Você está na página 1de 3

Lasconi

Olhando fixamente para a parede, finalmente pousou o olhar na janela e pensou

consigo mesmo o jovem Lasconi. Podia ver seu reflexo no vidro extremamente

translúcido.

- Quem sou eu? Olhando para seu próprio reflexo na janela de vidro que ao

receber da luz interna do ambiente que projetara sua imagem como em um

espelho bem polido, já que era muito cedo da manhã e a luz do sol vinda de fora

não era suficiente para intimidar sua projeção no vidro.

Vivia absorto em seu mundo, gostava de andar sozinho com seu fone de ouvidos

que deixava a gente curiosa em saber o que estava ouvindo ou qual seu gosto

musical. Seu professor, certa vez, lhe perguntou:

- Lasconi, você é um agente especial juvenil? Numa tentativa de adivinhar o

quais os mistérios por trás de seus olhos castanhos-esverdeados e inquiridor.

Ele mesmo dizia constantemente que vivia dividido entre as emoções que não

demonstrava e a razão, posto que demonstrava ainda tão jovem um autocontrole

inesperado em um adolescente.

Talvez fosse ele mesmo um agente. Ninguém nunca vai saber, pelo menos é o

que se acredita a seu respeito. Algumas vezes era capaz de expressar um brilho

no olhar quando sorria, tal qual Monalisa. Dele sabemos apenas que é muito

conservador, mas também bastante curioso e cheio de perguntas para o mundo.

- Eu gosto de caminhar sozinho. Repetia para si e para todos que lhe

perguntavam aonde ia, sempre com ar circunspecto e estoico.


Houve um crime em sua comunidade que ainda não havia sido julgado adequada

e de forma justa, um crime ainda não bem definido na lei e tão pouco fácil de

provar, o que o levava a ficar constantemente calado e observando. Sentia em

seu íntimo o desejo de ajudar a vítima do abuso, mas não sabia como.

Certa ocasião tentou alertar a vítima, sendo pouco sucedido em sua busca por

justiça, já que a sociedade local muito conservadora lhe impôs o peso de

considerar tal abuso como permissível.

Sua agonia e exasperação crescia, produzindo nele um sentimento ainda maior

de impotência diante do mundo, o que mascarava com um comportamento alheio

ou constantemente estoico. Era muito jovem ainda para se dar conta de sua

verdadeira personalidade por detrás dos condicionamentos familiares e sociais,

mas que já se antecipava em muito pelo seu comportamento de um homem

decidido.

Escondia sua indecisão com um ar blasé de quem finge não perceber tudo o que

se descortina à sua frente, acontecimentos, falas, sempre observando e quando

precisava falar, o fazia cirurgicamente como um bisturi ou, na pior das hipóteses,

fingia demência, ou como se diz por aí, “metia o louco”, isto é, fazia-se de bobo

intencionalmente.

Alguns anos se passam, decide então ingressar na universidade. Finalmente,

podia ser quem ele sempre foi: um investigador da natureza humana e seu

comportamento.

Você também pode gostar