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Origem Dependente

A Lei Budista da Condicionalidade

Por

Venerável P.A. Payutto


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Conteúdo:
Introdução

1. Uma visão geral da Origem Dependente

Tipos de Origem Dependente encontrados nas escrituras

a. O princípio geral

b. O princípio em funcionamento

2. Interpretando a Origem Dependente (origem_dependente_2.php)

O significado básico (origem_dependente_2.php#T21)

3. O Homem e a Natureza (origem_dependente_3.php)

4. O formato padrão (origem_dependente_4.php)

Os principais fatores (origem_dependente_4.php#T41)

a. Ignorância e desejo-apego
(origem_dependente_4.php#T41a)

b. Formações e ser/existir
(origem_dependente_4.php#T41b)
:
c. Consciência até sensações e nascimento,
envelhecimento e morte
(origem_dependente_4.php#T41c)

5. Outras Interpretações (origem_dependente_5.php)

Definição preliminar (origem_dependente_5.php#T51)

Como os elos se conectam (origem_dependente_5.php#T52)

Exemplos (origem_dependente_5.php#T53)

Um exemplo da Origem Dependente na vida cotidiana


(origem_dependente_5.php#T54)

6. A Natureza das Contaminações (origem_dependente_6.php)

7. A Origem Dependente na Sociedade (origem_dependente_7.php)

8. O Ensinamento do Meio (origem_dependente_8.php)

9. Rompendo o Ciclo (origem_dependente_9.php)

Apêndice (origem_dependente_10.php)

Uma nota sobre como interpretar o princípio da Origem


Dependente (origem_dependente_10.php#T1)

Nascimento e morte no momento presente


(origem_dependente_10.php#T2)

A Origem Dependente no Abhidhamma


(origem_dependente_10.php#T3)

Um problema com a palavra “nirodha”


(origem_dependente_10.php#T4)

Introdução

O ensinamento da interdependência causal é o princípio Budista mais


importante. Ele descreve a lei da natureza existente como o curso natural
das coisas. O Buda não era um emissário de mandamentos divinos, mas o
descobridor desse princípio da natureza e o proclamador dessa verdade
para o mundo.

A progressão de causas e condições é a realidade que se aplica a todas as


coisas desde o meio ambiente natural, que é uma condição física, externa,
até os eventos das sociedades humanas, os princípios éticos, os eventos
:
da vida e a felicidade e sofrimento que se manifestam nas nossas mentes.
Esses sistemas de relação causal são parte da mesma verdade da
natureza. Nossa felicidade dentro desse sistema natural depende de
termos o conhecimento de como ele funciona e de agirmos corretamente
dentro dele ao abordarmos os problemas nos níveis pessoal, social e
ambiental. Pelo fato de todas as coisas estarem interconectadas e
afetarem umas às outras, o êxito em lidar com o mundo consiste em criar
harmonia dentro dele.

Costuma-se dizer que as ciências, que evoluíram junto com a civilização


humana e que influenciam as nossas vidas de maneira tão profunda na
atualidade, estão baseadas na razão e na racionalidade. O seu repositório
de conhecimentos foi acumulado através da interação com essas leis da
condicionalidade. Mas a busca humana pelo conhecimento nos campos da
ciência moderna possui três características notáveis: primeiro, a busca
pelo conhecimento nessas ciências e a aplicação desse conhecimento
estão separadas em categorias distintas. Cada ramo da ciência é distinto
dos demais. Segundo, os seres humanos nas civilizações atuais acreditam
que a lei da condicionalidade se aplica apenas ao mundo físico, não ao
mundo mental ou aos valores abstratos, como por exemplo a ética. Isso
pode ser observado até mesmo no estudo da psicologia, que tende a olhar
para o processo de causa e efeito apenas em relação aos fenômenos
físicos. Terceiro, a aplicação do conhecimento científico (das leis da
condicionalidade) é dirigida exclusivamente para satisfazer interesses
egoístas. Nosso relacionamento com o meio ambiente, por exemplo, está
centrado no esforço de extrair dele tantos recursos quanto possível, com
pouca ou nenhuma consideração para com as conseqüências.

Por trás de tudo isso, tendemos a interpretar conceitos como a felicidade,


liberdade, direitos, independência e paz, de modo a preservar interesses
próprios e abusar dos interesses dos outros. Mesmo quando o controle
sobre outras pessoas passa a ser visto como uma ação censurável, essa
tendência agressiva passa então a ser dirigida em outras direções, tal
como o meio ambiente. Agora que estamos começando a compreender
que é impossível na realidade controlar outras pessoas ou outras coisas, o
único sentido que resta na vida é preservar os interesses próprios e
proteger os direitos territoriais. Ao vivermos dessa maneira, com essa
compreensão falha e crenças equivocadas, colocamos o meio ambiente em
desequilíbrio, a sociedade entra em convulsão e a vida humana fica
desorientada, tanto física como mentalmente. O mundo parece estar
repleto de conflito e sofrimento.

Todas as facetas da natureza – o mundo físico e o mundo humano, o


mundo das condições (dhamma) e o mundo das ações (kamma), o mundo
material e o mundo mental – estão conectados e inter-relacionados, eles
não podem ser separados. A desordem e a anormalidade num setor irão
:
afetar os outros setores. Se quisermos viver em paz, temos que aprender
a viver em harmonia com todas as esferas da natureza, tanto internas
como externas, o individual e o social, o físico e o mental, o material e o
imaterial.

Para criar a verdadeira felicidade é da maior importância que não somente


reflitamos sobre a inter-relação de todas as coisas na natureza, mas que
também nos vejamos com clareza como um sistema de relações causais,
como parte da natureza, tornando-nos conscientes primeiro dos fatores
mentais internos, em seguida dos fatores das nossas experiências de vida,
da sociedade e por fim do mundo à nossa volta. É por isso que em todos
os sistemas de relação causal baseados na lei “Com o surgimento disso,
aquilo surge; Com a cessação disto, aquilo cessa,” os ensinamentos
Budistas principiam e sempre enfatizam os fatores envolvidos na criação
do sofrimento situados na consciência do indivíduo – “porque há
ignorância, surgem as formações.” Uma vez que esse sistema de relações
causais seja compreendido no nível interno, estaremos então em posição
de ver as conexões entre esses fatores internos e as relações causais na
sociedade e no meio ambiente natural. Essa é a abordagem adotada neste
livro.

Gostaria de expressar o meu reconhecimento à Buddhadhamma


Foundation, a Khun Yongyuth Thanapura, que assumiu a responsabilidade
de traduzir este livro para o Inglês e também a Bruce Evans que o
traduziu tanto com o coração como com a mente, fazendo um número de
adaptações de forma a converter um capítulo de um livro extenso em um
conjunto abrangente.

Que o conjunto de intenções benéficas de todos aqueles envolvidos na


produção deste livro sirva para desempenhar um pequeno papel na
criação do bem-estar, tanto individual como social, no mundo de uma
forma geral.

P. A. Payutto

1. Uma visão geral da Origem Dependente

O princípio da Origem Dependente é um dos ensinamentos Budistas mais


importantes e único. Em muitos trechos do Cânone em Pali, ele foi
descrito pelo Buda como uma lei da natureza, uma verdade fundamental
que existe independente do surgimento de seres iluminados:
:
“Havendo ou não o surgimento de Tathagatas essa propriedade se
mantém – essa regularidade do Dhamma, essa ordenação do Dhamma,
essa condicionalidade isto/aquilo.

“O Tathagata desperta de forma direta para isso, penetra isso.


Despertando de forma direta e penetrando isso, ele o explica, ensina,
proclama, estabelece, revela, analisa, elucida. E ele diz,

‘Vejam, bhikkhus, do nascimento como condição, o envelhecimento e


morte [surgem].

“Portanto, bhikkhus, a realidade disso, a infalibilidade, o que não é de


outra forma, a condicionalidade isto/aquilo: a isto se chama origem
dependente.”[SN.II.25](SN.XII.20 (../sutta/SNXII.20.php))

Os excertos a seguir indicam a importância que o Buda atribuía ao


princípio da Origem Dependente:

“Quem vê a origem dependente vê o Dhamma; quem vê o Dhamma vê


a origem dependente.” [MN.I.191](MN 28 (../sutta/MN28.php))

***

“Ao invés disso, bhikkhus, o nobre discípulo bem instruído tem


conhecimento disso que é independente dos outros: ‘Quando não existe
isso, aquilo não existe; com a cessação disso, aquilo cessa. Quando não
há ignorância, as formações volitivas não surgem. Quando não há
formações volitivas, a consciência não surge. Quando não há
consciência, a mentalidade-materialidade (nome e forma) não surge.
Quando não há nascimento, o envelhecimento e morte não surgem.’ Ele
compreende assim : ‘Desse modo o mundo cessa.’”

“Bhikkhus, quando um nobre discípulo assim compreende como na


verdade é a origem e a cessação do mundo, ele é chamado um nobre
discípulo com o entendimento perfeito, com a visão perfeita; ele realizou
o verdadeiro Dhamma, ele vê esse verdadeiro Dhamma, ele possui o
conhecimento de um treinando, que entrou na correnteza do Dhamma,
um nobre com a sabedoria penetrante que está às portas do Imortal.”
[SN.II.79] (SN XII.49 (../sutta/SNXII.49.php))

***

“Bhikkhus, aqueles contemplativos ou brâmanes que não compreendem


o envelhecimento e morte, a sua origem, a sua cessação, e o caminho
que conduz à sua cessação; que não compreendem o nascimento ...
ser/existir ... apego ... desejo ... sensação ... contato ... seis bases dos
sentidos .... mentalidade-materialidade (nome e forma) ... consciência
... formações volitivas, a sua origem, a sua cessação, e o caminho que
conduz à sua cessação: esses eu não considero serem contemplativos
dentre contemplativos ou brâmanes dentre brâmanes, e esses
:
veneráveis não irão, realizando por si mesmos através do conhecimento
direto, nesta mesma vida entrar e permanecer no objetivo da vida
contemplativa ou no objetivo da vida brâmane. [SN.XII.13
(../sutta/SNXII.13.php)]

Nesta conversa com o Venerável Ananda, o Buda o previne para não


subestimar a profundidade do princípio da Origem Dependente:

“É maravilhoso e admirável, venerável senhor, que essa origem


dependente seja tão profunda e difícil de ser vista, no entanto para mim
ela parece tão simples, clara como a luz do dia”

“Não diga isso, Ananda, não diga isso. Esta origem dependente é um
ensinamento profundo, difícil de ser visto. É por não entender, não
compreender e não penetrar de forma completa este ensinamento que
os seres ficam confusos como um novelo embaraçado, como uma corda
embolada cheia de nós, como juncos enredados, e não conseguem
escapar da transmigração, dos planos de miséria, dos destinos ruins,
dos mundos inferiores." [D.ll.92](DN15 (../sutta/DN15.php))

Quem já estudou a vida do Buda poderá se lembrar das suas ponderações


pouco depois da Iluminação, quando ele ainda não havia começado e
expor os ensinamentos. Naquela ocasião, o Buda relutava em ensinar, tal
como relatado nas Escrituras:

“Eu pensei: ‘Este Dhamma que eu alcancei é profundo, difícil de ver e


difícil de compreender, pacífico e sublime, que não pode ser alcançado
através do mero raciocínio, sutil, para ser experimentado pelos sábios.

“Mas, esta geração se delicia com a adesão, está excitada com a adesão,
desfruta da adesão. É difícil para uma geração como esta ver esta
verdade, isto é, a condicionalidade isto/aquilo e a origem dependente. E
também é difícil de ver esta verdade, isto é, o cessar de todas as
formações, o abandono de todas aquisições, o fim do desejo, desapego,
cessação, Nibbana. Se eu fosse ensinar o Dhamma, os outros não me
entenderiam e isso seria fatigante, problemático para mim .’.’” [Vin,I.4;
MN.I.167] (MN 26 (../sutta/MN26.php))

Esse trecho menciona dois ensinamentos, o princípio da Origem


Dependente e Nibbana, enfatizando tanto a sua profundidade como
também a sua importância dentro da iluminação do Buda e dos seus
ensinamentos.

Tipos de Origem Dependente encontrados nas escrituras

As referências textuais que lidam com o princípio da Origem Dependente


podem ser divididas em duas categorias principais. Primeiro, aquelas que
descrevem o princípio geral e segundo, aquelas que especificam os fatores
:
constituintes ajuntados numa cadeia. O primeiro formato é com freqüência
usado como um esboço geral precedendo o último. O último, encontrado
com mais freqüência, é na maior parte das vezes expresso por si só.

A última descrição pode ser considerada como a manifestação prática do


princípio da Origem Dependente, demonstrando como o processo natural
segue o princípio geral.

Cada uma dessas duas categorias principais pode além disso ser dividida
em dois membros, o primeiro mostrando o processo de origem, o
segundo, o processo de cessação. O primeiro membro, mostrando o
processo de origem, é chamado de samudayavara. É a seqüência no seu
modo para diante e corresponde à segunda das Quatro Nobres Verdades,
a causa do sofrimento (dukkha samudaya). O segundo membro,
mostrando o processo de cessação, é chamado nirodhavara. É a seqüência
no seu modo reverso e corresponde à terceira Nobre Verdade, a cessação
do sofrimento (dukkha nirodha).

a. O princípio geral

Em essência, este princípio corresponde àquilo que em Pali é conhecido


como idappaccayata, o princípio da condicionalidade.

A. Imasmim sati idam hoti: Quando existe isso, aquilo existe.

Imasuppada idam upajjati: Com o surgimento disso, aquilo surge.

B. Imasmim asati idam na hoti: Quando não existe isso, aquilo também
não existe.

Imassa nirodha idam nirujjhati: Com a cessação disto, aquilo cessa.

b. O princípio em funcionamento

Avijja-paccaya sankhara
Da ignorância como condição, as formações volitivas[surgem]

Sankhara-paccaya viññanam
Das formações volitivas como condição, a consciência.

Viññana-paccaya namarupam
Da consciência como condição, a mentalidade-materialidade (nome e
forma).

Namarupa-paccaya salayatanam
Da mentalidade-materialidade (nome e forma) como condição, as seis
bases dos sentidos.

Salayatana-paccaya phasso
Das seis bases dos sentidos como condição, o contato.

Phassa-paccaya vedana
Do contato como condição, a sensação
:
Vedana-paccaya tanha
Da sensação como condição, o desejo.

Tanha-paccaya upadanam
Do desejo como condição, o apego.

Upadana-paccaya bhavo
Do apego como condição, o ser/existir.

Bhava-paccaya jati
Do ser/existir como condição, o nascimento.

Jati-paccaya jaramaranam
Do nascimento como condição, então o envelhecimento e morte,

Soka-parideva-dukkha-domanassupayasa sambhavan'ti
tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero surgem.

Evametassa kevalassa dukkhakkhandhassa samudayo hoti


Essa é a origem de toda essa massa de sofrimento.

Avijjaya tveva asesa-viraga nirodha sankhara-nirodho


Do desaparecimento e cessação sem deixar vestígios dessa mesma
ignorância, cessam as formações volitivas.

Sankhara-nirodha viññana-nirodho
Da cessação das formações volitivas, cessa a consciência.

Viññana-nirodha namarupa-nirodho
Da cessação da consciência, cessa a mentalidade-materialidade (nome e
forma).

Namarupa-nirodha salayatana-nirodho
Da cessação da mentalidade-materialidade (nome e forma), cessam as
seis bases dos sentidos.

Salayatana-nirodha phassa-nirodho
Da cessação das seis bases dos sentidos, cessa o contato.

Phassa-nirodha vedana-nirodho
Da cessação do contato, cessa a sensação.

Vedana-nirodha tanha-nirodho
Da cessação da sensação, cessa o desejo.

Tanha-nirodha upadana-nirodho
Da cessação do desejo, cessa o apego.

Upadana-nirodha bhava-nirodho
Da cessação do apego, cessa o ser/existir.

Bhava-nirodha jati-nirodho
Da cessação do ser/existir, cessa o nascimento.
:
Jati-nirodha jaramaranam
Da cessação do nascimento, então, o envelhecimento e morte,

Soka-parideva-dukkha-domanassupayasa nirujjhan 'ti


tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero cessam.

Evametassa kevalassa dukkhakkhandhassa nirodho hoti


Essa é a cessação de toda essa massa de sofrimento. [Vin.I.I-3;
SN.II.l,65] (SN XII.2 (../sutta/SNXII.2.php))

Observe que este formato trata o princípio da Origem Dependente como o


processo do surgimento e cessação do sofrimento. Esse é o fraseado mais
comumente encontrado nos textos. Em alguns lugares, ele é apresentado
como o surgimento e a cessação do mundo, usando as palavras em Pali,
ayam kho bhikkhave lokassa samudayo – “Essa, bhikkhus, é a origem do
mundo,” e ayam kho bhikkhave lokassa atthangamo – “Esse, bhikkhus, é
o fim do mundo” [SN.II.73] (SN.XII.44 (../sutta/SNXII.44.php)); ou
emamayam loko samudayati – “Assim este mundo surge;” e emamayam
loko nirujjhati – “Assim este mundo cessa” [SN.II.78] (SN XII.49). Ambos
fraseados têm na verdade o mesmo significado, o que ficará claro uma vez
que os termos sejam definidos.

Nos textos do Abhidhamma e nos Comentários o princípio da Origem


Dependente também é conhecido como paccayakara, referindo-se à
natureza interdependente das coisas.

O formato ampliado, mostrado acima, contém doze fatores ligados de


forma interdependente como uma cadeia. Não possui início nem fim. A
colocação da ignorância no início não indica que esta seja a Primeira
Causa, ou Gênesis, de todas as coisas. A ignorância é colocada no início
apenas para efeito de visibilidade, detendo o ciclo e estabelecendo um
ponto de início no ponto considerado mais prático. Somos na verdade
avisados a não tomar a ignorância como a Primeira Causa com a seguinte
descrição do surgimento condicionado da ignorância - Asava-samudaya
avijja-samudayo, asava-nirodha avijja-nirodho – a ignorância surge com o
surgimento das impurezas e cessa com a cessação destas. [MN.I.55](MN
10 (../sutta/MN10.php))

Os doze elos do formato padrão do princípio da Origem Dependente são


contados apenas da ignorância até o envelhecimento e morte. Quanto à
‘tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero’, esses são na verdade
subprodutos do envelhecimento e morte, para quem possua impurezas
(asava) e contaminações (kilesas), que se tornam o ‘fertilizante’ para o
futuro surgimento de impurezas e por conseqüência da ignorância, que
mais uma vez gira o ciclo.

O Buda nem sempre descrevia o ciclo de Origem Dependente em um


formato fixo (do começo ao fim). O formato ampliado era empregado nos
casos em que ele estava explicando o princípio de forma geral, mas
:
quando ele estava abordando um problema em particular, com freqüência
ele aplicava o formato em ordem reversa, assim: envelhecimento e morte
<= nascimento <= ser/existir <= apego <= desejo <= sensação <=
contato <= seis bases dos sentidos <= mentalidade-materialidade (nome
e forma) <= consciência <= formações <= ignorância [SN.II.5-11 ,81]
(SN.XII.20 (../sutta/SNXII.20.php), XII.65
(../sutta/SNXII.65.php)). Em outras descrições ele poderia começar
num dos fatores intermediários, dependendo do problema em questão. Por
exemplo, ele poderia começar com o nascimento (jati) [SN.II.52]
(SN.XII.68 (../sutta/SNXII.68.php)), sensação (vedana) [MN.I.266]
(MN 38 (../sutta/MN38.php)), ou consciência (viññana) [SN.II.77]
(SN.XII.44 (../sutta/SNXII.44.php)), seguindo os passos para diante
até envelhecimento e morte (jaramarana), ou regressando para chegar na
ignorância (avijja). Ou ele poderia começar com um fator totalmente
distinto dos doze elos, que depois era inserido na cadeia da Origem
Dependente.

Um outro ponto digno de menção é que a origem dependente desses elos


não tem o mesmo significado de ‘ser causado por’ como tal. Os fatores
determinantes que fazem com que uma árvore cresça, por exemplo,
incluem não somente a semente, mas também o solo, a umidade, o
fertilizante, a temperatura do ar e assim por diante. Esses são todos os
fatores ‘determinantes’. Além disso, ser um fator determinante não
necessariamente implica uma ordem seqüencial no tempo. Por exemplo,
no caso da árvore, os vários fatores determinantes, como a umidade, a
temperatura, o solo e assim por diante, precisam existir em conjunto, não
em seqüência, para que a árvore se beneficie. Além disso, alguns fatores
determinantes são interdependentes, cada um condicionando a existência
do outro, como por exemplo, um ovo é uma condição para uma galinha,
enquanto que uma galinha é uma condição para um ovo.

2. Interpretando a Origem Dependente


(origem_dependente_2.php)

Revisado: 19 Setembro 2009


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