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WINTER, Jay. “1918 e a Segunda Grande Guerra”.

In: CORREIA, Silvia e


MORELI, Alexandre (orgs.). Tempos e espaços de violência.

“Ódio, fome e luta de classes foram elementos de radicalização da desordem do mundo


pós-imperial, colocado à deriva pelo colapso dos impérios dos Romanoff, dos
Hohenzollern e dos Habsburgo, além do império Otomano. A violência pós-imperial era
endêmica nessas regiões, combinando guerra civil, conflitos étnicos e nacionais que
desenharam o que podemos chamar de Segunda Grande Guerra.”. (pg.21)

“No entanto, todos os outros teatros da Grande Guerra foram deixados num estado de
caos e incerteza, tornando-os ainda mais ameaçadores em razão da potencial propagação
da Revolução Russa pela Europa.” (pg. 22)

“A guerra deu lugar à guerra civil, transformando a Europa Central do Sul e do Leste.
Um resultado inevitável dessa mudança de ênfase de violência internacional para a
interna foi a limpeza étnica.” (pg. 23)

“[...] antes de 1917, a mobilização da guerra implicou a unificação forçada das classes
sociais e dos grupos étnicos na base do esforço nacional ou imperial. Esse esforço
conseguiu abafar e mascarar conflitos internos [...] Depois de 1917, conflitos internos
reemergiram, possivelmente com mais força por conta de sua supressão durante os três
anos anteriores”. (pg. 23-24)

“Depois de três anos de mobilização industrial, verifica-se uma primeira fase de greves
massivas que se espalham pela Europa, durando até cerca de 1923.”. (pg. 25)

“A Revolução Russa seria o ponto de viragem, o momento em que o caráter político da


guerra muda. [...] A Revolução Russa não provocou essa crise; ela corporificou uma
mudança mais ampla nas atitudes públicas em relação à guerra.”. (pg. 29)

“O fim da guerra em1918 marcou o começo de inúmeras guerras para determinar as


fronteiras da Europa Oriental pós-imperial. Grande parte dessa violência foi direcionada
contra civis.”. (pg. 30)

“[...] o Genocídio Armênio [...] anuncia uma política de guerra contra um povo não pelo
que foi dito que ele teria feito — apoiou o esforço de guerra russo — mas pelo que ele
era.”. (pg. 33)
“Depois de 1918, a guerra civil foi travada tendo como pano de fundo fome extrema,
luta de classes e ódios étnicos que, antes de 1918, certamente não eram desconhecidos,
mas não na forma dessa mistura explosiva.”. (pg. 37)

“Não é na Primeira Grande Guerra de 1914 a 1917, mas nessa Segunda Grande Guerra
que as sementes dos conflitos radicais da década de 1930 devem ser procuradas. [...]
Apesar de um período de recuperação no final da década de 1920, a crise econômica
mundial expôs as tendências políticas antidemocráticas, alimentando-se das profundas
divisões sociais e étnicas que permaneceram como legado definitivo da Segunda Grande
Guerra.”. (pg. 38)

“A partir de 1917, a culture of war anxiety não só relativizou a culture of war


mobilization como a desafiou e a desestabilizou. A maioria dos contemporâneos ainda
ansiava pela vitória, mas já não a qualquer preço. Essa foi a mensagem mais
perturbadora da Revolução Bolchevique, assombrando todos os combatentes no último
ano de guerra.”. (pg. 39)

“[...] a culture of war mobilization acabou quando as tropas voltaram para a casa em
1919, a culture of war anxiety transformou-se naquilo que eu denominaria de uma
culture of post-war anxety (cultura da ansiedade pós-guerra, acompanhada de várias
formas de instabilidade econômica e conflito social e racial que vieram diretamente da
própria guerra.”. (pg. 40)

Resumo:

No artigo em questão, Jay Winter apresenta sua proposta de nova divisão


daquilo que temos como a Primeira Guerra Mundial. Ele separa o período em dois:
Primeira Grande Guerra (1914-1918) e Segunda Grande Guerra (1918-1923). Ele
destaca que na Segunda Grande Guerra o foco do conflito não seria mais uma guerra
internacional, mas sim uma onda de guerras civis que se intensificaram nos países
envolvidos, fomentados por violências imperiais e desejos revolucionários.

Winter destaca ainda que a Segunda Grande Guerra já exibia traços de ódio que
seriam característicos da Segunda Guerra Mundial: um ódio e uma violência desferidos
contra um certo povo não por conta de suas ações, mas sim por causa de sua mera
existência. Nesse período, as agressões e maus-tratos sobre os civis persistiram mesmo
que não fosse necessário, principalmente em regiões de disputa de fronteira.

Júlia Paula de Ávila

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