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UMA ETICA RELACIONAL Quais crengas envolvem peuta? O que cada um de we renear oie da mais importante, como vivencia o “gee terapeuta”? Qual o lugar que, como tera- peuta, colocamo-nos na relacao com o ou- tro? Qual ideologia permeia nossas rela- des? Definimo-nos como profissionais que tratam pessoas doentes? Como profissio- nais que fazem intervenc6es para curar e modificar a vida das pessoas ou, além da vida, para modificar as prdprias pessoas? Acreditamos preponderamente na relacao entre iguais com diferentes saberes ou no saber de um sobre o outro? O saber técni- co, do especialista sobre o humano? Ou seria o profissional “além do humano” so- bre o humano? Deve-se refletir sobre a construcao do lugar de cada um nas relagédes humanas, sejam profissionais ou pessoais, pois esse lugar reflete a ética com que vivemos: Pef ceberemos se 0 outro é legitimado por nds Como semelhante em sua humanidade e dierente em sua singularidade, ou se nos- ‘ética relacional é construfda sobre @ = de que alguns séo melhores do que s ede que sabemos sobre 0 outro mals ‘we ele mesmo. gy dersen (1991); White e Epston S40 nossos companheiros nessas m2 O papel do terapeuta em terapia familiar ‘Sandra Fedullo Colombo Teflexdes: a proposta da “equipe reflexiva” de Tom e “a extemnalizagao do problema” de Michael e David sao instrumentos que nasceram desse paradigma de respeito mtituo e de relagies horizontais, e nao de técnicas a serem simplesmente utilizadas. Quando alunos e colegas solicitam 0 apren- dizado de técnicas para 0 processo tera- péutico, tenho a maior dificuldade em atendé-los, j4 que acredito profundamen- te que o grande desafio ¢ refletirmos sobre o lugar do terapeuta e de seus pacientes na relagdo humana e terapéutica: a discus- so sobre 0 equilibrio dos saberes e, dessa forma, do poder entre essas pessoas. O cerne da questéo da formacao do terapeuta estd na reflexao sobre o lugarem que ele se posiciona nas relagdes e aquele lugar que oferece ao outro, € nao somente no capital cientifico ¢ tedrico-técnico. © caminho do desenvolvimento do “ser terapeuta” passa pela condicéo de sen- tir-se pertencente a historia humana de, ao legitimar a propria existéncia, confir- mara existéncia do outro. . O lugar que postulo Pere ee tas, é extremamente exigent te, emia auma integridade crescente awe que sao chamados por anos a fazer uma viagem de e pilidades do viver: ©” ampliagao das possi eros para um mos con' jdados € COM 444 | sx caros Orono, Mara Ehzsbety Pascual do Vale & co cencontro humano construtor de um espa- 0 de reflexes que mobilize a eriatividade para viver e transformar as dores que nos paralisam e nes pactuam com o nao-existz. Chamo a esse incrivel processo de “Bm busca do Sagrado” (2000). A nogio do sagrado esté no territério do emocio- nal, afetivo, relacional, além de ser a ex- pansio da individuacio, fecundada pela construgao do significado da prépria exis- téncia junto a existéncia e a singularidade do outro. Essa caminhada abre espaco para as vozes internas de cada pessoa envolvida no processo ena validacao de cada uma, além de cuidar para que elas trabalhem dialogi- camente entre si, ampliando o campo das possibilidades. Nao podemos pensar em vozes sem pensar em escuta, pois de outra forma ocorreria a impossibilidade da trans- formagio gerada pelo encontro. O encon- tro humano, ampliador de possibilidades, 6 fruto da coreografia entre as vozes inter- nas, externas e a escuta especial, que dé lugar a si e ao outro, construindo a ética relacional baseada na cooperagao e no res- peito, em vez de competicao e excluséo. Esse lugar que proponho ao terapeuta liberta-o do poder sobre o outro e da terri- vel posigio de saber mais do outro que ele mesmo (para mim parece um alivio), mas traz uma complexidade (para mim muito bem-vinda) em que a responsabilidade do caminho a ser construido pertence a todos ‘0s envolvidos, com seus diferentes saberes € compromissos. Gostaria de citar um texto de Hum- berto Maturana, muito inspirador, deno- minado “Amar e Brincar” (2004) que apon- ta.a importdncia do caldo cultural em que cada um de nds nasceu, pois cada grupo hhumano recebe um novo ser, oferecendo ‘um berco ideolégico que o constituira em sua identidade. F nesse sistema de valores {que seremos alimentados e construiremos nosso jeito de estar no mundo e de consti- tuir nossas relagdes. Em outras palavras, aprenderemos uma ética relacional, na qual ualificaremos preponderantemente a re- lagio entre iguais ou a relagio de dominio de alguns sobre outros. (autor aponta as diferencas da ética das relagées em trés estruturas sociais di tintas: a5 sociedades patriarcais, as socie- dades matriarcais ¢ as sociedades que de. rnominou matristicas. Nas sociedades pa- triarcais e matriarcais 0 poder esta concen. trado nas maos do patriarca ou da matri a, € a eles pertencem todos os outros se- res vivos que estejam em seu territério, que ‘0 vistos como objetos, e nao como sujet tos, autores de seu destino. As forcas si0 dirigidas & competi¢do, para que surja o mais forte, o melhor, Nas sociedades matristicas 0 poder esté distribuido entre os diversos seres, in- cluindo a natureza, em uma interagao sistémica. O poder surge da orquestragao de todas as forgas em diregao a coopera- ‘0, & reciprocidade e ao desenvolvimento Bateson (1985), em seu livro Pasos hacia a una ecologia de ta mente, aborda essas preocupagées e propée uma ética relacional ecolégica, em que o lugar da mente nao ¢ individual, mas expandido, e a pele nao é a fronteira que cria a unidade de observagdo, em que a mente individual 6 um subsistema social e planetério, Essa proposta modifica o lugar de cada um no mundo, saindo da situagao de sermos unidades independentes, ea sobre- vvivéncia como um processo individual, para a nogdo de interdependéncia da vida em todas as suas expresses, de Gaia, como um todo, até cada pequeno ser humano. Nosso desafio, entdo, é transformar (© que pensamos e as nossas agées, para que reflitam esse novo lugar de sermos au- tores co-responséveis da realidade que ob servamos, Aética relacional é construidaem um arcabougo de ideias, realizada nas agées cotidianas, fruto das distingdes que far zemos. Unainsesan | Mh Bateson considera que ao entrarmos Gergen (1994-1998), ao afirmar que o self ‘ontato com diferentes informagdesfa- nao ¢ uma propriedade somente do indi- mi um certo niimero de distingSes, as viduo, mas também dos relacionamentos, ie cle aponta como diferencas: ideias _ sendo o resultado “das varias possibilida- ual as naquela relago que se transfor- des de nos contarmos aos outros e a nés surgi sm novas informagGes (aesse proces- mesmos em nossas interages” (Japur, a ‘fenomina “a diferenca que faz diferen- 2007, p. 14). 24) Propée um outro lugar para o indi- Gayo, onde sua mente ndo esteja isolada Ti suas ideias, mas em constante proces- So de apontar diferengas acordadas na re- ing, ao oferect-1as nesse contexto,faga parte da coreografia expandida da cons- o da realidade, em que todos estdo incerdependentes. Marisa Japur (2007) escreveu um artigo em que coincidentemente faz uma ponte entre o construcionismo social, Gergen € Bateson, discutindo 0 cardter relacional da produsio de sentido e a con- cepgio do desenvolvimento do self no en- contro huumano: (© self constitui as maneiras mais ou ‘menos estdvels de contarmos a nés rmesmos e aos outros aquilo que s0- mos. Compreendo entio o cariter relacional da produgio de sentido na linguagem: esse contar sobre nds mes ‘mos no significa expressarmos algo que jé somos, mas sim enunciar pos- sibilidades de nés, cujos sentidos se- rio relacionalmente construidos. (ps) (Ou seja, no construcionismo social, a presenga do outro nao é considerada uma experiéncia exterior, mas co-autoria na construgéo de si mesmo. ‘Compartilho com ela acrenga de que, ‘ao narrarmos nossas historias e ouvirmos hossos diferentes interlocutores, estamos Vivendo a construcdo conjunta de nossas Tntimeras possibiidades, tendo a opor- tunidade de amplié-las. Taz & tona no ar- tigo aSobre um eu que também & voce” ceeconceito extremamente stil para mim, Ue 6 0 de self narraivo proposto por AAs oficinas que idealizei sio espacos relacionais privilegiados para o estimulo dessa co-autoria, para a construgao desse eu que ¢ vocé também, com a atmosfera de legitimidade abrindo espago para con- tarmos e escutarmos sobre nés, Nessa dan- ‘ga dialdgica de pensarmos em nosso per- curso na vida interdependente do outro, vive-se uma oportunidade de dar espago para histérias que nos afetam e que pe- dem licenga para serem revisitadas, ago- ra em um continente relacional que nos instigue, com sua qualificagio, parceria e reciprocidade; ¢iralém em nossa huma- nidade. Estimulada pelos autores citadas até aqui, é enfatizada a proposta da criagéo de contextos favorecedores do deseavol- vimento de cada ser humano em sua his- ‘ria, considerando-se que a convicgdo de {que nos constituimos na relagio inter- pessoal, mediados pela linguagem, forne- ‘ce uma visio processual do que é huma- ro, colocando-nos e as nossas relagdes ‘como narrativas dinamicas construidas € reconstruidas através do caminhar pela ‘vida nas conversagées das quais partic- amos. Gerar espagos conversacionais que es- timulem e construam narrativas transfor- ‘madoras em diregao aos valores de cola- Doragio e parceria parece-me o lugar mais importante para o terapeuta de familia. Além disso, capacidade de criar espacos para que esse profissional possa desenvol- ‘ver-se dentro dessa ideologia,e nao somen- te falar sobre ela, lembrando que a ética info é separada da aco, parece-me o lugar ‘mais importante para o formador de tera- peutas de acordo com essa concepcio. 4AB | xcs voto. Mara Etat Pasco Vio & cols © TERAPEUTA FAMILIAR de diviir 0 espago de dor, ans vas, disputas, lutos e paralisaggceat® tai. 0 ugar de co-construtor de realidades al- 08 envolvidos naquela hinaee®® 4 todos ria, temativas convida o terapeuta a apresen- —logizar ninguém. Deve tarsi <™ Pato. tricemsunernniccomo she tir dccla ty, gi Satine eons, gener aeapslana ae cr dis conscincia de sua autoreeréncia, distingindoevalorzandn as ages, ous cm posi relate em seu lentes dauste grip ee Bese siber Conv oterapeutaarefets sobre catseno lugar de elaborate Seu fazer terapeutico a partir de sua pro- salvador. S € no de pra existéncia, seu contexto social, famili- Busco enfatizar 0 valor das relac, 2 Jeu momento no cio vial, ses mos horizontals, «elas 0 saberes sag eae suas dores. dos & disposicio do grupo para ues ol gm fo refer aca fala so ropa ened lacional que desenvotveu em suas histérias do sentimento de pertencimenre °° 24° de vida e seus modelos afetivos iniciais; ‘Quando precisainos ocul discute e revista sua histriae convida-o.a _nerabilidade © emocio ene POA VUl- rever 0 equilforio dos saberes e dos pode- res em seu universo de relagées, para que ssa consi espagos reflexvos ampli. perdemos a condigéo de sermos fnteene dores, onde todas ox envolvdos tenham a espontineos, condigio absoltameate ne hossfbildade de expressarsuasingularida- eessria para qualquer encontio Kevan dee, dessa forma, uma cultura de respeito _profundo. reciprocidade. Acredito que a ampliagio dos recur- 308 do viver ocorre dentro de um encontro nalidade também 8885 Vozes internas 10s de nés mesmoe, nos distanciamos de no: ©, a0 nos desconectarm. Bowen (1979), quando propée obser. var uma escala em que de um lado esta intensidade maxima de indiferenciagso do Rumano mobiizador: um eontextofavord- eu familar, com ata presenga dos aspeore vel aquele desenvolvimento, em que, a0 fusionais, e, o outro extremo, em conti. Fevistar as historias que constituem nosso rum o predominio da diferenciagao da a Ser ¢ nosso lugar no mundo, podemos mesmo e baixa presenga fusional comada transformé:las. Esse olhar traz em si mes- seus alunos a revisitar suas familias de ori. ‘Ro aerensa de que asrelagées podem cons- gem para lidar com essas forcas que const. truir a legitimidade da existencia e 0 de- tufam suas historias Nagy (1983), ao enfs: Zenvolvimento das potencialidades ou, a0 tizar a rede de lealdades invisiveis,o live contrério, interdité-las. de débitos ¢ créditos tecido por geragdes ‘iz Companhia de todos esses auto- como forgas fusionais, e 0 foco na percep- Fitts 20 longo desse capitulo, acre- io das pautas éticas de cada relacionamen: dito que o processo de desenvolvimento to, convida-nos também a essas rellexdex dos recursos pessoais, assim como o impe- Para que os terapeutas possam pere- dimento dle, repousana pessoa, nas suas grinar por esses camntohos de eneoriro ¢ aati elagbes, nos valores da socieda- teciprocidade, eles precisam ser culdado. geimaisampla ena cia relacionala partir sos com sua propria huranidede. ser oro da qual construimos cada ago no mundo, Ihidos em suas historias e terem a oportu- O terapeuta familiar & um profissio. ni ide de ressignificarem suas experién- nal que, ao ser chamado para entrar na cias, construindo sentido para escolherem intimidade de um grupo humano, precisa ser terapeutas. Consideramos que um dos Possult recursos que suportem 0 impacto riscos maiores de nosee trabalho 6 0 IO. Marlowe wr | 447 sesgotamento” dorerapeuta apon- relacdo humana, exitindo com o ou, ese Seas coleas: Gia Montoro em crandosignfiadose hanno een, i ye me fizeram pensar) e Rosa a0 mesmo tempo em que enone oy cntefpq02) (em um artigo inttulado lugar singular ede propria ati decade cole Zp Psicoterapeuta: Estresse Pés- pessoa envolvida naqularelarae =i jo Secundério") on Fetse em dicursovle bertura samira exposigdo a situagBes de do Congreso interacional de Pare (1990) AAsegade © angistia,além do proces- sobre Sistema e Terapia amliae compare don amstnte de conexo com o proprio tha a ideia de que a posgao éca de exla consifremo, com suas indagagbes e do- um de nés é coneretizads através da cach. do rium lugar humano privilegiado tha epistemolégic, afimando que hevia 1 comerpliagao dos recursos afetives de escolhido sec parte do universo, porque eit grea, cooperacio e criatividade, mas essa posicio o uni, de forma insepardvel, im amplia os rscos de estresse eorga- com suas ages, em dregio a todos 0s ov- .40 de respostas defensivas e de evi- he e essa era a base de seu fundamento i entimentos de desconforto tanto ico. i orm quamie de eoclimenr soot Minha propo a nd wrapeuns,& mst peconstruindo 0 espago de reflexbes a de que, em primeiro lugar, nos apresen- iy ge espera no enicontro terapeutico. __temos cada vez mais para és menos, Nao acredito dentro da ética relacio- através da eee da. Seva Ge in ral que proponho na posibiiade de fa ¢ de que toi dingo eco que fr sbee ooo, mas com oot, Pra_ ec rn denn re tanto previamos ouvir osasvoteinter- das em gum pao de neocon desenwolverodalogo interr a ou, petencedo tons severe an r-nos As vozes externas, —_naquele encontro; ei Se essa dena dul 0 outro ou outros pareeios, convid dando lugar a essa danca dialézica. 2 eat, Moy Eaim (1969 aed ue 2 os aria, em cna de older, mete dorenpen eS nce zagio para integrar tude que coc fazer do poder sobre o outro sem ari mBo de aque pertence & sua histra, 20 seu fazer, do sbredesm prea terapautico. © ponte de ae re qf €um grande desafio eexige condices rrugiomitua da ealiade £0 en, poisinal que aba cone gad eis, 53 SS eg interseeges © reson © ur de nosis historias elacional, conse fissional instrumena meat do uma ética relaci espagos férteis em “Quando o terapeuta est 2 forizado _descritos anteriormente. seritos nc eres ean Ana cuDan 00 a percor ar seus recursos de HISTORIAS PF vivencia, arp em seu prosesso 2° Ot DR: CONTOS QUE humano, ¢a mo diz Gilberto SROCURAM individuagto OU Cogs gestinarse, de se UMA HISTORIA ALTERNATIVA (2006), no Proce screditarn0s que ess _ autor dese este fom 8 ARG TE yer mais com a igus Oe 4 trad J escorrem e nos comida & cs ames anein RC era pew enfaizard a der eruirse dentro da mergul iment e perten 4AB | Lutz caoe ote, Mara Etzabeth Pascal do Val & ol pram em virias direges e nos distraem de nds mesmos com sets movimentos. ‘A esséncia de minha postura como terapeuta e como formadora de terapeutas de famflia é a convicgio de que 0 self do terapeuta € seu principal instrumento de trabalho, e os outros dois elementos que constituem 0 tripé slo: o desenvolvimento dos recursos para construir um contexto colaborativo e flexivel, para mobilizar a prépria criatividade e @ dos outzos, e © aprofundamento da compreenséo teérica que envolve seu campo de trabalho. ara nds a conversaglo terapeutica é ‘um encontro sagrado, pois as pessoas chegam a nés com profundo sofrimen- toe compartilham suas historias. Es- ‘sas histdrias sio como um presente, uma oferenda muito pessoal dada em estado de grande vuinerabilidade. Buscamos em todo o nosso traba- Iho, expresses de liberago que refli- tam a sacralidade da vida, e ineremen- tem profundamente um auténtio sen so de pertencimento. (Waldegrave, 2001, p.31 e 32). Esses pensamentos lembram meu ar- tigo: © encontro das familias com os te- rapeutas sentados 0 redor de um pponto de conversagao funciona como tum ealdeirdo de emogées eafetos sen- do aquecios, as vezesfervdos, mas sempre um lugar assegurado e prote- sido, um vente féril par abrigar as novas possibilidades de nascimento, um ealdeirdo no qual se apurou as forgas da vide eda morte, em um eal- do forte que alimentaré cada indivi duo do sistema terapéutico em sua Jomada como filhos, pas, alunos, for- ‘adores, er. Pesquisando novamen- te Bolen (1994), descobri que os gre- 40s tinham um nome para expressar tudo isso que deserevi: Temenos, lu ‘ar sagrado onde a confibilidade de poder existit, como uma expressio tunica, esta assegurada. (2000, p. 179) Assim, mais uma vez postulo a im- possibilidade de dissociarmos quem somos do que fazemos, e a construgéo do espago reflexivo dependeré da possibilidade deo terapeuta convidar seus clientes a penetrar © espago sagrado do existir consigo mes. ‘mo € com o outro. As oficinas propostas por mim tém o desejo de penetrar nessas aguas profundas, ‘mobilizando as forcas de diferenciacdo frente aos aspectos fusionais das lealdades familiares ow talvez.com outra metéfora ~ cozinhar no caldeiréo que apura as fe da vida e da morte, fovtlecendo o calso do existir em si mesmo e com 0 outro, O pressuposto das oficinas éconstruir uum espaco reflexivo, Iidico e ritualistico, ‘em que as memérias individuais das histé- rias familiares sejam convidadas a serem revisitadas, € novos significados sejam construidos em uma outra configurasio grupal do aquie agora, com a forga da pre- senga de todos. Actedito na importancia fundamen- tal para o ser humano de dar testemunho ¢ testemunhar, em funcio de nossa neces- sidade de dar nome e significado as nossas experiéncias, como um processo de cons- truir nossa coeréncia histérica, individual ¢ grupal. Acredito também na funcéo libertadora e vital do testemunho como um lugar onde é posstvel ampliar o tecido de experiéncias do que nos constitui. Como ‘Andersen, em uma entrevista publicada na revista Processos Reflexivos (1991, p. 52), ‘nos conta: Para mim, falar € uma forma de criar Eu testemunho a criagio deles mes- ‘mos, eisso é muito sério, Ser uma tes- temunha é muito sério, muito solene, as vezes parece sagrado, como quan- do alguém € batizado. ‘Quando as pessoas falam e escu- tam suas palavras, ficam emociona- das, e eu tento dizer algo que mante- ftha esse momento, essa emogao aflorando, [Nas oficinas citadas a seguir, procu- rei trabalhiar eriando espagos onde pudés- Somos tecer juntos novos significados para fossas histOrias pessoais, para que os {erapeutas de familia ampliassem sua fle iblidade, fortalecessem seus aspectos pertadores dos conflitos fusionais, junto om 0 respeito a suas herancas ancestrais sua coragem de penetrar no terreno hi: mano sagrado. JUNTANDO E SEPARANDO: UM LONGO CAMINHO PELA VIDA Esse trabalho baseou-se em um convite pa ra percorrer a propria hist6ria, revisitando as memérias ligadas ao pertencimento e & separagio. ‘A partir de minha experiéneia clinica ede formadora, percebi em diferentes mo- mentos que meus clientes ficavam parali- sados buscando no entrar em contato com separagées e perdas. Percebi varios colegas tendo dificul- dades de acompanhar a morte ou a sepa- ago nas familias e nos casais que atendi- am, e 0 impacto emocional que gerava a construgao de novas familias, de segundos casamentos, sem patologizar o processo de elaboragdo das perdas e transformages. Procurei favorecer os contextos de re flexao e visita as historias de separagées, martes e perdas da familia de cada um, para que puséssemos foco na resiliéncia e nna esperanca. ‘Como todo observador faz parte do observado, como a construgéo da realida- de é sempre auto-referente em minha con- cepgio, esse trabalho criado por mim na década de 90 foi fruto da intersecgao de ‘minhas hist6rias de vida: separacio do pri- ‘meiro casamento, vivéncia da prépria dor oo waiter | 449 a dos filhos,realizagéo de um segundo casamento a complexidade dessa fam lia, tao bem denominada de binuclear por Constance Ahron (Kaslow, 1987 p. 281), com os desafios com as dificuldades que sentia em meus clientes, alunos e colegas. Essa oficina, realize-aalgumas vezes, ‘em diferentes cidades brasileras, sempre a pedido de profissionais que haviam ouvi- do a experiéncia vivida por algum colege, (© que mostrava para mim o sentido que tinha serem cuidados em suas hstérias, pa- ra que pudessem fortalecer seus contornos individuais e flexibilizar e aprofundar seus sentimentos de pertencimento, econtando sua vida para sie para os outros, em um ritual de testemunhar e ser testemunha. Novamente neste trabalho busco a linguagem das imagens para conectar os diversos mundos ai presentese, asim nes sa intersegéo, construir com as ressondn- cias acordadas as diferentes possibilidades. Fenso, como Manguel (2000), ima ‘gem como narativa, ou melhor, acre ‘ito como ele que, 20 contemplarmnas ‘uma imagem, forma-se uma tensio € ‘uma intimidade entre nbs e o objet, desenvolvendo-se historias despena- das nesse encanto que contém me ‘mérias profundas de um mundo de slmbolos e experiéncias relacionais, ‘ocortendo um espago mégico em que ‘ observador,o artista e 0 objeto ror. name, naquele instante, um s6 ‘Aimagem, nesses momentos, ofe- rece-se como espelho, pois ela desper- ta um mundo de narratives sobrepos- tas, consiufdas a partir de nossa sub- Jetvidade (Colombo, 2006, p. 18). [Nessa oficina oferego meu genogra- rma, através de fotos muito significativas para minka histéria, como ponto de parti da, abrindo um caminho para partlhar a intimidade, convidando todos a entrar na prépria vida, acompanhados pela presen (ga de cada um e estimulados pelas ima- 45D | caro cnr. mata Ezine Psa do Valo oo, ‘gens. Proponho um trabalho far da pee, tim mergulho nas aguas profundas, um aldo gross fervendo de emogdes, tendo consciéncia de que temos tim pacto com a cnoperagdo reciprocidade econscigneia de sermos singulares em nossos contornos € semelhantes em nossas necessidades. ‘As imagens apresentadas foram acompanhando meu ciclo vital: meus pas, sravider, amamentacdo, as wes gerapbes, primero casamento, gravides do primeiro ‘ho, da segunda filha, amamentacto, d- véreo, segundo easamento, minha familia binuclear, noves parentescos. ‘Cada participante, ouvindo suas vo: 2es interna, foi “captado” por uma dessas imagens, guardando-a dentzo de si, ini- ciando o eontar de suas préprias historias ego que escrevam em um papel a escolha ceexpliquem se é uma imagem que desper: ta sentimentos de juntar-se ou separar-se; em seguida, dividem-se em pequenos gr pos de acordo com a escolha da imagem e conversam sobre o que nessa visio remete & prépriahistéra, quas lembrangas foram despertadas Estimulando novamente o sléncio a introspecgéo, com o recurso de manter se em seu proprio mundo, ofereso a possi- bildade de continuar a eaminhada, agora com imagens de artistas como Frida Kahlo, com seus retratos com Diego Rivera; Se- bastio Salgado, com familias nos acam- ppamentos de sem-terra, ao lai de imagens que fotografei de criagbes que casais e fa rls fieram no encontro terapéutico, ex- pressando os momentos de lutoe elabora- fo, como a histéria desenhada por uma familia quando a mie morreu repentina- mente, ou outra falando do suicidio da mae através da pintura de méos pedindo socor- 1, quando criangas fizeram vuledes, pro- testando contra o segundo casamento do pai, ov quando dois meninos desenharam tanques de guerra para contar da separa- «o dos pais ou do desenho do lobo agres- sivo pintado de vermelho, com a sombre fem preto, ete (Figuras 32.1 ¢ 2) ose UM Mat ©Patctpante on lado adialogar com escas imagens econ ber qual mais 0 tocou, com oque sere suas hstérias de vida, a anotarne pares acompertithar como grupo seus semper tose as memérias familiares deaperteney Finalizandoessa etapa, pegeipara a cada grupo dé um nome parasisqse eles as escothasfeitas e as historias naradas ‘Nesse momento da vivéncia foi cons sruida uma ponte especial nainerseeao des histrias da propria vida, com a vide de todos os demas partpaten fade nat rativassingulares que, 20 serem compact Thadas, geram um espago sagrade, onde todos estdo conectados através esses ee temunhos, aqui e agora Nilo podemos exquecer que o tabs tho tem como objetivo ampliar também as reflexées clinieas; dessa forma, tina Parte visa a construireom o grupo susp pria autoria na compreensao das separa. bes, divércios e novos casamentes. ‘Assim, a partir da reflexto nos peque nos grupos, proponho algumas questes para serem discutidas: © 0 div6rcio reacende o aprendizado de separar se, iniiado no nascimento, que acompanha todo o cielo vital? Quais as etapas que podemos desere ver no processo divércio? Quais os sentimentos mais comuns en tre os adultos e as criangas durante 0 processo? Quais os principais perigos que uma fa milia vive nesse processo? Existindo um novo casamento, qual a complexidade que surge? Meu desejo € que, a partir da flexbil zacdo da propria hist6ria, ao vivermos 0 impacto de contar e ser escutado e de owir ¢ testemunhar, possamos, ao entrar em Marae waiter | ABH Figura 32.1 Padindo socoro. Figura 32.2 aa tsteza 452. | scrote msn no ma ti com nosmpliar a capacidade de escuta da eget harana de juntar separa Se he Pie erencagi ete AE fa rentes et@pas gate pr parental av aie a acto do process do to; a Or € 9 ts citi a compete seit para consragio de fans Seat: com sua rede de parentesco rarggia'e socal 0 perigo da confuséo pretoten através de coaiedes interge ‘Sona; a dor da abdicngo parental is ras Judie Pas sexes concefs So consruldes a panieda rellexo ediseussi0 dos peque- ‘iz grupos, , por ultimo, jntando todos se paripantes no grande grupo, elabo- ‘mos um documento através de desenos, imagens, diagramas, carts, colagem ou aqualguer outa linguagem escohida contacto timentos de PASSAROS FERIDOS ~ VOOS DESCONHECIDOS ssa oficina encerra um convite para que (0s meus dois mestres mais queridos, Mony Eikaim e ‘Tom Andersen, emprestem-nos a sensibitidade para conectar-nos com nos- sas histérias de partidas e de chegadas, de saudade © desapego, de dor, de véos, de recomegos. Lembrangas de minha histéria, com ‘meus pais, av6s e ilhos despertaram quan- do Elizabeth do Valle, presidente do VI Congress0 Brasileiro de Terapia Familiar, convidou-me para falar sobre os processos om Pascua do Va & ol Henman aegeeeme come desapego, que exigiram esy OS de intimeras pontes com outros 4g o=tUo manos. seres hh. pego ~ saudade ~ coragem ~ feridag zei em cinco diferentes oeasives, tes ay gals para terapeutas; ‘uma, com Slee familiares e funciondrios de um hospict, ame Sesescnte rl sin stone ee ea imediatamente antes da Segunda Guess, fugindo de perseguigbes religiosa, da I fuse secret ms Biro anos cue ore ee se mene cen, io les Secimpreg ¢ fa fone eS earn tenet Polistes re oa acompanher crt derei que essas vivéncias marcaram todos nds e que essas histérias mereciam ser ete padermos eco las, com mais consciéncia de nossa resi- Nessa oficina, apresento varias hsté- rias ¢ imagens de desenraizamento, com? Marva etoapionie | 453 pe onde ram os plson ae eam meee Erposeha—y oe fea, 154 pad Bai a Lyals “2p jornada’ Qual o legado que recebi dessa aeugre 7 ESS. TJ Hida es ben Figura 32.3 Passaros feridos. ABA | sz Coes Os, Mat taba Pascal do Valo & co Tae Domarale. = gain. [Feat Conn Mie: Doseoradk- qaeine [ER deol: senor mgacads ilove ienou Quais se ferram? — [RE : arte) 3. edo, sched, prclornga cpwot oo 1, od, Con we Ei oe 0 1is0.8 ap arbradeds cose meester de 2 ore ot a 16, Gap ment pach dad, Jp taf, y Semribi@ dale ¢ lumnqnieino , Sanda Fedo colombo Sistemas Haranoe Figura $2.4 Péssaros feridos, og, tiradas por internos da antiga tals expressavam a perda da be dentro de um contexto de ado- je familias migrantes que viviam rescentes "Ge Sto Paulo. Ha também a om ae uma famfia do sertdo de Se. ite veio para Séo Paulo e deixou uma pe 2 anos com os avés maternos. Ese ie gplto longo ¢ dif. Chegando a 12° Paulo, o casal separou's, ¢ a mulher See Fociniha com o filho de 4 anos, traba- eva como doméstica e mandava dinhei- Inara os Pais. Sonhava em it para o Nor- Jeate ver a filha, porque Id era “paz, cari- des geguranca, e aqui s6 saudade”. Quando a prépria mae morreu, foi tuscar a filha e, sozinha, de novo em Séo Paulo, com duas eriangas, sofreu muito, e daha ficou muito doente, Palavras da mie: “As juntas incharam, ficou em cadeira de rodas”, e 05 médicos disseram que “eu devia voltar para minha tera, mas como lé no tinha tratamento tive que ficar em Sao Paulo, e eles me manda- ram fazer terapia familias, porque ® doenga era de grande infiuéncia emo- ional’ Palavras da menina “Bu tenho saudade da v6 ¢ da man- ‘gueira do quincal. Aqui, 6 gosto do Birapuera, do parquinho de brincar” Os legados de coragem, forga, deter: minagéo e aqueles de dor, derrota e fragi lidades sao convidados a ser conectados & respeitados, para que Ppossamos enrique- cer ainda mais nossa historia. | Somos frutos de muitos vOos, de par tidas ¢ chegadas, desapego, saudade € co- tagem, Nessa tavessia, entre culuras, ¢ eas cierentes, etd presente o medo Tee eerder a propria singuaridade, Poder Peveera dois mundos, dando origem 20 Pee ro Moral cetewiteniar | 455 Primciros, Mivdo por lugares de tural cont do, a0 aco € no de sua soma, &o des !adosquese deacon dese ae eee tanec na prvocaco ao cones do, 20 acomatado, Ohana psn a lo eontexto desu experiinc, codes uma desconfimagio desua etre rocesso para empobrecé-la. . Quando somos conidados e aur zadosa continua a conse sentido ra ss bra sve de sh minhamos em nossa legitimidade e ten 2 opotunidade, ten de denamos le gados mais leves para as présimas ge. ragbes Peco a grupo que caminhou até ami, nessa eflede, qu meguheem sua po prin hisériae responda as seguintes per unas: De onde vieram os pissaros que fize- ram minha hist6ria? 1 Quais se feriram? Qual olegado que recebi dessa jomada? O altissimo nivel de emogio que esse trabalho mobilizou em todos os grupos deu-me a certeza da importancia desse tema em nossas vidas. O FIO DE ARIADNE Para finalizar, vou trazer essa oficina que nasceu de um momento espeial de mina ida, quando meus filhos comecaram a sait de casa, Nesse trabalho, fago um consite para viajarmos juntos para dentro de ns ¢ am pliarmos a escuta de nossas vou inter- fas. Para isso, o lima de respeito, entes® ¢ relaxamento & construido com todo © cuidado . ‘Peco que deixem o5 objets n9 cho ‘¢ que tenham mios, pernas ¢ colo livres, aque fechem os olhos. Quando se sensrem von Etabeth Passi J Vale & cos 456 | wz cares 080% igura 32.50 i de Aide segutos, pensem qual significado para cadaum dos fos de Ariadne, deforma sim- ples, em uma frase ou palavra. AOS poU- cos, todos abrem os olhos e procuram an- darpelasalaevsitar cada uma das 12 ima- gens selecionadas para nosso trabalho. Sempre em silncio, nao perdendo o contacto ‘consigo mesmo, demoram-se na frente de «ada foto, sentindo-a. Nesta peregrinacio, busquem deixar um espago para aquela que os chamaré, ‘que os convideré a entrar, a fazer uma for. ‘econexdoe lhes contard uma histia. Per- mitam que ela os capture, entre em suas incimidades, Quando terminarem esas vistas, pro- rem seus lugares, sintam seus coragdes, cologuem suas maos no peto, para senti- 4o pulsar, empurrando seus corpos para ¢ vide. Mantenham suas mos sobre ele, res Pirando,e contem uma histéria para vocés bre a foto que escother . ram. Essa hist omega com “era uma ven.” 1 io gon hiss ft contd ee raghes rosie mena a Pa et std preso No corpo, € ainda, eq’ Que tio Fs en hd ena ne coragiesecom suas ts Com fosaria que chase ee A poe nile, tecendo 0 fio de Ariadne ta “iar fechatdos, voets podem iniciar gu, thos ao mesmo tempo em que tage 8, este serd nosso guia para entrars °,§ a para voltarmos sem nos perder °° &P2, forage nine mete scn en averemes desires San oer vida, os momentos maslindos on Tos qn rece meet connate Tgam easing to eoaco continue eee ee fice hepa cnar ean mento os com una ooo vida, de quem precisam despedirs para prosseguir sua caminhada,algum mye tooupesondequememia mndovmasqueefa ds Aiea ee a eereonfangs opera ne Femaneyamdeales et eee do 0 fio que os trard para fora do labirinto, Gaarderna imagem dese ener teposonde quem ainda deh ‘or pouos aramsobosetrset eras imagens paladin Teton page tinal onda Eecobimn anon a torneo verso uma eata de despediga pts soa pests ou pra exe moreno depal gee ceberam que precisam despedir-se. Parafi- nalizar, apds terem escrito essa carta, sit- tam se existe alguma intersecgdo entre a primeira imagem escolhida e a carta que escreveram. Em pequenos grupos, compar- tilharemos nossas viagens e, no grande gr- po, dividiremos es expen, Propus essa vivéncia em seis difere tes cidades, sempre envolvendo colegas Que g em conta sotictavar.€58e trabalho com a 08 samentos que se Peragho, desfazendo xm ferndo portes, encomtros & des- sty que hd Mito tempo nO pen- ren ands aryar pero, alivio, “preciso cont- ram HRT, va encalacrada, sinto que ago- eo ag ch 2 reaped de meu ex-marido”, “acho nse ear Se Sean Viaje’ e fundime & luz eterna, deixo nen local de passagem, adeus tera, tera estalagem, no tenho reclama: hes, s6 saudade. ‘uma frase, guarded em especial, pois sista o que penso sobre ocuidar docuida- (jor: 86 hospeda a dor do outro quer hos- a a propria dor.” ed ial de escever a cara abre por tsprfundasdecompromatinenem rego ao que cada tm de nés aredi Sr eamanto mais verdadeiroe pode, es ‘forma, ser construda uma ponte que nos Iiberta de um Tugar na histria que nos de ao passado. ren esas cares foie enue To final de um dessestrabalhos por wa jo vem terapeuta que havia escohido aim gem de uma mulher grivida ns acho que cheep a or. te su de um agro gs, i eo exter par © eer suka, eed ge oe sate rome, pl Sper ue acne ri se mato ee. Teepe ei to ra er, cama com nhs Mat de a oe Sere Maca ave to vivo acum pec evo qe aval de wpiatritar | 457 ‘ensinova amare ser amada, construir ‘ereconstruire principalmenterefazer ce atravessar, ‘Um trabalho baseado quase inteira- ‘mente na permissfo para ouvir as vozes internas, ou seja, no siléncio que da espa- 60, faz-me lembrar Guimaraes Rosa: “A gente sabe que esses siléncios esto cheios de mais outras misicas” (p. 12) AESCUTA Em 2007, ouvi 32 Terapeutas em uma pes- uisa, cujo ponto de partida foi minha cu riosidade para saber em que circunsténcia sentiram 0 maior desconforto profisional, a que tipo de ajuda recorreram, quais as situagdes mais comuns de estresse que en- frentaram, quais 05 recursos que usaram ‘como pessca e como profissional e se al- guém quisesse ajudés-los 0 que precisaram oferecer. ‘As respostas mais citadas foram: dif culdades dentro da equipe, representadas por discussées, competigbes, falta de sin- Tonia, problemas de entendimento com a hefia,sentimentos de ser injusticados,fal- ta de respeito na equipe, falta de lugar, quando envolvia a clentela,situagoes de Yioléncia contra criancas, violencia dentro do casal,cincer na familia, sentr-se para- Tisado diante dos clientes, agressoes den- tro da sesso, situagdes de morte, separa: co e luto, percepgao de nossa finitude, Assédio sexual, conflitos com agressbes fi sicas na familia, 0 sentimento de rigidex € inflextbiidade, er auto-xiginia mute rande, contato com a dor intensa, com ‘adios intensos, dificuldades com o dine "O° pervs exp inviva foram nstrumentos muito citados para enfrentar ‘os desafios profissionais, assim como tra ‘palho corporal, meditacio, ajuda espiritual, lazer, leituras, yoga, caminhadas. 458 | rcowe crn Man Exp Pete cole i Ss Pesquisa: Culdando dos Cuidadores ‘sacha Feit Coote +) Qual stung profesional que voce viveu que mais o ie ofr pe 8? pare ant ee 8 defile So ween et ee ie, ‘ie i alincad om pase Opal ve inet 2 quota sieved mcr? ere ET 1 Tatines aap 1) Quai stugtes de sross 280 mais comune no seu coin protean? mn fa pep! de an fein ey, a ee. + cu cnc vost ne par car cae pean come con ey ht oe Suius bebe sienna abet. Sa SESS Lbede pone Ceunn, oats ES Preeti @ Hime pore eaptea Zhe : eect el att SS Rat Ra Reta 0 ST ne palate « prod Shee re La mee Lee lal delces ee a ns, en a er _ ate Sabin nota oe Crepe Figura 32.6 Cuidando do cuidador. Menvatdovorpiatanitar | ABQ Pesquisa: Culdando dos Culdadores ant Fede Coons so tenanran >a Sateen ee” ong cho te, naa yt Pe, Jal paue fg cal etn hemes a mi eee pe ee poner ') Qual stuagbes de stress s80 mat comuns o seu coaro pniemnger STEREO Op ee eats 14) Qule recursos voc’ usa para se cua como pestom © como oh PRES OTT ve qua, Qui co sence tt “area eattteseaen ————-~; Figura 32.7 Cuidando do culdador. ee cara ce rae, ni ie ena Senin, e780, a carinho, hon¢ stidade, €8P36" comer, Ne jsponbiicade Pare Ot emo aE, roe rns cregs sb 2" Me pespago para acolKet cesiade erapeat ra Contras rest oon ago Culmarses ROFB (1969, p53): se pode vier pert out © CO See P tera psn em pergo de reese gene erm amor Quaker oe Fda puna dese, Seseans a oe PENSANDO E REPENSANDO Percebo que 0 cere do que proponho re- fere-se a0 interjogo entre autonomia pertencimento, individualidade ¢ comu- nade Esse 60 desafio humano, existit com © outro, construr-se dentro de uma rela- ‘fo humana e ser um, singular eindivisivel. ssa éa discussao do terapeuta de fa- milia em sua propria humanidade e seu “objeto” de trabalho, talver melhor falan- do, seu “sujeito” de trabalho. 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