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BENS E

NEGÓCIOS JURÍDICOS

Doutora em Direito Civil pela UERJ


Mestre em Direito Civil pela UERJ
Pós-graduada em Advocacia Pública pela UERJ
Pós-graduada em Direito da Medicina pela Universidade de Coimbra-PT
Advogada
EMENTA GERAL
DO SEMESTRE

Bens: acepções da palavra e conceitos


Classificação
Fato jurídico, ato jurídico e negócio jurídico
Negócio jurídico; classificação, pressupostos e requisitos.
Defeitos: vícios do consentimento e vícios sociais.
Modalidades.
Ineficácia e invalidade.
Prescrição e decadência.
REFERÊNCIAS:
AMARAL NETO. Francisco dos Santos. Direito civil: introdução. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.

FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: parte geral e LINDB - 16. ed. rev., ampl. e
atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2018.

GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 19 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: introdução ao direito civil: teoria geral de direito civil;
[revisão e atualização] Maria Celina Bodin de Moraes. - 32. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2019.

OLIVA, Milena Donato; TEPEDINO, Gustavo. Fundamentos do direito civil - volume 1: teoria geral do direito civil.
Editora: Forense, 2020.

SCHREIBER, Anderson; TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando; MELO, Marco Aurélio Bezerra de; DELGADO, Mário Luiz.
Código Civil Comentado, doutrina e jurisprudência. Editora Forense, 2019.

SCHREIBER, Anderson. Manual de direito civil contemporâneo. - São Paulo : Saraiva Educação, 2018.

TEPEDINO, Gustavo; Moraes, Maria Celina Bodin ; Barboza, Heloisa Helena. Código Civil Interpretado conforme a
Constituição da República, vol. IV. 1. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2014.

TEPEDINO, Gustavo. A Parte Geral do Novo Código Civil. Rio de Janeiro: Renovar.

GONÇALVES, T. R.. Novos bens: a realidade dos bens imateriais no Direito Privado. REVISTA DE DIREITO PRIVADO (SÃO
REFERÊNCIAS COMPLEMENTAR:

GONÇALVES, T. R.. Novos bens: a realidade dos bens imateriais no Direito


Privado. REVISTA DE DIREITO PRIVADO (SÃO PAULO), v. 100, p. 19-37, 2019.

ESTEVES, Rafael. Teoria dos bens: autonomia privada, essencialidade e


patrimônio mínimo.

OLIVA, Milena Donato, RENTERIA, Pablo. Patrimônio de afetação e patrimônio


mínimo. In Transformações no direito privado nos 30 anos da Constituição :
estudos em homenagem a Luiz Edson Fachin. Belo Horizonte : Fórum, 2019, p.
323-336.

LEAL, Livia Teixeira. Internet e morte do usuário [recurso eletrônico] :


necessária superação do paradigma da herança digital / Livia Teixeira Leal.
In Revista brasileira de direito civil [recurso eletrônico], v. 16, p. 181-197,
abr./jun. 2018.
Classificação - Generalidades
- Finalidade: facilitar a compreensão do instituto

Classificação adotada pelo Código Civil

i) bens considerados em si mesmos móveis ou imóveis - arts. 79 a 84


fungíveis ou infungíveis - art. 85
consumíveis ou inconsumíveis - art. 86
divisíveis ou indivisíveis - art. 87 a 88
singulares ou coletivos - art. 89 a 91

ii) bens reciprocamente principais ou acessórios - art. 92 a 97


considerados

iii) bens considerados em relação ao públicos ou privados - art. 98 a 103


sujeito
Bens corpóreos e incorpóreos
- Corpóreos
- Incorpóreos

- Classificação não prevista no CC, mas de grande importância prática.

- STJ - Súmula 228: É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do


direito autoral.
Bens imóveis
- Bens imóveis -
- “definem-se como sendo as coisas que não se podem
transportar, sem destruição, de um para outro lugar,
calcada num critério distintivo natural; não basta,
entretanto, a uma noção perfeita” - Caio Mário

- Os conceitos clássicos não englobam os imóveis por disposição legal, que


surgiram a partir de verdadeira criação jurídica
- Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar
natural ou artificialmente.
- Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:
- I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
- II - o direito à sucessão aberta.
Bens imóveis
- No CC/2002 não há referência aos bens imóveis por acessão intelectual, antes
tratados no art. 43, III, do CC/16

- CC/1916 - Art. 43. São bens imóveis:


- ...
- III. Tudo quanto no imóvel o proprietário mantiver intencionalmente empregado
em sua exploração industrial, aformoseamento, ou comodidade.

- CC/2002 - Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar
natural ou artificialmente.
- I Jornada de Direito Civil - Enunciado nº 11: Não persiste no novo sistema
legislativo a categoria dos bens imóveis por acessão intelectual, não obstante a
expressão "tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente", constante
da parte final do art. 79 do Código Civil.
Bens móveis
-
- CC - Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de
- movimento próprio, ou de remoção por força alheia,
- sem alteração da substância ou da destinação
- econômico-social. (ex: gado, automóveis, etc.)

CC - Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais:


I - as energias que tenham valor econômico; (ex: energia elétrica)
II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;
(ex: penhor)
III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.
Bens móveis
- Os direitos autorais - bens móveis

- Lei nº 9.610/1998.
- Art. 3º Os direitos autorais reputam-se, para os
efeitos legais, bens móveis.
- Direito de propriedade intelectual
- L. 9279/96, art. 5º

- ATENÇÃO

- Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem


empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa
qualidade os provenientes da demolição de algum prédio.

- Navios, aeronaves - embora sigam o regime da hipoteca (CC, art. 1473, VI eVII)
Bens fungíveis e infungíveis
- Tal distinção diz respeito à possibilidade de sua substituição

- Fungíveis
- Infungíveis
Bens consumíveis e inconsumíveis
- Dizem-se consumíveis os bens que são destruídos na sua substância
pelo uso normal, e não consumíveis aqueles cuja utilização não
atinge a sua integralidade. - Caio Mário

- CC - Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa


destruição imediata da própria substância, sendo também
considerados tais os destinados à alienação. (ex: alimentos, livro de
uma livraria - “destinados à alienação” - etc.)

- Carlos Roberto Gonçalves explica poder “o bem consumível de fato


tornar-se inconsumível pela vontade das partes, como um
comestível ou uma garrafa de bebida rara emprestados para uma
exposição (comodato ad pompam vel ostentationem), que devem
ser devolvidos”. É o caso do livro da livraria após ser comprado.
Bens divisíveis e indivisíveis
- CC - Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem
alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou
prejuízo do uso a que se destinam.
Bens divisíveis e indivisíveis
Origens da indivisibilidade:

1) por natureza;

2) por determinação legal

3) por vontade das partes

A importância da distinção centra-se na possibilidade de


cumprimento parcial das obrigações divisíveis ao contrário das
indivisíveis.
CC - Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não
for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.
Bens singulares e coletivos
Caio Mário
- Dizem-se singulares os bens quando, embora reunidos, consideram-se
de per si, independentemente dos demais (Código Civil, art. 89), e
coletivos ou universais, quando se encontram agregados em um todo.
Bens singulares e coletivos

Bens singulares i) simples

ii) compostos

Bens coletivos i) universalidades de fato (universitas facti)

ii) universalidades de direito


Bens principais e acessórios

Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou


concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.
- O acessório tem a mesma natureza do principal, o segue e
pertence, em regra, ao proprietário da principal.
- Regra geral: acessorium sequitur principale
- posse CC, art. 1209, obrigação de dar CC, art. 233, cessão de
crédito CC, art. 287
Bens acessórios
- ACESSÓRIOS:

Naturais - sem intervenção humana - ex. frutos da árvore


Industriais - esforço humano - ex. obras em geral
Civis - relação abstrata de direito - ex. juros em relação ao capital
Bens acessórios
Classificação dos bens acessórios:

i) os frutos; a) pendentes;
b) percebidos ou colhidos;
c) estantes;
d) percipiendos;
e) consumidos.

ii) os produtos;

iii) os rendimentos (que são os frutos civis);

iv) as benfeitorias - a) voluptuárias;


art. 96 CC b) úteis;
c) necessárias.
BENFEITORIAS
IMPORTÂNCIA DA DISTINÇÃO:
- Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das
benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não
lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e
poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias
necessárias e úteis.

APELAÇÃO CÍVEL. POSSE (BENS IMÓVEIS). BENFEITORIAS. ACESSÕES. INDENIZAÇÃO. O


possuidor de boa-fé tem o direito de retenção e de indenização pelas benfeitorias
necessárias e úteis (art. 1.219 do CCB), bem como pelas acessões artificiais. No caso
concreto, os autores estavam na posse de boa-fé do terreno, quando construíram a
casa de alvenaria, as grades e o pavimento. Assim, os autores possuem o direito de
serem indenizados pelos valores das obras que realizaram. Sentença reformada.
APELAÇÃO PROVIDA. (AC Nº 70076253236, Relator Desembargador Marco Antonio
Angelo. Órgão Julgador: Décima nona câmara cível do TJ-RS. Data do Julgamento:
26/04/2018)
PERTENÇAS
- Inovação do CC/2002: conceito de pertenças

- CC - Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes,
se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de
outro.

Caio Mário: “as pertenças não completam a coisa, mantendo sua autonomia e
podendo ser separadas sem que haja qualquer alteração na coisa (ex:utensílios
aratórios em relação à propriedade rural)”

Orlando Gomes: as pertenças são as coisas “destinadas a conversar ou facilitar o


uso das coisas principais, sem que destas sejam parte integrante”

Parte Integrante: Segundo Caio Mário: “as partes integrantes compõem


permanentemente a coisa”, ou seja, não podem ser juridicamente tratadas
separadamente (ex: as telhas, janelas e portas em relação à casa)
PERTENÇAS
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO DE CAMINHÃO, DADO EM GARANTIA FIDUCIÁRIA EM CONTRATO DE
EMPRÉSTIMO. PROCEDÊNCIA, DECORRENTE DO INADIMPLEMENTO. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DO EQUIPAMENTO DE
MONITORAMENTO ACOPLADO AO CAMINHÃO. PERTENÇA. RESTITUIÇÃO AO DEVEDOR FIDUCIÁRIO. NECESSIDADE.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Ainda que se aplique aos bens acessórios a máxima de direito, segundo a qual “o acessório segue o
principal”, o Código Civil conferiu tratamento distinto e específico às pertenças, as quais, embora tidas como bens acessórios, pois, destinadas, de
modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de um bem principal, sem dele fazer parte integrante, não seguem a sorte deste, salvo
se houver expressa manifestação de vontade nesse sentido, se a lei assim dispuser ou se, a partir das circunstâncias do caso, tal solução for a
indicada. 2. O equipamento de monitoramento acoplado ao caminhão consubstancia uma pertença, a qual atende, de modo duradouro, à finalidade
econômico-social do referido veículo, destinando-se a promover a sua localização e, assim, reduzir os riscos de perecimento produzidos por
eventuais furtos e roubos, a que, comumente, estão sujeitos os veículos utilizados para o transporte de mercadorias, caso dos autos. Trata-se,
indiscutivelmente, de "coisa ajudante" que atende ao uso do bem principal. Enquanto concebido como pertença, a destinação fática do
equipamento de monitoramento em servir o caminhão não lhe suprime a individualidade e autonomia — o que permite, facilmente, a sua retirada
—, tampouco exaure os direitos sobre ela incidentes, como o direito de propriedade, outros direitos reais ou o de posse. 2.1 O inadimplemento do
contrato de empréstimo para aquisição de caminhão dado em garantia, a despeito de importar na consolidação da propriedade do mencionado
veículo nas mãos do credor fiduciante, não conduz ao perdimento da pertença em favor deste. O equipamento de monitoramento,
independentemente do destino do caminhão, permanece com a propriedade de seu titular, o devedor fiduciário, ou em sua posse, a depender do
título que ostente, salvo se houver expressa manifestação de vontade nesse sentido, se a lei assim dispuser ou se, a partir das circunstâncias do
caso, tal solução for a indicada, exceções de que, no caso dos autos, não se cogita. 2.3 O contrato de financiamento de veículo, garantido por
alienação fiduciária, ao descrever o veículo, objeto da avença, não faz nenhuma referência à existência do aludido equipamento e, por consectário,
não poderia tecer consideração alguma quanto ao seu destino. Por sua vez, o auto de busca e apreensão, ao descrever o veículo, aponta a existência
do equipamento de monitoramento, o que, considerada a circunstância anterior, é suficiente para se chegar a compreensão de que foi o devedor
fiduciário o responsável por sua colocação no caminhão por ele financiado. 3. Recurso especial provido. (REsp No 1.667.227 - RS, Relator
Ministro Marco Aurélio Bellizze, Órgão Julgador T3 - Tereceira Turma. Data do julgamento: 26/06/2018.
Bens públicos e privados
Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald

- Bens públicos são aqueles, materiais ou imateriais, cujo titular é uma


pessoa jurídica de direito público (da administração direta, indireta,
fundacional ou autárquica) ou uma pessoa jurídica de direito privado
prestadora de serviço público, quando o referido bem estiver vinculado
à prestação desse serviço público.

- Arts. 98 a 103 do Código Civil de 2002.


Bens públicos e privados
Espécies de bens públicos:

i) bem de uso comum, constituindo categoria que


admite a utilização por qualquer pessoa, BENS DO
indiscriminadamente, a título gratuito ou DOMÍNIO
oneroso (CC, art. 99, I).Ex. praças PÚBLICO DO
ESTADO
ii) bens de uso especial (CC, art.99, II): bens
utilizados pelo próprio poder público para
instalações do próprio serviço público. Ex. prédio
que serve de escola.
BENS DO
iii) dominiais ou dominicais (CC, art. 99, III): bens
que integram o patrimônio disponível estatal.
DOMÍNIO
PRIVADO DO
ESTADO
Bens públicos e privados
- Os bens públicos não se submetem às regras do direito privado,
possuindo caracteres próprios:
- inalienabilidade;
- impenhorabilidade;
- imprescritibilidade.

- Com relação aos bens particulares ou privados, chega-se ao seu


conceito por exclusão: são aqueles que não pertencem ao domínio
público, mas sim à iniciativa privada (CC, art. 98).

- CC - Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes


às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são
particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
Bens disponíveis e indisponíveis
- Há três categorias de bens inalienáveis:

naturalmente indisponíveis: aqueles que, pela própria natureza, são


inábeis à apropriação particular;

legalmente indisponíveis: aqueles que, apropriáveis por natureza, não


podem ser objeto de comércio em razão da pendência de uma prescrição
de lei, que proíbe sua alienação;

bens que são inalienáveis pela vontade humana: em razão de atribuir a


lei este efeito à declaração do agente, que lhes imponha a cláusula de
inalienabilidade, temporária ou vitalícia.
Patrimônio Jurídico
- É a totalidade de bens dotados de economicidade pertencentes a um
titular, sejam corpóreos (casa, automóvel etc.) ou incorpóreos (direitos
autorais) - Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald

- Diferentes acepções para a expressão patrimônio:


- i) patrimônio global;
- ii) patrimônio ativo, que é subdividido em bruto e líquido.

- CC - Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo,


aos herdeiros legítimos e testamentários.
patrimônio global
Patrimônio de Afetação

Afetação do patrimônio: espécie de separação ou encargo sobre certos


bens do patrimônio,destinados a fim especial. Não sai do patrimônio,
mas fica vinculado a uma finalidade.

Incorporadoras imobiliárias

Ex. Lei nº 4.591/64, Lei nº 9.514/97.


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