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ANALISE DA PRATICA INSTITUCIONAL Prof. Monica Ferreira dos Santos José Augusto Guilhon de Albuquerque é sociélogo e professor da USP. No Servigo Social alguns autores jé usaram seu referencial. Weisshaupt o faz na andlise das priticas dos assistentes sociais, no livro “As fimgbes socioinstitucionais do Servigo Social”, a partir de pesquisa da atuacao de assistentes sociais em organizagbes institucionais no Nordeste do Brasil (WEISSHAUPT, 1988). Desta forma, apresento uma esquematizagdo dos conceitos principais com exemplos aplicaveis a pratica concreta do Servigo Social. “Estritamente falondo, : Qe un ce seus agentes, mandantes, clientes etc. Ou, mais precisamente, o resultado > ED ietes.¢ assim por dinate, Ora. a p cada um desses atores é, com freqtiéncia, divergente, e muitas vezes complementar ¢ tica de contraditéria com respeito 4 de outros. A pritica institucional & portanto, a resultante das priticas conflitantes dos diversos atores” (GUILHON, 1978: 74). A pratica institucional ¢ resultado da pritica de seus agentes concretos ¢ s6 existe quando encamada em @@oncretos que constituem. Para definir os elementos que estruturam a pritica institucional, vamos categorizar o objeto institucional, o Ambito institucional e os atores institueionais. GREGG: acuilo sobre cuja propriedade a instituigao reivindica 0 monopélio da legitimidade, O objeto institucional ndo um objeto material, mas imaterial, impalpavel. pois é esse cardter que facilita a sua apropriagao pela institigao e sua tendéncia a alargar indefinidamente os limites de seu ambito. © objeto institucional da instituigae Servigo Social ¢ muito discutido ao longo da sua histéria, Weisshaupt formula a hipstese de que 0 objeto institucional do Servigo Social ser4 2 TSA 0, entendida como o uso adequado dos aparatos de Estado (WEISSHAUPT. 1988: 70). O assistente social tem « @ENEEEBes de GED: oct: CED: que sustentam 0 objeto institucional. Seu nico limite real so os limites de soberania de outras instituigbes sobre estas priticas sociais. Toda instituigao tende a ampliar seu ambito de agdo, e se estenderia indefinidamente até esbarrar com 0 Ambito de outras instituigdes, de modo que o ambito de uma instituigio ¢ definido pela historia das lutas de sua institucionalizagao, no conflito com outras instinuigdes. © Ambito do Servigo Social portanto nao € fixo, mem definido a priori pelos profissionais e professores do Servico Social. ¢ siESNERED ue € conflitante. GED. citer: Atores institucionais internos “sao aqueles que diretamente HEED 2 instituicao. desenvolvendo positivamente sua ac3o no quadro de um aparelho deteminado” (WEISSHAPT, 1988: 28). Sao os HBB em eral (em geral profissionais) e a GED. Sao subeategorizados de acordo com o grat de “saber” em relagdo ao objeto institucional, © que Ihes confere poder e posigao estratégica em relacdo & ago institucional. GBR. 520. aquetes cuja pritica concretiza plenamente a ago institucional. Tém um saber pleno quanto ac@jip institucional e a partir desse saber uma posigdo estratégica em relagdo a agao institucional Os assistentes sociais sic QED s cm QEEMIEEEED Servico Social. como a antiga LBA, 0 SESC, 0 SESI. Porém nada garante que os profissionais que dio nome a uma instituigdo sejam seus QIN £ necesséria uma andlise concreta para elucidaco da pritica institucional. Por exemplo, em muitas instituigdes religiosas assistenciais o agente privilegiado ¢ o padre. GAD (ou agentes institucionalmente complementares) sao atores cujas priticas também esto ligadas a ago ou objeto institucional, mas esi > ac@QQEEEEED:. Tém saber relative quanto ao objeto, mas mantém uma posigao estratégica em relagto A ac2o institucional do ponto de vista de seu ambito. 0 GREED scente subordinado cn QTD como GED ¢ GBB. ¥o hospicio o agente privilegiado ¢ o psiquiatra, mas como a saiide mental (0 objeto institucional) depende da aco do assistente social junto a familia, 4 comunidade, as relagdes sociais do doente mental, o assistente ¢ chamado a agir em nome do objeto institucional, porém subordinado ao poder-saber do psiquiatra GGG (ou “pessoal institucional”) sao aqueles que prestam servigos indispensiveis QUEEN da organizagao. Eles nao sto, portanto, ligados & ago institucional e sim a ago organizacional. Como agentes, nao tém um saber sobre 0 objeto institucional Em algumas QGP. o servico Social trabalha apenas na administragao de beneficios aos trabalhadores. Nelas, 0 assistente social trabalha tio afastado dcQ@ EEE (a produgo) que pode se tornar um agente organizacional, GERD: 6 conjunto de individuos atin gid SE AT TTT 21 Sto os atores ctj:} ieee £2 populacc atingida on o QQURNBERIIBD’. Nega-se que os clientes tenham “saber” sobre o objeto institucional. Na medida do possivel, o cliente est reduzido passividade (nega-se, no ais das vezes, sua condigio de sujeito), no limite. o cliente & tornado “paciente” Quando o assistente social, agente subordinado, trabalha numa empresa, sua clientela sto c\@EMEREMIEMBIED portanto seus colegas; quando trabalha mum hospital, sua clientela nfo tem vincwlo empregaticio com esta organizagto institucional, sAo os pacientes do hospital: quando trabalha em instituigdes do Estado. em programas de comunidade, sua clientela & o piiblico da instituigfio. Logo, pelos exemplos, 0 ee trabalha, Quando o assistente social agente privilegiado trabalha em uma instituigo de Servigo Social, sua clientela é a clientela da sua propria iustituigao. Esses exemplos so para mostrar como o assistente social pode ter diferentes (REENEEEBcom sua clientala Atores institucionais externos (ou contextuais) so agentes que nio tém agio direta nas instituigbes, estio fora delas, mas podem interferir “negativamente” nelas. “Os mandantes podem paralisar a ago institucional, impedindo os agentes institucionais de agit. mas ndo podem agir em seu lugar. sendo tomando-se. por sua vez, agente institucional” (GUILHON, 1978: 75). S80 0s mandantes e 0 piblico. Os mandantes assentam seu poder na apropriacic dos QED ¢ QERTEIED ocial. de acordo com a metodologia que categoriza as QQEEEEEEMD em wés instincias: econémica, politica e ideolégica. © poder do mandante deriva da: 1. Apropriagao dos meios de producto ¢ QS IGGIMEED) da sociedade na relagdo de propriedade, de acordo com 0 direito de propriedade capitalista que rege a relacdo material entre os agentes sociais: 2. Apropriagtio dos meios de produgdo e reprodugdo social da sociedade na relagio de hierarquia, de acordo com a constituigo politico-juridica que rege a relagao de mando social: 3. Apropriagao dos meios de produgao e reproducao imaginaria de sociedade na relagao de autoridade, via de regra geral em nossa sociedade, de acordo com a racionatidade cientifica que rege a relago cultural central de -valorizagaio dos saberes dos agentes sociais. Os mandantes assentados na relacao de propriedade (mandantes patrimoniais — mandantes, em nome do “ter”, definido a partir da instineia econémica) sao os que sustentam economicamente a instituicAo (garantem a sua reprodugao material) e, baseados nessa propriedade, exigem uma prestagto de contas em relagio a ago institucional e, em particular, dos agentes privilegiado: que se apropriam apenas institucionalmente (nao materialmente) do objeto. Esses mandantes, portanto, se apropriam nao do objeto institucional, mas do que a instituigao produz economicamente. Ne QED wandante patrimonial ¢ oD. seja no ambito federal, estadual ou municipal. Nas instituigdes privadas é 0 @@§EEEDos acionistas ou os donos). O dono pode ser uma pessoa juridica, isto &, uma empresa 6 dona de outras empresas, por exemplo. Uma situagdo em que alguns atores concretos podem desempenhar virios papéis institucionais ocorre, por exemplo, nos clubes, associagdes e cooperativas, em que os agentes sécios, associados, cooperandos podem ser ao mesmo tempo, clientes, agentes ¢ mandantes patrimoniais, porque s4o, coletivamente. os proprietarios Os mandantes assentados na relacao de hierarquia (mandantes funcionais — mandantes, em nome do “poder”, definidos a partir da instincia politica) so aqueles que nomeiam 0 corpo de agentes institucionais e, sobretudo, dos agentes que exercerdio a direg&o da organizaco institucional. Nas instituigdes ptiblicas esses mandantes sao os representantes do Estado (0 governo, mandatario, tem um mandato legitimado pela Constituigao que Ihe confere um poder por um tempo estipulado). Nas empresas privadas capitalistas, os donos ou corpo de acionistas, apoiados na legislagao comercial e fiscal, exercem diretamente, ou delegam o direito de administrar a produgdo a um agente que deverd prestar contas de sua gestdo. Note-se que os dirigentes no sto mandantes, st0 agentes, intemos & organizago (institucional), que tém uma concessto temporaria de mando e que, portanto, pode ser retirada a qualquer momento, de acordo com o estatuto da organizago: so cargos de confianga do mandante. Nas pequenas empresas privadas, 0 dono pode ser presidente ou diretor, portanto mandante funcional, pattimonial ¢ dirigente a0 mesmo tempo. Os mandantes assentados na relacao institucional (mandantes instirucionais propriamente dito ~ mandantes, em nome do “saber”, definidos na instncia “ideolSgica”) so os guardides da legitimidade de que a instituigao se reveste, Sao os que se apropriam do saber relevante para a insfituiglio e decidem quais so as praticas permitidas ou proibidas, segundo um critério de “verdade” ‘Mas instituigdes de Servigo Social os guardides da EB sac os Conselhios Regionais de Servigo Social, 0s CRESS’s, e 0 Conselhio Federal de Servigo Social, os CFESS’s (¢ as escolas também, até um certo ponto — a “academia”). © assistente social esta submetido a estes drgaos mesmo que trabalhe subordinado em uma instituigao de outta area, O conflito entre os varios mandantes propicia um gran de autonomia aos agentes intemos, SR ect: es RBIS ceases pay yom & we institucional é visivel, podendo eventualmente integrar a clientela, Por exemplo, um posto de assisténcia médica tem todo o baisro como piiblico, mas s6 os pacientes sto clientela, Outro exemplo, num hospital, os pacientes so clientela e seus parentes podem ser simplesmente publico. Observa-se que a opiniao do piblico pode ser mais decisiva do que a opiniao da clientela para a pritica institucional. Poe exemplo, no programa de privatizagao do atual governo, a opiniao piiblica tem sido testada na condugio do processo de venda das estatais, ‘Num posto de assisténcia médica, a associagao de moradores pode ter influéncia na politica de atendimento, © piiblico, nas democracias, deveria ser 0 “mandante privilegindo” das instituigdes, O pitblico identificar-se-ia com a totalidade das relagdes sociais. ANALISE DA PRATICA INSTITUCIONAL E SERVICO SOCIAL As relagdes entre 0 assistente social, 0 usuitio e seu objeto da pritica esto submetidos a limites organizacionais ¢ institucionais, e situados em um dado contexto hist6rico, Sua autonomia fica sujeita as relagdes de propriedade, saber e poder entre os atores; fica limitada pelo ponto de vista da racioualidade da organizagao, da legitimidade da instituigao e da articulagao “contextual” que determina o lugar do Servigo Social na divisto sociotécnica do trabalho. Desta forma, o assistente social se queixa que sas dificuldades esto ligadas a uma deficisncia tebrica no periodo de formagao , que no permite dar conta da complexidade da pratica, e desloca sua queixa para questdes técnicas. E freqiiente o aluno de Servico Social se queixar da falta de feamental para a realidade de seu estégio, porém a questo operacional no Servigo social é até privilegiada em termos de técnicas, pois as pega de varios campos de conhecimentos diferentes No cotidiano da pritica, junto as questdes emergentes, pode parecer ao assistente social que the falte técnica para exetcer sa profisstio. A questio & que, para aplicar qualquer técnica, o profissional esti submetido as normas organizacionais, a saberes institucionais e 20 QED. © assistente social critica o contexto histérico (a luta de classes), mas nao estuda concretamente as relagbes entre saber e poder e a micropolitica que se dé dentro de uma organizagao institucional, Toda pratiea profissional tem uma GD 0: GD ne - ns EEO ate, porn. © estudo da dimensao institucional da prética profissional: “Concretamente. evidencia-se um problema de formasao, ja que a representag@io implicita do campo profissional transmitida na escola, em geral, no corresponde as condigdes institucionais de fato impostas A pritiea”. (WEISSHAUPT, 1988: 108). REFERENCIAS ALBUQUERQUE, J. A. GUILHON. Insiituigao e poder: a andlise conereta das relagoes de poder nas instituigées. 2 ed. Rio de Janeiro: Edigdes Graal. 1986 WEISSHAUPT, Jean Robert. 4s fuuncées socioinstitucionais do servico social. Sao Paulo: Cortez. 1988.

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