e verdadeira
santidade. Esta doutrina é baseada no fato de que nos é dito no Novo Testamento que
Cristo veio para nos restaurar ao verdadeiro conhecimento, justiça e santidade
(Colossenses 3: 10; Ef. 4: 24). Chamamos isso de Imagem de Deus no sentido mais
restrito. Estes dois sentidos não podem ser completamente separados um do outro.
Seria realmente impossível pensar que o homem foi criado apenas com a Imagem de
Deus no sentido mais amplo; cada ato do homem primeiramente tem que ser um ato
moral, um ato de escolha contra ou a favor de Deus. Portanto, o homem, em cada ato
de conhecimento, deveria mesmo manifestar verdadeira justiça e santidade verdadeira.
Então, depois de enfatizar que o homem era como Deus e na natureza do caso, tinha
que ser como Deus, devemos salientar o ponto de que o homem deve ser sempre
diferente de Deus. O homem foi criado à Imagem de Deus. Nós vimos que alguns dos
atributos de Deus são incomunicáveis. O homem nunca pode em qualquer sentido
superar sua condição de criatura. Isso coloca uma conotação definida na expressão de
que o homem é como Deus. Ele é como Deus, com certeza, mas sempre em uma
escala de criatura. Ele nunca pode ser como Deus em asseidade, imutabilidade,
infinitude e unidade. Por essa razão, a Igreja tem encravada no coração de suas
confissões a doutrina da incompreensibilidade de Deus. O Ser e o conhecimento de
Deus são absolutamente abrangentes; tal conhecimento é maravilhoso demais para o
homem; ele não pode alcançá-lo. O homem não foi criado com conhecimento
abrangente. O homem era finito e sua finitude não era originalmente fardo algum para
ele. Nem poderia o homem jamais esperar atingir um conhecimento abrangente no
futuro. Não podemos esperar ter um conhecimento abrangente, mesmo no céu. É
verdade que muito que agora é mistério para nós nos será revelado, mas na natureza
do caso, Deus não pode revelar-nos aquilo que como criaturas nós não podemos
compreender; teríamos de ser nós mesmos Deus, a fim de entender Deus na
profundidade do seu ser." [4]
O homem foi criado bom, porque ele foi criado à Imagem de Deus. Portanto, justiça, santidade,
conhecimento e domínio são normativos para o homem. Pecado não é natural, é uma deformação da
natureza do homem, um câncer e uma doença até a morte. "Assim, nós sustentamos que o homem
apareceu originalmente com uma consciência moral perfeita." [5] O homem, criado à imagem de
Deus, "teve que viver por revelação." Desde que o homem é criatura de Deus, todas as condições de
vida do homem e cada fibra do seu ser deve responder à Palavra lei de Deus para a sua saúde.
Em sétimo lugar, tendo Deus criado o homem à Sua Imagem, ordenou-lhe que exercesse domínio e
subjugasse a terra. Este é o chamado básico do homem e um aspecto básico de sua natureza. Assim,
não só a natureza do homem é criada por Deus, mas a vocação do homem para o domínio está
escrita na natureza do homem. Inevitavelmente, o homem é aquela criatura que foi criada para
exercer domínio sobre a terra e sujeitá-la, para criar ferramentas e instituições cujo propósito é
capacitar o homem para trazer todas as coisas ao seu desenvolvimento apropriado no Reino de Deus.
O homem foi criado maduro para que ele pudesse exercer domínio com sua primeira respiração, e a
vocação para o domínio é uma parte do seu sangue vital. "Fazes com que ele tenha domínio sobre as
obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés" (Sl 8:6). Este fato do domínio condiciona a
vida do homem, sua obediência, bem como sua desobediência. Não pode haver compreensão da
psicologia do homem fora de uma consciência dessa inescapável vocação ao domínio, o que, no
homem pecador, torna-se uma forma de guerra contra Deus. Nenhuma psicologia pode começar a
compreender o homem fora deste aspecto da natureza do homem, o chamado para o domínio. O fato
é, porém, que as psicologias humanistas negam a criação do homem em maturidade e deixam de
reconhecer o significado da sua vocação para o domínio. Como resultado, eles não só não
conseguem entender o homem, mas eles também dão uma falsa ilustração do próprio homem.
Em oitavo lugar, somos informados de que "homem e mulher os criou" (Gn 1:27). O caráter sexual de
homens e mulheres não é um produto cego e acidental da evolução, mas o propósito de Deus e base
para qualquer entendimento do homem. As tentativas de negar a validade dos regulamentos sexuais
bíblicos, para interpretar a homossexualidade como uma expressão de um desenvolvimento primitivo
ou como outra forma de livre expressão sexual do homem, ou para negar as diferenças psicológicas
entre um homem e uma mulher, são, portanto, moralmente, bem como psicologicamente erradas. Os
fatos da masculinidade e da feminilidade são básicos e constitutivos do propósito de Deus para a
humanidade, e qualquer psicologia que nega-os é assim estéril e carente de entendimento.
Ironicamente, os humanistas, que condenam os padrões bíblicos como puritanos e repressores, são
eles próprios culpados dos piores repressões em sua negação das diferenças sexuais e de sua
validade psicológica. O igualitarismo de psicologias humanistas provoca uma castração básica da
natureza sexual do homem e da mulher e é uma grande força repressora na sociedade moderna.
Em nono lugar, básico para a psicologia do homem é o mandato da Criação, "Sede fecundos,
multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a" (Gn 1:28). Este mandamento é precedido, no mesmo
versículo pela declaração: "E Deus os abençoou." O mandamento em si é uma bênção, e o ato de
obediência a todos os mandamentos de Deus é, em si, uma fonte de bênção.
Básico para a natureza do homem criado por Deus, originalmente totalmente bom, é o desejo de ser
fecundo e multiplicar. A psicologia do homem como criado por Deus é, portanto, regulada pelo
presente motivo, e, ainda que pervertido, este motivo não pode ser destruído sem destruir o homem. A
hostilidade à esta fertilidade marcará assim uma era suicida.
O mandamento deixa claro que esta fertilidade é um aspecto do domínio do homem: "Enchei a terra e
sujeitai-a." Das crianças, o Salmo 127: 3 diz que elas "são herança do Senhor." Uma herança significa
duas coisas: Qualquer coisa recebida dos pais ou predecessores, e também o estado ou condição em
que nascemos. Como uma "herança do Senhor" as crianças são, portanto, a nossa herança de Deus,
bem como uma condição feliz da vida na Aliança. "Bem-aventurado é o homem que enche deles a sua
aljava; não serão confundidos, quando falarem com os seus inimigos à porta" (Sl 127: 5). Não só a
Escritura, mas a experiência da história deixa claro que a fertilidade tem sido vista como um aspecto
de domínio e como um aspecto da glória do homem.
Em décimo lugar, é duas vezes indicado no relato da Criação (Gn 1: 26, 28) que um aspecto do
domínio do homem é sobre o mundo animal, "sobre toda coisa vivente." O homem foi criado, assim,
com um relacionamento com os animais estabelecido como normativo para sua psicologia saudável. A
relação do homem para com os animais não é, portanto, de guerra, mas de domínio. O fato de que
homens pecadores têm tratado animais meramente como um obstáculo a ser destruído não
conseguiu apagar eficazmente a vocação do homem para um domínio normativo sobre eles. Os
homens têm domesticado e aproveitado animais, utilizados como animais de estimação, protetores, e
servos, e eles têm muitas vezes reconhecido que os animais selvagens têm uma função dada por
Deus para trazer a terra sob o domínio.
Em décimo primeiro lugar, o homem foi criado para viver em um mundo perfeito e para cultivá-lo e
mantê-lo (Gn 2:15). Assim, a psicologia do homem tem como básica uma relação com a própria terra,
que é reforçada pelo fato de que o homem foi formado a partir do "pó da terra" (Gênesis 2:7) e depois
feito alma vivente. O homem é portanto ligado à terra, física e psicologicamente. A terra é a área do
seu domínio, o lugar para que sua fertilidade seja manifestada, e seu tesouro para desenvolver a
ordem que Deus exige dele.
Estes são alguns dos aspectos elementais e elementares da psicologia do homem. O homem foi
criado na maturidade, e seu pecado é uma tentativa resoluta e fútil de fugir da maturidade. No
entanto, enquanto o homem pode falhar em cumprir suas responsabilidades, ele nunca pode escapar
delas.
1. Ver RJ Rushdoony: Freud. Philadelphia: Presbyterian & Reformed Publ. Co., 1965. [Publicado no
Brasil pela Editora Monergismo]
2. Jean-Paul Sartre: Being and Nothingness. New York: Philosophical Library, 1956.
3. Joseph Jastrow, "The Reconstruction of Psychology," in The Psychological Review, #3, 1927, p.
169, cited in Cornelius Van Til: Psychology in Religion, p. 58. Philadelphia: Westminster Theological
Seminary, 1935.
4. Cornelius Van Til: The Defense of the Faith, p. 29f. Philadelphia: Presbyterian and Reformed
Publishing Co., 1955.
5. Ibid., p. 70.
6. Idem.
Essa tradução foi autorizada por Mark Rushdoony, filho de Rousas John Rushdoony.
Rousas J. Rushdoony
CRISTIANISMO
& CAPITALISMO
Cristianismo
&
Capitalismo
Rousas J. Rushdoony
(originalmente publicado na década de 1960)
U
HENDIT lAMET VE
MONERGISMO
ton (1584-1658), que tornou básica para o governo colonial a premissa
que a lei e ordem piedosa significam poder limitado e liberdade limitada.
Nem o homem, nem o seu governo civil têm o direito moral ao poder ilimitado ou
à liberdade ilimitada. Em todos os tempos deve haver poder e liberdade sob a lei, e,
ultimamente, sob Deus (Dt 17.14-20; Pv 8.15, 16; 1Rs 2.1-4, etc.).
Mas hoje temos exigências para tanto poder como liberdade ilimitada, que são
idéias mutuamente contraditórias. Temos também a crescente afirmação que a liber-
dade não é sob a lei e sob Deus, mas fora da lei. Há aqueles que crêem que podem
ser livres somente negando as afirmações de todas as leis e afirmando que os verda-
deiros direitos e a verdadeira liberdade significam uma liberdade da lei.
A fé bíblica e essa lei verdadeira é um dom de Deus e o fundamento da liberdade
do homem (Dt 16.20). A lei é a condição da vida do homem: assim como o homem
fisicamente respira o ar para viver, assim social e pessoalmente seu meio-ambiente
de vida é a lei, a qual a graça de Deus o capacita a ter e guardar (Sl 119; Pv 6.23). O
homem não pode viver sem lei, assim como não pode viver sem comer. O propósito
da lei de Deus é a vida; como Moisés declarou, “o SENHOR nos ordenou que cum-
príssemos todos estes estatutos… para nos guardar em vida” (Dt 6.24). O homem
foi criado e é salvo por Deus para viver pela lei, pois sua disciplina é “o caminho da
vida” (Pv 6.23).
Aqui temos a grande divisão. Os americanos, educados durante algumas gera-
ções na perspectiva bíblica, têm visto a liberdade como vida sob a lei de Deus, mas
muitos hoje estão afirmando que a liberdade é escapar da lei.
As alternativas à liberdade sob Deus, liberdade sob a lei, foram declaradas clara-
mente por Karl Marx. Elas são duplas. Primeiro, alguém pode ter anarquia, todo
homem uma lei para si mesmo, com nenhuma lei, e uma “liberdade” total de qualquer
responsabilidade para com alguém. Segundo, alguém pode trocar Deus pelo Estado,
e a lei total do Estado substitui a lei de Deus. A liberdade então desaparece e o Es-
tatismo ou comunismo total para o “bem-estar” do homem toma lugar. Isso é uma
negação da liberdade como um ideal “burguês”, e uma substituição da liberdade pelo
bem-estar planejado pelo Estado como a verdadeira felicidade do homem.
Toda tentativa, portanto, de remover essa república do “sob Deus” significa que
o anarquismo ou comunismo será certamente o resultado, quer planejado ou não
por aqueles que atacam o lugar de Deus na vida americana. Essa é uma alternativa
inescapável.
Para restaurar a verdadeira liberdade, devemos restaurar a verdadeira lei (Is 8.20).
A Bíblia fala da “lei perfeita da liberdade” (Tg 1.25; 2.12), pois ela vê a lei de Deus
como a própria fonte e fundamento da liberdade do homem. Devemos abandonar a
idéia perigosa que liberdade significa um escape da lei: isso pode ser verdade somente
se o escape for do comunismo, que não é lei verdadeira, mas sim tirania. A palavra
tirania vem de uma antiga palavra grega com um significado simples: significa go-
verno secular ou humano no lugar da lei, no lugar da verdadeira liberdade sob Deus.
O sistema americano não é anarquia nem tirania, mas liberdade sob Deus.
M uitos escritores atuais inferem que Jesus e a Bíblia falam contra a riqueza
como algo imoral. É verdade que a Parábola do Homem Rico (Lc 16.19-
31) nos mostra o homem rico no inferno e o pobre Lázaro no céu, mas a
condenação do homem injusto vem do rico Abraão no céu. Novamente, embora Jesus
tenha dito, “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um
rico no reino de Deus” (Mc 10.25; Mt 19.24), o mesmo capítulo deixa claro que Jesus
quis dizer que nenhum homem, rico ou pobre, pode salvar a si mesmo: “Aos homens é
isso impossível, mas a Deus tudo é possível” (Mt 19.26). Em outras palavras, a salvação
não é um trabalho “faça você mesmo” para ninguém, rico ou pobre; é obra e dom de
Deus. Muitos homens e mulheres ricas estavam entre os salvos que tinham um relacio-
namento próximo de Jesus (Lc 8.2-3; 19.1-19; 23.50-53).
A Bíblia condena a riqueza ganha de maneira fraudulenta, mas declara que a riqueza
honesta é uma bênção. Primeiro, portanto, a riqueza honesta deve ser desejada como
uma bênção de Deus. “A bênção do SENHOR é que enriquece [i.e., rico materialmente];
e não traz consigo dores” (Pv 10.22). A posse de riqueza é legal e protegida nos Dez Man-
damentos por dois mandamentos: “Não furtarás” e “Não cobiçarás” (Ex 20.15, 17; Dt
5.19, 21). Jesus confirmou isso e assumiu a legalidade da riqueza como um princípio
piedoso (Mt 25.14-30; Lc 19.12-27; 16.1-8). Jesus deixou claro que a riqueza moralmente
adquirida é uma bênção de e sob Deus: “Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça,
e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.32s.; Lc 12.30s.), e não há nada errado
OMMY NONSE CORE
O tema que irá dominar os anos que estão por vir é a batalha que
está se travando entre o cristianismo e o humanismo. É uma guerra até
a morte. O cristianismo é uma visão de mundo e de vida e uma fé, e
somente pode existir como tal. Ou é a Palavra de Deus para todas as
áreas ou não o é para nenhuma.
O cristianismo nasceu dessa mesma batalha. É somente o
abandono do cristianismo o que produziu um retorno ao início desta
antiga batalha dos séculos. No dia de Pentecostes a grande proclamação
de Pedro foi esta: “Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de
Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e
Cristo” (Atos 2:36). “Jesus é Senhor!” Esta é a regozijante e central
proclamação da igreja primitiva. É a declaração de Paulo (Fp. 2:9-11;
Rm. 10:9; 1Co. 12:3), e é a declaração regozijante de que em Cristo se
cumpriu a profecia de Isaías 45:23. Declarar que Jesus é Senhor significa
que Ele é o soberano do mundo, que governa de maneira absoluta todas
as esferas da vida e do pensamento. É obrigatório que cada área de
nossa vida seja cristã: a igreja, o Estado, a escola, a família, as
profissões, as artes e as ciências, e todas as demais coisas, devem servir
somente a Cristo, o Senhor.
Um problema para entender o alcance de nossa obra é o mau
emprego comum da palavra igreja. A palavra em inglês provém do
termo kyriakos, um adjetivo grego, como em kyriakon doma, ou kyriake
oika; nossa palavra igreja se refere a uma instituição de adoração, ao
ministério da Palavra, ou a um edifício. A palavra do Novo Testamento
traduzida como igreja é ecclesia, que dá o sentido de duas palavras
hebraicas: ´edhah (congregação) e qahl (assembléia). Ela pode se referir
a todas as pessoas redimidas, sua reunião para adorar, seu governo
civil, a família, ao exército temente a Deus, e mais: significa o Reino de
Deus. De modo que, onde a Escritura fala de igreja, significa o domínio
de Cristo em todas as áreas e esferas da vida. Todas as coisas hão de
ser postas debaixo do domínio de Cristo, o Senhor.
Na atualidade é o humanismo quem sujeitou todas as coisas,
incluindo a maioria das igrejas, sob o domínio do homem como senhor.
O propósito das escolas do Estado, tal como estabelecido por Horace
Mann, James G. Carter e outros, era duplo: primeiro, estabelecer o
centralismo, a prioridade do Estado sobre todas as áreas da vida, e,
segundo, eliminar a fé bíblica. Os fundadores da educação estatal nos
Estados Unidos criam num unitarismo, não no Deus trino. E criam, agora
corretamente, que o controle sobre a criança através das escolas era a
chave para controlar a sociedade. O controle sobre as escolas
determinará, em última instância, o controle sobre o Estado e a igreja.
O cristianismo e o humanismo são religiões diametralmente
opostas: uma é a adoração ao Deus trino e soberano, a outra é a
adoração ao homem. Analisemos brevemente alguns pontos básicos de
diferenciação entre o cristianismo e o humanismo e como estes afetam
a Educação. Isto está longe de ser uma análise exaustiva. Nosso
propósito é pontuar brevemente algumas das diferenças fundamentais:
CRISTIANISMO HUMANISMO
1 Ver Vern S. Poythress, “Creation and Mathematics; or What Does God Have To Do With Numbers?”, in The
Journal of Christian Reconstruction, vol. I, no. 1, Verão de 1974, pp. 128-130; P.O. Box 158 Vallecito,
California 95251; e Vern S. Poythress, “Mathematics,” in Gary North, editor: Foundations of Christian
Scholarship, pp. 159-188. Vallecito, California: Ross House Books, 1976.
crença de que o homem, que tem em si a raiz da bondade, é a vítima de
Deus.2 Um clássico cristão deve refletir uma cosmovisão cristã; deve ver
o conflito como uma realidade moral, não metafísica e deve afirmar uma
harmonia total e básica, não um conflito de interesses.
No ensino de Língua devemos nos lembrar que a gramática e a
cultura estão interrelacionadas. Há uma premissa teológica para a
gramática. As culturas relativistas não podem desenvolver um
verdadeiro tempo futuro, nem um sentido apropriado do futuro. Além
disso, as palavras representam significados; são verdades proporcionais
em miniatura. A comunicação é possível onde prevalece uma cultura
comum. Quanto mais existencialista se torna uma cultura, mais difícil se
torna a comunicação, porque as palavras e os significados são
debilitados ou destruídos.
De modo que a fé cristã possui um ponto de interesse integral. As
escolas cristãs são uma necessidade, ou do contrário teremos escolas
anticristãs. Se o cristianismo ignora a educação, ou abandona as escolas
cristãs, está cometendo um ato suicida. Aqueles que fazem isto
negaram a Cristo e Seu Senhorio.
2 Huynh Sanh Thong, translator: The Tale of Kieu by Nguyen Du. New Cork: Random House, 1973.
Cristianismo x Humanismo
Rousas J. Rushdoony
O tema que irá dominar os anos que estão por vir é a batalha que
está se travando entre o cristianismo e o humanismo. É uma guerra até
a morte. O cristianismo é uma visão de mundo e de vida e uma fé, e
somente pode existir como tal. Ou é a Palavra de Deus para todas as
áreas ou não o é para nenhuma.
A cristandade nasceu nessa mesma batalha. É somente o
abandono do cristianismo que produz um retorno ao início desta antiga
batalha dos séculos. No dia de Pentecostes a grande proclamação de
Pedro foi esta: “Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel
de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”
(Atos 2:36). “Jesus é Senhor!” Esta é a regozijante e central proclamação
da igreja primitiva. É a declaração de Paulo (Fp. 2:9-11; Rm. 10:9; 1Co.
12:3), e é a declaração regozijante de que em Cristo se cumpriu a
profecia de Isaías 45:23. Declarar que Jesus é Senhor significa que Ele é
o soberano do mundo, que governa de maneira absoluta todas as
esferas da vida e do pensamento. É obrigatório que cada área de nossa
vida seja cristã: a igreja, o Estado, a escola, a família, as profissões, as
artes e as ciências, e todas as demais coisas, devem servir somente a
Cristo, o Senhor.
Um problema para entender o alcance de nossa obra é o mau
emprego comum da palavra igreja. A palavra em inglês provém do
termo kyriakos, um adjetivo grego, como em kyriakon doma, ou kyriake
oika; nossa palavra igreja se refere a uma instituição de adoração, ao
ministério da Palavra, ou a um edifício. A palavra do Novo Testamento
traduzida como igreja é ecclesia, que dá o sentido de duas palavras
hebraicas: ´edhah (congregação) e qahl (assembléia). Ela pode se referir
a todas as pessoas redimidas, sua reunião para adorar, seu governo
civil, a família, ao exército temente a Deus, e mais: significa o Reino de
Deus. De modo que, onde a Escritura fala de igreja, significa o domínio
de Cristo em todas as áreas e esferas da vida. Todas as coisas hão de
ser postas debaixo do domínio de Cristo, o Senhor.
Na atualidade é o humanismo quem sujeitou todas as coisas,
incluindo a maioria das igrejas, sob o domínio do homem como senhor.
O propósito das escolas do Estado, tal como estabelecido por Horace
Mann, James G. Carter e outros, era duplo: primeiro, estabelecer o
centralismo, a prioridade do Estado sobre todas as áreas da vida, e,
segundo, eliminar a fé bíblica. Os fundadores da educação estatal nos
Estados Unidos criam num unitarismo, não no Deus trino. E criam, agora
corretamente, que o controle sobre a criança através das escolas era a
chave para controlar a sociedade. O controle sobre as escolas
determinará, em última instância, o controle sobre o Estado e a igreja.
O cristianismo e o humanismo são religiões diametralmente
opostas: uma é a adoração ao Deus trino e soberano, a outra é a
adoração ao homem. Analisemos brevemente alguns pontos básicos de
diferenciação entre o cristianismo e o humanismo e como estes afetam
a Educação. Isto está longe de ser uma análise exaustiva. Nosso
propósito é pontuar brevemente algumas das diferenças fundamentais:
CRISTIANISMO HUMANISMO
1 Ver Vern S. Poythress, “Creation and Mathematics; or What Does God Have To Do With Numbers?”, in The
Journal of Christian Reconstruction, vol. I, no. 1, Verão de 1974, pp. 128-130; P.O. Box 158 Vallecito,
California 95251; e Vern S. Poythress, “Mathematics,” in Gary North, editor: Foundations of Christian
Scholarship, pp. 159-188. Vallecito, California: Ross House Books, 1976.
crença de que o homem, que tem em si a raiz da bondade, é a vítima de
Deus.2 Um clássico cristão deve refletir uma cosmovisão cristã; deve ver
o conflito como uma realidade moral, não metafísica e deve afirmar uma
harmonia total e básica, não um conflito de interesses.
No ensino de Língua devemos nos lembrar que a gramática e a
cultura estão interrelacionadas. Há uma premissa teológica para a
gramática. As culturas relativistas não podem desenvolver um
verdadeiro tempo futuro, nem um sentido apropriado do futuro. Além
disso, as palavras representam significados; são verdades proporcionais
em miniatura. A comunicação é possível onde prevalece uma cultura
comum. Quanto mais existencialista se torna uma cultura, mais difícil se
torna a comunicação, porque as palavras e os significados são
debilitados ou destruídos.
De modo que a fé cristã possui um ponto de interesse integral. As
escolas cristãs são uma necessidade, ou do contrário teremos escolas
anticristãs. Se o cristianismo ignora a educação, ou abandona as escolas
cristãs, está cometendo um ato suicida. Aqueles que fazem isto
negaram a Cristo e Seu Senhorio.
2 Huynh Sanh Thong, translator: The Tale of Kieu by Nguyen Du. New Cork: Random House, 1973.
Educação Cristã x Educação Humanística
R. J. Rushdoony
Este gráfico simples sumariza as diferenças básicas entre uma
educação biblicamente embasada e uma educação humanística. Os
cristãos devem checar suas escolas privadas e públicas, e mesmo o
currículo da educação em casa para determinar de que lado da tabela
ela melhor se ajusta. Deus honra aqueles que o honram. Repassemos
às nossas crianças a melhor educação bíblica possível.
CRISTIANISMO HUMANISMO
1. A soberania do Deus triúno é 1. A soberania do homem e do
o ponto de partida, e este Deus Estado é o ponto de partida, e é
fala através de sua Palavra a palavra dos homens da elite e
infalível. da ciência que devem ser
ouvidas.
2. Devemos aceitar Deus como 2. O homem é o seu próprio
Deus. Ele é o único Senhor. deus, escolhendo ou
determinando para si mesmo
aquilo que constitui o bem e o
mal (Gênesis 3:5).
3. A Pessoa e a Palavra de Deus 3. A verdade é pragmática e
é a Verdade. existencial: ela é o que nos for
útil e aquilo que nós queremos
fazer.
4. A educação é de acordo com 4. A educação é a auto-realização
a verdade de Deus em cada área. e o auto-desenvolvimento da
criança.
5. A educação é a disciplina em 5. A educação é livre de restrição
um conjunto da verdade. Este e de qualquer idéia de verdade
conjunto da verdade aumenta fora de nós. Nós é que somos o
com pesquisa e estudo, mas a padrão, e não coisa alguma fora
verdade é objetiva e dada por de nós.
Deus. Nós iniciamos
pressupondo Deus e sua Palavra.
Monergismo.com – “Ao Senhor pertence a salvação” (Jonas 2:9)
www.monergismo.com
2
------------------------
Tradução: Márcio Santana Sobrinho.
Fonte: The Philosophy of the Christian Curriculum (Vallecito, Calif.: Ross House Books, 1981),
172-173. Citado em The Right Choice: Home Schooling, por Dr. Christopher J. Klicka (Noble
Publishing Associates), 421-422. Appendix A.
Esse tipo de calúnia causa perplexidade aos verdadeiros leitores das obras de
Rushdoony. E há uma razão para isso: o holocausto raramente é mencionado nos
escritos volumosos de Rushdoony. Ele nunca escreveu um livro sobre o assunto, e
nenhum artigo importante. Assim, o que alguns chamam de “os escritos sobre o
holocausto de Rushdoony” consiste na verdade de algumas poucas páginas num
único livro, que contém mais de 800 páginas.
Refiro-me ao seu livro Institutes of Biblical Law, volume I, página 585 em diante,
numa seção chamada The Lying Tongue [A Língua Mentirosa]. Nessa seção
Rushdoony aludia ao exagero acerca do mal, para torná-lo pior nas pessoas
moralmente embotadas. Ele incluía aqui tanto historiadores como céticos do
holocausto.
A edição de setembro de 2000 da Chalcedon Report (agora Faith for All of Life), poucos
meses antes de Rushdoony falecer, havia sido totalmente dedicada ao tópico The
Racialist Heresy [A Heresia Racista]. Nessa edição Rushdoony escreveu sobre
“Exagero e Negação”, que é o texto traduzido abaixo.
Por fim, outra calúnia frequente contra o nosso autor é que ele era racista. Trata-se
de um absurdo, e mostra como essas pessoas desconhecem Rushdoony, sua história
e seus escritos, mas este é assunto para outro artigo.
1
E-mail para contato: felipe@monergismo.com. Traduzido em dezembro/2010.
Mas a introdução da anarquia radical é também o que segue sistematicamente o ataque contra a
f amília. A rebelião estudantil da década de 1960 tinha como base o anarquismo. Por isso Jorge
Immendorf f , de 23 anos, da Alemanha, pediu uma rebelião antes que uma ref orma, pois “não se
pode melhorar o lixo; assim a rebelião é a única resposta”. A necessidade é “começar do nada” com
somente um padrão: “a própria vida”. Anthony Duckworth, de 21 anos, da Inglaterra, declara que “em
Oxf ord e Cambridge os prof essores jovens querem determinar as normas administrativas, dizer
quanto a textos e cursos, dormitórios e comidas. Querem tomar as rédias”. Ainda mais, segundo John D.
Rockf eller III, de 62 anos, “em vez de preocupar-nos sobre como suprimir a rebelião juvenil; nós da
geração anterior devemos nos preocuparmos em sustentá-la”. Segundo Rockf eller , este “idealismo” juvenil
deve ser sustentado e promovido [2]. Mas, o que é que Rockf eller está pedindo que sustentemos e
aceitemos? Primeiro, a rebelião estudantil e juvenil tem uma premissa imoral: a af irmação de que os jovens
têm o direito de controlar e governar as propriedades de outros. Se uma universidade pertence ao estado,
a uma igreja, ou a uma corporação privada, o estudante pode receber uma educação em termos dessa
instituição. É livre para f ormar suas próprias instituições, mas, como estudante ou instrutor, está em uma
instituição em termos f ixados por aqueles cujos direitos de propriedade governam a instituição. Os
estudantes queixam-se de “coerção”, mas seus movimentos estão entre os mais coercivos do século. O
f ilho não tem direito de governar a seus pais, nem os alunos a sua instituição educativa, nem os
empregados a seu patrão. Segundo, a meta da rebelião estudantil é o poder amoral, não esperanças
“idealistas.
Fazer da “própria vida” o padrão quer dizer que não a padrão exceto a anarquia. Pedir que se “comece do
nada” é pedir a destruição de toda lei e ordem de modo que o anarquista possa aproveitar o que o dono
atual possui. Terceiro, este anarquismo é inevitável em uma geração de estudantes que não f oi ensinada a
obedecer seus pais nem toda autoridade devida, nem honrar a quem deve-se honrar. Para citar Meredith
novamente,
O mandamento original de “honrar” a pai e mãe aplica-se a todos nós por toda a vida. Mas
neste lugar, especificamente, é dito que obedeçam a seus pais “no Senhor” (Ef 6:1,2).
Devido a sua total falta de experiência e juízo, é absolutamente necessário que a criança seja
ensinada a OBEDECER a seus pais no mesmo instante e sem questionamento. Explicações e
razões para isto podem e devem dar à criança pouco a pouco. Mas no instante em que se dá
uma ordem paternal, pode ser que não tenha tempo nem oportunidade para explicar o porquê.
Consequentemente, é imperativo que a criança seja ensinada ao HÁBITO da obediência
inquestionável a seus pais. Pois, até que a criança pequena se desenvolva, seus pais estão
para ela em lugar de Deus. E Deus os considera RESPONSÁVEIS de ensinar e dirigir
apropriadamente ao filho. Por implicação direta, o pai está obrigado, pelo quinto mandamento,
a fazê-se honrável, Para que alguém tenha honra, alguém deve ser honrável. Todo pai deve se
dar conta de que para a criança ele representa Deus! [3]
O pai representa a Deus, pois representa a ordem-lei de Deus. Os juízes, na lei, são mencionados como
“deuses”, assim como também são os prof etas (Êx 21:6;22:8; Sl 82:1; Jn 10:35). Visto que os pais
representam a ordem-lei de Deus, devem, por um lado, serem obedientes a essa ordem-lei, e por outro
lado, devem obedecê-los como representantes desse reino.
Em Êxodo 21:6, a versão Reina Valera[4] duz juízes onde o hebraico diz Elohim, deuses; o mesmo é certo
em Êxodo 22:8. A Bíblia das Américas, e a versão do texto massorético [em inglês], diz: “deus” e uma nota
de rodapé “juízes”. Em 1 Samuel 28:13, a f eiticeira de Endor, ao ver Samuel, exclamou: “Vejo deuses que
sobem da terra”. É claro que se ref ere ao prof eta. No Salmo 82:1-6, às autoridades civis eram
mencionadas como “deuses”, uso conf irmado por Jesus Cristo (Jn 10:35). Por isso, visto que todas
autoridades representam a ordem-lei de Deus, o quinto mandamento f requentemente é associado com a
primeira tábua da lei, ou seja, com os que têm ref erência a nossas obrigações a Deus, em contraste com a
segunda tábua, os que tem ref erências a nossas obrigações para com nosso próximo. Existe validade
nesta divisão em duas tábuas, ainda que não se possa levá-las demasiadamente longe e até certo ponto
artif icial, já que todos os mandamentos têm ref erência a nossa obrigação a Deus.
Calvino considerou a incorporação deste mandamento na primeira tábua como loucura [5]. É curioso, mas
usou Romanos 13:9 a f avor de sua posição, assim como também Mateus 19:19, mas estas passagens não
são conclusivas neste assunto. Mais pertinente são as varias leis, previamente tratadas, que relacionam a
obediência aos pais à observância do sabbat e o f ugir da idolatria (cf . Lv 19:1-4).
Mas a mente que f unciona melhor é a mente obediente e disciplinada. A criança disciplinada e obediente
não é um adolescente servil, mas um homem livre. Em virtude da disciplina da obediência, [ele] tem melhor
domínio de si mesmo e pode dominar melhor seu campo de desempenho. O antigo humanismo, já que
cresceu no contexto de uma disciplina cristã, podia produzir uma mente disciplinada. Montaigne (n.1533),
ao dar conselhos sobre como educar ao f ilho, f alou sem nenhum sentido de novidade ao descrever a boa
educação de seu dia:
Uns poucos anos de vida estão reservados para a educação, não mais que os primeiros quinze
ou dezesseis; aproveita bem estes anos, adulto, se queres educar ao filho para um
amadurecimento correto. Deixe fora os assuntos supérfluos. Se queres fazer algo construtivo,
confronte a criança com discursos filosóficos, esses que não são demasiadamente
complicados, claro, e contudo que valem a pena serem explicados. Trate esses discursos em
detalhes; a criança é capaz de digerir este assunto desde o momento em que pode mais ou
menos tratar de si mesmo [Montaigne na verdade escreveu: "desde o momento em que é
desmamado", mas provavelmente não quis dizer demasiadamente literalmente]; a criança, em
todo caso, poderá receber discursos filosóficos muito melhor que um desejo de ensiná-lo a
escrever e ler; isto é melhor que espere um pouco [6].
Visto que no dia de Montaigne a criança não era desmamada tão apressadamente como em nossos dias,
não há razão para duvidar do enunciado de Montaigne. Nos Estados Unidos puritanos, eram as mães que
ensinavam aos f ilhos a ler, quando estes tinham entre dois e quatro anos.
Van de Berg cita dois exemplos de crianças maduras da era de Montaigne e posterior. Merecem que sejam
citados com algum detalhe:
Temos, realmente, alguma inf ormação sobre a natureza das crianças nos tempos de Montaigne: a vida de
Teodoro Agripa d’Aubigne, huguenote, amigo de Henrique IV, nascido em 1550. Montaigne nasceu em 1533,
assim que tinha alcançado a idade do discernimento quando d’Aubigne era ainda uma criança. Observando
a jovens contemporâneos deste d’Aubigne, Montaigne não notou nada quando o amadurecimento. De
d’Aubigne dizia-se que lia grego, latim e hebraico quando tinha seis anos, e que traduziu Platão para o
f rancês quando ainda não tinha oito anos.
Montaigne recomendava a leitura e explicação de discursos f ilosóf icos as crianças; pois bem; se uma
criança de oito anos pode traduzir Platão, que objeções podem existir para a leitura de uma versão
traduzida quando ela tem quatro anos?
Quando d’Aubigne tinha ainda oito anos, f oi a cidade de Ambiose, acompanhado de seu pai, pouco depois
que tinham executado um grupo de huguenotes. Viu os corpos decapitados; e a pedido de seu pai, jurou
vingá-los. Dois anos mais tarde f oi capturado pelos inquisidores; a reação do garoto de dez anos à ameça
de morte na f ogueira f oi bailar de alegria ante a f ogueira. O horror da missa tirou seu medo do f ogo, f oi
seu próprio comentário posterior,como se uma criança de dez anos pudesse saber o que queria dizer com
isso. E contudo, uma criança que tinha traduzido Platão e que tinha estado por quatro anos acostumado a
ler clássicos, não podia tal criança saber o que quer, e saber o que estava f azendo? Mas dif icilmente
poderia chamá-lo de criança. Uma pessoa que observa de maneira inteligente os ef eitos de uma execução,
que pronuncia um juramente ao que será f iel o resto de sua vida, que se dá conta, por si mesmo, do
signif icado da santa comunhão, e que imagina o horror da morte na f ogueira, não é uma criança, mas um
homem.
Quando Montaigne morreu, outra criança estava no umbral de grandes descobrimentos: Blase Pascal,
nasceu em 1623, escreveu quando tinha doze anos, sem nenhum ajuda, um tratado sobre o som que os
especialistas levaram a sério. Mais ou menos ao mesmo tempo aconteceu que ouviu a palavra matemática;
perguntou a seu pai o que queria dizer, e lhe f oi dada a seguinte resposta (incompleta, pois seu pai tinha
medo de que um interesse na matemática pudesse diminuir seu interesse em outras ciências): “Matemática,
sobre a qual direi mais tarde, é a ciência que se ocupa da construção das f iguras perf eitas e do
descobrimento das propriedades que contem”. O jovem Pascal mastigava esta resposta durante suas
horas livres, e sem ajuda, construiu círculos e triângulos que o levou ao descobrimento do tipo de
propriedades que seu pai deve ter querido dizer; por exemplo, que a soma dos ângulos de um triângulo é
igual a dois ângulos retos [7].
Devemos reconhecer que d’Aubigne e Pascal f oram homens destacados e crianças prodígio. Mas deve-se
acrescentar que na música, ciências e em muitos outros campos, as crianças prodígio eram muito mais
comuns então do que agora. Também devemos reconhecer que o nível intelectual, naquela época, era
muito alto inclusive entre as pessoas das classes simples. O nível de pregação é uma ampla evidência
disto. A capacidade dos membros da igreja para escutar sermões longos de, às vezes duas horas, e
reproduzir todos os trinta ou quarenta pontos f ielmente mais adiante na semana, e debatê-los e discuti-
los, está bem documentada. Não existia f alta de iniquidade nessa era, mas, também existia uma alta ordem
de disciplina, e esta disciplina promovia o uso da inteligência. Os homens que, nos primeiros séculos da era
cristã, e na era da Ref orma e posteriores, estabeleceram os f undamentos da civilização e liberdade
ocidentais, eram homens de f é e disciplina, homens instruídos na academia da obediência.
As Escrituras exigem um respeito santo pelo poder e autoridade como devidamente constituídos e
ordenados por Deus. Êxodo 22:28 declara: “A Deus não amaldiçoarás, e o príncipe dentre o teu povo não
maldirás”. De novo, a NVI [9] traduz “juízes” como “Deus” e no rodapé da página diz “juízes”. Calvino notou,
desta passagem, Levítico 19:32, Deuteronômio 16:18 e 20:9 que “no quinto mandamento está coberto por
sinédoque todos os superiores, os que estão em autoridade” [10].
Primeiro, é dito que devemos pensar e falar reverentemente dos juízes e outros que exercem o
ofício de magistrado; também não se deve questionar que, no uso ordinário do hebraico, Ele
repete o mesmo duas vezes; e consequentemente que as mesmas pessoas chamam-se
“deuses” e “governadores do povo”. O nome de Deus – em sentido figurado, mas de maneira
razoável - é aplicado aos magistrados, sobre quem Ele colocou uma marca de sua glória
como ministros de sua autoridade divina. Como vimos, honra deve ser dada aos pais, visto que
Deus os associou consigo mesmo na possessão do nome, e aqui essa mesma dignidade é
pedida, também, para os juízes, a fim de que as pessoas os reverenciem, pois são
representantes de Deus, seus subalternos e vicários. Cristo, o expositor mais seguro, explica
assim quando cita a passagem de Salmo 82:6: “Eu disse: Sois deuses?” (Jo 10:34), ou seja,
“Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida”, que deve ser
entendida, não da instrução geral dirigida a todos os filhos de Deus, mas do mandamento
especial para governar.
É sinal de exaltação dos magistrados que Deus não somente os considera em lugar dos pais,
mas que também nos apresenta dignificados pelo seu próprio nome, que também parece claro
que se deva obedecer não somente pelo temor ao castigo, “mas também por causa da
consciência” (Rm 13:5), e deve-se honrá-los com reverência, a fim de não menosprezar a Deus
neles. Se alguém objeta que seria incorreto abalar os vícios daqueles a quem percebemos que
abusam de seu poder, a resposta é fácil: ainda que temos que respeitar os juízes, mesmo que
não sejam os melhores, essa honra que estão investidos não são para encobrir seu vício. Nem,
também, Deus ordena que aplaudamos seus erros, mas que todas as pessoas deplorem com
tristeza em silêncio, em vez de levantar comoção em um espírito licencioso e sedicioso, e
assim subverter o governo político [11].
Que esta obediência santa não constitui apoio nem submissão ao mal é evidente de f orma abundante pela
história dos prof etas do Antigo Testamento, e la história da igreja cristã. Antes, a obediência santa é a
melhor base para resistir ao mal, pois se levanta primordialmente nos termos de uma obediência mais alta
a Deus e consequentemente é obediência independente e em resistência aos tiranos, obediente à
autoridade mais alta de Deus.
Mas em um ponto o comentário de Calvino ref lete (na primeira oração do segundo parágraf o que
antecede), não o pensamento bíblico, mas o romano, quando compara aos governantes com os pais e
lhes atribuiu autoridade paternal. O que é comum entre pais, governantes e senhores não é paternidade,
mas autoridade. É um erro sério atribuir poder paternal a um governante e ao estado. Os pais representam
ante a criança a autoridade de Deus nos termos de uma ordem-lei civil para os cidadãos: eles, pais e
governantes, têm autoridade em comum, não paternidade, e também, sobre a autoridade, é de classe
dif erente. A lei romana, já que divinizava ao estado, f ez do estado e seu governante, desta f orma, o deus
do povo, e do povo f ilhos desse deus. O imperador era o pai de sua nação, e isto é um sério aspecto da
teologia civil.
A educação f ortemente clássica dos eruditos medievais e da Ref orma f requentemente f ê-los errar. Um
versículo que às vezes é citado como evidência do papel paternal do Estado é Isaías 49:23. Mas este
versículo ref ere-se ao remanescente Israel, que seria restaurado a Jerusalém e restabelecido como
Estado sob a proteção de outros estados, que seriam como “enf ermeiros”. A ref erência é ao
restabelecimento da comunidade hebraica sob Neemias, com a proteção do Império médio-persa. As
imagens não tem nada a ver com um papel paternal do Estado e sim com o papel protetor superior de um
grande império para com uma ordem civil pequena que estava se reconstruindo.
A autoridade primordial e básica na ordei-lei de Deus é a f amília. Todas as demais autoridades devidas de
modo similar representam a ordem-lei de Deus, mas em dif erentes âmbitos. Se os f ilhos não obedecem
aos pais, não honrarão nem obedecerão a nenhuma outra autoridade. Portanto, a lei f ala da autoridade
chave nos termos daqueles cuja ordem de autoridade social persiste ou cai. Básico à autoridade em todo
campo é a representação da ordem-lei de Deus.
Juízes e oficiais porás em todas as tuas cidades que o Senhor teu Deus te der entre as tuas
tribos, para que julguem o povo com juízo de justiça.Não torcerás o juízo, não farás acepção de
pessoas, nem receberás peitas; porquanto a peita cega os olhos dos sábios, e perverte as
palavras dos justos.A justiça, somente a justiça seguirás; para que vivas, e possuas em
herança a terra que te dará o Senhor teu Deus.
Seria ridículo propor a paternidade como propósito desta lei; sua meta é a justiça civil. Básico para o
estabelecimento dessa justiça é a autoridade.
E o quinto mandamento, ao f alar dos pais, e por implicação de todas as autoridades ordenadas por Deus,
está estabelecendo, primeiramente, a autoridade de Deus. Deus sabe, af inal, que pais, governantes,
clérigos, prof essores e chef es são pecadores. Deus não está interessado em estabelecer pecadores: a
expulsão do Éden, e o constante castigo na história, é evidência eloquente disso. Mas a maneira de Deus
de desestabelecer aos pecadores e estabelecer sua ordem-lei é exigir que se obedeça a essas
autoridades. Esta obediência é prestada, primeiro, a Deus e é parte do estabelecimento da ordem de Deus.
O pecado conduz à anarquia revolucionária; a obediência santa conduz a uma ordem santa.
Notas
4- Nota do tradutor: Em Português, Almeida Corrigida e Revisada e Fiel, Almeida Revisada Imprensa Bíblica,
Nova Versão Internacional e Sociedade Britânica Internacional traduzem por “juízes”, enquanto a versão
católica traduz por “Deus”. Fonte: http://www.bibliaonline.com.br/nvi+vc/ex/21
6 – Citado em uma revisão de Religious Book Club Bulletin, vol. 41, no. 15 (dezembro de 1968), p. 2.
7 – J. H. van den Berg, The Changing Nature of Man (Dell, Nueva York, [1961], 1964), p. 21.
8 – Ibid., pp. 26-28. O autor, Jan Hendrick van den Berg, é prof essor de psicología na Universidade de
Leyden.
9 – N.T: A ACF (Almeida Corrigida e Fiel), mais paroximadamente com o texto de Rushdoony da NVI em sua
língua, diz: “A Deus não amaldiçoarás, e o príncipe dentre o teu povo não maldirás”.
a
1 edição, 2016
Lei e graça
O oposto da lei não é graça, é iniquidade. O oposto da graça — a
misericórdia de Deus imerecida pelos pecadores — é a ausência da graça, ou
seja, Deus executando a sentença de morte que os homens merecem por seus
pecados. A lei de Deus é a retidão (ou justiça) divina e nela os retos homens
de Deus devem ter seu “prazer” e “meditar de dia e de noite” (Sl 1.2).
Lei e graça têm o mesmo autor divino, e a graça não foi manifestada pela
primeira vez no Novo Testamento. O fato de a lei ter sido outorgada já é, em
si, um ato da graça divina para o povo. Abraão conhecia sua cultura bem o
suficiente para temer ser morto e ter a mulher tomada à força. Jacó não
contava com nenhum recurso legal contra a fraude de Labão. José sabia da
futilidade do brado “injustiça” quando foi levado escravo, e, mais tarde, toda
a tribo dos hebreus também foi escravizada à mercê de um tirano que alegava
ter nascido divino e que ordenaria a morte de bebês hebreus quando
desejasse. Tal era o sistema cruel antes da concessão da lei divina. Quando
Deus trouxe os hebreus para fora do Egito, outorgou-lhes não só um conjunto
de leis arbitrárias, mas a justiça no estado mais puro e divinamente ordenado.
A lei era, e ainda é, uma dádiva graciosa.
Assim, a graça também deve envolver a lei. A ideia do cristão sem lei é
um oximoro. Paulo afirmou: cogitar o pecado para a graça sobejar deve ser
repugnante (Rm 6.1ss). Em vez disso, vivemos em estado de graça conforme
a lei, e, como novas criaturas em Cristo, declaramos com Paulo: a lei é
“santa, justa e boa” (Rm 7.12).
A alternativa ao antinomismo dispensacionalista de acordo com as
Institutas da lei bíblica é a teologia do pacto, que enxerga só uma mensagem
de graça e redenção ao longo das Escrituras. O pacto entre Deus e o homem é
um contrato, embora não entre iguais, como em contratos comuns. Esse pacto
foi estabelecido entre o Criador soberano e criaturas pecadoras; portanto, foi
um presente concedido por Deus (um ato de graça). O pacto da graça deveria
ser interpretado em termos contratuais com força de lei, como nossos
contratos especificam a jurisdição civil, cujas leis devem ser usadas para
interpretar ou adjudicar suas provisões. Os termos do pacto outorgado pela
graça de Deus consistiam nos termos da própria lei divina.
Jesus ofereceu a nós seu “sangue da [nova] aliança” (Mc 14.24). Isso foi
feito na Páscoa, um dos dois sinais da antiga aliança. Jesus viu, obviamente,
uma transição. A nova aliança é a renovação do pacto — suas únicas
distinções reais consistem, em primeiro lugar, na consumação da expiação
anterior no sangue de Cristo, antes representada pelo sangue de animais; em
segundo lugar, na expansão do pacto para incluir judeus e gentios.
— Mark R. Rushdoony
25 de junho de 2012
A importância da lei
[1]
Rousas J. Rushdoony, Sovereignty. Vallecito: Ross House Books, 2007, p. 244.
[2]
Friedrich Heer, The Intellectual History of Europe. Cleveland: World Publishing Co., 1966,
p. 184.
[3]
Joseph G. Brin, “The Social Order Under Hebrew Law”, Law Society Journal 7, no. 3
(August 1936): 383-7.
[4]
Henry Bamford Parkes, “Morals and Law Enforcement in Colonial England”, New
England Quarterly 5 (July 1932): 431-52.
[5]
Charles Hoadly (org.), Records of the Colony and Plantation of New Haven from 1638
to 1649. Hartford: for the editor, 1857, p. 69.
[6]
Ibid., p. 130.
[7]
John A. Albro (org.), The Works of Thomas Shepard, vol. 3, Theses Sabbatical (1649). Boston:
Doctrinal Tract and Book Society, 1853; New York: AMS Press, 1967, p. 49.
[8]
Hermann Kleinknecht & W. Gutbrod, Law. London: Adam and Charles Black, 1962,
p. 21.
[9]
Mao Tse-Tung, The Foolish Old Man Who Removed Mountains. Peking: Foreign Languages
Press, 1966, p. 3.
[10]
Morris Raphael Cohen, Reason and Law. New York: Collier Books, 1961, p. 84-5.
[11]
Ernest F. Kevan, The Moral Law. Jenkintown: Sovereign Grace Publishers, 1963, p. 5-6.
S. R. Driver, “Law (in Old Testament),” in: James Hastings (org.), A Dictionary of
the Bible, vol. 3. New York: Charles Scribner’s Sons, 1919, p. 64.
[12]
Kleinknecht & Gutbrod, Law, p. 44.
[13]
W. J. Harrelson, “Law in the OT,” in The Interpreter’s Dictionary of the Bible. New York:
Abingdon Press, 1962, vol. 3, p. 77.
[14]
Kleinknecht & Gutbrod, Law, p. 125.
[15]
Ibid., p. 74, 81-91.
[16]
Ibid., p. 95.
[17]
Hugh H. Currie, “Law of God,” in: James Hastings (org.), A Dictionary of Christ and
the Gospels. New York: Charles Scribner’s Sons, 1908, vol. 2, p. 15.
[18]
Olaf Moe, “Law,” in: James Hastings (org.), A Dictionary of Christ and the Gospels.
New York: Charles Scribner’s Sons, 1919, vol. 1, p. 685.
[19]
Meredith G. Kline, Treaty of the Great King, The Covenant Structure of Deuteronomy: Studies and
Commentary. Grand Rapids: William B. Eerdmans, 1963, p. 16. V. tb. J. A. Thompson, The
Ancient Near Eastern Treaties and the Old Testament. London: Tyndale Press, 1964.
[20]
Ibid., p. 19.
[21]
Ibid., 17.
[22]
Gustave Friedrich Oehler, Theology of the Old Testament . Grand Rapids: Zondervan, 1883,
p. 177.
[23]
Ibid., 182.
[24]
Treaty of the Great King, p. 41.
[25]
A instituição da religião cristã, Tomo II, Livros III e IV. São Paulo: UNESP, 2009.
Citação lo livro IV, capítulo XX, parágrafo 14, p. 888-9.
[26]
Veja H. de Jongste & J. M. van Krimpen, The Bible and the Life of the Christian.
Philadelphia: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1968, p. 66ss.
[27]
Ibid., p. 73.
[28]
Ibid., p. 75.
[29]
O próprio termo “natureza” é mítico. Veja Rousas J. Rushdoony, “The Myth of
Nature”, in: The Mythology of Science. Nutley: Craig Press, 1967, p. 96-8.
[30]
Giorgio del Vecchio, Justice: An Historical and Philosophical Essay, organização e
notas adicionais de A. H. Campbell. Edinburgh: Edinburgh University Press, [edição
italiana, 1924;1952; 1956]), p. 2.
[31]
Veja, para e estudo desse conceito, dr. Stephen Schafer, Restitution to Victims of
Crimes. London: Stevens and Sons; Chicago, IL: Quadrangle Books, 1960.
[32]
John Henry Blunt (org.), Dictionary of Doctrinal and Historical Theology. London:
Longmans, Green, 1891, p. 645.
[33]
Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics. Grand Rapids: Reformed Free Publishing
Association, 1966, p. 221-2.
[34]
H. de Jongste & J. M. van Krimpen, The Bible and the Life of the Christian, p. 27,
recognize this, “Esse mandato nunca foi revogado”, e depois prosseguiu em sua revogação
por seus pressupostos amilenistas que previam a revogação do mandato pelo triunfo do
Anticristo: “Não há espaço para otimismo: perto do fim, nos campos de Satanás e do
Anticristo, a cultura adoecerá, e a igreja desejará ser libertada de sua angústia” (p. 85). No
entanto, essa é uma definição mítica e não bíblica do Anticristo, que, de acordo com João, é
apenas alguém presente desde o início, que nega o Pai e o Filho (1Jo 2.22; 4.3; 2Jo 7).
Atribuir essas negações ao papel de domínio e poder final ocorre sem qualquer garantia
bíblica.
1
Lei e Governo
Rousas John Rushdoony
1
E-mail para contato: felipe@monergismo.com. Traduzido em fevereiro/2007.
2
Nota do tradutor: Uma normal school era uma instituição educacional para instruir professores.
O Amor ao Dinheiro
Rev. R. J. Rushdoony
Observe que S. Paulo não diz que o amor à riqueza é a raiz de todos os males.
Riqueza tem várias definições. Um homem forte na fé é rico, pois tem riquezas que a
maioria dos homens carece. Além disso, no decorrer da história, a riqueza tem sido definida
em termos de uma família e clã forte. Em algumas culturas, um homem sem uma família
não pode encontrar trabalho e é considerado como um criminoso, visto que não tem
nenhuma família para avalizá-lo ou corrigir algum erro que cometa; um homem que deixa
sua família em tal sociedade é um criminoso.
O mesmo é verdadeiro quanto aos amigos. Para algumas culturas, uma rede de
amigos é riqueza e segurança; eles lhe ajudarão ou defenderão, assim como você a eles. A
força do feudalismo era o fato de que ele era uma rede de obrigações, deveres e vínculos.
Os homens não estavam sozinhos.
Na esfera material, a maior forma de riqueza na história tem sido a terra. A terra
fornece ao homem tanto um lar como uma fonte de alimento potencial. No decorrer dos
séculos, um homem com terras era um homem livre. (Nossa estrutura de impostos colocou
um fim nisso, e tal foi feito deliberadamente). Uma vez foi verdade que “a casa de um
homem é o seu castelo”, e a terra de um homem era imune à intrusão. Em meu tempo de
vida, mais que uns poucos vaqueiros do oeste mantinham que eles tinham o direito de
atirar num invasor. O pensamento deles tinha raízes antigas.
S. Paulo não fala contra nenhuma dessas formas de riqueza. Na verdade, essas são
totalmente bíblicas em caráter. Por que ele escolheu o dinheiro?
Por que o dinheiro era tão perigosamente mal aos olhos de Paulo? A raiz de todos os
males é a vontade do homem de ser o seu próprio deus e seu próprio determinador da
1
E-mail para contato: felipe@monergismo.com. Traduzido em março/2007.
2
Nota do tradutor: A NIV é mais clara: “Pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males…”.
realidade, do bem, mal e tudo o mais. O amor ao dinheiro tem o mesmo poder ilusório: ele
distorce ou destrói a realidade. Há dois anos, um clérigo bem conhecido tentou me dizer
que eu não tinha direito a uma opinião, me disse o quanto ele era digno, e perguntou: “E
você, quanto ganhou no último ano?”. Esse homem tinha sido seduzido da fé por seu amor
ao dinheiro: ele está sendo agora esvaziado de seu dinheiro, atormentado com muitas
dores, mas desprovido de uma tristeza piedosa. O amor ao dinheiro destrói a percepção da
realidade de um homem. Virtude, amigos, família e todas as outras formas de riqueza são
desprezadas em favor do dinheiro.
Além do mais, é interessante que, assim como a riqueza material tem se transferido
para o dinheiro no pensamento das pessoas, ela tem se transferido do dinheiro verdadeiro,
ouro e prata, para moedas falsificadas e papel-moeda. Há uma razão para isso. O papel-
moeda dá ao homem a oportunidade de brincar de deus, “criar” riqueza imprimindo notas
e suplantar a realidade de Deus com a nova ordem do homem.
Dinheiro como riqueza, ou papel-moeda como riqueza, não está sujeito apenas aos
caprichos de uma sociedade e à inflação, mas também esvazia um homem
progressivamente de todas as formas verdadeiras de riqueza, a menos que ele seja um
homem forte na fé e seriamente diligente para com as obrigações sociais de sua riqueza.
Um dos grandes amigos do Chalcedon herdou uma propriedade, que estava com a
família há 300 anos, com uma vila e muitos fazendeiros. Duas mortes, uma após a outra,
levou à perda dela por causa dos impostos sobre a morte. O povo da propriedade viu com
tristeza a transição deles de um cuidadoso e íntimo governo familiar para um Estado
socialista. Foi um desastre e tristeza!
Como mudamos tudo isso? Requer-se uma fé forte em Cristo como nosso Salvador
e Governante, e na lei-palavra de Deus como nosso alvará de liberdade. Requer-se que a
riqueza tenha uma nova definição pra nós, e comece com a nossa fé.
Fonte: http://www.chalcedon.edu/
O Mito da Neutralidade
Dr. Rousas John Rushdoony
O Absurdo da Neutralidade
A palavra “neutro” é curiosa. Ela vem do latim “neuter”, significando
“nem um, nem outro”, e tem referência original ao gênero, isto é, nem macho
nem fêmea. Ela ainda tem esse significado: um homem neutralizado é um
eunuco, um castrado.
Ela tem agora o significado de não tomar partido e, supostamente, a lei
e os tribunais são “neutros”. Isso em si mesmo é absurdo. Nenhuma lei jamais
é neutra. A lei não é neutra sobre roubo, assalto, assassinato, estupro, ou
perjúrio: ela é enfaticamente contra essas coisas, ou deveria ser. Novamente,
nenhum tribunal ou juiz bom pode ser neutro sobre essas coisas sem destruir
a justiça.
Além do mais, nem a lei nem os tribunais podem ser neutros com
respeito a um homem acusado desses ou outros crimes. Antes, um bom
tribunal “suspende um julgamento” pendente de testemunho. A neutralidade
apresenta uma indiferença; um julgamento suspenso significa que qualquer
conclusão deve ser precedida por uma análise rigorosa de evidência.
O mito da neutralidade impede a justiça porque atribui à lei e aos
tribunais um caráter que está em muito conflito com a própria natureza delas.
Além do mais, é dado aos tribunais o poder de falsificar casos, como a
1
E-mail para contato: felipe@monergismo.com. Traduzido em maio/2008.
Suprema Corte dos Estados Unidos habilmente o faz. Por exemplo, ao lidar
com casos educacionais, a Corte, que tinha declarado ser o humanismo uma
religião, não reconhecerá que a educação humanista, isto é, nosso sistema
educacional do Estado de hoje, não é religiosamente neutra. As escolas cristãs
são tidas como sendo “religiosas” e “não-neutras”, mas as escolas humanistas
do Estado são vistas como “neutras”.
Essa, sem dúvida, é a posição bíblica, que todas as coisas estão debaixo
da lei e do governo de Deus, e qualquer divisão da vida entre o religioso e o
não-religioso é falsa. Porque Deus é o Senhor e Criador de todas as coisas,
não existe nenhuma esfera da vida e pensamento fora de Sua jurisdição,
governo e lei. Sustentar que existe é negar Deus e afirmar o politeísmo. E isso
é precisamente o que muitos teólogos têm feito. A ressurgência do Islamismo
é devido ao reavivamento dessa premissa.
2
Doutrina filosófica grega fundada por Antístenes de Atenas (444-365 a.C.). (N. do T.)
O racismo é um fato relativamente novo no cenário mundial. Em épocas anteriores, não raças, mas a
religião era a base da discriminação. Embora a história religiosa seja marcada pela desagradável
violência contra outros grupos religiosos, e a história da igreja cristã não seja exceção a isso, há um
fato notável que é muitas vezes esquecido. Religiões missionárias, e supremamente a cristandade,
normalmente procuram ganhar outros grupos, não oprimi-los, e este impulso missionário também
forneceu, em muitas eras, uma causa favorável a uma abordagem amigável.
É importante reconhecer que o racismo era em origem de uma doutrina científica. Sempre que uma
doutrina científica é descartada, como por exemplo a ideia da herança adquirida de influências
ambientais, a velha doutrina científica, uma vez que perdura no pensamento popular, é culpa de
religião ou superstição popular! As origens do racismo estão em teóricos científicos altamente
respeitáveis. O fato de que homens como Houston Stewart Chamberlain (1855-1927), filho de um
almirante britânico e cunhado de Richard Wagner, tomaram esta literatura científica para desenvolver
o que se tornou a fundação do pensamento Nazista não elimina as suas origens científicas.
A derrota dos nazistas não acabaram com o racismo. Em vez disso, isso tornou-se novamente
respeitável e generalizado. Devemos lembrar que os estudos sobre a Alemanha de Hitler indicam que
seu apoio veio de liberais, democratas, socialistas e da comunidade intelectual. Estudiosos como Erik
von Kuehnelt-Leddihn tem habilmente exposto o mito de origem conservadora ou de direita para o
apoio de Hitler. O fato da antipatia de Hitler ao cristianismo ajudou a angariar apoio para ele.
O novo racismo é difundido e comum a muitos povos e a todos os continentes. Ela tornou-se também
parte do vocabulário religioso de muitos homens da igreja. Assim, em quase todos as seminário de
hoje, professores pomposos são contra um programa de missões que exporta "a mentalidade branca"
e modos europeus de pensamento. Qual é a mentalidade branca, e o que é o modo europeu de
pensamento, como contra o ser humano, comum a todos os homens? Se for especificamente branco
e europeu, deve ser comum para o Europeu pré-cristão como um fator racial. Os pré-cristãos saxões,
por exemplo, praticavam sacrifícios humanos, e muito mais. Muito mais poderia ser dito sobre o pré-
cristãos europeus, mas eu não tenho nenhum desejo de ser inundado com cartas iradas (que vou
descartar sem resposta). Nenhuma raça nascida de Adão tem uma boa história: esta é a verdade
bíblica, e o fato histórico.
A mente ocidental, comum à Europa e às Américas, é um produto não da raça, mas da cultura, a
cultura religiosa. Elementos dele, não muito bons, voltam para os povos bárbaros da Europa. Outros
aspectos são da filosofia grega, novamente não muito bons. (Os gregos descreviam todos os não-
gregos como bárbaros, por razões culturais, não racistas. Eles deram a escravos brilhantes e
inventivos um nome e status grego.) A mente e a cultura ocidental, em todos os seus avanços, é um
produto da religião bíblica. É um produto religiosa, não racial.
Uma geração atrás, um papa com intenções humanas disse: "Espiritualmente, somos todos semitas."
Apesar de suas intenções humanas, ele estava errado. Árabes são semitas, e não somos árabes em
nossa fé e cultura. Ele teria sido igualmente errado se dissesse Hebreus ou Judeus. A cultura do
Ocidente não é propriedade de qualquer raça ou pessoas em sua origem. É bíblico. É verdade, muito
pecado está presente na cultura ocidental. É verdade, tal pecado deve ser condenado. Mas a mente
ocidental carrega a marca da Bíblia. Não é compreensível em quaisquer outros termos.
Hoje, porém, os homens falam da mentalidade branca, a alma Asiática, e a mente Africana. Alguns
educadores insistem na necessidade de reconhecer e dar status nas escolas para o que eles chamam
de "Inglês negro".
Implícito em tudo isso está uma visão racista do homem. As raças são vistas como as fontes de tipos
variados da lógica e da razão. Negar a validade do conceito de uma mente branca, uma mente
Africana, ou uma mente asiática é visto como reacionário, imperialista, e maligno.
A mentalidade de um povo, no entanto, não é um produto da raça, mas da religião e a cultura daquela
religião. O fator chave é sempre a religião. Há um orgulho oculto mas insano entre aqueles que se
opõem a exportar a mentalidade branca. Embora esses homens nunca ousariam dizer isso
explicitamente, ou até mesmo pensar nisso, o que eles estão dizendo é que implicitamente outras
raças não estão aptas a compreender a mentalidade branca. (Um brilhante estudante negro me disse,
com humor irônico, que ele sempre podia contar com uma nota elevada para o trabalho mínimo de um
professor liberal branco. O homem iria considerá-lo como inferior, mas nunca teria a coragem de
admitir isso, e seria, concordaria em lhe dar uma boa nota!) Toda conversa de diferentes mentalidades
tem uma perspectiva paternalista; também diz que a raça, e não o pecado, é o problema de outros
povos e de suas culturas.
Por causa do novo racismo, temos agora um crescente corpo de literatura religiosa, dedicado a
estudante de seminário, pastor e missionário, que fala sobre a contextualização. Supostamente, a
única maneira de comunicar o evangelho a outras raças é dando prioridade ao contexto sobre a fé
bíblica e declarações confessionais. O impulso para a contextualização veio do Fundo de Educação
Teológica, criado em 1957 pela Fundação Rockefeller. Contextualização apela também para uma
ênfase na luta pela justiça, em termos de "teologia da libertação" (uma forma de marxismo) e
respostas existencialistas para o momento histórico no Terceiro Mundo. Contextualização coloca uma
forte ênfase na necessidade humana, em vez de infalível Palavra de Deus. Sua missão é, portanto,
contemporânea e social, não teológica e sobrenatural. Contextualistas de todos os matizes teológicos
mudam sua linguagem a partir da Escritura para o jargão gerado pelo Fundo de Educação Teológica.
Intimamente relacionado com esta na área de traduções da Bíblia é a teoria de equivalência dinâmica,
agora comum para a maioria das sociedades bíblicas e grupos de tradução. Esta doutrina, dos quais
Eugene A. Nida é um expoente, "traduz" a Bíblia em uma cultura e suas idéias. Isso pode significar
dar a um relato histórico um significado psicanalítico ou mitológico. Em vez de remodelar a cultura, a
Bíblia é "traduzida" para a cultura. (Tal doutrina faz a cultura de fato a palavra infalível, não a Bíblia. A
cultura corrige assim ou altera a Bíblia, e não a Bíblia à cultura). Como Jakob van Bruggen, em O
futuro da Bíblia, aponta, "a teoria da tradução de equivalência dinâmica deve a sua influência e efeito
à mistura de preconceitos teológicos modernos sobre a Bíblia com dados emprestados da teoria da
comunicação, a antropologia cultural, e da sociologia moderna em vez do discernimento da
linguística" (Thomas Nelson Inc., 1978, p. 151).
As implicações desse novo racismo são de longo alcance. Em vez de trabalhar para mudar um povo,
temos uma visão estática e racista de um povo e sua cultura. É a Bíblia e a missão que deve mudar,
não as pessoas! Devemos ensinar um "Inglês negro" se houver algum, e um cristianismo preto,
marrom ou amarelo, se houver algum. Leva apenas uma breve excursão pela "teologia da libertação",
contextualização e doutrinas semelhantes para perceber que não é o cristianismo em tudo o que é
ensinado, mas uma falsificação. Relevância é procurada, não ao Senhor e à Sua palavra, mas ao
homem caído e à sua herança racial. Tal coisa não é o Evangelho; é o novo racismo.
O novo racismo passa, no entanto, com essencial, o cristianismo relevante. É amplamente promovido
pelos seminários e organizações missionárias. Ela incentiva as raças, como indivíduos, a alardear o
slogan existencialista (e hippie): "Eu quero ser eu!" O objetivo é a realização histórica racial!
Providencialmente, os primeiros missionários na Europa, vindos do norte da África, Ásia Menor e do
mundo mediterrâneo em geral, não tinham essa consideração pela mente Europeia. Eles a
consideraram como não regenerada e na necessidade de ser quebrada e redimida. Todas as pragas e
os males do "espírito europeu" são produtos do homem caído e as relíquias de culturas bárbaras, não
de Cristo e Sua palavra. Tudo que é bom no "espírito europeu" é um resultado da cultura cristã, não
da raça.
As palavras de Paulo são uma forte reprovação a todos os que querem que os homens se gloriem em
seu sangue, raça, ou história: "Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido?
E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?" (1 Cor. 4:7).
Traduzido de:
http://americanvision.org/11824/the-new-racism-by-r-j-rushdoony/
O Retorno à Escravidão
monergismo.com /v1/
Três formas de escravidão devem ser distinguidas. Mas, antes dessas formas poderem ser
analisadas, é importante definir em primeiro lugar o que é escravidão. A definição comum é que
escravidão é “a propriedade do homem sobre o homem”. Essa definição, contudo, como John Murray
assinalou, é defeituosa; além do mais, casamento e paternidade, bem como os poderes de um Estado
sobre os seus cidadãos, envolve uma propriedade do homem sobre o homem. Mas a definição é
muito ampla, e evita o aspecto básico da escravidão, o trabalho. De acordo com Murray, “escravidão é
a propriedade do homem sobre o trabalho de outro”. Sob certas condições, tal propriedade no trabalho
de outro é apropriada e legítima. “Acaso vamos dizer que é impróprio o credor ter propriedade no
trabalho do devedor até que a dívida seja paga?” Além disso,
Em termos dessa definição, examinemos as três formas de escravidão, em primeiro lugar, na forma
de propriedade privada de escravos.
Na forma bíblica, a escravidão era uma forma de serviço obrigatório. O termo “servo” ou “escravo” era
usado para descrever qualquer pessoa que devesse serviço a outra pessoa, permanente ou
temporariamente. Dessa forma, Davi e Daniel se descreveram como servos de Deus (Sl 27.9; Dn
9.17), e a virgem Maria descreveu-se como “a serva do Senhor” (Lucas 1.38). A escravidão bíblica era
uma forma de associação e proteção feudal. O roubo de homens para propósitos de venda era
estritamente proibido pela lei, de forma que aquilo que é popularmente conhecido como escravidão
era crime hediondo (Dt 24.7), e Paulo reafirmou essa condenação e associou os “roubadores de
homens” com os “devassos”, homossexuais, mentirosos, perjuros e hereges (1Tm 1.10). A menos que
o fugitivo fosse um ladrão, um escravo poderia deixar a casa do seu senhor e poderia permanecer
legalmente com qualquer pessoa em cuja casa ele tomasse refúgio (Dt 23.15, 16). O escravo tinha
que ser tratado com respeito e cuidado (Lv 25.39). O princípio bíblico, “Digno é o obreiro do seu
salário” (1Tm 5.18; Dt 25.4; 1Co 9.9; Lv 19.13; Dt 24.14s; Mt 10.10; Lucas 10.7), não é limitado
somente ao trabalho livre; ele aplica-se a todos, escravos ou livres.
A apropriação privada de trabalho escravo na América do Sul tem sido assunto de extensa distorção.
Os negros eram escravos de seus chefes tribais na África, ou escravos-prisioneiros de outras tribos. A
unidade monetária na África negra era o homem, o escravo. O negro passou de uma escravidão
especialmente severa, que incluía o canibalismo, para uma forma mais branda. Muito é dito sobre os
horrores dos navios escravos, muitos dos quais eram extremamente ruins, mas é importante lembrar
que os escravos eram uma carga valorosa e assim, uma propriedade normalmente manuseada com
consideração. Um membro da comissão canadense legislativa registrou em 1847 que os imigrantes
irlandeses estavam sendo transportados em navios carregados com o dobro de passageiros que o
navio deveria levar, encolhidos em baixo das plataformas, com pouquíssima água e comida, e em
condições “tão ruins quanto aquela do comércio escravo”.[3] A condição dos imigrantes irlandeses na
chegada foi muito pior do que a dos escravos: eles não tinham nenhum senhor para alimentá-los ou
vesti-los ou protegê-los. Os irlandeses mudaram de uma semi-escravidão na Irlanda para liberdade na
América apenas uns poucos anos antes dos negros conseguirem emancipação. Após um século e um
quarto, ou menos, os irlandeses eram um poder de liderança nos Estados Unidos, e os negros
permaneceram nas posições mais baixas. A diferença básica entre os irlandeses e os negros não foi a
cor: foi o caráter. Os negros exigiam maior cuidado, i.e., mais escravidão e assistência a escravos, e
se abrigavam em seus sofrimentos.[4] Os irlandeses por sua vez olhavam para o presente e o futuro e
ajudaram a modelar a América. Essa é uma diferença significante que não pode ser explicada
completamente por cor ou ambiente. Os chineses também chegaram aos Estados Unidos sob
circunstâncias muito difíceis e as sobrepujaram similarmente.
É importante observar também que os defensores sulistas da escravidão que precederam a Guerra
Civil tiveram parte também na esperança de uma nova colonização. Em outras palavras, eles
defendiam a legitimidade da escravidão americana enquanto esperavam terminá-la com emancipação
e nova colonização. Muitas dessas sociedades existiam no Sul. O título de um livro do período é
revelador: Bible Defense of Slavery; or the Origin, History, and Fortunes of the Negro Race [Defesa
Bíblica da Escravidão; História, e Destino da Raça Negra], de Josiah Priest, to which is added a Plan
of National Colonization, adequate to the entire remove of the free Blacks and all that may hereafter
become free [à qual é adicionada um Plano de Colonização Nacional, adequada para a remoção total
dos negros livres e de todos os que venham daqui em diante a se tornarem livres], de Rev. W. S.
Brown, 1853. Alexander H. Stephens, vice-presidente da Confederação, observou que ele tinha que
trabalhar para apoiar os seus escravos, alguns dos quais eram na verdade seus pensionistas e alvos
de suas obras de caridade.[5]
Um retrato da escravidão em suas piores formas é em geral uma descrição dos mundos africano e
muçulmano. Os abusos nessas áreas são muito reais.[6] Por outro lado, não poucos senhores são
governados por seus escravos mesmo nessas culturas. Dessa forma, Fortie observou:
Os idosos árabes gentis da África Oriental eram governados por seus escravos. Eles
aceitavam as repreensões e iras das suas mulheres bantus como visitações de Alá.
Essas mulheres eram frequentemente as mães dos seus filhos. Consideradas meros
campos arados que produziam uma descendência de sangue puro, elas eram seres
humanos adoráveis, que possuíam e despertavam sentimentos de ternura, de modo
que aquilo que era uma ficção expediente, na prática deu lugar às realidades de uma
longa vida em comum.[7]
O viajante que passa, ou o estudioso, vê os males óbvios; o homem que permanece vê os fatores
humanos que alteram todos os relacionamentos.
O direito de posse privada sobre o trabalho humano é menos comum e tem geralmente sido o
aspecto menor da escravidão humana. Nos Estados Unidos, o direito de posse privada foi abolida pela
Décima Terceira Emenda, em 1865, que declarava, na seção I, “Não haverá, nos Estados Unidos ou
em qualquer lugar sujeito à sua jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos forçados, salvo como
punição por um crime pelo qual o réu tenha sido devidamente condenado”. Com essa lei, a posse
privada de escravos foi abolida, e com a Décima Sexta Emenda (1913), o Ato de Reserva Federal, e
pelas interpretações da Corte Suprema, a escravidão tornou-se um monopólio do Estado.[8]
Essa é a segunda forma de escravidão, posse do Estado, que é bem mais prevalecente hoje e em
cada era da história do que a primeira. As “glórias” do mundo antigo foram os produtos do trabalho
escravo do Estado. Hoje, os países comunistas tornam todos os cidadãos escravos. Visto que
escravidão é a propriedade sobre o trabalho do homem, sempre que essa propriedade sobre o
trabalho torna-se a força determinativa e necessária na vida das pessoas, temos uma escravidão. Em
quase todo o mundo hoje a cidadania está sendo substituída pelas obrigações da escravidão. Visto
que a servidão involuntária é definida pela Constituição como equivalente à escravidão, todo
empregador que é obrigado a manter livros e recolher impostos para o Governo Federal é dessa
forma forçado a realizar servidão involuntária ou trabalho escravo.
O Estado escravizador fala muito dos privilégios de ser uma “nação livre”. Os estados africanos
formados nas décadas de 1950 e 1960 estavam livres do colonialismo, mas, embora tenham se
tornado tecnicamente nações livres, elas cessaram de ser um povo livre: seus cidadãos tornaram-se
escravos do Estado.
O propósito da Constituição dos Estados Unidos era confirmar a liberdade do povo amarrando o novo
governo federal com as correntes da Constituição. O governo federal deveria ser acorrentados para
que o povo pudesse ser livre. Hoje, é o povo quem está sendo progressivamente escravizado.
Mentes escravas não são apenas mentes pecadoras, elas são culpadas também, movidas por culpa,
cheias de vergonha e, portanto, com fome de refúgio e segurança. A política da culpa cultiva a mente
escrava para escravizar os homens, e fazer com que o próprio povo exija um fim para a liberdade.
Escravos, verdadeiros escravos, desejam ser resgatados da liberdade; o seu maior temor é a
liberdade. A liberdade impõe um fardo impossível sobre eles. Carecendo da paz interior de uma boa
consciência, eles buscam em vez disso a paz doentia de aceitação e coexistência com todo tipo de
condição e mal.
O princípio da verdadeira liberdade é Jesus Cristo, que liberta os homens do poder do pecado e da
morte e do fardo de culpa e vergonha, para que os homens tenham uma boa consciência perante
Deus e uma independência em relação aos homens. “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente
sereis livres” (João 8.36).
Básico à Escritura é a declaração repetida do direito de posse absoluto de Deus sobre o mundo, sobre
o homem, e sobre o trabalho do homem. “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles
que nele habitam” (Sl 24.1). O crente não pode tornar-se escravo dos homens, pois ele é propriedade
de Deus, e essa é a sua liberdade e vida. Ele não deve se revoltar, se está em cativeiro no tempo de
sua salvação, mas deve buscar a liberdade legitimamente (1Co 7.21-22). Mas ele não pode tornar-se
um escravo voluntariamente: “Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens”
(1Co 7.23). O cristão, tendo sido comprado com o preço do sangue expiatório de Jesus Cristo, não
pode permitir que o pecado, o homem, o Estado ou a Igreja o dominem ou o possuam. Somente o
cristão pode ser um verdadeiro libertariano, e ele está sob uma obrigação religiosa de sê-lo. A
escravidão para ele é um caminho de vida legítimo para o incrédulo: é a conclusão lógica da
incredulidade e da escravidão ao pecado. Mas a vida do cristão deve refletir aqui e agora, em cada ato
e instituição sua, “a gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8.21, NVI).
A escravidão permanece, contudo, um caminho de vida legítimo, mas um caminho de vida mais baixo.
A escravidão oferece certas penalidades bem como certas vantagens. Objetivamente, a penalidade é
a entrega da liberdade. Subjetivamente, o escravo não vê a entrega da liberdade como uma
penalidade, visto que ele deseja escapar da liberdade. Assim como uma criança receosa e medrosa
teme o escuro, assim também a mente escrava teme a liberdade: ela é cheia dos terrores do
desconhecido. Como resultado, a mente escrava apega-se à escravidão estadista ou do Estado, à
assistência social do berço-à-sepultura, assim como uma criança temerosa apega-se à sua mãe. A
vantagem da escravidão é precisamente isso, a segurança no senhor ou no Estado. O socialismo é
dessa forma um Estado escravagista, criado pelas exigências de um senhor pelos escravos. O
escravo tem a mentalidade do farisaísmo, pois quer viver por vista, pelas obras, obras manifestas e
visíveis que o assegurarão salvação. O escravo salva a si mesmo criando um Estado escravagista
que oferece garantia visível de salvação do ventre-ao-túmulo contra os perigos da virilidade e
liberdade.
É necessário que cada geração seja recordada de sua escolha: escravo ou livre? Essa é uma escolha
moral. Um homem deve escolher entre a segurança da escravidão e a segurança da liberdade.
Escravidão é um estilo de vida: se os homens preferem-na, então que sejam honestos e vivem em
termos de sua escolha. A liberdade também é um estilo de vida, e os homens que a desejam devem
estar preparados para assumir suas responsabilidades e penalidades, bem como seus privilégios. Os
homens não podem receber assistência social, passar pelo processo de falência, ou serem achados
culpados de atividade criminosa, e mesmo assim reivindicar legítima e moralmente os privilégios da
cidadania e o direito de participar no governo civil. Tais homens podem ser apreciados por muitos;
podem ser algumas vezes homens amáveis, bem-intencionados, e os tais devem ser tratados com
toda graça e caridade piedosas, mas eles não podem reivindicar moralmente os privilégios da
liberdade. Mesmo um bom escravo é um escravo.
E, para o cristão, o mandamento é expresso de forma muito clara: “Estai, pois, firmes na liberdade
com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão” (Gl 5.1). Toda
invasão da liberdade, quer por escravos ou pelo Estado, deve ser resistida, e toda tentação pessoal
em aceitar a segurança da escravidão deve ser vista como aquilo que é, pecado.
Fonte: Rousas John Rushdoony, Politics of Guilt and Pity (Vallecito, California: Ross
House Books, 1970), p. 22-31.
[1] John Murray: Principles of Conduct, Aspects of Biblical Ethics , pp. 97-99. Grand Rapids, Michigan:
Eerdmans, 1957.
[2] William Lindsay, “Slave, Slavery”, Patrick Fairbain, editor: Fairbairns’ Imperial Standard Bible
Encyclopedia, vol 6. pp. 190-193. 1891. Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 1957.
[3] Cecil Woodham-Smith: The Great Hunger, Ireland 1845-1849, p. 228. New York: Harper and Row,
1962.
[4] “Next: A ‘Marshall Plan’ for Negroes?” U. S. News & World Report, vol. LX, nº 10, 7 de março de
1996, p. 46s.
[5] Veja Myrta Lockett Avary, editor: Recollections of Alexander H. Stephens , His Diary Kept When a
Prisoner at Fort Warren, Boston Harbour, 1865, p. 226s. New York: Doubleday, Page, 1910.
[6] Veja Sean O’Callaghan: The Slave Trade Today, New York: Crown, 1961; Robin Maugham: The
Slaves of Timbuktu, New York: Harper, 1961. Pode ser adicionado, contudo, que o negro sempre foi
tratado de forma muito brutal por outros negros, e isso é tão verdadeiro antes como hoje. Dessa
forma, “na conferência de Casablanca dos chefes de Estado africanos em janeiro de 1961, um
delegado da República do Mali pediu ao representante da Líbia pela extradição de um chefe tribal de
Mali que era acusado de liderar sua tribo inteira numa ‘peregrinação’, vendendo-a na ‘Terra Santa’, e
então retirando-se para a Líbia a fim de viver uma vida pacífica com o dinheiro que tinha adquirido”;
Youssef El Masry: Daughters of Sin, p. 127. New York: Macfadden, 1963. Sobre a escravidão na
África, veja Gardiner G. Hubbard, “Africa, Its Past and Future”, The National Geographic Magazine,
vol. I, nº 2, 1889, págs. 99-124, um relatório muito agradável.
[7] Marius Fortie: Black and Beautiful, A Life in Safari Land , p. 72. Indianapolis: Bobbs-Merril, 1938.
[8] Estudos liberais insistem em ver somente a propriedade privada de escravos como escravidão. A
partir dessa perspectiva, o Estado então torna-se o salvador. Para uma análise liberal, veja David
Brion Davis: The Problem of Slavery in Western Culture, Ithaca, New York: Cornelll University Press,
1966; e Barnett Hollander: Slavery in America, Its Legal History , London: Bowes & Bowes, 1962.
Ambos são estudos competentes mas com uma visão simplista sobre escravidão.
[9] O autor usa um jogo de palavras aqui: “cradle-to-grave” e “womb-to-tomb”. [N. do T.]
O temor de Deus
- R. J. Rushdoony.
Com esses versos, nós tomamos a narrativa do relato do temor de Israel nos eventos
sobrenaturais que ocorreram no monte Sinai. A palavra “trovões” pode também ser traduzida
como “tochas”, “flahses” ou “bolas de fogo”.1
O escritor Robert L. Cate está certo ao afirmar que Deus aproximou-se de Israel com o objetivo
de prová-los ou testá-los, algo que é elementar em todo o livro de Êxodo2. Israel temeu, e temor
pode ser algo bom e saudável, mas pode também ser algo maligno. “O verdadeiro temor a Deus
é o desejo de evitar o pecado ao invés de evitar as consequências do pecado.” 3 Moisés se refere
a esta distinção com respeito ao temor no verso 20.
O povo pediu que Moisés fosse seu mediador com Deus. Eles não queriam uma confrontação
direta com Deus. Nisso, não existe nada de errado neste pedido, mas aparentemente ele era
motivado por um desejo de não estar tão próximo de Deus, “para que não morramos” (v19).
Novamente, isso poderia ter um significado favorável. Entretanto, os eventos posteriores
tornaram claro que eles preferiram o isolamento de Deus porque a aliança e a lei de Deus não
estavam em seus corações. Pois distantes estavam seus corações Dele e distante eles queriam
que Deus estivesse deles.
É nos dito por Moisés em Deuteronômio 5: 22-31 que Deus aprovou as palavras de Israel mas
reconheceu o que estava em seus corações.
O povo pediu a Moises para ser o mediador com Deus. Deus aprovou o pedido, com
conhecimento. Depois, Israel reclamaria prontamente e deliberadamente sobre o mediador de
Deus de um modo que eles não se atreveriam a dirigir ao próprio Deus. Pastores, em todas as
épocas, têm sido usados como bodes expiatórios por pessoas que estão realmente atacando Deus
quando acusam seus servos. Eles chutam o que está disponível a ser chutado e é religiosamente
impedido de atacar de volta. Seu temor de Deus é como o de Israel, superficial. Durante a
Segunda Guerra Mundial, um dito popular era: “Não existem ateus nas trincheiras” durante um
bombardeio. Um soldado de licença, ateu, riu enquanto ele falava das suas orações fervorosas
na trincheira durante a batalha: Suas orações cheias de medo não alteravam sua vida ou conduta.
Medo é um aspecto necessário na vida de um homem. Medo pode ser real ou imaginário, mas
um medo saudável é a consciência da realidade que nos cerca e de seus perigos. Um homem
que numa montanha traiçoeira age com pouco ou nenhum temor das consequências, é um tolo.
Logo depois da guerra, um colega de classe recebeu uma quitação honrosa da força aérea dos
EUA. Sem nenhum senso de temor, ele era perigoso em um avião por causa dos riscos que ele
tomava. Sua falta de medo o tornou perigoso. Ele não viveu muito tempo depois no chão.
O objeto central do medo diz muito sobre um homem. Ele teme mais ao homem ou a Deus? O
medo saudável não é produto do pensamento, mas é uma reação a um perigo sério que leva à
cautela, não à covardia. É um erro igualar covardia e medo, covardia vem de um tipo de
pensamento.
A Bíblia nos ensina que o temor possui um conteúdo moral, sendo bom ou mal. É nos ensinado
que o temor do Senhor é Bom e Santo.
Salmos 36,1: “A transgressão do ímpio diz no íntimo do meu coração: Não há temor de Deus
perante os seus olhos”.
Salmos 111,10: “O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria; bom entendimento têm todos
os que cumprem os seus mandamentos; o seu louvor permanece para sempre”.
Prov. 14,26: “No temor do SENHOR há firme confiança e ele será um refúgio para seus
filhos”.
Prov. 14,27: “O temor do SENHOR é fonte de vida, para desviar dos laços da morte”.
Prov. 15,16: “Melhor é o pouco com o temor do SENHOR, do que um grande tesouro onde há
inquietação”.
Prov. 19,23: “O temor do SENHOR encaminha para a vida; aquele que o tem ficará satisfeito,
e não o visitará mal nenhum”.
É nos ensinado que o medo do Senhor é saudável; é um limite contra fazer o mal. Temer a Deus
é o princípio da sabedoria. É o temor do Senhor que nos dá a confiança para enfrentar o homem
com sua maldade e sermos confiantes na vitória derradeira. Tal temor tende a favorecer a vida.
E é, de fato, fonte de vida.
Um falso medo é uma coisa desagradável, para dizer no mínimo, e enfatiza nossa impotência,
enquanto o temor do Senhor nos faz conscientes de Seu absoluto poder e vitória assegurada. É
por isso que o medo do Senhor é descrito como limpo, ao contrário do medo de pesadelos, onde
a paralisia e impotência prevalecem.
O medo do homem nos coloca no reino dos pesadelos, porque, quando o medo do homem é
primordial, vemos nosso desamparo radical diante de um oceano de maldade. O homem
moderno sente fortemente uma sensação de medo porque ele está sem o temor de Deus. Do
medo do homem, é nos dito:
Salmos 53,5: “Ali se acharam em grande temor, onde não havia temor, pois Deus espalhou os
ossos daquele que te cercava; tu os confundiste, porque Deus os rejeitou”.
Prov. 29,25: “O temor do homem armará laços, mas o que confia no Senhor será posto em alto
retiro”.
Escravos são governados pelo medo no homem, e, onde quer que o medo do homem substitua o
temor de Deus numa sociedade, a escravidão reaparece e cresce. Estamos perdidos no que é
definitivo e conclusivo no cosmos. Se nós sabemos que Deus é o princípio e o fim, que Deus é
Deus, então saberemos que estamos totalmente sob seu poder e que ele capacita seus escolhidos
para serem mais que vencedores, e triunfarem (Rom 8:37; I Jo 5:4).
“O TEMOR DE DEUS, é aquela santa disposição ou hábito gracioso formado na alma pelo
Espírito Santo, pelo qual estamos inclinados a obedecer a todos os mandamentos de Deus; e
evidencia-se 1- Por um pavor de seu desagrado 2- Desejo de seu favor. 3- Respeito às suas
excelências. 4- Submissão da sua vontade. 5- Gratidão pelos seus benefícios 6- Sinceridade em
sua adoração; 7- Obediência consciente aos seus mandamentos (Prov. 8:13; Jó 28:28).”4
Em outras palavras, o temor do Deus capacita o homem a uma obediência ativa. No pensamento
rabínico antigo, esse aspecto era claramente visto, e a doutrina do temor do Senhor era baseada
em diversos versos. Especialmente Levítico 19:14:
“Não amaldiçoarás ao surdo, nem porás tropeço diante do cego; mas temerás o teu Deus. Eu
sou o SENHOR.”
O temor de Deus significa um reconhecimento que Deus é Todo-Poderoso e que ele vê a todos:
“E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes
aos olhos daquele com quem temos de tratar.” (Hebreus 4:13).
Isso é básico ao temor do Senhor, o fato que não existe nada despercebido ou pensamentos e
atos anônimos em toda a criação. Isso também é um motivo dos homens preferirem o governo
dos homens ao governo de Deus. Os homens são normalmente tirânicos, e sua lei má, mas num
mundo só de pessoas, atos e pensamentos anônimos são possíveis. A divisão entre público e
privado é muito importante ao ímpio por questões religiosas. Eles querem a liberdade de ser
públicos quando eles escolherem, mas também para serem privados à vontade. Isso é impossível
se Deus é realmente Deus. Em Seu governo, todas as coisas são públicas e abertas aos seus
olhos. Há mais de 50 anos atrás, eu escutei um professor dizer uma das coisas mais
desagradáveis no cristianismo era a ideia de um livro de anotações sendo abertos contendo toda
a vida do homem no dia do juízo final (Ap. 20:12). Mas para o cristão, existe a promessa:
“Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados
não me lembro.” (Is 43:25, 44,22; Jer 31:34).
Isso não é anonimato, mas graça e perdão. Regeneração e o apagamento de todas as nossas
transgressões.
É interessante notar, como conclusão, que durante a maior parte da história de civilização
ocidental, é reconhecido que sem o temor do Senhor, nenhuma sociedade pode durar. Quando o
homem acredita que pode ser anônimo, ele é mais livre para expressar a sua maldade.
1. R. Alan Cole, Exodus (Downer’s Grove, Illinois: Inter-Varsity Press, 1973), 162.
2. Robert L. Cate, Layman’s Bible Book Commentary, Exodus, vol. 2 (Nashville, Tennessee:
Broadman Press, 1979), 97.
3. Ibid., 98.
4. Charles Buck, A Theological Dictionary (Philadelphia, Pennsylvania: Joseph J. Woodward,
1826), 185.
Enquanto que era produzido este auge do amor sexual como base para o matrimônio,
existia um crescente desprezo e um ataque dos intelectuais contra a instituição da
f amília e do matrimônio. Os f elizes casados eram depreciados como pessoas tontas e inf elizes. Por
alguma razão, a af lição e os problemas eram associados com a sensibilidade da mente desses
intelectuais, e queriam mostrar suas tristezas e problemas, verdadeiros ou f ingidos, como um sinal
de superioridade.
Aplicado à f amília, isto quer dizer que a f amília pode ser estabelecida legitimamente se há amor, e pode
deixar de existir quando o amor acaba. Ao dizer isto, esses autoproclamados líderes sabem muito bem que
estão debilitando a estrutura da f amília, e manif estam que não desejam que a f amília exista sobre outra
base que não seja o amor. O esposo, a esposa e os f ilhos tem direito a esse algo maravilhoso que
chamam amor.
Agora, o amor tem seu lugar na f amília e na vida em geral, a Bíblia bem o reconhece, mas não permite que o
amor seja tão básico para a f amília ou para a vida. Mais que amor, uma f amília necessita da estrutura legal
santa, a ordem, a disciplina que brota do saber que a palavra de Deus é suprema em todas as coisas. Um
pai ou uma mãe podem amar seu f ilho com a alma, mas, de que serve esse amor, de que f orma ajuda, se o
pai não sustenta o f ilho ou é alcoólico? E, de que serve o amor de uma mãe se essa mãe não alimenta seu
f ilho como é devido regularmente, ou não o brinda com a necessária atenção, educação e cuidado?
O casulo em que a criança cresce e f loresce é estável, na qual, as necessidades de alimento, roupa,
moradia, disciplina, educação, f é e motivação da criança são satisf eitas consciente e f ielmente. Isto é o
que signif ica o amor para uma criança. A Bíblia claramente diz que “o cumprimento da lei é o amor”
(Romanos 13:10). O amor, então, é mais necessário que a paixão sexual e o apego emocional de que f ala
o romantismo. O amor é o cumprimento da lei, a lei de Deus. Assim, quando os intelectuais com seus
conceitos superf iciais nos apresentam o amor como alicerce do matrimônio, não estão f alando de amor,
mas de atração.
O amor não pode ser separado da lei. Quando o amor entra verdadeiramente no matrimônio, há respeito e
obediência à lei de Deus. Isto quer dizer que o matrimônio esta dentro da f é, com outro crente, para que o
esposo e a esposa estejam unidos, acima de tudo, nos termos de uma f é comum e obediência a Deus.
Neste sentido bíblico, o amor quer dizer, igualmente, que a base do matrimônio e da nova f amília não é
pessoal, mas cristã. No amor romântico, a f amília começa quando os sentimentos românticos unem um
homem e uma mulher, e termina com a morte desses sentimentos. O matrimônio torna-se para uma
aventura amorosa. Mas, a f amília é uma instituição divina e é a instituição social básica. Então, nenhuma
decisão ref erente à f amília pode ser puramente pessoal. Em todo momento, a f amília está sujeita à lei de
Deus, e seu princípio e f im devem ser nos moldes da obediência à lei de Deus.
Isto leva-nos a um f ato curioso. Estes intelectuais são predominantemente socialistas, e f alam, nas
maiorias das vezes, dos problemas acentuados da responsabilidade coletiva e das respostas coletivas.
Mas, quando entram em questões de religião, moralidade, matrimônio e f amília, nos dizem que são
questões pessoais, e não problemas sociais ou coletivos. Por que esta curiosa incongruência? A resposta
é que não são incongruentes. Seu propósito é abolir a religião e a moralidade bíblicas; por isso, as f azem
desaparecer da vida social e da sociedade, insistindo que são coisas pessoais e privadas. Ao colocar os
alicerces e bases do matrimônio, f amília e divórcio como assuntos puramente pessoais, na prática, estão
destruindo a f amília e negando seu papel social que a corresponde.
Seu menosprezo pela f amília acompanha seu desprezo da religião e moralidade. A ruptura com a f é é
também a ruptura com a f amília. A relação entre religião, moralidade e f amília é vital. Quando o estatismo
ataca à religião, moralidade e f amília, lança contra elas a f orça do anarquismo. A elite que domina o Estado
são homens f ora da lei que podem governar o mundo conf orme sua própria imaginação e concentrar o
poder em suas mãos para consegui-lo. Carle C. Z immerman, em Família e Civilização, nos deu (p. 639 em
inglês) uma reveladora história do mundo de Homero: “Os valores humanos que o homem comum agora
valoriza tanto são inexistentes em Homero. Os grandes de Homero são poucos nascidos trapaceiros que
dominam o restante da sociedade segundo seu desejo. Nenhum personagem de Homero importa-se com o
que acontece às pobres e indef esas massas”. Os líderes de nossos dias são mais sof isticados: f alam
desses valores mesmo quando os despojam; dizem que são homens que se preocupam mais pelos
problemas do homem, enquanto se valem insensivelmente deles para f azerem-se mais poderosos.
A f amília pode prosperar se seus alicerces são sólidos, e se seus verdadeiros alicerces repousam-se em
uma f é cristã f irme e solidamente enraizada nas Escrituras. E hoje, é a f amília que está desprezada e
descuidada em nossos ensinos. A f amília, a mais básica instituição, tem somente uma pequena parte em
nossa educação e nossos pensamentos.
Mas, ainda mais, na Bíblia a sexualidade somente está legitimamente associada com a f amília, enquanto
que para os pensadores contemporâneos, existe uma radical separação e dissociação entre o sexo e o
matrimônio. Por exemplo, no segundo Relatório Kisney, a f amília apenas é mencionada. Há uma ref erência
ou duas à f amília no início de um capítulo, mas somente como um prelúdio para f alar de sexo, não dá
f amília. Na única outra ref erência nos é dito que certos “animais viajam em grupos f amiliares ou manadas”,
assim, a ref erência é aos animais, não ao homem ou a f amília. Isto é bastante característico. Atualmente o
sexo é mantido em um isolador anárquico atomizador do casamento e da f amília, e essa é uma deliberada
e revolucionária dissociação. Existe um deliberado f omento de um individualismo anárquico e atomizador,
e é o indivíduo atomizador e anti-f amília o que mais tem simpatia com o coletivismo, porque, pelo menos,
está sob a lei em sua vida.
A f amília cristã é algo básico na ordem legal de Deus para o homem. A f amília f oi estabelecida por Deus
para o bem-estar e f elicidade da humanidade. À f amília santa f oram prometidas numerosas bençãos nas
escrituras: vida longa, f ilhos, prosperidade e muito mais. Segundo a Bíblia, o homem vive, de verdade, em
comunidade. Os salmos 127 e 128 celebram a bem-aventurança da vida f amiliar piedosa, e muitos
provérbios ressoam com seu louvor.
Salmos 128:4-6
Trabalho e Domínio
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É um erro sério, mas comum considerar que o trabalho é um aspecto da maldição. A justificação para
essa crença é procurada em Gênesis 3.17-19. Contudo, fica claro nessa passagem que é Adão quem
está debaixo da maldição, juntamente com Eva. Porque ambos estão debaixo da maldição de Deus
por desobediência, cada aspecto de sua vida reflete essa maldição. Dessa forma, as duas grandes
alegrias de Eva deveriam ser, como para todas as mulheres, primeiro, seu deleite na proteção,
cuidado e senhorio do seu marido, e, segundo, os filhos. Mas essas duas tornaram-se uma fonte de
tristeza e perturbação pelo fato do pecado. Adão foi similarmente amaldiçoado; o trabalho e o domínio
era o seu chamado, alegria e privilégio. Agora isso tornou-se repleto de frustração e desapontamento.
Dessa forma, foram o labor ou chamado do homem e mulher que, por causa do pecado, os frustrou.
Esse trabalho e serviço que deveria ser a alegria e privilégio deles, tornou-se em vez disso um
desapontamento e tristeza para eles.
O trabalho era central para a criação e natureza do homem. “E tomou o SENHOR Deus o homem, e o
pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar “(Gn 2.15). A versão Berkeley traduz essa tarefa
como “… o cultivar e cuidar” e Moffatt como “… o arar e guardar”. Essa tarefa está inescapavelmente
vinculada ao mandato da criação para sujeitar a terra e exercer domínio sobre ela (Gn 1.16, 28). O
propósito da criação é estabelecer o homem em seu domínio sob Deus.
O trabalho do homem tem vários aspectos. Primeiro, lavrar a terra é um aspecto do chamado do
homem; isso significa sujeitar e desenvolver a terra e trazê-la sob o domínio e serviço do homem. Isso
tem implicações amplas. Inclui todo labor manual, agricultura e ciência. O homem exerce seu domínio
sobre o mundo sob Deus. Assim como o homem não pode tirar a vida à parte da lei de Deus, visto que
Deus somente é o Senhor da vida, assim o homem não pode usar a terra à parte da lei de Deus. Ele
deve ser um despenseiro fiel, não um ladrão ou assassino.
Segundo, em Gênesis 2.19 Adão tem um chamado para nomear ou chamar os animais, isto é,
entender e classificar a criação ao redor dele. Essa é claramente uma tarefa científica, pelo fato de
requerer um entendimento da natureza e classificação das coisas. É uma tarefa religiosa também,
visto que o homem deve ver sua relação com a criação animal, seu lugar dado por Deus, e a diferença
entre o homem e os animais. Os animais devem ser vistos em relação ao homem, e em relação a
Deus e os seus propósitos.
Terceiro, o homem recebeu sua ajudadora apenas após ter sido provado em seu trabalho. Dessa
forma, Adão foi considerado pronto para o casamento, não quando estava fisicamente maduro, mas
quando teve uma maturidade testada em termos de seu trabalho. Esse conceito foi refletido nos
requerimentos hebraicos e mais tarde judeus que o ofício público estava restrito a homens casados
que já tinham sido provados pelo trabalho e então pelo casamento. Isso aparece também no
requerimento do Novo Testamento que os presbíteros devem ser homens casados (1Tm 3.1-5; 4.3).
Quarto, como temos visto, o trabalho não foi apenas ordenado antes da queda, mas é o chamado do
povo de Deus na criação restaurada (Ap 22.3).
A queda significa que o homem, ao invés de exercer domínio sobre a terra, retorna à terra em
frustração e morte e torna-se ele mesmo pó ou terra (Gn 3.19). Tendo buscado ser deus por sua
rebelião (Gn 3.5), o homem torna-se novamente pó, retornando à terra que ele deveria ter governado
sob Deus.
O trabalho sem sentido não ganha valor por ser um trabalho bem pago. Quando alguns dos mais bem
remunerados escritores soviéticos fugiram para a Inglaterra, eles deixaram uma situação de
eminência, prestígio e conforto por uma de relativa obscuridade. A recompensa material não podia
compensar uma posição desonesta e sem significado, uma aquiescência forçada a um regime odioso.
Não há nenhum sentido de domínio em tal trabalho.
Básico para o verdadeiro trabalho é que ele deve promover o chamado do homem para exercer
domínio sob Deus. Um homem deve se sentir mais homem por causa do seu trabalho; mais seguro
em seu status como cabeça de uma família, um membro da sociedade, e um homem diante de Deus.
O trabalho que é estéril em sua relação com o chamado do homem para exercer domínio reduzirá
grandemente o homem à impotência de várias formas.
A separação do trabalho do domínio é catastrófico para o homem e a sociedade. Isso leva à doença
espiritual do homem e ao declínio de sua cultura. Pode levar, em algumas culturas, à brutalização do
homem. À medida que o homem é degradado por seu pecado e sua sociedade pecadora num
escravo do trabalho, cujo trabalho é mais cativeiro do que libertação, o homem responde agravando o
seu pecado. A resposta do homem ao homem torna-se uma forma de motivos mútuos para degradar e
desonrar a outra pessoa.
Em outras ocasiões, a separação do trabalho do domínio leva a uma paralisia moral e religiosa. O
homem se torna uma alma doente, de quem todas as respostas é colorida pelo ódio doente de
impotência e seu desejo de destruir. Dessa forma, Sartre, em sua peça Le Diable et le bon Dieu ,
definiu amor como o “ódio do mesmo inimigo”.[1] Tal homem fala muito de amor e futuro, mas seu
amor é ódio, e seu futuro é tentativa de destruir o passado.
A separação de trabalho e domínio é inevitável numa sociedade que nega o Deus trino. Tendo negado
o seu Deus, tal sociedade tem seu trabalho amaldiçoado e seu desejo de domínio frustrado. Em vez
de domínio, ela busca expressão na destruição; em vez de promover a vida, encontra poder na morte.
O exercício de domínio sob Deus é o desenvolvimento do homem e da terra por meio do trabalho para
fortalecer, prosperar e elevar a vida e serviço do homem sob Deus. O verdadeiro trabalho e domínio
promove a vida e as potencialidades da vida. Material e espiritualmente, a vida do homem é
melhorada.
Sempre que o homem busca domínio fora de Deus e sob a maldição, seu trabalho produz morte e
destruição. O homem sob maldição trabalha para destruir outros homens e sociedades, e ele mesmo.
Ele trabalha destrutivamente também em seu relacionamento com a terra. Uma era que fala muito
sobre ecologia é a maior poluidora da terra, e aqueles mais culpados pela poluição falam em alta voz
sobre acabar com a poluição, restringir o crescimento da população e financiar tais esforços.[2] De
acordo com Burden, “na cidade de Nova Iorque, por exemplo, a despeito da preocupação evidente de
John Lindsay e os cartazes nas ruas, a própria cidade continua a ser o pior ofensor contra suas
próprias leis de poluição”.[3]
Dessa forma, o trabalho sem Deus é sem domínio e para a destruição. O trabalho sob Deus
estabelece o homem em seu domínio ordenado e fornece energia social construtiva. Não é surpresa
que a palavra energia venha da palavra grega ergon, a qual significa trabalho. A palavra para domínio
no grego é kratus, força, fortaleza, poder, e vem da raiz kra, aperfeiçoar, completar. Criador é
provavelmente uma palavra relacionada. Criar vem do latim creatus, creare, criar, e está relacionada
ao armênio serem, produzir.[4] O propósito e significado do domínio é produzir o significado e a
potencialidade do homem, sua sociedade, e da terra, e completar ou aperfeiçoar os propósitos da
criação ordenados por Deus.
Uma sociedade que busca, embora em vão, eliminar o trabalho criando um mundo livre de trabalho,
nem escapa da maldição nem ganha qualquer domínio por seus esforços. Em vez disso, tal atitude
intensificará a desintegração do homem, pois, embora o trabalho não seja a salvação do homem, o
homem cessa de ser homem se separado do trabalho. Não é surpreendente que os homens
geralmente morram uns poucos anos após a aposentadoria, não importa a idade com qual se
aposentem. Mesmo homens caídos, não importa quanto se irritem com a maldição que molesta seus
esforços e trabalho, ainda se preocupam em realizar sua masculinidade e domínio através do
trabalho. Separar homens do trabalho é separá-los do significado e da vida. A vida do homem não é
definida pela diversão, mas pelo trabalho e domínio. Quando o homem sente que o seu trabalho é
fútil, aí a desintegração do homem se torna manifesta.
O homem, contudo, não pode ser definido por sua função; dessa forma, ele não pode ser definido
como um animal trabalhador. O trabalho é a função do homem, mas o próprio homem é uma criatura
criada à imagem de Deus e, portanto, bem mais que sua função. Um aspecto central dessa imagem é
o domínio. O trabalho é o meio pelo qual o homem manifesta, estabelece e desenvolve seu domínio
sob Deus. Uma sociedade livre do trabalho será finalmente uma sociedade livre do homem.
A antiga associação Puritana e cristã de trabalho com a natureza do homem ainda sobrevive na
América. Um visitante da Inglaterra descreve com certa irritação “o padrão de cantada inicial” dos
homens americanos, quer num bar ou festa, ao encontrar desconhecidas; após as introduções serem
feitas e um drinque tomado, a conversação real começa com a pergunta: “E o que você faz?”.[5] Ao
responder essa pergunta, a estranha é identificada; o trabalho é visto como uma chave para conhecer
uma pessoa e classificá-la. A pergunta revela tanto a saúde remanescente da vida americana bem
como uma medida de declínio. Numa era antiga, a pergunta acompanhante teria averiguado no que o
homem acreditava, isto é, por sua fé e trabalho, ele seria identificado.
NOTAS:
[1] – Citado por Thomas Molnar: Sartre: Ideologue of Our Time, p. 12. New York: Funk & Wagnalls,
1968,
[2] – Veja James Ridgeway: The Politics of Ecology. New York: E. P. Dutton, 1970.
[3] – Curter Burden, “The Economics of Pollution”, Town and Country, vol. 125, no. 4578, Janeiro,
1971, p. 19.
[4] – W. E. Vine: An Expository Dictionary of New Testament Words, p. 332. Westwood, New Jersey:
Fleming H. Revell, 1940, 1966.
[5] – Nancy Hawks, “Those Swinging Singles”, em Norman Hill, editor: Free Sex: A Delusion, p. 69.
New York: Popular Library, 1971.