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> TITULO| FUNCAO EXECUTIVA EM GERAL 1 NOGGES PRELIMINARES DA EXECUGAO SUMARIO: §1°Clossfcogdo dos Aes 1 Noges pris: causa funcbes da jurisigs0 2. Limites politicos e praticos da funcao executiva ~ 3. Eficdcias da sentenca e satisfacao ~ §29Do Ato Executivo: 4. Natureza do ato executivo — 5. Classificagao dos atos executivos =6.Cumprimento do ato executvo ~ 7 Dacumentago do ato executvo - §32Princpos dla Fungo Excutva: 8. Pincpios fndamentas da execucdo 9 Principio da autonoria ~ 10, Principio do titulo ~ 11, Princo da responsabilidad patina 12 Principio do ‘resultado 13 nip da disponblidade~ 14 Principio da adequacto~ §4°Pracesode xecugdoexecusdolncidentat 1S fxeu0autbnoma~ 16 Natueza do func jusdconal executva~ 17, xecusioincidene ~ 1. integra da dscilinaexecutva § L.° Classificagao das Agoes 1, NogGes prévias: causa e funcées da jurisdigao, Escrevendo no primeiro quartel deste século, Francesco Carneluttiiniciou suas ligdes de direito processual afirmando: seo “interesse é uma situagao favordvel satis- fagio de uma necessidade; se as necessidades humanas sao ilimitadas; se, a0 invés, limitados séo 0s bens, ou seja, aporgao do mundo exterior apta.a satisfazé-las, produ- tonecessério da convivencia social da pessoa 0 ‘conflito de interesses”' 1. Francesco Carmelut, Lesion! didi processuale cle v.1,n.*8p. 13. Essasligbs litografadas foram consideradas por Calamandrel (Sul sistema e sul metodo dl Francesco Camelut, p.387) ‘um ‘genalissimo abbozz0"; 0 "Sistema" aria a “muraglie della architettra definitive’ , por fim, as “Isttuzion a “inquadraturasstematica? 104 MANUAL DA EXECUCAO. E, comefeito, centralizado pela vez primeira método na interagao entre diteity e sociedade, a processualistica resenhou o que, posteriormente, a teoria sociol6gice apontaria como essencial & vida em sociedade.? O conflito, ou lide, tornou-se aideia ancilar do processo, cujos institutos e regras explicavam-se & luz da lide. Convém advertir, a bem do rigor, que somente parcela restrita dos conflitos, por ventura constatados na sociedade, merece tais atengdes. Estuda-se o conflito intersub jetivo” O cardter “intersubjetivo" do conflito denota a disputa entre pessoas, jamaisa natureza do interesse posto em causa, cujo alcance evoluiré do individual ao transindi- vidual, conforme o caso, originando a necessidade de servir-se do meio instituido pelo Estado para resolver alide. Chama-se de processo ao mecanismo social organizado para julgaro conflito,'confiadoa um érgao estatal especifico -o 6rgao judicial -, ocupadopor homense mulheres recrutados segundo mecanismos varidveis em cada ordenamento. Nenhuma sociedade ignora semelhante classe de conflitos, que é inerente vida sociale delainextirpavel. Mas, asrelacées conflituosas, aumnentadas pelo antagonismo explicito dos participantes, constituem parcela minoritdria, conquanto expressi daquelas que, em certo momento, compoem a sociedade. Por tal excelente motivo, as relages conflituosas nao esgotam ou demarcamo fenomeno jurfaico. A posluvidade do Uiretwo se aquilata, com salut exatiday, uv dur bito dasrelacdes sociaishigidas. Existe, todavia, a reprovavel tendéncia de tomar “pelo direito vivo e quotidiano a pratica dos préticos do direito, a pratica judiciaria, quenéo énofundomaisdo que umapatologia’* Dapratica dos operadores resultaagraveilusio. Emverdade,o direitondo serestringe aquele comandoobtidono proceso. Osingentes esforgos empreendidos no curso deste mecanismo, criado para resolver 0 conflito, al ‘mejam, bem ao contratio, apreender e reproduzir a pauta de conduta adotada emre- lagdes andlogase sadias. Aexisténcia de conflitosnasociedade gerouconsequéncia de vulto. Urgeresolvt- -lose restaurara relacao entre os desavindos. Trés terapias sao concebiveis para extin- sguir litigios: (a) a autotutela; (6) a autocomposigao; e (c) a heterocomposi¢ao. Ajustiga demao prépria -autotutela -afigura-se inadequada, pois, provavelmen- te, produziré resultados que nao correspondem a pauta aceitae praticada nas relagbes sociaishigidas. Imperard, em geral, a vontade do litigante mais forte e habil. A marcha hist6rica desse meio encaminha-o, conseguintemente, ao desaparecimento. Por er 2. Ralf Dahrendot, As classes e seus confltos na sociedade industrial, p. 143 ¢ 6s; idem, Elementos para uma teoria do conflio social, pp. 133-158. Vide, Giinther Bierbrauer, Josef Falke e Klaus-Frle- rich Koch, Confit and its setlement, pp. 51-63. Jean Carbonniet, Sociologia juridica, p. 175 dem, p. 176; Miranda Rosa, Sociologia do direto, p.151. Jean Carbonnier, op. cit, p. 177 ‘icetoAlcalé-Zamoray Caso, Proceso, autocamposicin y autodefensa,n.° 40, p. 63. ‘MOGDES PRELIMINARES DA ExEcUGhO 105 cecao, em determinadas situagées a ordem juridica tolera e admite atos de defesa ou de desforgo (ug. art. 1.210, § 1.2,d0CC). Eaconvergéncia da vontade dos litigantes - autocomposi¢ao-. talvez benigna, e objeto de varios estimulos nos sistemas juridicos contemporaneos,’ mostra-se essen- cialmenteeventual.*Naosepoderiaassentararesolucaodosconflitosnummecanismo contingentee relativo, Logo, surge o processo- heterocomposicao- como tinicamodalidadeinstitucio- nal eficiente. Ela permite a busca da necesséria sintonia do desfecho da solugao do conflito com a pauta de conduta normal, observada nas relagGes estranhas ao seu objeto; a completa institucionalizacao do meio; e, principalmente, a sua obrigatorie- dade, propiciando a proibicao da autotutela. Inerente ao modelo da heterocomposicao é a ingeréncia de terceiro, pessoa dis- tinta dos litigantes, e, porque infenso aos interesses concretos controvertidos no con- flit, idéneo a solucioné-lo. Na condicao de representante da sociedade politica, a0 Estado compete instituir 6rgaos para promover a resolugdo autoritéria do conflito, dotadosdopredicado fundamental da equidistancia, ecujopapelconsisteemlegitimar oprocesso. (O importante servico puiblico mantido pelo Estado para solucionar conflitos de- signa-se de jurisdigao. O étimo da palavra é enganoso e nao retrata, absolutamente, a multiplicidade de tarefas do 6rgao judicial, nem sequer sua fungao primordial. A cau- sa da atividade jurisdicional do Estado é o conflito. Ninguém o expressou melhor do que Galeno Lacerda: “A jurisdicao’ acentua 0 insigne jurista, “como atividade espect- fica do Poder Judicidrio, existe por causa do conffitoe para solucioné-lo’!" Da mesma forma que a febre, sintoma comum da doenga, auxilia o diagndstico da patologia, a 7. Euniversal a busca de solugées extrajudiciais, originando a chamada “deformalizacao das con- trovérsias’ consoante o termo empregado por Vittorio Dent, I procedimenti non giudiziali di conelliazione come istituzioni alternative, n.7, p. 422; na doutrina brasileira, consulte-se Ada Pellegrini Grinover, A conciliagao extrajudicial no quadro participative, pp. 277-295; Silvana Campos Moraes, ulzado de pequenas causas,n.* 10.2.3, pp. 7-93. éxito do programa concilia- tivo francés se encontra exposto por Gabriel Montagnier, André Varinard e Jean Vincent, La jus- tice et ses institutions, n.°39, pp. 41-44. Ea instituigdo das cortes de pequenas causas na Inglater- ra, onde tal espécie de conciliacéo é estimulada, foi examinada por George Applebey, Small ‘claims in England and Wales, p. 683. 8, Niceto Alcalé-Zamora y Castillo, Proceso, autocomposicién y autodefensa,n.°46, pp. 78-79. 9, Aimparciaidade é destacada por Gian Antonio Micheli, Per una revisione della nozione di giurs- dizione volontaria, pp. 18-45, Entre nés, Ovidio A. Baptista da Silva, Qurso de process civil. 1, p. 29, considera-a elemento constitutive do conceito de utisdigdo. Todavia, Altedo Rocco, La senten- ‘za civil n.6, p. 15, reputa tal caracteristica acidental e “extrinsecat Sobre a legitimagio dos pro. ‘cessos judiciais, Niklas Luhmann, Legitimaedo pelo procedimento, pp. 85-113. 10, Segundo jé escrevemos, jurisdicéo ¢0 “poder do Estado destinado a eliminar o confito": Araken de Assis, Cumuulapdo de agdes,n.°7.5, p.50. 106 > awuat Da execucho presenca de questdes revela a presenga do conflito, separando os interesses dos figu- rantes do proceso. Comonenhum dos litigantes pode impor a prépria razdo ao adversario, porque vetada a autotutela, a solucao efetiva do conflito pressupde demanda ao érgao do Estado." Emitiré juiz, nessa contingéncia, comando suplementar, ou auténomo, ‘comparado ao predisposto na sociedade, regulando a lide. Segundo Carnelutti, a aplicagdo da norma juridica lide, que €0 conflito qualificado pelo direito, chama-se “declaragao’,e representaaintegragao do comando normativo genérico operantenas relagdes higidas.”"Em principio, portanto,ajurisdi¢ao se destinaa formar comandos juridicos complementares e, encarada funcionalmente, ultima-se através de um *jufzot® Designa-se a estrutura que visa 4 obtencao de “juizos” de processo de cognigao, Nele, o érgao jurisdicional atua “conhecendo” dos atos postulatérios principais das partes, a fim de proferir 0 juizo. O objetivo principal dessa espécie de processo consis- teem outorgar certezaas partes. ‘Afungao cognitiva prepondera na estrutura dita “processo” de conhecimento." Predominaocunho declaratério, porque os interesses deduzidosno processochegam a0 exame do juiz na incdmoda situacao de incertos. Na abertura da demanda, com efeito, mostra-se muito dificil dé-1a logo como procedente, a priori, e outorgar razio0 autor. Tudo dependeré do desfecho favorével da causa, de jufzo enunciado a posterio- 1, apreciadas asrazdes de fato e as razdes de direito das partes. Tao exigente se revela a aspiracdo & certeza que o efeito primordial da funcao de conhecimento consistena blindagem do pronunciamento final do juizacontrovérsias futuras. Esta indiscutibili- dade recobre a declaragao, quer dizer, o elemento apto a gerar certeza.'*E tao intensa 11. J. Cretella Jr, Comentdrios & Constituigdo brasileira de 1988, v. 6, p. 3.002; Manoel Goncalves Ferrera Filho, Curso de dreito consttuctonal, 212: Nelson Oscar de Souza, Manual de direlto consttucional, p. 102. 12, Francesco Camelutti, Lezion di drtto processualeciile v1, n.°47, pp. 182-137. 13, Francesco Carnelutti, Dirtio e processo .* 42, p.71. 14, Como ensina Andrea Proto Pisani, Dell'esercizio dell'azione, n.°§, p. 1.056, porque reina a incer- teza nas relagées no plano do direito material, ndo se pode outorgar pretensto & tutela furdica 6 a quem é titular de direito material. No que toca as relacbes entre fungdo e estrutura, diz Cx- santo Mandrioli, Laztone esecutiva, n 47, p. 267, que a investigacéo em tomo da estrutura do processo nao prescinde do elemento funcional ou finalistico. Identicamente, Wilhelm Sauet, Grundlagen des Prozessrecht, §3 p.37. 15, Ensina Celso Neves, Coisa fulgada civil, p. 502: “A declaracdo da sentenca é suficiente, em s! ‘mesma, como declaragéo, para realizar a certezajuridica que constitul 0 $eu escopo, indepen- dentemente de qualquer atividade ulterior: A “necessidade de respeito” & coisa julgada, aduz Tudo de Cast Mende, Linnie ubjectivs du vasu ulate em provesse cit 1 9, p. 34, tradua-ae ‘na mpossibilidade de colocé-lo, outra vez, “numa situacao de incerteza’ ‘HOGOES PRELIMINARES DA EXECUCAO 107 ela é que, compenetrando fungao e estrutura, certos autores chamam a fungao cogni- tiva de “processo civil declaratério""* Em imimeros casos, porém, considerando a natureza do objeto litigioso exposto nademanda, asimplescerteza, decorrentedo éxito colhidono processo, poucosatisfaz ao demandante. £ preciso, porque houve lesdo, algo mais do que certificar ao deman- dante sua razdo - coincidéncia entre apretensdo, deduzidanademanda,eocomando genérico do ordenamento, quicé especialmente criado paraalide specifica, suprindo lacuna, paraeliminar devezoconflito. Aextingdo efetivadalidedependeré daatuacao do comando concreto expresso no dictum do juiz. Daf por que a fungao executiva opera no mundo dos fatos (trabalho de campo)e aestrutura, em que ela avulta, caracteriza-se por atos judiciais agressores da esfera jurfdica doexecutado. Exata, arespeito, acélebre metéfora, segundoaqualo processo” de conhecimento transforma 0 fato em direito, e o “processo” de execucao traduz 0 direito em fatos."” Tal situagao revela, ademais, a delicadeza da atividade atribuida ao 6rgao judicial. A execugao é 0 verdadeiro “calcanhar de Aquiles” da fungdo jurisdicio- nal."* ‘Temas fungoes cognitiva (trabalho de gabinete)e executiva (trabalho de campo) denominador comum. Elas visam “a tomada de providéncias capazes de, conformeo caso, preservar ou reintegrar ‘em termos definitivos' a ordem jurfdica eo direito subje- tivo ameagado ou lesado™" Em outras palavras, dao lugar a uma tutela satisfativa, pouco importando que tal resultado ocorra em decorréncia de pronunciamento obti- do através de cognigao plena ou sumaria.” Sao cada vez mais frequentes, ao propésito, 0s pronunciamentos antecipatérios que acabam satisfazendo o direito litigioso (ug.,a tutela proviséria antecipada, to id6nea a regular a relagao dos desavindos que, sob certas condig6es, torna-se estvel e, vencido o interregno de dois anos, adquire a esta- bilidade prépriadaautoridade de coisajulgada, conformeoregimedoart.304doNCPC). 16. Segundo Artur Anselmo de Castro, Direito processual civil declaratério,v. 1, n° 17, p. 100, a0 processo comum correspondem “duas grandes divisbes": processo “declarat6rio e executivo’ No ‘mesmo sentido, Joao de Castro Mendes, Direto processual civil, v. 1, n.°37, pp. 231-232; Fernan- do Luso Soares, Processo ciull de declaragao, n.°41, p20). 17, Francesco Camelutt, Dirtto e processo,n.° 176, pp. 283-284. 18, Athos Gusmao Carneiro, A dualidade conhecimento/execucdo e o projeto de novo Cédigo de Processo civil, n* 1, p.91. 19, José Carlos Barbosa Moreira, O novo processo civil brasileiro, . 301. A tmportAncia da atividade executiva nao é, absolutamente, negligencidvel. Destacam sua importAncia, no diretto frances, Louis Josserand, Précisélémentaire des voles d‘éxecution, p. 1; Jean Vincent, Voles d‘exécution et procédures de distribution, p. 1-2; Laborde-Lacoste, Exposé méthodique des voles d'exécution, n 2, p.6; Gérard Couche, Voles dexécution, n.° 1, p.3. 20. A satisfagao no mundo dos fatos ¢ citada por Ovidio A. Baptista da Silva, Comentdrios ao Cédigo idade de Drocorea Cinil,v 11, pp. ARLAR, cama a conteapanta da ca 16 7 WR Todavia, em certas hip6teses, o interesse, juridicamente protegido, vé-seamen ado por fato natural ou ato humano e corre o perigo iminente de desaparecer aie que seja formulado e atuado o comando judicial nos processos de cognicio e deere cugéo. Entéo, atutela prestada pelo Estado aos cidadaos assume cardter de urgéncize apés investigacao superficial do conflito, restringe-se a emanagao de provimentoas segurador. O que caracteriza a fungao jurisdicional cautelar reside na sua naturew provis6ria erevers{vel, baseado o provimento respectivo em simples jutzo deprobati- lidade, passivel de alteragao.” Frente alide, por conseguinte, ointeressado disp6e de trés funcdesjurisdicionas facilmente discerniveis. O emprego de cada uma delas envolve o prognéstico quea préprio litigante faz.do conflito ao acudir as vias judiciais. Liebman compreendeua Obvia multiplicidade de terapias contempladas na ordem juridica para um s6 confit, de regra avaliado, nas andlises corriqueiras, de modo muito maniquefsta. “Frequente ‘mente’, comentouo processualista, “ele émais complexoe pode ser encaradodevaris pontos de vista, dando lugar, portanto, a outras tantas solucées diferentes’ Cabendo ao demandante, nessa linha de raciocinio, provocar a atividade jurisd- cional com este ouaquele propésito, eassim desencadear o tipo de funcao instrumen taldajurisdicao, revela-se forgoso concluir quea demanda, ato concreto de criagaode proceso, sempre consistiré em vefculo neutro, insipido e inodoro de quaisquer ages epretensdes materiais. Escolhida que seja determinada ago, estimula-searespectiva fungao jurisdicional e, prestigiada no contexto legislativo a reuniao de procedimentos dotados de idéntica funcdo, cai-se na sua érbita, Aqui cabia criticar a arquitetura legislativa do CPC de 1973. Limitar as fungoesda jurisdigdo s trés estruturas entéo concebidas, respectivamente o processo de conhe- cimento, 0 processo de execucdo e 0 processo cautelar, prendia “a época em que os processualistas nao haviam classificado, com rigor cientifico, as pretensdes €agées” ‘Tao artificial se afigurava a divisao tricot6mica das “processas’ e postica apureas funcional dessas estruturas, que acabava sem explicagées, e insatisfatoriamentt compreendido o motivo por que hé cogni¢ao no “processo” executivo ou cautelat & ainda, por que atos executérios ocorrem no “processo” de conhecimento. Explica-se o ponto, contudo, de maneira assaz singela. Toda demanda exist cognicaodo 6rgaojurisdicional. Eleconhecerd do préprio processo, em primeirolugss e também do thema decidendum trazido pelo demandante, ainda quando se limites emitir comando transitério e emergencial (fungdo cautelar), ou a atuar o comando definitivo (fungao executiva). de Pansus, Comenuirtus au Codigo de Processo Civ, v.31." 58, P. 2. 22, Enrico Tullio Liebman, O despacho saneador eo julgamento de mérito, 23. Pontes de Miranda, Comentarios ao Cédigo de Procesto Cluil,v. 1, pp-93-94. » p-116. \NOGOES PRELIMINARES DA EXECUCAO 109 Porconseguinte, a exata compreensao do “processo de execucao’ cuja andlise se empreenderd nessa obra, exige a precisa identificagdo das aces nele compreendidas. 2. Limites politicos e praticos da funcéo executiva Doexerciciodaatividadejurisdicionalos cidaddosesperamaformulagaodeuma regraconcreta, resolvendoalide; aatuacao pratica deste comando, senecessério;e, em casos excepcionais, arépida asseguracdo desses objetivos ou de algum direito subjeti- vo ameagado, Correspondem tais expectativas, curialmente, as funcOes de cogni de execucao e cautelar da jurisdigao. ‘Todavia, nem toda regrajurfdica concretaobtidaatravés desentencaexigeamen- cionada atuacao prética, porque em si mesma jé satisfaz o demandante. Em outras palavras, oequacionamento de algumas ides, porque destituidas da tensaoespecffica originada da ameaga e ocorréncia de lesdo, ou porque anatureza do pronunciamento pleiteado ao juiz disso prescinde por completo, realiza-se de modo independente do socorro a fungao executiva. A desnecessidade da fungao executiva para conceder ao autor o bem da vida, ou seja, para satisfazé-lo, resolvendoalide apresentada, dependeré da natureza do provi- senty por ele prpriv pedido, consvante seu diagntsticu de lilgio,” ¢ deferide pelo 6rgio judicial do Estado. Em relacdoao “processo de execucao” reguladono Livroltdo CPC de 1973, fronteira suplementar ereducionista delimitava o campo executivo, por- que 86 algumas aces executivas af eram admitidas. Apés 0 retorno & sistemética do CPC de 1939, instituindo-se o cumprimento da sentenca (rectius: exercicio superve- niente da pretensdoa executar), insimultaneo processu, operou-se 0(falso) fendmeno oposto: todas as pretensdes a executar origindrias de provimentos judiciais exibiriam idéntica natureza- forca executiva lato sensu. Além dessa iltima expresso mostrar-se altamenteimprépria, porque inexiste forma executiva stricto sensu, a circunstanciade 08 atos executivos realizarem no mesmo processo nao confere a nenhum provimento “forca" executiva. Assim, & clarezana compreensao dos limites da fungao executiva e, a fortiori, do “proceso” deexecucao, importa examinaro objetolitigioso do proceso, classificando aagao material veiculadana demanda. 24, Referimo-nos Aacioem quea parte dispde do direito material, que corresponde a certa concep¢ao social ehist6rica da experiénciajuridica: a respeito, Antonio Nasi, Disposizione del ditto azio- ne dispositiva, pp. 64-74. Observa Arruda Alvim, Tratado de direlto processua! civil v1, p. 38, {que o objeto litigioso pode ser predeterminado, como resultava do § 616 da ZPO ({4 revogado). Sobre o tema, oportuno consultar o importante estudo de Tito Carn tecnica del processo, pp. 635-772. 25. Ovidio A. Baptista da Silva, Curso de procesto civil, v1, p. 120. 110 D MANUAL DA ExEcuAO Mas, antes de passar a classificacao em si, alguns aspectos necessitam do devi. dorealce. 2.1. Critérios classificatérios da a¢ao Asagoes classificam-se de acordo com intimeros e discrepantes critérios* Entre os velhos representantes da processualistica de boa cepa luso-brasileira, conquantojéadvertindoautilidadedeconhecé-las “nao menos pelos nomesquepelos efeitos’ reunidasem base objetiva, subjetiva ou formal, asagdes dividiam-seemreais, pessoais, mistas, penais, reipersecut6rias, (in)transmissiveis, (im)prescritfveis, sumé- rias ordinérias.* Evolugdo natural dasideias, provocada pelos estudos revolucionériosno terreno daciéncia processual na primeirametade do século pasado, paulatinamente divulga- dos e aceitos, consagrou, nao sem resistencias serddias e dignas de registro,” taxiono- mia fundada na eficacia do ato jurisdicional, exageradamente reputada “a tinica clas- sificagdo legitima e importante’®* Do primitivo agrupamento das acées em declaratoriase condenatérias, evoluiu-se, gracasaidentificagao dos direitos formativos, classe das constitutivas;" posteriormente, ocorreua descobertadaacaomandamen- tal, a qual se juntoua executiva.* Nada obstante semelhante reparticao, inspiradana “espécieenatureza” datutela prestada pelo érgio jurisdicional, os demais critérios classificat6rios, baseados em particularidades outras do objetolitigioso, permaneceram incélumes evaliosos. Oart. 46, caput, do NCPC emprega, p. ex., 0 vetor real ou pessoal da agdo, a fim de fixara competéncia no territ6rio, e o faz de olho na conveniéncia das partes. Tampouco se excluem, a priori, outras sugestdes. Eatitude prépria a racionalidade da pessoa huma- 26. Para ample andlise das nocées aqui defendidas, José Maria Tesheiner ¢ Felipe Froner, Condens: do, mandamentoe execucéo, pp. 506-617, que retornam, ao fim e ao cabo, a classificagao tripar tida 27, Cortéa Telles, Doutrina das ages p. 15. 28, Jodo Monteiro, Programa do curso de processo civil. 1, §§ 23/25, pp. 96-101; Paula Baptists, Compéndio,§8, p. 12 29, Segundo Affonso Fraga, Instituigdes do processo cvildo Brasil, consulta “reclamos de uma rigorosaclassificagio cientifca’ 30, Enrico Tullio Liebman, Manuale di dirito processual civil, v1, n.* 76, p. 125. Na doutrina bras leia, Rezende Fh, Curso de direto processual civil v.1,n* 181, . 181, considerou-a de “nica classificagao racional: 31. Sobre a sentenga constitutiva, importante é a consulta de Alfredo Rocco, La sentenza civile,n# 54-59, p 125-135; Wilhelm Kisch, Beitrage zur Urtelslehre, pp. 45-B5. 32. Atespeit,inaceitivel se afiguraaideia de “unidade” da aco, desde a fungdo comum de aplicar “sangio’ como defendeu Crisanto Mandrioli,Laztone esecutiva, n.° 30-31, pp. 193-200. 33. Assim se expressa Theodoro Jt, Curso de direito processua! civil, v. 1, n.° 55, pp. 63-64. 1, $33, p.252, aclassificagéo no \NOGOES PRELIMINARES DA EXECUGAO @@ 111 na forjar distingdes. Sucede que, no estégio atual, essas variagbes nada auxiliam & exata compreensao da matéria.*O melhor critério consistenaidentificagao da forcae dosefeitos. ‘Todavia, ressalte-se a circunstdncia dea teoria das aces, elevada a tema central do processo civil, realmente ensejou a radical “mudanga de tratamento dado ao processo’"* derrotando o método gasto dos antigos procedimentalistas. ‘Também nao se deve olvidar que o festejado sistema enaltece, e a todos poe de sobreaviso quanto. desvios e incorre¢des derumo, acorrespondénciaimprescindivel do binémio direito material e processo, que governa a efetividade do controle judicié- rio e da realizagao do direito objetivo.™E, de fato, aclassificagéo considera dados hau- ridos do direito material - da “aco” material, portanto: 0 agir que o veto & autotutela impés que o titular do direito veiculasse no proceso.” Nouso corrente dos operadores, outrossim, mostra-se indiferente agrupar acées ousentengas segundo a eficacia. Na medida em que o contetido da demanda corresponderé, inexoravelmente, a0 da sentenga de procedéncia, em virtude da regra da congruéncia (art. 141 c/cart. 490 do NCPC) - asentenga de improcedéncia apresentar-se-é sempre declaratéria negati- ‘va, parqne declara a inexisténcia do direito alegada pelo autor perante o réu, e nada concede ao réu, exceto a certeza que o autor nao tem o alegado direito -*ha simples toca de Angulo: cuidando das espécies de ago, sopesa-se aquele contetido no inicio do processo; ao perquirira carga dassentencas, aquilata-se tal nicleonomomentoda sua extingao. Amudanga de perspectiva possui consequénciasderelevo. Noprimeiro caso, leva- -se em conta acdo afirmada pelo demandante; no segundo, aacao julgadaexistentee atuada perante o réu. Desse modo, a classificagao abrange todas as ages propostas e ajuizveis; mas, examinado o fim do processo, ela serve apenas as sentencas de proce- déncia, porquanto, desestimadaademanda, nenhum diteitoe respectivaagaomaterial tocava, na realidade, ao autor. A sentenca de improcedéncia ésomente declaratéria.” 34. Por exemplo, oalvitre de CléudioTakeshi Tuda, Aproximagao entre cognicao e execugdo pela Lei 11.232/2005 e a repercusséo na classficagao das tutelas,n.* 4 pp. 11-114 35. Clovis do Couto e Silva, A teoria das ages em Pontes de Miranda, p72. 36. Em que pese a restricdo de CAndido Rangel Dinamarco, A instrumentalidade do processo,n.*19, .210, que averba de “erro grave de perspectiva a crenga de que o sistema gravte em torno da acto ou dos direitos subjetivos materais? 437. Para acurada anélise critica erefutagdo das ideias contréris, vide Pedro Henrique Pedrosa No ‘gueira, Teoria da agdo de direito material, pp. 128-135. ‘Othmar Jauernig, Zivilprozessrecht, § 34,1, p. 132, . Leo Rosenberg e Karl Heinz Schwab, Zvilprozessrecht, § 150, p. 819; Arwed Blomeyer, ivlpro- zessrecht ~Vollstreckungsverfahren, § 86, p. 427-428. 8B 112 D> mana pa execugdo 22. Eicdcia principal efcdcias secunddrias da ado Talvez 0 maior mérito de Pontes de Miranda, na posi¢ao de processualista, tenka sidoseudenodonaafirmativa radical de quenenhumaacaonasce pura. Teveaintuigia de considerar a a¢ao um conjunto de eficdcias, e de classificd-la através da carga prin cipal, ouforga, matizando os demais efeitos encontradosno respectivofeixe de eficécias Extraordindrio e invulgar, o abandono dos critérios de género e de espécie, outron dominantes,““ensejouopasso seguinte:a quantificagaodasacées, distribuindo valores deumacinco paracada uma dascinco eficécias, numa constante de orga quinze. Esa proposicdo até hoje é de dificil inteligéncia." Porém, o essencial & que, realmente, sentenga agasalha mais de uma eficécia em cada hipétese. Opeso desse subsidio a ciéncia do proceso é bem maior do que odo alargamen toda fenomenologia das acées, localizando no espectro o efeito mandamentaleo efeitoexecutivo, que, paradoxalmente, desperta mais admiracao e celeuma, poisesses eficaciasjé eram conhecidas. Tio cedicase tornouacombinacao de eficécias que poucosse forram deadot a Embora apegadosa vencida divisdo simples dos julgamentos em declarat6rios econs titutivos, autores franceses identificam semprenasentencaduploefeito, “porque oj deve constatara existéncia da pressuposicao da norma aplicdvel a situagao de fatoque Iheésubmietida (qualificagao),¢depoisthe aplicar vcfeito juridico (sanga0)' variando, todavia, aimportincia doelementodeclaratério edo constitutivo conformeahipétese® Facil é decompora sentenga de despejo e comprovar, na prética, a assergéo bés- ‘cada multiplicidade de efeitos. Ela comanda, preponderantemente, a restitui¢do do bem locado (eficécia principal: executiva); desfaz o contrato (eficécia imediata: cons tiva); declara direito do autor a recuperagao da coisa (eficéciamediata: declarat ; va);e, estando alocagaoaverbada nocartapdcioreal, manda cancelar oregistro (efict ciamandamental). Mais dffci se revela em todos os casos localizar as cinco eficécies 0 dbice nao invalida, porém, a tese central: dentro do mesmo provimento comvives mais de umaeficdcia, ‘ais consideracoes permitem avaliar, na sequéncia, as classes de ages do patio de vista da satisfagao que, porventura, conferem ao seu titular. 3. Eficdcias da sentenca e satisf Fez-se registro, omando partido na tematica da classificagdo dasagbes, segungo a forga do efeito que o demandante procura produzir junto ao demandado, a cinco "40, Clovis do Couto e Siva, teoria das agBes em Pontes de Miranda, p75. 4, Adroaldo Furtado Fabricio, Comentérios ao Cédigo de Procesto Civil, b, 8, t. 3, n.° 476, p. $28 nota 62), 42, Herve Crozee Christan Morel, Procédure evil 970. #0 GOES PRELIMINARES DA ExECUGKO 113. classes auténomas: (a) declarativa; (b) condenatéria; (c) constitutiva; (d) executiva;, (e)mandamental. Mas, cumpre reconhecer oescasso prestigio de tal divisdo, chamada de quinéria, preponderando, largamente, a estreita e indébita limitacdo das eficdcias sentenciais as trés primeiras - declaratéria, constitutiva e condenatéria.* Ora, a fenomenologia das eficécias identificéveis nos provimentos jurisdicionais ressente-se de quintuplo desdobramento. No estégio atual do processo civil, excegao feita a hipdtese de se pretender confundir funcdo ¢ estrutura no contexto da atividade jurisdicional, as agdes executivas e mandamentais lograram os6lidoreconhecimento desua autonomia. Limitando-seas categorias tadicionaisaforcadasentenga, graves consequéncias se produzem, distorcendo o ambito exato da funcao executiva. Porexemplo, eputada condenat6ria a acao de imissao de posse, a adequacao pratica ao comando sentencial se subordinaria ao modelo comum (art. $13), mas pretensio a executar nasceria do efeito (executivo) da condenacao; no entanto, a carga da imissao de posse jé €executi- va (oato executivo recai sobre bem integrante do patriménio do vitorioso), motivo por ‘que o$ atos de cumnprimento da regra juridica concreta, esultante da sentenga, jé se cexauriam dentro da prépria relacdo processual pendente, prescindindo da formacéo de processo auténomo.* Exemplo de incompreensao da diferenca entre a forga condenatéria e a fora executiva localtza-se na tentatva de reduzi-la, considerando a identidade de meio executivo (desapossamento),aoantigoprocessodeexecucao fundadoem titulojudicial -portanto, em qualquer hipstese exigindoa formacao de outrarelagao processual para praticar os atos executivos correspondentes -, “quer se trate deagdoreal ou pessoal, de agdo petit6ria ou possesséria’* distinguindo-se apenas em razao do prazo de entrega da coisa." Felizmente, o infausto e errbneo alvitre néo empolgou a jurisprudéncia patria: as aces de forca executiva sempre se executaram, nao entregando 0 vencidoa 43. Prevalece em diversos quadrantes: Fritz Baur, Zivilprozessecht, §7, pp. 81-85; Enrico Tullo Le- bbman, Eficacia ed autorta della sentenza,n*7,p. 23; Artur Anselmo de Castro, Direto proces- sual civil declaratérto v. n° 17. pp.97-110; Francisco Ramos Mendez, Derecho procesal cei v 1,937, pp, 639-640; Frederico Marques, Manual de direto processual cv. 1, n° 141, p. 164. Na processualfstica riograndense, porém, predomina classificacao quindria: Sérgio Gilberto Porto, Doutrina e prética das alimentos, n° 30, p. 90; Clovis do Couto e Silva, Comentdrios ao digo de Processo Civil, v. 2, n. 481, pp. 437-438; Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Alienagao da coisalitgiosa § 18,p. 142; Ovidio A. Baptista da Slva, Curso deprocesso civil. 2, pp. 12; Araken de Assis, Cumulapao de agbes,n.# 18, p. 89-91. “44, Vide, Ovidio A. Baptista daSilva, A apdo de imissdo de posse no direito brasileiro atual, 6 p. 45-56; Tercfto Pletroski, A apo de imissdo de posse, p13. 45. Enrico Tulio Liebman, Processo de execugdo, n° 93, p. 225. 46, Idem, n.* 94, p, 227. Em sentido contrério, expressamente, a4. T. do STI, no REsp. 739-RI, 21.08.1990, Rl. Min. Athos Cameiro,BIST/4/57, que airmou o seguinte:"Nas agdes possess6rias, 'a sentenga de procedéncia tem eficécia executiva lato sensu, com execucdo mediante simples 114 De mana ant a olutexpontancanients, nomestio process, Ketones wet xiatemétien do Che, 109 dledyao cla pretensao a execnti, sicenalvantente, dn slmultanen pracessu,y, /esecugao dos prontmiclamentis judiciats,o problema desapareceu na pratica, Futenda sebemapropasigno, Quuilquer quesejao momento daexecugto, porn antevipada ou diterida, » melo executérle desapossumento ¢, doravante, coergy patrinonlal mostrar se A idénticn, quer seja real (xg., a relvindicatérla) ou pesses (ug. atmissto na posse) ago, esusctturé anilogos problemas na sua reallzagto pr Aiea, noseusos verslos, ¢tuslependeny da natureza do titulo executive, Fn realldade, a classificagua quinaria das forgas sentenciais resolve, de mody conveniente e seguro, o delicado problema da natureza das ages. Ordinariament precisar a carga de certa sentenga constitui tarefa penosa e perturbadora para osmai atilados espititos. Bvitam-se os dissabores da empreitada, &s vezes inevitével,® mer dadisciplina aqui defendida. Mas, o inquérito doravante empreendido buscaré atingir alvo bem diversoe, so mente por ricochete, di relevo & questao. Quer sejam cinco, quer se cifrem a tres, in pende estabelecer qual grau de satisfagao do interesse trazido a jufzo obteré odeman dante com cada eficacia possivel do pronunciamento. £ preciso reter que “tod: \ca evige alguma forma de cumprimento, on naa éumasentenca’® Aquestao proposta assume maiorimportancia, como se percebe na doutrinaale marecente,"paraquadrar o ambito de aplicagao doart.513doNCPC.E, postaaquest nesses termos, totalmente inexato afirmar que, executando-se in simultaneo proces: 0s pronunciamentos judiciais (art. 515, 1), alterou-se o esquema classificatério e, prt cipalmente, desapareceua distin¢aoentreaforcacondenatériaeaforgaexecutiva Est distingGo jamais se baseou na necessidade, ou ndo, de execugdo auténomaB, adisy tandoo ponto,frise-se bem:asentencaécondenatéria quandoasatisfagéo do vencedat dependeré dos bens porventura integrantes no patrim6nio do vencido; e executm quando essa satisfacao visa a recuperar bem integrante do patriménio do vencedat 31 Eficdcia declaratoria Mediante a forca declarat6ria, objetiva o demandante extirpar incerteza, Dest tomnar indiscutivel, no presente e no futuro, gracas & autoridade da coisa julgada.t cexpediqav e cumprimento de um mandado, Inocorréncia, nas possessérias, da dicotomie a Ge cognigan © agin de execucéc? 47 Aeamplo de Theodore Ir, Processo de execu, p.229, que qualificou a agdo nascente do com ‘os prelninar de “autoesequivel quart categoria de uma claseficagdo que s6 comport. 4, Mania Hos Tesheiner, Jurisica, exeeugao eautotutela,p. 380. 44 Hans Joachim Musiclab, Grundkure 2PO,§ 81, 4,601, p. 368, a yen vara, Lesa 129 da tive Iibeiro, Breves consderaySea acerea de Impacto dala 1 222/05 ner da ef ca das sentengas, 1.24, p. 144. WocOs Pa MMAReS DA KECUCAO | 115 enxistncia oun Juridica, aautenticidade ou a falsidade dedocu- naountedispds, fortementeinaplrado no direltogermAnico, oart. 19, 1ell, do NCPC." fLambém comporta declaragdo a inteligéncla de cldusula contratual (Stimula 181 do S17). Na ago declarativa, Ignora-se “outra eficdcla relevante que a de colsa jul- ada material’ Quem sé pleltela declaragio ao juiz, e obtém éxito, dar-se-4 por satisfelto,ecabal- mente, desde o curso em julgado da sentenga, Entdo, o vencedor apropria-se do que pedira ao 6rgao judicial - certeza - carecendo a regra juridica emitida de qualquer atividade complementar em jufzo. Focalizando o ponto com preciosa exatidao, perce- beu-se que a sentenga declaratéria é instrumento autossuficiente de tutela jurisdicio- nal, nosentido de que assegura, de maneira plenae completa, aefetividadeda situagéo juridica substancial deduzida em jutzo.* mento, A eficdcia declarativa assume cardter “prescritivo’™ A parte adquire o direito in- contestavel de comportar-se em consonanciaaocomandosentencial,e, principalmen- te, no é dado aos que se vincularam a declarado impedi-la. Exemplificando com a aco declaratéria da inteligéncia e do alcance de clausula contratual, a finalidade da demanda é a de prescrever aos parceiros do negécio, sucessivamente, determinada pauta de conduta, “independentemente de execucdo alguma, de que nao se cogitae de que nao se pode cogitar” (itélico do original).* Como se infere do exemplo, e no pensamento do autor citado, a prescrigao de conduta independe da prética de atos executivos. Identicamente, a doutrina alema proclama que, dasentenga declaratéria, nao nasce efeito executive. Talvezmelhorse explicasse a particularidade considerando que o modelo de adequa¢ao, porventura originado da certeza obtida, decorre “apenas da palavra do juiz’® Entao, se reforga a 51. Fritz Baur, Zvilprozessrecht n° 102, p. 82; Giuseppe Chiovenda, Azioni e sentenze dl mero ac- ccertamento, p. 33; Lucio Lanfranchi, Contributo allo studio dellazione di mero accertamento, p. 232; Leonardo Pietro-Castro, La accin declarativa,n. 3, p.7; Manuel Fraga Iibarme, La accién ‘meramente declarativa, p89. 52. Pontes de Miranda, Tratada das apies,v.1,§34,p. 157. No mesmo sentido, Andrea Proto Pisani, ‘Appunti sulla tutela di mero accertamento, n- 1, p. 621. Na jurisprudéncia, 2* Turma do STI, Esp. 16.513-SP, Rel. Min, Ari Pargendler, 18.12.1995, D/U 18.03.1986, p. 7.554, 53. Italo Andolina, “Cognizione” ed ‘esecuzione”forzata nel sistema della tuelagiuridizionale, p.3. 54. Arruda Alvim, Tratado de drelto processual civil v.1, p.315. Em sentido andlogo, losé Francisco Lopes de Miranda Ledo, Sentenca declaratéria, n.* 4.2.2, pp. 42-43, identifica, alm dos efeitos réprios da declaragao, outros efeitos “indiretos;situados fora do objeto do process. 55. Arruda Alvim, Tratado de direito processual cull, v. 1, p. 428, com o sugestivo exemplo da ago que visa declarar crédito tributério em virtude deisengio ‘56. Fritz Baur, Zivllprozessrecht, n.* 104, p. 84. No mesmo sentido, na literatura alem& mals recente, Othmar Jauernig, Zviiprozessrecht, § 34 Il, p. 133; Wolfgang Grunsky, Zivilprocessrech,§ 7.*,1l, 2, n° 104, p. 82; Eberhard Schilken, Zivilprozessrecht, § 6, I, 3, n.° 188, p. 100. 57. Pontes de Miranda, Tratado das agées,v.1, §34, p. 196. 116 D> mawat on execucho ideiainconcussa de que “nada hd para executar apés a sentenga, quanto ao objeto. pecifica da decisao"* Por Sbvio, caberd execucao do capitulo acessério da sucumbir. cia.* “Objeto especifico” do pronunciamento, no caso, respeita ao capftulo principd oumeérito. Aexemplodoquesucedia noditeitoanterior, oart. 515, , nao aludeacondenacéy ~curiosamente, o art. 495, cuidando da hipoteca judicidria, alude a “decisao quecon denar o réu ao pagamento de prestagao consistente em dinheiro’, ou passivel decon, verso em dinheiro, empregando formula mais condizente com a realidade -, pre indo formula ambigua: “a decisao proferida no processo civil que reconhega2 exigibilidade de pagar quantia, de fazer, de nao fazer ou de entregar coisa’: No tocane a0 direito anterior, perante o qual reivindicou-se a autoria da redagdo,® em vezde existénciamenciona-se a exigibilidade da prestacao. Eerrénea a ideia, ai inculcada, de que a eficdcia declarativa passou a outorge pretensao a executar. Em primeiro lugar, em outras disposigdes o NCPC nao hesita em empregarape lavra “condenagao” para retratar ocontetido da sentenca. Assim, oart.85, 4.% IL aude a“condenagao principal’ referindo-se, por dbvio, regra juridica concreta, poisnasia falta 0 6rgao judiciério tomard o valor da causa como base de célculo dos honoras advocaticios, ficando vencida a Fazenda Publica. Ademais, o art. 515, I, repetindos direito anterior, exibiu o mérito de baniratese segundo a qual, envolvendo oobjetod> processo prestagdes de fazer ou nao fazer, e de entregar coisa, a execugao prescindir de titulo.*" Eis um ponto positivo, se hé algo nele digno de realce, nessa disposigéo.0 procedimentodaexecucdo dopronunciamentocom semelhante contetidofundars ‘jem titulo judicial. \Volvendoa dicgao legal, oart.515, 1, nao conferiu pretensdo a executar a dec ao. Seo provimento reconhece a “exigibilidade” - expressao errénea, em todog aye pois a exigibilidade pode surgir posteriormente, como acontece no caso dee drys? Judiciirioapreciar relagso juridicasujeitaatermooucondigo (art.514)-deobrigag? acargodo vencido, e, nao, simplesmente, a respectiva responsabilidade, vai bem sé dasimplesdeclaragao (art. 20), ¢, desde logo, condenao vencido (infra, 3.3). R&sine mais equivocado atribuir pretensao a executar a sentenga de improcedéncia. Vardide que 0S} jd admitiu essa extravagante anomalia, incidindo no duplo equivoco de et mur declarativaa pretensaoarevisarcontrato, naverdade constitutiva negativa, porg™ s4 thenddow J. Curso de-dieitaprocessual cel, . 2.1.2 700, p. 786. Uwoltgang ke, Zidpracessrcht,§ 11, Hh 126, p. 130. Mt) Fredue Dader Je. Cure de direto processual viv 1, p. 194. HL Nestesentdo, por evemplo, Jose Miguel Medina, Bxecucd civil, n.° 10.7, pp. 135-136. lls ake de Assy, Sentenca conslenatoria como titulo executive, n.°2, pp. 11-15. NOCOES PRELIMINARES DA EXECUCHO 117 o autor pleiteia a invalidagao das clausulas contratuais.© Ora, 0 autor age, mas o réu reage; 0 autor pede, o réu impede. Se o réu pretende algo mais do que a certeza da de- claragdo intrinseca ao jufzo de improcedéncia, necessitaré pedir por meio da recon- vengo, azo por que ojuiz acolhe ou ejeita ospedidosdas partes (art.490c/cart. 487, 1). No caso da improcedéncia da pretensio a revisdo contratual,limitando-se o réua resistir,ficaré com o contrato, eventualmente titulo extrajudicial, maisacerteza queas cléusulas impugnadas nao se ostentam invalidas. Por conseguinte, a declaracao, enquanto declaracao - 0 provimento pode exibir outra eficacia -, porque simples certeza, prescinde de execugdo ou de cumprimento:0 provimento em si jé entrega o bem da vida ao vitorioso. 0 equivoco, nessa matéria, consiste em ignorar a pluralidade de eficdcias no mesmo provimento, conduzindo o intérprete em alguns casos, a exemplo, da sentenga proferida na desapropriagao, a seguir pistas falsas, identificando efeito quenao é dadeclaragao (certeza), masdeoutro elemento da resolugao judicial. 3.2. Eficdcia constitutiva ‘Aco constitutiva implica mudanea (criacao, modificacao ou extingao) na rela- ‘¢a0 jurfdica posta como objeto do proceso. Esca ago provém da oficécia inovadora exictente am cortos direitos oubjetivoos® p.ex., (a) aseparacéo dos conjuges, haja vista grave infrag4o aos deveres conjugais, que torne insuportével a vida em comum (art. 1.572, caput, do CC); (b) a resolugao de ne- géciojuridico bilateral, em facedeinadimplementoimputdvelaum dosfigurantes(art. 475 do CC); (c)aanulagao de negécio juridico, que versou objeto impossivel (arts. 166, Me 182d0CC). 63. 347. do STI, AgRgno REsp.1.446.433-SC, 27.05.2014, Rel. Min. Sidnei Benet, DJE 09.06.2014. 64. Neste sentido, na doutrina alem&: Leo Rosenberg e Karl Heinz Schwab, Ziviprocessrecht,§ 95, 1.447; rite Baur, Zvilprozessecht, n° 106, p. 84; Rudolf Bruns, Zivilprocessrecht, n° 132.177; na douttina italiana, Liebman, Manuale di dirtto processuae civile, . 1, n° 86, p. 150; Satta, Dirittoprocessuale civle,n.° 150, p. 267 (no seu pensamento,situagdojuridica “final cuja tute Ja “non lesecuzione, bensf proprio la pronuncia del giudice, che realizza la modificazione”); Chiovenda, Lazione nel sistema dei diritti n. 13, p. 262: Gian Antonio Micheli, Corso di diritto processuale ile v.11 17,p.61;na doutrina brasileira, Pontes de Miranda, Tratado das aces, 1, §25; pp. 120-121; Ovidio A. Baptista da Silva, Curso de processo civil v1, p. 140; Tomés Pard Filho, Estudo sobre a sentenca consttutiva, p. 16; Vicente Greco Filho, Direito processual civil brasileiro, v. 1, n° 16, p. 85; Emane Fidelis dos Santos, Manual de direito processua civil 1, 992, p.53. 65, Ensinou Chiovends, Instituigbes de dirlto processual civil. 1, 51, p- 282, € Principias de de- recho procesal civil, v1, § 8, p.231, que a ago constitutivajé era conhecida antes dos direitos potestativos. Em certos casos, pondera Jose Zafra Valverde, Sentencia constitutiva y sentencia dispositiva, p. 87 tas direitos operam mediante simples declaracio. 198 D> manuac oa sxtcucho Nashipéteseslistadas, oefeito principal da sentenca de procedénciaéumestado juridico novo, Em algum ponto, “por minimo que seja, o mundo juridico” mudou.* ‘No que interesse, ou seja,relativamente & satisfagao do demandante, claroesté que o estado novo se incorpora, de logo, ao mundo juridico, e de nenhuma comple. mentacdo pritica ulterior carece a eficdcia constitutiva, O termo inicial do prazo de div6rcioéa data da sentenca de separacao. Neste momento, sendo antes (p. ex., prece- endo’ separacio ordem judicial para o afastamento do cbnjuge), sucedeamudanca do estado civil, que carece de qualquer ato externo ao provimento judicial (p. ex., da averbacdo e do registro civil do ato). Exataseafigura, assim, a observagao precisa de Franco Lancellotti: em sequéncia a eficécia constitutiva, é desnecessério o “desenvolvimento de qualquer atividade ‘material operando a eficécia, positiva ou negativa, como “uma manifestacao de von- tade destinada a produzir efeitos juridicos’” Embora aludindo a uma “executividade” em sentido amplo, que se passa s6 no ‘mundo jurfdico, distonao discrepa em substncia Tomds Paré Filho, porquanto depa- ano provimento constitutivo “toda a sua eficécia, independentemente de outro pro- cesso oude outra via execut6ria’™ ‘Tambem na forga consarutiva, portanto, nada ha para executay, ¢ o destanndante se satisfaz plenamente to s6 com o pronunciamento do juiz. Porém, nenhuma sentenca é pura e, nas ages constitutivas negativas (ug. na resolugao do contrato preliminar de compra e venda, por inadimplemento do adqui- ‘ente, no qual alienante transmitiu a posse eo adquirente pagou parcelas do prego), no raro impde-se o retorno ao estado anterior e, nao sendo posstvel, a indenizagao pelo equivalente, conforme dispoe o art. 182 do CC, quanto as acdes de invalidade, regra aplicavel, poranalogia, aresolugdo art. 475 doCC).Emtalhipétese, inexistindo ‘cumprimento voluntério, surgiré pretensao a executar. Ndo se cuida de efeito da des- constituicéo em si, mas de outro elemento, condenat6rio ou executivo, da sentenca ‘Aforca constitutiva da sentenga, enquanto tal, ou seja, a dissolucao do vinculo con- tratual, opera por si s6, sem a necessidade de qualquer atividade material para essa finalidade. 66. Pontes de Miranda, Tratado das ade, v1, § 35. 203. 67. Franco Lancellot, Sentenza civile,n* 57, p. 1.144. 68. Tomés Pard Filho, Estudo sobre a sentenca constitutiva, p.70. Se, como observa Andrea Proto Pisani, Appuntisullatutlla cd. costitutiva,n *2.4.3, p86, direitos subjetivos de contesido diver sodioorigem a agdo conatitutiva, cumpre nBo olvidar os equivocos da divisto “tripartida’; assim, 2 agéo nascente do contrato preliminar (entre nés, art. 501 do NCPC) 6 executiva, exatamente porque tem “funzione esecutivaed esecutiva ad un tempo" (n.*3, p. 88), eno constitutive: ¢um patio da doutrina italiana, ainda que timido, norumo certo, NOGDES PRELIMINARES DA EXECUGKO 119. 3.3 Eficdcia condenatéria De todas as eficdcias tradicionais, a de construgao mais dificil e enigmatica €a condenat6ria. Nao se assentou, definitivamente, nogaoimune a crticas. Com efeito, a natureza da antiga formula (condemnatio) dos pretores romanosa todos atormenta, grassando divergéncias intensas. Tentando explicé-la, o maior jurista da lingua portuguesa incorreu em crasso circunléquio: “a acdo de condenagao’ escreveu a certa altura o eméritojurista, “tem como ‘contetido’ obter decisio condenatéria’® Em passagem diferente da extensa, obra que legou a ciéncia, todavia, se retira a esséncia do pensamento a respeito: no seu lac6nico e definitive enunciado, ‘condenar” alguém significa reprové-lo, “orde- nar que sofra’™ Segundo outra influente,” o elemento condenatério resulta da soma de duas declaragdes independentes, as quais, como deflui do art. 20 do NCPC, mostram-se fraciondveis em jufzos autonomos. Segundo tal raciocinio, num primeiro momento o juiz declara o direito posto em causa e, na sequéncia, impde ao vencido “a sancdo es- tabelecida na lei para o ato ilicito” Tratar-se-ia, pois, de dois elementos declaratérios discerniveis pelo objeto. Formula mais elaborada define asentengacondenatériacomo preparatériadaexecucao, “porque elalimita-seadeclararaexisténciadeumaviolacao a alguna obrigayau ou dever jurfdivus © a necessidade de se aplivar a sangau dat decorrente’”? Essa concepgao vingou no art. 515, I, segundo o qual constitu tftulo executive judicial a sentenca que reconhega a “exigibilidade” de obrigagao a cargo do réu. Por Obvio, se a resolugao judicial reconheceu obrigacdo, impds a prestacdo 20 vencido, e, portanto, ndo é “meramente” - como se dizia antigamente - declarativa, ou seja, foi além da declaragao da simples responsabilidade (art.20). 69, Pontes de Mirande, Tratado das agdes,v.5,§ 1 70, Idem, v1, § 36, p. 209. 71. Enrico Tullio Liebman, Manuale di drto processualeclvle 1,84, p. 185: \dem, Proceso de execugao,n.°7, pp. 4-18. Nadoutrina brasileira, Frederico Marques, Manual dedretoprocessual civil v.1,n# 108, pp. 133-134, No mesmo sentido, no direlto italiano, Cisanto Mando, Sulla cortelazione necessaria tra condanna ed esequiblitforzata, 2, p. 1.34, com justacrilea de Valerio Tavormina n tema di condanna, accertamento ed efficacia esecutva, 40 Calamandrel, La condanna,n.*4, pp. 490-482, hd estado de sujelgto dor cesco Invea, La sentenza di condanna,p. 4, hé a declaractodollico (tro) ea pronincia do remédio aplicével. No direitoalemdo, prepondera a ldela de que a condenagBo impbe ao réu 0 dever de prestar (Leo Rosenberg e Kar Heinz Schwab, Zivllprocesrech,§ 83, p 461). Ndo ne: sligencidvel a ertica de Lancellotl, Sentenza civil, n. $5, p..142, de que oefeltoexecutvo decorre da propria li 72, Céssio Scarpinella Bueno, Cumprimento da sentenga e procesto de execugdo:ensalo wbre 0 cumprimento das sentencas condenatéras, n* 12, p48. pa. 120 D MANUAL OA ExECUGAO Todavia, em devastadora critica & teoria, outro processualista ilustre coleciongy argumentos decisivos e contrarios as principais premissas dessa tese,”e, conseguin, temente, aredacao do art. 515, 1. Em certos casos, a exemplo da imposicao ao vencido das despesas do process (art. 82, §2.°, do NCPC), inexiste ilicito sanciondvel e, todavia, ninguém duvidaré dy presenca de “condenagao" Por sinal, a regra do NCPC declara que “a sentenca conde, naré o vencido a pagar ao vencedor” as despesas por ele antecipadas. Conseguinte mente, o trago constante e imutavel do elemento condenatério hé de ser buscado noutra particularidade. Deoutrolado, hasancdes quese materializam através daeficdciadesconstitutiva Eo que sucede, p. ex., na hipétese de o juiz decretar a nulidade absoluta de negécio juridico, ateor do art. 166 do CC. Enfim, se o efeito executivo da sentenca condenatéria, ou seja, a autorizagdo pan executarovencido, origina-se da segunda proposicao declaratéria do juiz, justamentea que aplicaa “sancao” - omitido semelhante juizo, parece indiscutivel que eventual sen tenga de procedéncia se limitaria A pura declaratividade -,”"ndo é evidente a fontedessa segundadeclaracéo.O elementodeclarat6rio, deregra, ndoensejapretensdesexecutivas Por que se passaria ocontrério -o obscuroe inevitdvel jogo de palavras provaoacertoda crfuca - na “segunda declaragao” da condenacao é pergunta jamais respondida. Fixou-se a doutrina, de modo algo paradoxal, mesmo sem decifrar o quid especi- fico da condenacdo, no interior da sentenga, ou localizando-o na surpreendente “de- claragao” da sancao, na tipicidade do efeito. A eficacia é condenatéria porque autoriza aovencedor dademandaexecutarovencido.”Esteefeito, havido por tinico eprimordial, expressa-se no aparecimento do titulo executivo (Vollstreckungstitel).”* 73. José Carlos Barbosa Moreira, Reflexdes crftcas sobre uma teoria da condenagto civil n°7,p 1.46. Interessante notaro esforgo de Valerio Tavormina (In tema di condanna, accertamento ed efor cia esecutiva,p. 21 e ss.) que, relacionando direito de crédito e execuco forcade, encontra 20 conteido do objeto da declaragao (‘accertamento") a origem de sua eficécia, executiva ou nko. 74, Excetona opinido vencida de Carlo Fumo, Condanna e titolo esecutivo, n.°, p. 122, nota2. tabeleceu a2. do STI, REsp. 5.059-PE, 27.11.1991, Rel. Min. José de Jesus, RISTY 34/252, 05 guinte:“.. em se tratando de agdo de natureza meramente declaratbrla, a decisfo vale com> preceito para a ago de natureza condenatéria, se proposta’ 75, Neste sentido, Elio Fazzalar,Istituzioni di dritto processuale,p. 172; G. Verde, Profil del proces civil, p. 120; Gian Antonio Michell, Corso di dirtto processuatecivtle,v.1, n.° 14 p. 48; Cesan0© Mandrioli, Corso dt diritto processuale civle v. 1, n.* 18, p. 54; Sergio Costa, Manual di dirtio processualecivile, n° 22, p.32; Romano Vaccarella, Titolo esecutivo, precetto, oppostzioni . 11% Giancarlo Giannozzi, Condanna (dirito processuale civile),n.°2, pp. 1.084-1.085; Claudio Pe trucci, Condanna (dirt processuale civile),n.°3, p.712-714. No direlto portugues, Artur Ande ‘mo de Castro, Direito processual ctl declaratéro, v. 1, .° 18, p. 181. No direite espanhol, Pra ‘cisco Ramos Mendez, Derecho procesal cv, . 1, p. 640, com a seguinte observagao: “Aunque dt suyo la sentencia no satisface directamente el derecho violado, constituye el presupuesto neo sario para una ulterior fase de proceso: la ejecucion..: Procurando decitrar o enigma, anton? DallAgnol, Agao condenatoria: estrutura e fungdo, n.°2, pp. 44-45. 76, Fritz Baur, ivilprozesrecht, n° 101, p. 81; R. Bruns, Zivilprozessrecht, § 24, n.° 130, p. 171. NOCDES PRELIMINARES DA ExECUCKO. 121 Logo se percebe o muito de precério e de insatisfatério contido em semelhante alvitre. Perigoso que seja isolar a esséncia a partir do efeito, a empresa é desenganada se co expediente pouco acrescenta e nada esclarece quanto a identidade da condenagio. Fica-se na periferia do seu quid. Ademais, a correlacao obrigatéria e artificial entre o elemento condenatério ea execucao poe mostra, dramaticamente, otracadoartificial carbitrério das fronteiras usuaisimpostasa funcao executiva. Certas prestagéesinfun- giveis, criadas pela eficdcia condenatéria, ndo encontram meio habil para efetivar-se, seja porque o ordenamento rejeita o mecanismo de coagao, seja porque poucos nele reconhecem auténtica “execucao forcada’” As excegdes desfazemo vinculo inflexivel que prenderiao elemento condenatério a execucao. Essencial a condenagao é a propria condenagao, escreveu-se em pejo ao truismo da proposicao.” E isso porque 0 efeito executivo se ostenta elimindvel, como ocorre se aprestacao recai sobre a Fazenda Publica.” Certamente, a falta de proposicao definitéria clara, j4 no CPC de 1973, téo pro- penso alas, e, precisamente, o abandono desse propésito constante no anteprojeto, geraadificiidade Aart 495, caput, da NCPC, repraduzindo a direito anterior. apre- senta débil pista, relacionando & ideia “decisao que condenar o réuao pagamento de prestagdo consistente em dinheiro’, ou que converter prestacao diferenteem dinheiro, para o efeito de outorgar ao vencedor hipoteca judicidria; em seguida, porém, 0 ves- tigio jd fraco se exaure, cedendo a razdes alinhadas na critica precedente & teoria da dupla declaragao. Mas, o siléncio legal nao significa, ponderou-se em face de lacuna mais grave," que aeficdcia condenatéria seja construgao artificial e aberrante. Entre nds, oart.515, 7. Vide, ao propésito, a constatagao de Andrea Proto Pisani, Appunt sulla tutela di condanna, .* 5,p.1.119, quanto & ineficléncla da técnica execut6ria tradicional, que independe da colaboracéo e da resistencia do executado, em relacdo as obrigagées de fazer infungiveis, exremamente complexas, e de nao fazer, razdo por que examina todas as teenicas existentes no direito com parado (idem, n.° 10, pp. 1.165-1.178); antes, jé se manifestara no mesmo sentido em Leffetivita del mezzi di tutela giurisdizionale, pp. 620-634. interessante €a critica a0 timo ensaio de Cri santo Mandrioli, Sulla correlazione necessarla, pp. 1.342-1.357. 78. Pontes de Miranda, Tratado das agdes,v. 1, §36, p. 208. 79, Segundo Cindido Rangel Dinamarco, Execugdo civil, n.* 336, pp. 500-501, ha af “condenacdo aparente’ fiel&ideia de que onde nto hé execucio (efetto) ndo hd condenacdo (causa). Pontes de Miranda, Comentarios ao cédigo de processo civil v.10, p.473, epudia a tese como absurda, debitando-a a “influéncia maléfica de escritoresitallanos” Sobre esse assunto Antonio Dall Agnol, Sobre o sequestro constitucional,p. 15. 80. Ba observacio de Vittorio Denti, Flashes su accertamento e condanna’ n.*4, pp. 263-264, 0qual, todavia, chegou 20 ponto de reputar o efeito executivo da condenacto “secundério’ ou seja, anexo e nao integrante do micleo da sentenca. 81. Girolamo Monteleone, Condanna civil ttl esecutivi, n.*4,p. 1.080, 122 De mama pa xeCUhO |, do NCPC consagrou, a0 contrério do omisso e genérico art. 464 do CPC italiano gurafacilmente enquadrada na dupla declaragao. Em vao, porém, buscou-se erradicy a sentenga condenatéria. “A imaginar-se que algum golpe se tramava; escreveu jog Carlos Barbosa Moreira, “para... condenar& morteasentenga condenatéria,felizmen, te 0 golpe malogrou’ E, de fato, copiosos dispositivos aludem & “condenacao”e sey, ‘cognatos no NCPC, bastando invocar, outra vez, 0 art. 85, § 4.°, III, que alude & faltade “condenagéo principal” (logo, quanto ao capitulo principal da sentenga) da Fazends Piblica, estabelecendo critério subsididrio para estabelecer a base de cAlculo dosho. nordriosadvocaticios do vencedor. Também oart. 495, § 1.°, I, menciona “condenagéy sgenérica’, embora a regra seja condenagao Ifquida (art. 491, caput). Nenhum desses dispositivos ¢incompativel com oart. 515, I. Como jd se explicou, o legislador rendev. -se & concep¢ao prevalente da dupla declaragao, e, no fundo, trata-se de um modo analitico de definir a condenacao. Se o érgao judicidrio “declara" que Joao deve ra Pedro, naose cingiua declarar Joao responsdvel perante Pedro, mas condenou (repro- vou, ordenou) o réua prestar ao autor. Deu um passo adiante da simples declaragéo” E, mais uma vez, vale recordar que o art. 20 do NCPC quanto possibilidade de oautor pleitear a simples declaracao, conquanto exigivel a prestacao. Em diversas situagées, aoautor pode interessar apenas declarararesponsabilidade do réu.” Equiparar asduas situagoes subtrai do autor o direito de pleitear a providéncia que lhe convém, desinte- ressado da (talvez impossivel por razdes préticas) futura execucdo. Osdispositivosinvocados, sem duivida, confortama fugidia entidade “condenacto, de resto entroncada no comércio juridico e no uso dos operadores. ‘Adoutrinaalema oferece explicagdomaissimplese diretaa figuradacondenagio. Aestrutura da condenacaose formaria, além da declaragao da existéncia da responst- bilidade, por intermédio de “uma ordem de prestar dirigida ao réu (*..undeinen Le tungsbefehl an den Beklagten..”).” Apesar das criticas recebidas pela idela no set proprio ambiente cultural,” logrou aceitacao geral; por exemplo, Othmar Jauernlg afirma que a sentenga condenatéria “enthalt zweierlet: Bs stellt das Recht des Kidgen ‘gegen den Beklagten fest und befiehit diesen, na den Kldger zu lestein” (envolve duss espécies: declara o direito do autor perante o réu e ordena que preste algo ao autor)" £, mais adiante, acrescenta-se que, mediante a sentenca de declaracfo, oautorobten {22 (pms sara bade Pens Pisani, Appunt sulla tela dl condanna, 2.4, pp. 1.117. 2 eswerse gure yr Onsuel Yasuds Mororolzato Yoxblda, Execucdo por tiulo adie ¢ statis tne gure a tna erat tntuenast 1°41, pp. 60. 1A Mesatcve Seas anata, A na execu dsr, 7, Bp 6-96, Wis ae teneahenye Vall Wench, Zullpraeasesht, §%, I |, p46). bh Wasi ahs feteage rr Uriah Ab M 26 111 praca ose, ilps N 9A Vie. ocOeS PRELIMARES DA ECO 123 tao s6 a existéncia do efeito juridico alegado, mas nao o direito de executar." E teoria acolhida em outras legislacdes, objeto de previsdo especifica no art. §.1 da Ley de En- Juiciamiento Civil espanhola de 2000. ‘Seja como for, hd certa eficdcia condenatéria operando efeitos, ea trivial consta- tagdo agarra-se ao senso comum. Ela decorre da circunstdncia, bastante acentuada pela inevitavel e necesséria comparagao com as efic4cias anteriores, que ha direitos cuja atuacdo exige ulteriores atos préticos para outorgar o bem da vida ao vencedor. O bem da vida almejado na demanda nao é obtido através da simples emissio do pro- nunciamento judicial.» & preciso que o vencido cumpra ojulgado (‘execugao" volun- téria) ou, entdo, o vencedor promovaaexecucio “forcada™ Embora ndo seja a tinica forga sentencial a projetar-se no mundo dos fatos para essa finalidade, e por este motivo delimitar seu campo de incidéncia continuaria im- perioso, embora a questo maior da sua individualidade fique aberta a posteriores estudos, acarga executivadacondenacioéinsuficiente paraqueas operacées praticas decorram da prépria regra jurfdica concreta. 0 efeito executive quea acompanhaori- ginard outra pretensdo, a pretensdo a executar, prop(cia & efetivagao do “programa” condenatério, Noentanto, parece arbitrériorestringirsemelhanteescopoasprestagdes pecuntdtias.” H um argumento decisivo para demonstrar o surgimento, apés a emissio do pronunciamento de que cogita 0 art. 515, I, de uma nova pretensao ~a pretensio a executar -, evidenciando, por outro lado, a existéncia de cumulagdo ulterior de acdes nochamado “cumprimento” dasentenca.O objeto daprescricdo ¢apretenso (art. 189 do CC). Ora, oart. 525, § 1.°, VII, autorizao executado a opor-se alegando a prescrigdo superveniente&sentenca. Logo, o provimento judicial provocaoaparecimentodenova pretensdo, aqual comportard encobrimentopelodecursodetempoidénticoconferido A pretensdo origindria (Simula do STF, n.° 150). Esse dado revela a insuficiéncia das concep¢des que vislumbram no cumprimento simples “incidente’ abdicando de ex- plicacdomalsabrangenteecompletadofendmeno. Afaltadecumprimentoespontaneo do pronunciamento judicial, caracterizandoo inadimplemento, jéindicaanecessida- de deo vitorioso agir perante o vencido.” 8, Ob. cit, 6:34, IL p. 133, 89, Manuel Ortells Ramos, Derecho procesal civil, p. 45. 90, Wolfgang LOke, Zivliprocessrecht, § 1, n.° 501, p.479. 91. Assinala Leonardo Greco, Agbes na execucSo reformada,n.*6, .857:"A execucto € ago conse ‘quente orfunda da a¢4o de conhecimento que a antecede no mesmo procesto” 92, Neste Gltimo sentido, porém, Céssio Scarpinella Bueno, Ensaio sobre o cumprimento das sen- tencas condenatérias, n 1.2, p28. 99, Vide Ronnie Prouse Duarte, A neturcta Juridica do “eumprimente de aontonga’ m4, pp. 264 265. 124 D> MANA oA ExECUGAO No cotejo das solucdes aventadas, e no estégio atual alcangado pela ciénciad, processo, aincapacidade dea condenacao satisfazer odemandantenomesmoprocey so, rovocandoonascimento da pretensao a executar, é0 ponto maximo alcancévelna busca daidentidade desta eficacia, 34. Eficacia mandamental Foi gracasacuidadoso exame empirico das eficdcias, a¢ao por agéo, injustamen teaverbado de pouco feliz por influente processualista italiano,” que se isolou aefic- ciamandamental, mencionadasnoart. 139, TV enoart. 380, pardgrafo tinico, doNCPC, entre outras disposiées da legislacao processual extravagante (ug, art. 212, §2%, da Lei8.069/1990, utiliza aexpressao “agaomandamental”), e objeto dos cuidados eaten. «bes do legislador, cuja preponderancia no pronunciamento do juiz tipifica a quartae auténoma classe de sentencas do regime classificatério até aqui seguido. Segundo a concep¢ao originaria, provimento deste teor contém a declaracio do direito e a ordem, proferida pelo juiz, dirigida a alguma autoridade.* Exemplo de agés mandamental é o embargo oferecido por terceiro a ato judicial.* A demanda: cautelar constitui outro bom exemplo da classe.” Nesta tiltima, alids, servindo de paradigmao arrectn avultaa passihilidadedealgum particular erigir-se em sujeito passivo daordem.* Tustram as hipdteses. ademais, a profunda dose da forca estatal que impregnao mandado do juiz. A existéncia de remédios do alcance dos embargos de terceiro e do arresto somente se explica pelo veto & autotutela e 0 corolério da imprescindivel me- diagdo do terceiro imparcial, que, dotado de jurisdictio para resolver a lide, igualmen- tepossui dose legitima de imperium pararesguardaro prestigiodesuafungaoeefetivar seus comandos.” Enquanto no projeto de adequagao fatica derivado da eficdcia con- denatéria o juiz rd se sub-rogar ao que o obrigado nao cumpriu, em que pese pudesse fazé-lo,naexecucdodomandadoha "ato quesé ojuizpode praticarporsuaestatalidade™* ‘4, Ennco Tullio Liebman, Effcacia ed autoita dela sentenca, n.°9, p. 30, nota 10. 95, James Goldschmidt. Der Process als Rechislage, § 31. p. 496, nota 2.615; idem, Derecho procul sail $ 15 pp. 14-115.Sobreaterminologia- Anordnungstlage-, Rudolf Bruns, Zieilproesssmci $24 n- 128,p 187 Nalteratura brasileira. hé o levantamento de Nelson Rodrigues Nett, Tat ‘nalespevfca, . 119-128: José Carlos Barbosa Moreira, Asentenca mandamental-dt ‘emanha ao Bras pp. 53-38 ‘46 Cloxts da Couto e Siva, Comentarios ao codigo de processo civil Mbranda Tratade das avdes ¥.6.$3°,p. 10 (dio A. Baptista da Siva Comentarios ao eéigo de processo civil v.11, pp. 91-95. 8 Ponies de Miranda, Iratade das agdes v.6.§ 32. p. 8. No mesmo sentido, Fabrizio Cameriat Teonat era da tucla mandamental, pp. 8 Decisio a espeito eo magnifico estudo de Ovidio A. Baptista daSilva, Curso de processo civil 2 $8 147158, pp. 27138, 1-481, p. 437; Ponnes de uw Pontes de Miranda. Fratado das acées, v. 1, § 37, p. 212, Nao se imagine. contuda, ques eicatia mandamental aio eorresponda a alguma a¢ao material, O que sucede é a infungibil ocOEs PRELIMINARES DA ELECUCHO 125 Essaéarazdobésica pela qual odesacato 4 ordem do juizimportaterapiadiferen- tedaordinéria, empregada para debelarrebeldias 4 reprovacdo emanadado elemento condenatério. Eventual afronta ao imperium do érgao judicial, utilizado porque o comportamento exigido do demandado é infungjvel, em outros ordenamentos provo- card a privacao da liberdade do recalcitrante. O contempt of Court contrapse-se, exa- tamente, & desobediéncia do particular," nao se mostrando o ordenamento pétrio, destarte, inteiramenteinfensodmedida. A Equity desenvolveuoremédioda injunction, nas espécies permanente e interlocutéria, para reprimir desobediéncias." Nadoutri- nanorte-americana, a esse propésito, assinala-se que “contempt was the normal pro- cedure for enforcing decrees issued by the equity courts’ Ora, o contetido do provi- mento mandamental reside na ordem em si, emanada do 6rgao judiciério, e, nio, dos mecanismosdecoer¢4o (multaepriso) porventuratutilizadosnarespectivaexecucao.™ Aprisio por desacato (contempt) constitui o meio utilizado para pressionar 0 destina- tério da ordem a cumpri-la, mas sua admissibilidade, entre nés pré-excluida, exceto no caso dos alimentos (art. 528, § 3.°, do NCPC), nao condiciona a existéncia da forca mandamental no provimento. “dade da auvidade do sujetto passivo, como explica Ovidio A. Bapusta da Siva, Curso de proces- so civil, v2, § 155, p. 262. Como se vé, a mandamentalidade corresponde a certo elemento eficécia) da acdo, néo se justificando a critica de que a nota distintiva da classe residirla nos efeitos (Adolf Schanke, Derecho procesal civil, § 44, 1p. 153), salvo se, po ‘feito’ se entenda “eficécia‘ Tambbém se afigura censurdvel aejeigo desmotivada de Frederico Marques, Manual de direito processual civil, v. 3, n.* 531, p. 33, “razao pela qual nio deve tal posigho ser levada ‘como assinala Orione Neto e Flévio Cheim, Sentengas mandamentais edetermina- tivas,n.*5, p58. 101. Vide, Roberto Molina Pasquel, Contempt of cour, § 3, pp. 7-79, Os limites da tutela execu- tivade pronunciamentos judiciais “néo pecunidrios”sio bastante discutidos na doutrina italia- nna, Na vasa literatura a respeito nos iltimos 20 anos, consultem-se: Aldo Frgani,l‘contempt ‘of court’ quale sanzione per Finesecuzione del!injunction’ pp. 113-143; Andrea Proto Pisani, Leffetivita dei mezzi di tutela giurisdizionale . 621 ss; idem, Appuntisullatutela dicondan- na, p.1.105-1.178; Crisanto Mandriol Sulla correlazione necestaiap. 344; Girolamo Monte- leone, Recenti sviluppi nella dortrina dellesecuzione forzata, n° 12-14, pp. 306-315; idem, ‘Condanna civil, p. 1.075; Vittorio Denti, Flashes su accertamento econdanna,p.256-264; idem; [A proposito di esecuzione forzatae di politica del dirito, pp. 130-135 (com critica a0 ensaio de “Monteleone citado acima); Federico Carpi, Notein tema ditecniche di atuazione de dirt, pp. 110-122; idem, Linibitoria processuale, pp. 93-167; Vittorio Colesanti, Misure coercitiveetute- la dei isi, pp. 601-626 (com avaliacéo critica do livo de Sergio Chialoni de mesmo titulo); Cristina Rapisarda, Profil dea tutela inibitoria apica, pp. 93-129; Eduardo Grasso, Iprocesso esecutivo, pp. 520-551. Sobre a execucéo da iniitéria no direito italiano, Cristina Rapisard, Profil della tutelaintbitoria atipica, pp. 185-208; Ugo Mattel, Tela inibutoraetutlarsarcito- ria, p.243. 102. John F. Dobbyn, Injunctions, p. 150. 103. Jack H. Friedenthal, Mary Kay Kane e Arthur R. Millet, Civil procedure § 158, p. 752. 104. Em conte contro, com asso, Sérgio Murcia, Apdo executive lao enue agdo mandamental, 242, p. 242, 126 D awuat or xecucho Exemplo expressivo da repressio a rebeldia contra a ordem judicial, amide pos taem divida,* encontra-se no art. 22, pardgrafo tinico, da Lei 5.478, de 25.07.1968. regratipifica como crime a recusa ou o descumprimento da ordem de descontoem folha (art.529doNCPC),tutelando, repressivamente, a eficéciamandamentalimedia- tadasentenca condenatéria a prestar alimentos, Fécil se revela, destarte, partindo das distingdes procedidas, acentuar a flagrante heterogeneidade dos efeitos que decorrem da ordem de arresto (eficdcia mandamen- tal) eda condenagao a prestar fato fungivel (eficacia condenatéria): nesta tiltima, 0 empreendimento execut6rio visard a transformacao fisica descumprida pelo obrigado e,contudo, realizavel contra e independentemente de sua vontade; na primeira, aat: vidade executiva, congenitamente estatal, alterar4 0 mundo fatico em area na qualsé o préprioindividuo, eninguém mais, poderia atuar eficazmente. ‘Mas, aesséncia da eficacia mandamental repousa no contetido da agao. Elemen: toindependente, o mandado, incrustado no niicleo de eficdcias da sentenca, irradia efeitos bem discerniveis no campo executivo: (a) ajé realgada estatalidade imanente, tutelada através de medida coercitiva contra a pessoa do sujeito passivo; (b) 0 ato exe- culvo ocorre ulterlormemte ao provimnento, ex officio, purésn dentro da mesma cotrt tura("processo”)."*Tornou-se comum a expressao “sentenca mandamental” najuris prudéncia do STJ no tocante ao mandado de seguranca."” E, conseguintemente, os problemas atinentes’ execugao dessa forcae do eventual elemento condenat6rio. Em julgado preciso, assentou a 3.* Turma do STJ: “As sentengas concessivas de mandado de seguranca de cunho condenatério, comonahipétese, concernente arecomposigao devencimentose vantagens pecuntirias de servidores publicos, contemplam a possi- bilidade de um rito de execucao de sentenca mandamental’!™ Também a eficacia mandamental, portanto, carece de operagées préticas pars alcancaraodemandante vitorioso bem da vida. Aninguém importaa ordemematess, mas a ordem cumprida pelo destinatério, A terapia inerente aos provimentos mandamentais, anteriormente ignorada ou rejeitada, adquiriu singular relevo, emdeterminadas situacdes. Deacordocom og arts ‘Duvida se tanto da eficcia mandamental (Arruda Alvim, Manual de direlto processual cle 2. 1.2283, p 370). quanto da possibldade deo contempt of court se aplicar fora do sistema jusidco 4 common lau (Aldo Frigani, ‘contempt of court; n.* 1, p. 113). Rememore-se, porém, qué coatorme aponta Adolfo Gels Bidar, Tendencias sobre coercion para el cumplimiento de sen sas ordenes en os jucios no monetaros, n°, p. 172, 6 preciso nao violar “valores supe ‘oes’ naaplcagéo da coagio pessal por desobediéncia. ‘rods 8 Bapaista da Siva. Curso de proceso ciil 2, § 147, p. 257. Outro exemplo de efickia wr andamental om que anvaliaqio da ordem ("exacupio") ocorve no pedi pracesto, 60 mam Jesegaranga 2*T doSTL RMS 1.873-8-DF 24111993, Rel. Min, Pédua Ribeiro, RIST]58/162 o5TT AgRyo ARESp 541 948-MG,2403.2015, Re. Min. Benedito Gongalves, DJE 07.04.2015 +7 €.ST) AgRany REsp 1081 429-DF 10.04.2012, Rel. Min, Vasco Della Giustina, DJE07, 05.2012. HOGDES PRELIMINARES DA EXECUCAO 127° 16e 17 da Lei 10.259/2001, a atividade executiva, na execugao perante o Juizado Espe- cial Federal, qualquer que seja a natureza da prestagao (pecuniéria, faciendi ou entre- ga de coisa), cingir-se-4 a emissio de ordem por meio de oficio. Este regime constitul radical e alvissareira mudanga na técnica legislativa. De ordinério, a atividade execu- tiva exigia, nessas prestacOes, o emprego de técnicas sub-rogatérias (infra, §7.°); dora- vante, ao menosno prismaestrutural, tudo se passard no ambito da relago processual origindria, reprimindoadesobediénciaatravésdemulta. Porém, as peculiarescondigdes queapontama possibilidade de éxito da nova disciplina, naexecugdopormenor quan- tia contra a Fazenda Publica - solvabilidade, obediéncia ao principio da legalidade e receio doservidor ou dos agentes publicos em incorrernamulta™-,naosereproduzem entre 0s particulares. Este assunto receberd consideracGes no campo proprio. Emalguns casos, 0 objetivo doautor éa simples seguranga do direitolitigioso, ea eficdcia sob exame, haja vista a origem estatal do mandado, nao o satisfaz (exemplo: arresto, que apenas assegura a futura realizacao do crédito em dinheiro), conquanto se materialize a garantia mediante operagées fisicas ou executivas. 3.5. Eficdcia executiva A forca executiva “retira valor que esté no patriménio do demandado, ou dos demandados, e poe-no no patriménio do demandante""” Ela é imediata (eficdcia), quando a incursdo na esfera juridica do vencido mira algum bem previamente identi- ficado, quelase encontrademaneirajéreconhecida como legitimano pronunciamen- tojudicial, porque integra o patriménio dovencedor, , portanto, dispensaréainstitui- 40 de novo proceso para reavé-lo;"" e diferida (efeito), quando a penetracao executiva precisaré atingir algum bem integrante da esfera patrimonial ejuridicalegi- tima dovencido, o que acarretaanecessidade de controlar demaneiraplenaaatuagao do meio executério, porque aos meios executérios caberd respeitar o principio da responsabilidade patrimonial (art. 789 do NCPC eart. 391 do CC). Em outras palavras: nna aco que nasce com forca executiva (eficdcia imediata), o ato de cumprimento re- caird sobre bem que integra o patrimnio dovencedor (ug.,naagaodedespejoaposse, sendoo dominio mesmo, pertence ao locador); na ago que nasce com simples efeito executivo (eficdcia mediata ou diferida), o ato executivo recaira sobre bem integrante do patriménio do... vencido.'? 109. A possibilidade de aplicar a multa aos agentes puiblicos, antes da reforma, jd merecera a defesa de Marcelo Lima Guerra, Execucdo contra o poder publico, n°82, pp. 76-78 NO. Pontes de Miranda, Tratado das agées, v. 1, § 38, p.212. 111. Ovidio A. Baptista daSilva, Teoria geral do processo civil, p. 273-274, em que oiluste processu- alista procura estabelecer 0 “ritério cientifico para a distingéo entre uma agdo condenatéria e uma executva tato sensu’ 112. Nao se pode tomar a forma pelo contetido, como faz Débora Inés Kram Baumdhl, A nova exec $00 civil, 1.33, pp. 42-44, porque a caracterizacio da “sentenca executiva" (jamais lato sensiz 128 D wawuaLonexccucto Entram na primeira espécie de agdes executivas, a tinica que merece 0 rétulo de “executiva’p. ex, as de depésito, a reivindicatéria, o despejo, as possessérias, ade imissio na posse, a peti¢ao de heranca, a nunciacéo de obra nova, e outras, méximese oditeto alegado na demanda, ou seja, o objeto litigioso - considerado, neste pass, partir de critério distinto - revela-se real. Porém, as des de carga executiva podem ser pessoais ou reais." E, com efeite, aprimeiravistasemostraimprépriobaralhar duas classificacbes, baseadasem crtéros diferentes -adaseficécias ea da natureza real ou pessoal do direito -, a fim de confun. di-las , ato continuo, considerar a forca executiva exclusiva do direito real. Oro diteitoretomada daccoisalocadaé pessoal, noentanto, executivaarespectivaagio.™ Exemplo ainda mais expressivo se encontra na sentenga do art. 501, por sem divide executiva." Até autor italiano identificava, neste caso, atividade executiva na prépra sentenga,"”fendmeno inexplicdvel a partir da enumeragao de apenas trés classes de provimentos (declarat6rio, constitutivo e condenatério).""* No entanto, existindoo registro do pré-contrato, a pretensdo do art. 501 é real, porque o registro outorga odi- reito eal de aquisigao (art 1.225, Vil, doCC). Essa redugdo da dea coberta pela eficdcia executiva, cujo propésito evidente consisteem salvarahonra datutela executiva dos direitosreais, possuiaconsequéncia calateraleindesejével de desamparar direitnspessnais muito necessitados de andlogo tratamento. ‘Um dosmaisgraves erros (e provavel causa das profundas desilusées futuras dos seus defensores com oalcance efetivo das reformas legislativas recentemente realiza- das), nesta matéria, consiste em reconhecer na execucao, in simultaneo processu, im- ‘qual seria a stricto sensu) reside no fato de o ato executivo visar a bem do vitoroso, e, nko, do ‘encido, pouco impartando que tal se dé no mesmo processo ou em outro processo, Para unt cra tendéncia de ignorarocontetio, Ovid A. Baptista da Silva, Juris, drelto materi proceso, p.198. 113, Pontes de Miands, Tratado das apdes, 1, § 38.212. 114. Neste exagero incorreu Ovidio A. Baptista Silva, Sentenga mandamental, § 7, pp: 61-74: idem. Carzo de proceso cil x2 §§ 78-80, pp. 129-148, bora com a adordo de ideia mals ampla do «que ausual de“aciorea!” (580, p, 14); bidem, Revindicagdo esentenga condenatéria, pp. 142 195.Nadoutrina italiana, proveitsa€aleitura de Michele Gorgianni, Tutela del credtore et celareale, pp 853-853 115, Mesmo oponivel ao adquirent, 0 direltoostentado pelo locatério & posse da coisa ¢ ad rem (Onlando Gomes, Contratos, n° 105, p 319}; da frga executiva da ago noticiam Pontes de Mi ‘anda, Traiado das apie, 7, §4 pp. 16-17, Niton da Siva Combre, Teoria eprdtica da loca ode imés, n*85, p, 217; contra, a opin de Enrico Tullio Liebman, Processo da execu. 293, p25, 116, Jost Carlos Barbosa Moreira, Aspectos da execugdo' em matéria de obrigagdo de emir declat- ‘do de vontade,n*1.3.3,p.42-44 Lr, Pero Calamandre. La sentenza come ato dl esecutioneforeta,.*4,p. 352. 118. Anubava Pereira Gao ini. Tura expen das abelgnghe cle forr, 90 NOGOES PRELIMINARES DAEXECUCHO 129 posta as resolucées civis - e, note-se, nao a todos os titulos judiciais, a exemplo da sentenga penal condenat6ria (art. 515, V1): 8s vezes, a necessidade de formar novo processo, nos casos do do art. 515, § 1.°-, o poder de transformar todas as sentencas exequiveis em propriamente executivas. Convém repetir: uma sentenca nao exibe forga executiva sendo em virtude do direito material posto em causa. A classificagao dassentencasem declarativas, constitutivas, condenat6rias, executivasemandamen- tais emprega dados do direito posto em causa (retro, 2.1). A circunstancia de os atos se reulizarem no mesmo processo ¢irrelevante. Trata-se de érea reservada, legi te, a técnica do processo, mas nao toca o problema bésico da execugao, nem alterao direito material objeto da provisdo judicial. Quando os atos de execucao, porforga do direito material, realizam-se no patriménio do vencido, e, nao, no do vencedor, asen- tenga tem natureza condenat6ria (efeito executivo diferido). E, neste tltimo caso, a atividade executiva se governa pelo principio daresponsabilidade patrimonial(art.391 doCC). Logo, haveré casosem que o pronunciamento semostraré inexequivel, porque ovencido nao dispde de patriménio aptoassatistazera condenacao. Nesse caso,omeio execut6rio disponivel - expropriacdo (art. 825) - mostrar-se-4 inoperante. As regras, processuais so impotentes, decerto, para alterar a realidade econémica e social; no caso, porém, nem sequer mudaram o direito material. Resulta nfuidu du eapusty, todavia, yue aatisfaydu du autor vitorlosy, semelbian- temente ao que ocorte nas eficécias mandamental e condenatéria, ndo decorre do juizo positivo acerca da sua razdo, e consequente procedéncia da demanda ajuizada. Ela depende da pratica de atos materiais tendentes a outorgar ao vitorioso o bem da vida. E nesta aco, afinal, que preponderam atos executivos e satisfativos. jamen- $2.° Do Ato Executivo 4, Natureza do ato executivo Examinadas de perto, as cinco eficacias existentes no nucleo do objeto litigioso, ‘ou da ago (material) veiculada no processo, revelam-se heterogéneas na forma de satisfagdo que concedem ao demandante. Em dois casos hé tutela autossatisfativa: a emissio de pronunciamento do juiz, dotado de fora preponderante declaratéria ou constitutiva, atendee esgota, integralmente, aaspiragdo doautor.Escopoatingido, nada hé mais para integrar ou acrescentar ao comando judicial, que opera de modo livre, pleno e satisfatério, considerando o interesse deduzido na demanda, sem prejuizo de outras eficdcias coevas ao pronunciamento judicial e, eventualmente, passiveis de realizagio no mundo dos fatos. Notocante as eficécias condenatria, executivaemandamental, ofendmenondo serepete, porém. Considerando sempre a satisfacao do interesse do autor, hé aneces- sidade de alteragées no mundo natural. E somente tais mutagdes satisfazem, na reali-

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