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PROCESSO Nº : 931-8/2019(AUTOS DIGITAIS)

PRINCIPAL : INSTITUTO MUNICIPAL DE PREVIDENCIA SOCIAL DOS SERVIDORES


DE TANGARÁ DA SERRA
INTERESSADA : MARIA APARECIDA ALVES DE LIMA
CARGO : PROFESSOR DOS ANOS INICIAIS
ASSUNTO : APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO
RELATOR : CONSELHEIRO INTERINO JOÃO BATISTA DE CAMARGO JUNIOR

PARECER Nº 825/2019

APOSENTADORIA VOLUNTÁRIA POR TEMPO DE


CONTRIBUIÇÃO. INSTITUTO MUNICIPAL DE PREVIDENCIA
SOCIAL DOS SERVIDORES DE TANGARÁ DA SERRA.
APOSENTADORIA EM CARGO NO QUAL A BENEFICIÁRIA
FOI INVESTIDA POR MEIO DE TRANSPOSIÇÃO. VIOLAÇÃO
À REGRA DE CONCURSO PÚBLICO. SITUAÇÃO
INCONSTITUCIONAL QUE NÃO SE CONSOLIDA PELO
TRANSCURSO DO TEMPO. PARECER DO MINISTÉRIO
PÚBLICO DE CONTAS PELA DENEGAÇÃO DO REGISTRO,
BEM COMO POR DETERMINAÇÃO.

1. RELATÓRIO

1. Tratam os autos da apuração da legalidade, para fins de registro, de


ato que concedeu aposentadoria por por tempo de contribuição, com proventos
integrais, à Sra. Maria Aparecida Alves de Lima, RG nº 1582600 SSP/MT, CPF nº
460.313.751-68, no cargo de Professor dos Anos Iniciais – SIEF, classe F, Nível III, com
carga horária de 40 horas, lotada na Secretaria Municipal Saúde de Tangará da Serra.
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2. Mediante o relatório técnico preliminar1, a equipe, em análise da
Portaria nº 33/2018 e dos documentos que lastrearam o ato concessório, apurou que a
aposentadoria deu-se em cargo diverso daquele no qual se deu o provimento
originário, restando configurada transposição irregular de cargos efetivada pela
Portaria nº 117/GP/93, datada de 01/10/1993.

3. Sendo assim, a unidade instrutiva opinou pela denegação do registro


da Portaria nº 33/2018, que concedeu aposentadoria à Sra. Maria Aparecida Alves de
Lima.

4. Por fim, vieram os autos ao Ministério Público de Contas para


manifestação.

É o relatório, no que necessário.

Segue a fundamentação.

2. FUNDAMENTAÇÃO

2.1. Introdução

5. A Constituição da República Federativa do Brasil conferiu ao Tribunais


de Contas da União a competência para apreciar, para fins de registro, a legalidade
dos atos de concessão de aposentadorias, reformas e pensões na Administração
Direta e Indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público,
ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do Ato
Concessório, art. 71, III, da Constituição Federal. Tal competência estende-se aos
Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais de
Contas dos Municípios, por força do art. 75, da Constituição Federal.

6. A referida competência consiste em ato de fiscalização promovido pelo


controle externo, por meio do qual os Tribunais de Contas analisam a juridicidade e
probidade dos encargos suportados pelo Erário, chancelando a portaria, por natureza

1 Doc. digital nº 38963/2019.


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complexo, que reconheceu o direito à obtenção da aposentadoria.

7. Contudo, para que seja concedido tal benefício, devem ser


preenchidos os requisitos constitucionais, sob pena de anulação da portaria que o
deferiu. Nesse sentido, indispensável manifestação do Ministério Público de Contas
como fiscal da ordem jurídica.

2.2. Da Análise do Mérito

8. Para que seja possível deferir o pleito de aposentadoria, o beneficiário


deve preencher os requisitos constitucionais pertinentes. No caso em tela, como se
trata de Aposentadoria Voluntária por Tempo de Contribuição, com proventos integrais,
conferido à ocupante de cargo de professor na educação infantil, de nível fundamental
ou de nível médio, é preciso observar os ditames do art. 40, § 1º, III, “a” da
Constituição da República, bem como do seu §5º, que assim versam:

§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata


este artigo serão aposentados, calculados os seus proventos a partir dos
valores fixados na forma dos §§ 3º e 17: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 41, 19.12.2003)

III - voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de dez anos de


efetivo exercício no serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que
se dará a aposentadoria, observadas as seguintes condições: (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e


cinquenta e cinco anos de idade e trinta de contribuição, se mulher;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
(…)
§ 5º Os requisitos de idade e de tempo de contribuição serão reduzidos
em cinco anos, em relação ao disposto no § 1º, III, "a", para o professor
que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de
magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

9. Outrossim, para se aposentar com proventos integrais, é complementar


de tais exigências aquelas previstas no art. 3º da Emenda Constitucional nº 47 de 5 de
julho de 2005, cuja redação é a seguinte:

Art. 3º Ressalvado o direito de opção à aposentadoria pelas normas


estabelecidas pelo art. 40 da Constituição Federal ou pelas regras
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estabelecidas pelos arts. 2º e 6º da Emenda Constitucional nº 41, de
2003, o servidor da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, que tenha ingressado
no serviço público até 16 de dezembro de 1998 poderá aposentar-se com
proventos integrais, desde que preencha, cumulativamente, as seguintes
condições:
I - trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de
contribuição, se mulher;
II - vinte e cinco anos de efetivo exercício no serviço público, quinze anos
de carreira e cinco anos no cargo em que se der a aposentadoria;
III - idade mínima resultante da redução, relativamente aos limites do
art. 40, § 1º, inciso III, alínea "a", da Constituição Federal, de um ano de
idade para cada ano de contribuição que exceder a condição prevista no
inciso I do caput deste artigo.
Parágrafo único. Aplica-se ao valor dos proventos de aposentadorias
concedidas com base neste artigo o disposto no art. 7º da Emenda
Constitucional nº 41, de 2003, observando-se igual critério de revisão às
pensões derivadas dos proventos de servidores falecidos que tenham se
aposentado em conformidade com este artigo. (grifou-se)

10. Consoante relatado, a equipe de auditoria detectou irregularidade no


enquadramento da Sra. Maria Aparecida Alves de Lima, especificamente diante do
fato de que esta servidora tomou posse no cargo de Monitor I a IV mediante concurso
público em 24/02/1992, tendo sido transposta para o cargo de Professora Normalista,
através de Concurso Público Interno realizado em 15/09/1993, e homologado pelo
Decreto 66/GP/93.

11. Segundo a equipe, tal fato contraria entendimento do Supremo


Tribunal Federal consubstanciado nos seguintes julgados (grifos nossos):

ADIN n. 837-4/DF
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Formas de provimento
derivado. Inconstitucionalidade. - Tendo sido editado o Plano de
Classificação dos Cargos do Poder Judiciário posteriormente à
propositura desta ação direta, ficou ela prejudicada quanto aos
servidores desse Poder.
- No mais, esta Corte, a partir do julgamento da ADIN 231, firmou o
entendimento de que são inconstitucionais as formas de provimento
derivado representadas pela ascensão ou acesso, transferência e
aproveitamento no tocante a cargos ou empregos públicos. Outros
precedentes: ADIN 245 e ADIN 97.
- Inconstitucionalidade, no que concerne às normas da Lei n° 8.112/90,
do inciso III do artigo 8o; das expressões ascensão e acesso no parágrafo
único do artigo 10; das expressões acesso e ascensão no § 4° do artigo
13; das expressões ou ascensão e ou ascender no artigo 17; e do inciso
IV do artigo 33. Ação conhecida em parte, e nessa parte julgada
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procedente para declarar a inconstitucionalidade dos incisos e das
expressões acima referidos.

CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO: PROVIMENTO DERIVADO:


INCONSTITUCIONALIDADE: EFEITO EX NUNC. PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ E
DA SEGURANÇA JURÍDICA. I. - A Constituição de 1988 instituiu o concurso
público como forma de acesso aos cargos públicos. CF, art. 37, II. Pedido
de desconstituição de ato administrativo que deferiu, mediante concurso
interno, a progressão de servidores públicos. Acontece que, à época dos
fatos 1987 a 1992 , o entendimento a respeito do tema não era pacífico,
certo que, apenas em 17.02.s1993, é que o Supremo Tribunal Federal
suspendeu, com efeito ex nunc, a eficácia do art. 8º, III; art. 10, parágrafo
único; art. 13, § 4º; art. 17 e art. 33, IV, da Lei 8.112, de 1990, dispositivos
esses que foram declarados inconstitucionais em 27.8.1998: ADI 837/DF,
Relator o Ministro Moreira Alves, "DJ" de 25.6.1999. II. - Os princípios da
boa-fé e da segurança jurídica autorizam a adoção do efeito ex nunc
para a decisão que decreta a inconstitucionalidade. Ademais, os
prejuízos que adviriam para a Administração seriam maiores que
eventuais vantagens do desfazimento dos atos administrativos. III. -
Precedentes do Supremo Tribunal Federal. IV. - RE conhecido, mas não
provido. (STF - RE: 442683 RS, Relator: CARLOS VELLOSO, Data de
Julgamento: 13/12/2005, Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 24-03-
2006 PP-00055 EMENT VOL-02226-04 PP-00814 LEXSTF v. 28, n. 330,
2006, p. 282-299).

12. O Ministério Público de Contas entende acertado o posicionamento da


equipe de auditoria.

13. É de se asseverar que exigência de concurso público para a investidura


em cargos e empregos públicos, em todos os níveis político-administrativos da
Federação, configura mandamento constitucional, que somente pode ser
excepcionado em situações especialíssimas apontadas no próprio texto magno, a
exemplo do que ocorre com as contratações temporárias e com os cargos em
comissão.

14. A matéria é pacificada pela jurisprudência do STF por meio da Súmula


nº 685, corroborada pela Súmula Vinculante nº 43, assim concebida:

É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao


servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público
destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na
qual anteriormente investido.

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15. Vários são os julgados2 da Suprema Corte em que resta claro o
entendimento de que há violação à ordem constitucional a investidura resultante da
transformação ou transposição de cargos e funções pública (grifos nossos):

No caso, verifico que o Tribunal de origem, com base nas provas dos
autos, consignou ter havido provimento derivado de cargo público, o
que seria incompatível com a atual ordem constitucional. (...) Nesse
contexto, vale ressaltar que esta Corte, por meio de julgamento da ADI
837, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 25.6.1999, reafirmou o entendimento
exarado na ADI 231, no sentido de que são inconstitucionais as formas
de provimento derivado representadas pela ascensão ou acesso,
transferência e aproveitamento no tocante a cargos ou empregos
públicos. (...) O Tribunal de origem, portanto, ao assentar a
inconstitucionalidade da transposição de cargos no caso, na modalidade
de provimento derivado mediante acesso, por violação ao princípio do
concurso público, decidiu em conformidade com a jurisprudência
pacificada deste Supremo Tribunal Federal ao indeferir a possibilidade
de evolução salarial no cargo atualmente ocupado.
[ARE 1.183.394, rel. min. Gilmar Mendes, dec. monocrática, j. 1º-2-2019,
DJE 23 de 6-2-2019.]

Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Direito


Administrativo. 3. Admissão, como empregada pública, anterior à
CF/1988. Inconstitucionalidade da Lei Estadual 4.546/92. ADI 982.
Ascensão funcional. Impossibilidade. Nulidade da Portaria que a instituiu.
Súmula Vinculante 43. 4. Situações inconstitucionais não se consolidam
pelo transcurso do tempo. 5. Ausência de argumentos capazes de
infirmar a decisão agravada. 6. Negativa de provimento ao agravo
regimental.
[ARE 943.787 AgR, rel. min. Gilmar Mendes, 2ª T, j. 6-11-2018, DJE 250
de 23-11-2018.]

19. Outro ponto que evidencia a plausibilidade jurídica do pedido refere-


se à aparente inconstitucionalidade do art. 3º da Emenda Constitucional
estadual impugnada. Em síntese, os incisos do art. 3º da EC nº 50/2014
realizam transformação de cargos, concedem equiparação
remuneratória entre cargos de carreiras distintas e determinam o direito
a paridade de proventos de aposentadoria e pensão dos cargos
transformados. Todas essas medidas representam possíveis violações à
regra do concurso público (art. 37, II, c/c art. 132, CF/1988), à vedação
de equiparação ou vinculação remuneratória entre cargos públicos
diversos (art. 37, XIII, CF/1988) e aos critérios de fixação remuneratória
dos servidores públicos (art. 39, §1º, CF/1988). 20. Quanto a essa
questão, o Supremo Tribunal Federal tem firme entendimento no sentido
de que não é permitida a transformação de cargo do titular de
determinada investidura em cargo diverso, tendo em vista que isso
ofende a regra do concurso público e seu consectário, o princípio da
impessoalidade. (...) Esse entendimento foi, inclusive, consolidado pelo

2 http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=2348 . Acesso em 21/03/2019.


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enunciado de Súmula 685/STF, convertido na Súmula Vinculante 43,
(...).
[ADI 5.215 MC, rel. min. Roberto Barroso, dec. monocrática, j. 19-12-
2017, DJE 18 de 1º-2-2018.]

A Suprema Corte, ao interpretar o disposto do art. 37, II, da Carta


Republicana, assentou que o provimento aos cargos públicos somente
se dá através de concurso. Todavia, foram criadas diversas fórmulas
para superar essa exigência, posteriormente declaradas
inconstitucionais pelo STF. A jurisprudência pacífica deste Tribunal
excetua apenas aquelas situações onde se extingue uma carreira e se
aproveita seus servidores na nova classificação funcional, desde que
haja correspondência e pertinência temática entre aquelas carreiras.
Destaco, nesse sentido, a decisão proferida no julgamento da ADI
2335/DF, (...). Entendo, assim, que a transposição dos agravantes não
observou os critérios estabelecidos pelo STF para considerar
constitucional o aproveitamento de servidores de uma carreira para
outra. (...) No mesmo sentido, verifico que a transposição dos
reclamantes para carreira diversa daquela na qual foram aprovados em
concurso público afronta a Súmula Vinculante 43, (...).
[Rcl 26.103 AgR, rel. min. Ricardo Lewandowski, dec. monocrática, j. 30-
10-2017, DJE 252 de 7-11-2017.]

(...) o acórdão reclamado não ofendeu o disposto nas Súmulas


Vinculantes 37 e 43, visto que não aumentou salário com base,
exclusivamente, em argumento de isonomia salarial, e também não
incorreu em transposição de cargo público. (...) Destarte, verifica-se que
a decisão hostilizada limitou-se a deferir o pagamento de diferenças
salariais advindas “da inobservância do piso salarial previsto na Lei
11.738/2008 no período contratual imprescrito havido até
dezembro/2009 e no Plano de Carreira do Magistério (Lei municipal
144/2009) no período contratual posterior”. Assim, verifico que falta
aderência entre o objeto do ato reclamado e o enunciado das súmulas
vinculantes que se reputam violadas, o que é requisito de
admissibilidade da reclamação perante o Supremo Tribunal Federal. (...)
Nesse contexto, impende consignar que o agravo revela-se
manifestamente improcedente, notadamente em função da reiterada
rejeição dos argumentos repetidamente expendidos pela parte nas suas
manifestações anteriores.
[Rcl 24.185 ED-AgR, voto do rel. min. Luiz Fux, 1ª T, j. 20-4-2017, DJE 98
de 11-5-2017.]

Com efeito, o Tribunal de origem concluiu que a norma legal que


determinou ao presidente do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas
o enquadramento dos servidores nas categorias funcionais e nos níveis
de remuneração definidos no art. 7º da Lei 3.138/2007, por meio de ato
administrativo, conforme a instrução de cada servidor,
independentemente de aprovação prévia em concurso público de
provas, ou de provas e títulos, ofende as regras constitucionais do
concurso público. Entendeu-se que a equivalência funcional e
remuneratória evidencia burla às regras da moralidade e igualdade. (...)
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Constata-se, portanto, que o acórdão recorrido está em harmonia com a
jurisprudência desta Corte, sedimentada na Súmula Vinculante 43 (...).
Ante o exposto, nego provimento ao presente agravo regimental.
[RE 995.436 AgR, voto do rel. min. Edson Fachin, 1ª T, j. 9-12-2016,
DJE 268 de 19-12-2016.]

Com efeito, conforme já asseverado, o Tribunal a quo não divergiu da


jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que a
transposição, transformação ou ascensão funcional, de servidores
públicos de uma categoria para outra, posto consubstanciar
modalidades de provimento derivado, sem prévia aprovação em
concurso público de provas e títulos, não se coadunam com a nova
ordem constitucional. Essa orientação está consolidada na Súmula
Vinculante 43 (...). Demais disso, a análise do argumento da parte ora
agravante no sentido de que ambos os cargos pertencem a mesma
carreira, demandaria a interpretação da legislação infraconstitucional de
regência, de forma que eventual ofensa à Constituição Federal seria
meramente indireta e reflexa, o que inviabiliza o exame da matéria na
via estreita do recurso extraordinário.
[RE 827.424 AgR, voto do rel. min. Luiz Fux, 1ª T, j. 14-10-2016, DJE 234
de 4-11-2016.]

O Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que viola a


exigência de realização de concurso público o acesso a cargo público
por qualquer forma de provimento derivado, sendo que tal interpretação
restou consolidada no enunciado de Súmula Vinculante 43 (...).
[ARE 853.656 AgR, rel. min. Roberto Barroso, 1ª T, j. 29-3-2016, DJE 78
de 25-4-2016.]

(...) manifesta a inconstitucionalidade dos dispositivos impugnados, que


permitem a ascensão funcional sem concurso público, na linha da
jurisprudência deste Tribunal (...). Dessa forma, confirmo a medida
cautelar e julgo procedente a ação direta para declarar a
inconstitucionalidade do art. 18 e parágrafos da Lei Complementar do
Estado de São Paulo 763/1994.
[ADI 1.342, voto do rel. min. Gilmar Mendes, P, j. 2-9-2015, DJE 239 de
26-11-2015, republicação no DJE 245 de 4-12-2015.]

16. Estão, então, banidas das formas de investidura admitidas pela


Constituição Federal a ascensão e a transferência (ou transposição), que são formas
de ingresso em carreira diversa daquela para a qual o servidor público ingressou por
concurso e que não são, por isso mesmo, ínsitas ao sistema de provimento em
carreira.
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17. Nesta linha de cognição, qualquer ato de nomeação – seja qual for a
nomenclatura utilizada - a configurar o provimento ou a investidura em
descumprimento ao que constitucionalmente estabelecido configura vício jurídico
inconvalidável, o que invariavelmente culmina na impossibilidade de aposentação no
cargo indevidamente ocupado.

18. Não há nos autos do Procedimento Administrativo nº 2018.04.00155P,


que fundamentou a aposentadoria concedida pela Portaria nº 33/2018, elementos
hábeis a demonstrar a legalidade da investidura no cargo no qual foi aposentada a
servidora. Pelo contrário, a Portaria nº 117/GP/93, datada de 01/10/93, que
expressamente “transpôs” a servidora para o cargo de Professora Normalista após
aprovação em “concurso interno”, somente demonstra a inadequabilidade do vínculo.

19. O Supremo Tribunal Federal, em algumas oportunidades, e sempre


ponderando as particularidades de cada caso, já reconheceu a subsistência dos atos
administrativos de provimento derivado de cargos públicos aperfeiçoados antes da
pacificação da matéria neste Tribunal, dada em 17/02/1993, em homenagem ao
princípio da segurança jurídica. Nesse sentido, confiram-se os seguintes precedentes:

O recurso não merece acolhida. Extrai-se dos autos que a autora


ingressou no serviço público em 21/12/1961, no cargo de Datiloscopista,
sendo transposta ao cargo de Delegado de Polícia em 02/04/1990.
Dispõe o enunciado da Súmula Vinculante 43 (...). Não obstante, esta
Corte tem decidido pela subsistência dos atos ocorridos entre 1987 a
1992, (...). Com a edição da Carta da República, ficou instituído o
concurso público como forma de investidura em cargo ou emprego
público (CF, art. 37, II), sendo que o STF, somente em 17.02.1993, na MC
na ADI 837-4, suspendeu a eficácia do art. 8º, III e do art. 10, X, parágrafo
único, da Lei 8.112/1990, com efeito ex nunc, prevalecendo a orientação
do não cabimento de concursos internos e, na sessão realizada em
27.08.1998, foi julgado o mérito da referida ADI, sendo declaradas
inconstitucionais as formas de provimento derivado representadas pela
ascensão ou acesso, transferência e aproveitamento no tocante a
cargos ou empregos públicos, com efeito ex nunc. Desta forma, como a
transposição da parte autora ocorrera em 02/04/1990, não há falar em
ofensa ao artigo 37, II, da Constituição Federal, na esteira da
jurisprudência desta Corte.
(RE 995.113, rel. min. Edson Fachin, dec. monocrática, j. 14-3-2018, DJE
51 de 16-3-2018.)

Agravo regimental no agravo regimental no recurso extraordinário.


Administrativo. Provimento derivado. Manutenção de ato administrativo
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concretizado em 1990. ADI 837 MC. Efeitos ex nunc. RE 442.683/RS.
Princípios da boa-fé e da segurança jurídica. Precedentes. 1. A
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de ser
inconstitucional toda forma de provimento derivado após a Constituição
Federal de 1988, sendo necessária a prévia provação em concurso de
provas ou de provas e títulos para o ingresso em cargos públicos. 2.
Contudo, no julgamento da medida cautelar na ADI 837, relator o
ministro Moreira Alves, DJ de 17-2-1993, suspendeu-se, com efeitos ex
nunc, a eficácia dos arts. 8º, III, e das expressões “acesso e ascensão”,
do art. 13, § 4º, “ou ascensão” e “ou ascender”, do art. 17, e do inciso IV
do art. 33, todos da Lei 8.112, de 1990. 3. Posteriormente, com
fundamento na referida ação direta de inconstitucionalidade, cujo mérito
foi julgado em 27-8-1998 (DJ de 25-6-1999), a Segunda Turma da Corte,
ao examinar o RE 442.683/RS, concluiu pela subsistência de atos
administrativos de provimentos derivados ocorridos entre 1987 a 1992,
em respeito aos postulados da boa-fé e da segurança jurídica.
Consignou-se que, à época dos fatos, o entendimento a respeito do
tema não era pacífico, o que teria ocorrido somente em 17-2-1993 (data
da publicação da decisão proferida na medida cautelar). 4. Agravo
regimental não provido.
(RE 605.762 AgR-AgR, rel. min. Dias Toffoli, 2ª T, j. 24-5-2016, DJE 118
de 9-6-2015.)

CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO: PROVIMENTO DERIVADO:


INCONSTITUCIONALIDADE: EFEITO EX NUNC. PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ E
DA SEGURANÇA JURÍDICA. I. - A Constituição de 1988 instituiu o
concurso público como forma de acesso aos cargos públicos. CF, art. 37,
II. Pedido de desconstituição de ato administrativo que deferiu,
mediante concurso interno, a progressão de servidores públicos.
Acontece que, à época dos fatos 1987 a 1992, o entendimento a
respeito do tema não era pacífico, certo que, apenas em 17.02.1993, é
que o Supremo Tribunal Federal suspendeu, com efeito ex nunc, a
eficácia do art. 8º, III; art. 10, parágrafo único; art. 13, § 4º; art. 17 e art.
33, IV, da Lei 8.112, de 1990, dispositivos esses que foram declarados
inconstitucionais em 27.8.1998: ADI 837/DF, Relator o Ministro Moreira
Alves, DJ de 25.6.1999. II. - Os princípios da boa-fé e da segurança
jurídica autorizam a adoção do efeito ex nunc para a decisão que
decreta a inconstitucionalidade. Ademais, os prejuízos que adviriam
para a Administração seriam maiores que eventuais vantagens do
desfazimento dos atos administrativos. III. - Precedentes do Supremo
Tribunal Federal. IV. - RE conhecido, mas não provido
(MS 28.953/DF, Rel.ª Min.ª Cármen Lúcia, 1ª Turma; e RE 442.683/RS,
Rel. Carlos Velloso, 2ª Turma)

20. Portanto, vislumbra-se que a transposição no cargo deu-se em período


no qual, nos termos da jurisprudência acima citada, não era controvertido o
entendimento da Corte Superior acerca da constitucionalidade das hipóteses de

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provimento derivado.

21. Nada obstante, a conclusão pela ilegalidade da concessão de


aposentadoria não pode implicar, por si só, a obrigatoriedade de ressarcimento das
importâncias já recebidas de boa-fé, mormente porque tanto o ato que concretizou a
irregular transposição quanto o ato aposentatório não revelam influência direta do
servidor para sua concretização3.

22. Por tudo o que foi exposto, o Ministério Público de Contas,


acompanhando o posicionamento da equipe técnica, opina pela denegação do registro
da Portaria nº 33/2018, bem como, pela determinação à Prefeitura Municipal de
Tangará da Serra para que, no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da publicação da
decisão, adote providências visando à cessação do pagamento da aposentadoria
inquinada, bem como para que dê efetiva ciência à servidora, sob pena de sanção por
descumprimento.

3. CONCLUSÃO

23. Por todo o exposto, o Ministério Público de Contas, instituição


permanente e essencial às funções de fiscalização e controle externo do Estado de
Mato Grosso (art. 51 da Constituição Estadual), no uso de suas atribuições
institucionais, opina:

a) pela denegação do registro da Portaria nº 33/2018, que concedeu o


benefício de aposentadoria por tempo de contribuição à Sra. Maria Aparecida Alves de
Lima , nos termos do art. 1º, VI da Lei Complementar nº 269/2007 e art. 29, XXIV, da
Resolução Normativa nº 14/2007, em virtude de irregularidade consistente na
investidura no cargo de aposentadoria sem concurso público, efetivada por meio de
transposição, contrariando orientação do Supremo Tribunal Federal e em violação ao

3 Nesta linha de cognição: O servidor público que recebe de boa-fé verbas remuneratórias a maior está
dispensado da devolução dos valores percebidos, na situação em que o pagamento indevido tenha se
dado em decorrência de erro exclusivo da administração ao fazer interpretação equivocada da lei
concessória, e quando não haja influência do servidor para concessão da vantagem impugnada.
(Representação de Natureza Externa. Relator: Conselheiro Substituto Isaías Lopes da Cunha. Acórdão
nº 443/2015-TP. Julgado em 03/03/2015. Publicado no DOC/ TCE-MT em 26/03/2015. Processo nº
27.573-5/2013).
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inciso II do art. 37 da Constituição Federal;

b) pela determinação à Prefeitura Municipal de Tangará da Serra e à


gestão do Instituto Municipal de Previdência Social de Tangará da Serra para que, no
prazo de 30 (trinta) dias, a contar da publicação da decisão, adotem providências
visando à cessação do pagamento da aposentadoria inquinada, bem como para que
dê efetiva ciência à servidora, sob pena de sanção por descumprimento.

É o parecer.

Ministério Público de Contas, Cuiabá, 21 de março de 2019.

(assinatura digital)4
WILLIAM DE ALMEIDA BRITO JÚNIOR
Procurador-geral de Contas Adjunto

4 Documento firmado por assinatura digital, baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora credenciada, nos
termos da Lei Federal nº 11.419/2006 e Resolução Normativa Nº 9/2012 do TCE/MT.
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