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49 Quantica
49 Quantica
SOBRE O NASCIMENTO E
DESENVOLVIMENTO DA
MECÂNICA QUÂNTICA
Francisco Caruso & Enrico Predazzi
Introdução
∂S
H(q, p) + =0
∂t
quanto mais quente for o corpo. Já Wien foi mais longe ao establecer
que a distribuição espectral da densidade de energia é dada pela
seguinte equação:
uν = ν 3 F (ν/T ),
onde F é uma função apenas da razão entre a freqüência ν
e a temperatura T , que não pode ser determinada no âmbito
da termodinâmica. Pode–se mostrar que esta lei explica o fato
experimental de que a intensidade da radiação emitida é infinitamente
pequena para ondas de comprimento de onda muito pequenos ou
muito grandes, passando, portanto, por um comprimento máximo
λmáx. . De fato, vemos que um corpo aquecido fica rubro e nunca
chega a emitir luz violeta. Verificou–se ainda empiricamente que o
produto λmáx. × T é uma constante. Este fato é explicado pela lei
de Wien e é o motivo pelo qual ela é também conhecida por lei do
deslocamento, i.e., variando–se a temperatura do corpo negro o valor
de λmáx. varia no sentido inverso.
Como explicar teoricamente estas leis? A resposta correta
vem do trabalho de Planck e tem origem estatı́stica. Inicialmente
Planck concentra–se num modelo simples para o corpo radiante.
Imagina–o composto por vários osciladores harmônicos simples. Com
este modelo ele obtem uma simplificação da interpretação dos fatos
empı́ricos, sendo capaz de propor uma expressão para a função F ,
mas isto não é o suficiente como veremos agora.
A energia radiada por segundo (potência) de um oscilador
harmônico é dada pela conhecida lei de Larmor. Se o corpo negro está
em equilı́brio termodinâmico, podemos igualar esta potência àquela
fornecida ao oscilador por um campo de radiação com densidade de
energia espectral uν . Daı́ resulta a equação
8πν 2
uν = ²̄,
c3
onde c é a velocidade da luz, e ²̄ é a energia média de um oscilador.
Se esta média for calculada pelos métodos da estatı́stica clássica de
Boltzmann, teremos ²̄ = KT , onde K é a constante de Boltzmann.
Desta forma obterı́amos para a função F da lei de Wien a seguinte
expressão:
8πν 2 KT
F (ν/T ) = .
c3 ν3
LISHEP93 55
8πν 2 ²0
uν = .
c3 exp(²0 /KT ) − 1
Naturalmente, esta fórmula só pode ser compatı́vel com a lei
empı́rica de Wien se admitirmos que
²0 = hν
onde h é uma nova constante universal da Natureza, conhecida por
constante de Planck, que será de fundamental importância para
o desenvolvimento da Fı́sica Atômica e, mais tarde, da Mecânica
Quântica.
Esta idéia de quantum de energia de Planck foi utilizada,
com grande sucesso, na explicação do efeito fotoelétrico, no
cálculo dos calores especı́ficos dos sólidos, na descrição do efeito
Compton, dentre outras aplicações. Mas é através da genialidade
de Bohr que a constante de Planck vai transcender a descrição de
fenômenos luminosos e passará a desempenhar um papel igualmente
fundamental na estabilidade de matéria.
O Átomo do Século XX
h
E = hν; p = ,
λ
válidas para o fóton. Ora, o fato desta constante de Planck parecer
ser fundamental também para assegurar a estabilidade da matéria,
como queria Bohr, levou de Broglie a fazer a conjectura de que a
relação entre p e λ deveria valer também para uma partı́cula massiva
como o elétron. Com isto ele postulou a existência do que chamou
onda de matéria. Agora a dualidade onda–corpúsculo não é mais
uma prerrogativa da luz, mas também da matéria. É a unificação da
crise. Mas qual seria a equação diferencial desta onda de matéria? E
restava ainda o desafio de como aplicar as idéias de Bohr a sistemas
mais complicados do que o átomo de hidrogênio.
Esta crise vai ter duas soluções, cuja equivalência será
demonstrada um pouco mais tarde. É o surgimento da Mecânica
Quântica, uma nova teoria dinâmica para o microcosmo. Primeiro
nasce a chamada Mecânica das Matrizes, formulada por Heisenberg,
em 1925, e depois, em 1926, a Mecânica Ondulatória de Schrödinger
[6].
Segundo Dirac [7], a grande contribuição de Heisenberg é sua
idéia de que uma teoria fı́sica deve se basear em quantidades
intimamente relacionadas àquelas observáveis. Neste sentido,
Heisenberg afirma que uma órbita de Bohr não tem qualquer
significado fı́sico; o que têm significado são duas órbitas de Bohr.
O efeito prático desta convicção é que as grandezas fı́sicas passam a
ser descritas por matrizes, onde linhas e colunas estão associadas a
diferentes possı́veis estados.
Por outro lado, Schrödinger busca estabelecer uma equação
diferencial para a onda de L. de Broglie, que é a equação fundamental
da Mecânica Quântica:
∂ψ(~x, t)
Hψ(~x, t) = ih̄ ,
∂t
Bibliografia e Notas
[1] Phil. Mag. 6 S, vol. 2 (1901) pp. 1-2, Apud F. Cajori,
A History of Physics, revised edition, Macmillan Co., 1929.
Uma terceira nuvem foi mais tarde introduzida por Sommerfeld.
Cf. A. Sommerfeld, Thermodynamics and Statistical Mechanics,
Academic Press, New York, 1956, p. 233. Agradecemos a R.
Moreira Xavier a gentileza de ter-nos apontado estas referências.
[2] Uma exposição completa do problema é encontrada em M.
Planck, The Theory of Heat Radiation, Dover Publ., New York,
1991; para uma apresentação didática Cf. Max Born, Atomic
Physics, Blackie & Son, London, 1962; tradução portuguesa de
E. Namorado, Fı́sica Atómica, Fundação Calouste Gulbenkian,
Lisboa, 1965; uma abordagem histórica do problema do Corpo
Negro pode ser encontrada em T.S. Kuhn, Black–Body Theory
and the Quantum Discontinuity, 1894–1912, Claredon Press,
Oxford, 1978.
[3] F. Caruso, Dividindo o Indivisı́vel, p. 55 neste livro.
[4] G. Herzberg, Atomic Spectra and Atomic Structure, Dover, New
York, 1945.
[5] A tradução portuguesa dos três principais artigos de Bohr sobre
o seu modelo Atômico, precedido de uma ótima introdução
histórica, é encontrada em: N. Bohr, Sobre a Constituição
dos Átomos e Moléculas, segunda edição, Fundação Calouste
Gulbenkian, 1979.
[6] Para uma tradução em lı́ngua inglesa de vários artigos
fundamentais para o nascimento e desenvolvimento da Mecânica
Quântica cf. B.L. Van der Waerden, Sources of Quantum
Mechanics, Dover, New York, 1968.
[7] P.A.M. Dirac, “The Development of Quantum Mechanics”, in
Directions in Physics, editado por H. Hora e J.R. Shepanski, J.
Wiley & Sons, New York, 1978.
[8] M. Jammer, The Philosophy of Quantum Mechanics: the
Interpretations of Quantum Mechanics in Historical Perspective,
J. Wiley & Sons, New York, 1974; P.A.M. Dirac, The
Development of Quantum Theory, Gordon & Breach, New
York, 1971; H. Reichenbach, Philosophical Foundations of
Quantum Mechanics, Univ. of California Press, Berkeley, 1982;
J.A. Wheeler and W.H. Zurek (Eds.), Quantum Theory and
Measurement, Princeton Univ. Press, Princeton, 1983.