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PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

AVALIAÇÃO FORMATIVA DE UNIDADES

ELETRÔNICAS DE APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA

ESTUDANTE: LEONARDO BARICHELLO

ORIENTADOR: MARCELO FIRER

UNICAMP, OUTUBRO DE 2004

Resumo
Nesse projeto, pretendemos chegar a uma série de
diretrizes básicas para confecção de Unidades Eletrônicas de
Aprendizagem de Matemática através da experimentação das
Unidades já desenvolvidas com alunos e discussão dos
resultados obtidos nessas experiências.

Introdução

Durante o projeto “Unidades de Aprendizagem de


Matemática em Forma de Páginas Eletrônicas”1 foram
desenvolvidas algumas Unidades Eletrônicas de Aprendizagem
(UEA)2 e realizadas algumas experiências com elas em ambiente
escolar.
Sobre a confecção das Unidades, podemos salientar duas
preocupações principais:
A primeira diz respeito aos princípios pedagógicos que
nortearam o nosso trabalho e que foram escolhidos a partir do
nosso objetivo principal de produzir Unidades autônomas de
aprendizagem, são eles: gradatividade e relevância e
verossimilhança dos exemplos e problemas.
O segundo diz respeito à preocupação de explorar os
recursos oferecidos pela mídia em questão de forma a otimizar
o alcance dos nossos objetivos sem transformar as unidades em
uma exibição impensada de tecnologia. Três das questões que
mais nos preocuparam nesse sentido foram: a elaboração de
ferramentas dinâmicas, a utilização de links e a forma como
corrigimos as questões.

1
Projeto desenvolvido pelo aluno Leonardo Barichello sob orientação do professor Marcelo Firer durante o
período de setembro de 2003 a agosto de 2004, IMECC – Unicamp. Agência Financiadora: Fapesp, nº
proc. 03/05820-04.
2
As Unidades prontas podem ser acessadas em www.ime.unicamp.br/~leob
No que diz respeito às experiências, apesar de pouco
numerosas, foram extremamente produtivas por nos fornecerem
indícios primários sobre pontos que podem ser aprimorados nas
Unidades e sobre questões envolvendo a relação do aluno com a
mídia3, incluindo fatores importantes que influenciam a forma
como os alunos se relacionam com as UEAs, tais como a
familiaridade com computadores que determina claramente a
natureza de navegação na UEA.
Essas experiências também serviram para indicar que a
forma que utilizamos para construir as unidades é coerente
com as nossas intenções e, portanto, vale a pena investir
nesse formato para elaborar, em um projeto maior, todo o
conteúdo do ensino fundamental nesse formato.
Além dos méritos pedagógicos das Unidades, vale a pena
salientar que esse formato conta com algumas vantagens
inerentes a ele como a facilidade de divulgação via Internet,
possibilidade de personalizar as unidades e o apelo atual de
inserção dos computadores em sala de aula de forma
construtiva e natural4.
Neste primeiro momento, dedicado primordialmente a
elaboração da primeira versão das atividades, não pudemos
realizar a avaliação das unidades de forma mais sólida, seja
num sentido formativo, que nos permitisse aprimorar as
atividades e tirar conclusões mais claras e passíveis de
generalização, seja no sentido somativo, que nos levaria a
uma validação destas.

3
Quanto tratarmos das Unidades, entenda por mídia mais do que o próprio computador, ou seja, o formato de
página da Internet utilizado nelas.
4
Vide AONDE Parâmetros Curriculares Nacionais.
Objetivos

O objetivo geral desse projeto é obter subsídios que


permitam desenvolver um amplo acervo de UEAs que abranjam
todo o conteúdo do ensino fundamental e médio. Pretendemos
desenvolver diretrizes que contemplem uma proposta de
estrutura geral de páginas, em termos de organização e modos
de aproveitamento dos recursos da mídia, e uma formulação dos
princípios pedagógicos adotados, que repense e re-avalie os
princípios elaborados na etapa anterior.

Para tanto, pretendemos focar duas questões principais:

1. Entender melhor o relacionamento dos alunos com a


mídia em questão.

2. Compreender e explorar melhor os princípios


pedagógicos adotados até agora.

Esses dois objetivos podem ser esmiuçados em aspectos


mais específicos, que serão abordados de maneira mais direta
e objetiva durante todo o nosso trabalho:

1. Relação Aluno-Mídia: compreender a relação que o


aluno estabelece com a mídia, incluindo a relação do
aluno com os seguintes elementos e recursos
específicos:
a. Ferramentas Dinâmicas: as unidades
elaboradas utilizam algumas ferramentas
dinâmicas como plotadores de gráficos e
tabelas que efetuam cálculos específicos.
Devemos buscar o ponto de equilíbrio entre
a utilidade efetiva das ferramentas, pois o
uso indiscriminado torna-as enfadonhas.
Além disto, devemos modificar as
ferramentas para que possam ser acionadas
apenas através ou do mouse ou do teclado,
verificando se isto as torna mais
amigáveis. Será ainda feito um levantamento
de ferramentas existentes, de uso livre,
que possam ser incorporadas as UEAs.
b. Links: utilizamos links nas UEAs para ligar
diferentes unidades que estejam
relacionadas, para fornecer informações
pontuais (glossário) ou para facilitar a
navegação dentro da própria unidade. Porém,
a forma como os alunos os utilizam, e mais
ainda, os motivos pelos quais não os
utilizam, ainda não estão claros e merecem
melhor tratamento.
c. Correção de Exercícios: optamos por
desenvolver um sistema de correção que
corrige a questão sem fornecer a resposta,
mas já detectamos que esse mecanismo é em
parte insuficiente, pois pode desestimular
os alunos após uma seqüência de respostas
erradas para uma mesma questão. A nossa
intenção é encontrar um mecanismo que
equilibre a função de orientar o aluno e
permitir que obtenha em algum momento a
resposta que deseja.
d. Navegabilidade: nas UEA’s ocorre
essencialmente dois tipos de navegação, a
horizontal e vertical5. A navegação vertical
está ligada ao ato de rolar a página (ou
clicar no botão que acessa a página
seguinte) e segue uma ordem semelhante à
dos livros didáticos, traduzindo alguma
estrutura lógica que pareceu razoável aos
autores. Em certo sentido, esta representa
uma idéia de se “avançar no conteúdo”, ou
“retroceder no conteúdo”, possibilitando
inclusive acessar pré-requisitos que não
estejam solidificados. Já a navegação
horizontal, feita exclusivamente através de
links, possibilita que o aluno se aprofunde
no estudo dos conteúdos ou busque expandir
os horizontes a partir destes. Também é
necessário discutir o modo de se
operacionalizar links a páginas externas.

2. Efetividade dos princípios pedagógicos: Em etapa


anterior do projeto foram abordados diversos
princípios pedagógicos que nortearam a elaboração das
UEAs, tratando de questões como dificuldade de
exercícios, gradatividade e coerência do conteúdo e
inteligibilidade e relevância de exemplos e textos
explicativos. Pretendemos avaliar de maneira
sistemática estes princípios e reformulá-los de modo
detalhado e exemplificado.

3. Motivação: Foi notável a motivação dos alunos


participantes nas primeiras experiências. Pretendemos

5
A classificação e explicação mais detalhada dos tipos de navegação em uma página da Internet podem ser
vistas em [Donati].
avaliar de uma maneira mais ampla os elementos que
influenciam na motivação do aluno e de que forma o
fazem. Podemos destacar duas questões fundamentais
que pretendemos responder dentro desse quesito:
a. Será que a motivação do aluno em trabalhar
com o computador se dá exclusivamente
devido à novidade no formato das UEAs? Em
caso positivo, por quanto tempo esta
sensação pode perdurar?
b. De que forma a extensão das unidades, de
seus blocos de texto e exercícios estimulam
o aluno a ler ou resolver cada um deles?

Apesar de fugir do nosso escopo, avaliaremos também a


questão do design, principalmente através da opinião direta
dos alunos a respeito do que pode ser melhorado no visual das
Unidades e da consideração de orientações gerais sobre o
desenvolvimento de interfaces humano-computador ([Rocha]).
Ao final do nosso trabalho, pretendemos ter um conjunto
de diretrizes que envolvam todo o processo de confecção de
uma Unidade e que possa ser utilizado na orientação do
trabalho de uma equipe. Um subproduto deste processo será um
pequeno manual para orientar o trabalho de futura equipe de
desenvolvedores de conteúdo.
Metodologia

Implantaremos um sistema estruturado de avaliação


formativa que nos forneça as informações desejadas de forma
contínua durante o processo de experimentação das Unidades
por alunos.
Do mesmo modo que em sala de aula, em que a avaliação
formativa é normalmente empregada quando se deseja levantar
informações sobre o andamento de um curso para permitir que
professor e alunos redirecionem seus esforços e tornar o
trabalho mais efetivo, buscaremos avaliar o processo,
prestando atenção nos indivíduos, na forma como os alunos
estão utilizando as UEAs e sobre o aprendizado resultante
dessa forma de utilização.
Uma diferença importante diz respeito ao objetivo final
de nosso trabalho, embora não tanto ao método: enquanto a
avaliação formativa em sala de aula faz antes de tudo um
retrato de momento, nós buscaremos estruturara estes diversos
momentos em alguma forma um pouco mais genérica buscando
produzir um conjunto de diretrizes para situações futuras,
que apóiem a elaboração de um material didático permanente,
as UEAs.

Trabalharemos com grupos pequenos, de quatro alunos


cada, que trabalharão semanalmente com o material
desenvolvido, sendo acompanhados pelo bolsista que terá a
dupla função de orientar o trabalho e observar/registrar. Os
grupos serão divididos de acordo com dois aspectos que
constatamos serem importantes no modo de se relacionarem com
as UEAs: o grau de familiaridade com computadores e Internet
e a facilidade com a qual lidam com conteúdos matemáticos.
Apesar de trabalharmos com universo pequeno, sem qualquer
preocupação estatística, procuraremos balancear a
distribuição de gêneros e classe sócio-econômica. Seguindo
estes critérios formaremos quatro grupos entre seis e oito
alunos, totalizando um universo de 24 a 32 alunos de 5ª e/ou
6ª série do ensino fundamental, dependendo do currículo
específico de cada escola e do período do ano que será
realizada a experiência.
Além disso, escolheremos também alunos que não tenham
visto em sala de aula o conteúdo a ser ministrado, pois um
dos objetivos das UEAs é servir como elemento a ser inserido
nas aulas programáticas como material complementar.
Buscaremos realizar o trabalho em local neutro, dentro
da universidade.
Os alunos se reuniriam toda semana em uma sala de
computadores a ser definida em encontros com 1:30 hora de
duração, e trabalharão com as quatro UEAs já desenvolvidas ou
até esgotar o prazo de 8 encontros.

Instrumentos de Coleta de Dados6

O primeiro mecanismo de obtenção de informações nas


experiências seria o que Haydt chama de “anedotário” a ser
preenchido durante as próprias reuniões e contendo
informações sobre o comportamento de cada aluno
separadamente. Além deste, contaríamos com uma espécie de
“ficha de andamento” que se prestaria a acompanhar a ordem e
forma com que cada grupo desenvolve a Unidade, indicando os
links acessados, exercícios resolvidos, tempo gasto em cada
parte, etc... Parte deste processo será automatizada através

6
Um conjunto com vários mecanismos de coleta de dados para avaliação formativa e algumas observações
sobre sua utilização podem ser encontradas em [Haydt].
de arquivos de registro (“log file”), parte através de
observação.
Outro instrumento será questionários a serem respondidos
pelos participantes a cada reunião, inclusive com questões
específicas sobre o trecho trabalhado naquele encontro.
Como salientado em [Haydt] e já verificado nas primeiras
experiências, os alunos não acostumados sentem dificuldade em
se expressar em questões avaliativas muito amplas que exigem
uma auto-avaliação ou reflexão acerca do material utilizado,
portanto, procuraremos orientar os alunos de modo a tornar
esses questionários o mais proveitosos possível e utilizar
questões mais objetivas do que “Você gostou?” ou “Você tem
alguma sugestão para melhorar a atividade?”.

Além destes, contaríamos com entrevistas individuais e


em grupo, discutindo e apreciando as unidades e o trabalho
desenvolvido de forma mais ampla e profunda do que será feito
nos outros mecanismos.

Incorporação das Conclusões

À medida que uma dupla de alunos finaliza uma UEA


incorporaremos, na medida do possível, as alterações que se
mostrarem mais importantes já na próxima UEA a ser trabalhada
por essa dupla.
Não necessariamente utilizaremos essa alteração em todos
as duplas de alunos, pelo contrário, poderemos induzir
diferenças entre duplas de alunos da mesma categoria para
verificar diferenças de comportamento.
Ao final das experiências produziremos uma versão final
das Unidades incluindo todas as conclusões e observações
feitas durante o período de experimentação.
Pela forma como trabalharemos e pelos mecanismos a serem
utilizados no decorrer no projeto podemos classifica-lo na
linha de “pesquisa-ação” (action research)7.

Cronograma

Podemos dividir a execução do nosso projeto em três


etapas distintas:

1. Preparação e Planejamento:essa fase deve durar


até um mês após o início do ano letivo.
Utilizaremos esse período para discutir os
pontos importantes de cada Unidade e criar os
questionários de avaliação para cada fase da
experimentação e também para montar e estruturar
o grupo de alunos.

2. Experimentação: Essa fase deve durar até o


início das férias de julho e consistirá,
essencialmente, do acompanhamento das
experiências, coleta e discussão de dados.
Haverá nesse período momentos onde deveremos
editar as Unidades de modo a incorporar as
conclusões tiradas até o momento.

3. Finalização: Nessa fase, criamos uma versão


final de todas as Unidades incorporando todas as
conclusões tiradas durante a fase anterior e
elaboraremos o manual de diretrizes básicas para
elaboração dessas Unidades de forma maciça.

7
Uma explicação mais detalhada sobre o que é Action Research pode ser encontrada no site
http://www.scu.edu.au/schools/gcm/ar/areol/areolhome.html ou mais especificamente em [Dick].
Bibliografia

[Dick] DICK, B. A begginer`sguide to action research.


http://www.scu.edu.au/schools/gcm/ar/arp/guide.html (2000)

DICK, B. The Snyder evaluation process: an


overview. http://www.scu.edu.au/schools/gcm/ar/arp/snyder-
b.html (1997)

GAMA, Zacarias J. Avaliação Formativa: ensaio de


uma arqueologia. in Estudos em Avaliação Educacional, n.
29/2004.

[DONATI] DONATI, Luisa P. & CARVALHO, Hélio & PRADO,


Gilberto. Sites na web: considerações sobre o design gráfico
e a estrutura de navegação.

[HAYDT] HAYDT, REGINA C. Avaliação do Processo de Ensino-


Aprendizagem. Editora Ática, 1992 – São Paulo.

[ROCHA] ROCHA, Heloísa V. da & BARANAUSKAS, Maria C. C.


Design e Avaliação de interfaces humano-computador. IME/USP,
2000 – São Paulo.

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