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Criminosos arrependidos —R. Nio sei. —P. Como pretendeis repari-los? —R Por novas provagées, conquanto me parega que uma eternida- de existe entre elas e mim. 19. Onde vos achais agora? —R. Estou no meu sofrimento. —P. Perguntamos qual o lugar em que vos encontrais. —R.Perto da médium. 20, Uma ver que assim 6, sob que forma vos veriamos, se tal nos fosse possivel? —R Ver-me-feis sob a minha forma corpérea: a cabega separada do once, —P.Podereis aparecer-nos? —R. Nio; deixai-me. 21. Poderfeis dizer-nos como vos evadistes da prisio de Montdidier? — R Nada mais sei. ¢ tio grande o meu softimento, que apenas guardo a lembranga do crime... Deixai-me. 22. Poderfamos concorrer para vos aliviar desse sofrimento? —R. Fazci votos para que sobrevenha a expiagio, Benoist (Bordeaux, margo de 1862.) Um Espirito apresenta-se espontancamente ao médium, sob o nome de Benoist, dizendo ter morrido em 1704 e padecer horriveis sofrimentos 1, Que fostes na Terra? —R Frade sem fé 2. Foi a descrenga a vossa tinica falta? —R So ela é bastante para acarretar outras 3. Podereis dar-nos alguns pormenores sobre a vossa vida? Ser-vos-4 levada em boa conta a sinceridade da confissio. —R. Pobre e indolente, ordenei-me para ter uma posi¢io, sem pendor alids para tal encargo. Inteligente, consegui essa posigio; influente, abusei do meu poderio; vicioso, corrompi aqueles que tinha por missio sal- var; cruel, persegui os que me pareciam querer verberar os meus excessos: 299 Segunda Parte — Capitulo VI 0s pacificos foram por mim inquictados. As torturas da fome de muitas viti- mas eram extintas amitide pela violéncia, Agora, sofro todas as torcuras do inferno, ateando-me as vitimas o fogo que me devora. A luxtiria ¢ a fome insacisveis perseguem-me; cresta-me a sede os labios escaldantes, sem que uma gota lhes caia em refrigério. Os elementos todos se encarnigam contra mim. Orai pelo meu Espirito. 4, As preces feitas pelos finados deverio ser-vos atribuidas como aos outros? —R. Acteditais que sejam edificantes, € no entanto elas tém para mim o valor das que eu simulava fazer. Nio executei 0 meu trabalho, e, assim, recebo 0 salirio 5. Nunca vos arrependestes? — R. Hé muito tempo, mas o arrependimento s6 veio pelo softimen- 0. E como fui surdo ao clamor de vitimas inocentes, 0 Senhor também é surdo aos meus clamores. Justigal 6. Reconheceis a Justisa do Senhor; pois bem, confiai na sua bonda- dee socorrei-vos do seu auxilio. —R. Os deménios berram mais do que eu; seus gritos sufocam-me cenchem-me a boca de pez fervente... Eu o fiz, grande... (O Espirito no pde escrever a palavra Deus.) 7. Nio estais suficientemente liberto das ideias tertenas de modo a compreender que essas torturas si0 todas morais? —R. Softo-as.., sinto-as... vejo os meus carrascos, todos tém uma cara conhecida, um nome que repercute em meu cérebro, 8. Mas que poderia impelir-vos ao cometimento de tantas infamias? —R. Os vicios de que me achava saturado, a brutalidade das paixécs 9. Nunca implorastes a assisténcia dos bons Espiritos para vos ajuda- rem a sair dessa contingéncia? —R Apenas vejo os deménios do inferno. 10. E quando estaveis na Terra temfeis esses deménios? —R. Nao, absolutamente, visto que sé cria no nada. Os prazeres a codo o transe constitufam o meu culto, E, pois que lhes consagrei a vida, as divindades do inferno no mais me abandonaram, nem abandonario! 11. Entio nio lobrigais um termo pata esses softimentos? —R. O infinito nao tem termo. 300 Criminosos arrependidos 12. Mas Deus ¢ infinito na sua misericérdia, e tudo pode ter um fim quando Ihe aprouver. —R Se Ele o quisesse! 13. Por que vos viestes inscrever aqui? — R. Nio sei mesmo como, mas eu queria falar e gritar para que me aliviassem, 14, E esses deménios nao vos inibem de escrever? —R.Nio, mas conservam-se & minha frente, ¢ esperam-me... Tam- bém por isso, eu desejaria nao terminar. 15. E.a primeira vez que deste modo escreveis? —R. Sim. — PE sabfeis que os Espiritos podiam assim aproximar-se dos homens? —R Nic. —P. Como, pois, o percebestes? —R.Nio sei 16. Que sensagées experimentastes a0 acercar-vos de mim? —R. Um como entorpecimento dos meus terrores. 17. Como vos apercebestes da vossa presenga aqui? —R. Como quando se acorda. 18. Como procedestes para comunicar comigo? —R. Nio posso compreender, mas tu também néo sentiste? 19. Nao se trata de mim, porém de vds... Procurai assegurar-vos do que fazeis enquanto escrevo. —R. Eso meu pensamento, eis tudo. 20. Nao tivestes, pois, o desejo de me fazer escrever? —R. Nio, sou eu quem escreve, ¢ tu pensas por mim. 21. Procurai assegurar-vos do vosso estado, porque os bons Espiritos que vos cercam vos ajudario. —R. Nio, que 0s anjos nao vém a0 inferno. Tu nio estas s6? —P.Vedes em corno de vés. —R. Sinto que me auxiliam a atuar sobre ti... a tua mao obedece- -me... no te toco, aids, ¢ seguro-te... Como? Nao sei.. 22. Implorai a assisténcia dos vossos protetores. Vamos pedir ambos. —R. Queres deixar-me? Fica comigo, porque vio reapossar-se de mim. Eu to peso... Fica! Fical... 301 Segunda Parte — Capitulo VI 23. Nao posso demorar-me por mais tempo. Voltai diariamente para orarmos juntos ¢ os bons Espiritos vos auxiliarao. —R. Sim, descjo o perdio. Orai por mim, que nao posso fazé-o. O cui po mfr. — Coragem, meu filho, porque ser-Ihe-d con- cedido © que pedes, posto longe esteja ainda o termo da expiagio, As atro- cidades por ele cometidas no tém ntimero nem conta, € maior é a sua culpa porque possula inteligéncia, instrugio e luzes para guiar-se, Tendo falido com conhecimento de causa, mais terrfvcis Ihe so os softimentos, os quais, no obstante, se suavizario com o auxilio ¢ o exemplo da prece, de modo a que lhes veja o termo, confortado pela esperanga. Deus 0 vé no caminho do arrependimento, ¢ jé Ihe concedeu a graga de poder comunicar- -se a fim de ser encorajado e confortado. Pensa nele muitas vezes, pois nés to entregamos para fortalecer-se nas boas resolugdes que Ihe poderio advir dos teus conselhos. Ao seu at rependimento sucederd 0 desejo da reparagio, ¢ pedird entio uma nova cexisténcia para praticar o bem como compensacio do mal que fee. Quan- do Deus estiver satisfeito a seu respeito ¢ o vir resoluto ¢ firme, far-lhe-d entrever as divinas luzes que 0 hio de conduzir & salvagio, recebendo-o no seu seio qual pai ao filho prédigo. Tem {é, e nds te ajudaremos a completar © teu trabalho. Paulin Colocamos este Espirito entre os criminosos, posto que néo atingido pela justiga humana, porque o crime se contém nos atos, que nio no castigo infligido pelos homens. © mesmo se dé com o que se segue O Espirito de Castelnaudary Rumores ¢ outras estranhas ¢ virias manifestagdes ocorridas numa casinha perto de Castelnaudary, faziam-na tomar por habitada de fantasmas, mal-assombrada etc. Assim, foi a dita casa exorcismada em 1848, alids sem resultado. O proprietirio, Sr. D..., pretendendo habité- -la, faleceu repentinamente alguns anos depois; um scu filho, animado do mesmo desejo, ao penetrar-lhe um dos compartimentos, reecbeu de mio desconhecida vigorosa bofetada, e, como estivesse 86, nao teve a 302

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