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Leituras sobre Lacan - volume | HASSE Ee Christian Ingo Lenz Dunker Leituras sobre Lacan volume 1 Discurso e Semblante Christian Ingo Lenz Dunker Transcrigdo: Daniele Rosa Sanches Copyright © 2017 Dunke, Christian Ingo Lenz. Licenga exclusiva para publiagio em portugues brasileiro cedida 8 nVersos Editor, Todos s diets reservados. Palblcagao riginalmentena lingua Portuguesa DIRECAO EDITORIAL e de ARTE | CAPA: julio César Batista PRODUGAO EDITORIAL: Carlos Renato PROJETO GRAFICO | EDITORACAO ELETRONICA: Equipe nVersos, PREPARACAO: Casa da Linguagem REVISAO: Estudio Lizu Datos Interacionais de Catalogarzo na Publcaio (CP) (Cémara Brasileira do Lio, SP. Basi Discurso e semblante | Cristian Ingo Lens Duke. So Paulo: nversos, 207 ~ (Letures sobre Lacan; v.1) (SBN 978-85-54862-00-8 1. Lacan Jacques, 90719812. Psicanaise | Titulo. Se. 70787 00-180.195 Indices para catalog sstematico: ‘Lacan, jacques Psicanalse 150195, edigo ~ 2017 Esta obra contemplao novo Acord Orton da Lingua Portuauesa Impresso no Bras | Pintdin Braz rWessos Edita us Cabo Eduardo Alegre. 36 CEP: 01257060 - 9 w.nversos.com br rversos@nversas.com br 0 Paulo-SP Tel: 113995-5617 SUMARIO qesntgio Seino sobre 3 Obra de Jacques Lacan. Antecedents eConsequents. Prefiio Discurso e semblante ‘introdugo ao Seino XVI ‘De um discus que no fosse do semblante (197). 1 Odetaheautbiogfce a fonteire evel +12 Ahipétese da psicopatloganao-toda 2.0 semblante a relagdo parancica com o inconstente 21 OSenhr van M eo semblante. 2.20 ugar de onde vr a intepetagio. 2300 senblate 310 sera dos discuss 310 genitvoobjtivo eo genio subjetve 3.2 Aletheia. veitase emunat 33 0 semblante parte da verdad, S 4.0 sexo como referente nos discursos: 41 A *teoria dos discursos” e a nocao de semblante. - 42 Osemblante eo atetto 43H Um desde qu.) 5 Asta 510 grade dveso eo signa LPO a B 2 48 8B 8 8 8 o B 88 2 93 APRESENTAGAO - SEMINARIO SOBRE A OBRA DE JACQUES LAGAN: ANTEGEDENTES E CONSEQUENTES Christian Ingo Lenz Dunker Os anos 1990 noticiaram uma abrupta convulsio dos estudos laca nianos no Brasil. Associacées criavam-se ¢ desfaziam se: 0 debat sobre um inconsciente pés-colonial despontava no sul; os pragma psicandlise; baianos ¢ pernambucanos aprofiindavam-se na iogica nna topologia, traduzindo e divulgando seminaios raros: os capilarizavam a psicandlise nas universidades, nos Capes e pitais gerais; os paranaenses traziam uma nova maneira de clinica com criangas e, em Brasilia, 0 confronto com a IP co a solta. Depois de uma leva de livros sobre ética, abordou se o t da interpretacio, depois 0 fim da andlise e, em seguida, 0 prot do gozo. Em meio a uma insurgéncia de modelos e antimodelos, a controvérsia do passe chegava ao seu extremo, € novas dissolugoes. Dar aulas na universidade podia colocar, sob suspeita. a tidelida de inrestrita do sujeito causa analitica. Teses ¢ dissertagdes eram toleradas como parte de uma boa formagao. Quem se aventucava a oferecer grupos ce estudo, ou a participar del A grande crise com as Sociedades de Psicana navam-se, cada vez mais, raros os proclamas de que “isso nao & psi nos hos iando novas escolas Candlise”, que os lacanianos anteriores & minha geragao sofreram na pele. Alii pe aideia de confessar se lacaniano constituia um y ado; afinal, 86 existia uma iinica psicanali a homes como Freud, Lacan ou Klein, para des Aquele que recoitia nar seu pereutso de alinidades eletivas, ndo havia tesolvide muito bem sua filiagio Fm 2001, a guerra das escolas ainda estava em curso, nag so em fungao da cisco de 1998, dentro dla Assoeiagao Mundial de Ps que originow o Forum do Campa Lacaniana e © Korum Sao Paulo, mas também porque, em meio ao sucesso institucional de outros estados, os paulistas representavam um soberano fracasso, Para quem se havia formado na disciplina cientifica da psicologia experimental e passado pela filosofia uspiana, como eut, as praticas de exclusio de autores, de silenciamento de adversérios ¢ de detratagio de posigées divergentes representavam a barbarie galopante. Um verdadeiro reinado de obs- curantismo e de fechamento, ao qual caberia uma nova Aufklarung lacaniana, com a sua consequente critica da economia de poder e de autoridade no interior de seu sistema de transmissao. Junto, vinha a sede de debate, a expectativa do encontro entre leituras diversas ¢ a importincia de valorizar diferentes trajetérias formativas.Afinal, o que tinhamos de methor era muita gente envolvida em cursos, em grupos de estudo, em supervisdes e, © mais importante, em analises. Muita gente e pouca conversa, muita inibigao e pouco sintoma, Comecei a estudar psicanélise gracas a uma bolsa de estudos, re. cebida no terceito ano de psicologia, junto & antiga Biblioteca Frey. diana, Contando 35 anos de idade, ew havia passado por cinco cisées, fusdes, fundagées e refundagdes de Escolas de Psicandlise. Tinha visto amizades destrocadas, transferéncias atravessadas e interrompidas, terrorismo significante por toda parte, vigilancia e critica malsa, con. fundindo-se com rigor e autoridade, criando o pior que a misétia ins- titucional dos analistas pode produzir. Tudo em nome da psicandlise, Tinha voltado de meu pés-doutorado na Inglaterra com um auto- diagnéstico perturbador. Como seria possivel que nossa psicandlise fosse, ao mesmo tempo, tdo pujante e to provinciana? Sentia uma estranha atualidade entre as criticas que Lacan fazia 8 psicandlise dos anos 1950 ¢ a situacio brasileira do lacanismo dos anos 1990. Era como se ndo tivéssemos aprendido nada. Em meio a essa de- cepcao, deliberei duas medidas de sobrevivéncia para meu desejo de analista. A primeira consistiu em dizer sim para todos os convites, propostas, inscricées associativas, ou aventuras, que chegassem até mim, independente de sua procedéncia filiativa, salvo o limite de minhas forcas ea tolerancia de minhas pequenas indisposigdes. Jé a segunda foi ler e reler a obra de Lacan do inicio ao fim, com espitito critico, buscando fazer o mais simples que aprendera nos bancos escolares, ou seja, reconstruir o pensamento do autor segundo seus ji pra aque es Comets sprios termos € a partir de minhas proprias inquietagées. Concebi oe inal desse seminario. Referéncias e Contextos como o titulo or Fle surgiu como atividade de um grupo de pesquisa na anti- ga, querida ¢ falecida Universidade Sao Marcos. Ali, jd orlentava dissertagdes de mestrado desde 1996 ¢ comesava a ressentit-me da perspectiva que essa pratica impunha, isto €, cruzar a formagao do psicanalista com o suplemento, isto €, a pesquisa universitaria, Com 4 nogdo de suplemento sugiro aqui o cardter nao necessatio, adicio nal e contingente pelo qual alguém pode desenvolver uma predilecéo pelo questionamento de conceitos e pela escrita universitatia ligada a psicandlise. O intelectual nao é um modelo para o psicanalista. Mes mo que Freud, ou Lacan, o tenham sido. Na sua maior expressio, isso nao significa que os dotes de refletir, de escrever e de implicar-se no debate piiblico sejam exigéncias intrinsecas para o psicanalista e para a sua formacao. Contudo os efeitos de elitizar essa condigao nunca se deveriam confundir com o ato de privatizar a experiéncia psicanalitica e sua formacéo. Endogamia andloga se encontrar na uuniversidade e em seu discurso burocratico, sem qualquer implicacao. ou consequéncia necessaria, para com a sociedade da qual emerge ¢ qual deve prestar contas. Em 2001, resolvi, enta 9. comegar este estudo diacrdnico e sequen- cial da obra de Lacan, examinando-Ihe os textos seminais das décadas de 1930 ¢ de 1940. Um exercicio de leitura, como qualquer outro, mas com uma condicdo que se mostrou crucial ao longo dos tempos Nada que dissesse respeito a créditos, a certificados, a justificacdes departamentais, ou a usos para finalidades académicas tradicionais deveria fazer parte desta experiéncia. Nao é matéria, disciplina, curso de extensdo, pés-graduacdo ou quejandos. Estava, assim, em uma Universidade particular, promovendo uma atividade “aberta, gratuita, informal”, conforme constava no antincio da primeira convocatsria, 'sso significava trabalhar de graca e usar as dependéncias univers Gras sem autorizagao, registro ou ordem. Ademais, isso implicava trazer pessoas que no eram alunos regularmente ima das catracas e para dentro deste espaco, Outta finalidade do empreendimento era ferentes procedéncias e provenigncias para d matriculados por reunir psicanalistas de di- lebater sobre a psicanélise 10 DscusoeSenbnte em uma plataforma de encontros. A meta era eae ee o etic da amizade, que eu sentia fatar entre analistas, sempre dS uum, Foi assim que, em 2002, recebi Maria Livia tados e romados um a See eee ‘Tourinho Moretto ¢ Ricardo Geldenber i pa me Madi Safatle, recém-chegado da Franga, € day z cl tio Vargas, mesmio ano em que minha amiga de outros rae ulnar Mle Raman aa lange e ate se iv A Constituigao do Sujeito. . Quando me tornei professor do departamento de Psicologia Clinica da Universidade de Sao Paulo, o semindrio tornou-se ainda mais paten- temente fora do citcuito de créditos e disciplinas. Além disso, passou a ser apresentado como “pliblico, aberto e gratuito”. Rapidamente se espalhou a noticia de que ele realmente era aberto a qualquer um que estivesse em S40 Paul, vindo por outros motivos ou associa- Ges, e que tivesse algo a dizer, concorrendo para o debate puiblico. Ou seja. psicandlise sem fronteiras, pelo menos sem as fronteiras tipicas de nossos condominios. Foi assim que, por Id, passaram Nina Leite, Mauro Mendes, Dominique Fingermann, Michel Plon, Bernard Nominé (2005), Nelson da Silva Jr., Marc Strauss (2006), lan Parker ¢ Erica Burman, Luis Izcovich e Néstor Braunstein (2007), Gérard Pommier, Jorge Ulnick, Slavoj Zizek (2008), Philippe Van Haute, Sidi Askofaré, Raul Pacheco (2009), Marcelo Mazzuca (2010), Carmen Gallano, Thamy Ayouch (2011), Gabriel Lombardi (2012), Michel Bousseyroux, Thiago Ravanello, Isloany Machado, Pedro Heliodoro Tavares, Gilson lannini, Henry Krutzen (2014), Pedro Arévalo, Marie Hélene-Brousse (2015), Luiz Andrade, Pablo Peusner e Paola Mieli (2016). 4 partir de 2005, contel com a prestimosa dedicacao de Daniele Sanches, que, primeiramente, gravava, depois transcrevia ¢, a0 f- nal, distribuia as versoes escritas dos seminérios. inicialmente, tal Pratica constitufa um exercicio de estudo e também uma das fungoes do Seminario durante esses anos: preparar os candidatos ao mestra- {o, a0 doutorado ou a iniciagio cientifica para elaborar um proie’® de pesquisa. Mas & medida em que me deparava com o efeito de Serialidade e de leitura do que havia dito, varias caracteristicas da xperiéncia comegaram a ficar mais claras, o que, de certa maneit@s Apes Seminario sobre a Or de acques aca: ntecedenteseCosequets |! modificou minha prépria impressao do que devia ter sido a experién- de Lacan, com seus prdprios seminarios, durante 26 anos. Uma experiéncia que estava mais para uma mistura entre uma forja com ferro quente, escorrendo em momentos imprevistos, e um atelié, com seus momentos de marasmo e de afligao, do que para a silenciosa mesa do gabinete de um escritor e seus livros. As perguntas desviam © caminho previsto, os acontecimentos da cidade interferem no que acontece, os tltimos filmes em cartaz parecem definitivos, a alegria ou o cansaco interferem diretamente no resultado da producdo. Falar “ao vivo" leva a uma série de imprecisées, de aproximagées e de con- jecturas. Ha repeticdes improdutivas e esbocos mal encaminhados. Citagoes incorretas sao feitas de cabeca, reconstrucées aproximati- ‘vas, Ou meramente intuiti vas, levantam falsas promessas. Ha inicios grandiosos de ideias que nao prosperam. Outras, quase murmuradas, comecam a insistir pela sua forca de longo alcance. As notas nao sio suficientes, ou, quando 0 sdo, podem deixar uma sensaco protoco- lar. O seminatio constitui um lugar de experimentacdo, um “chao de fabrica” para ideias que, depois, so apresentadas de maneira muito mais limpa, polida e organizada. Mas € também o atelié de criacdo, Sempre aberto a quem quiser participar, meio sem compromisso e um tanto com muito compromisso. Multos vém por anos a fio, outros vém e vao, alguns apare- Cem apenas para dar uma olhada ou sentir o clima. Orgulho-me da duantidade de cartéis, de grupos de trabalho, de engajamentos e de colaboragdes que surgiram devido as oportunidades de encontro Ae 0 seminario produziu. Ele consiste, ainda, em um ponto de re- {ome onde posso reencontrar antigos alunos, ex-orientandos e gen- te que vem, agora, de varias partes do Bra: Coisa. © Seminério faz parte di Campo Lacaniano, do qual sou qual entendo colaborar com est sil para partilhar alguma las atividades formais do Férum do Analista Membro de Escola e parao ies 7 'a encruzilhada entre a universidade &, Durante algum tempo, ele constituiu o lugar de encontro da Rede de Pesquisa de Psicanslise e Psicossomatica, coordenads Por Tatiana Assadi ¢ Heloisa Ramirez, Oseminarioé teatro, o livroé cinema, Uma. ; coisa ¢ interagir com um Pequeno grupo de amigos e de alunos, cujas faces so reconheciveis 12 Discs Sernbante cecuja ferocidade da wm tom hdico que anima a controvérsia, Outta ¢ improvisar com um cenério composto por mais de duzentas pessoas, com gente sentata nas janelas ¢ em pé, A medida que o seminaio fol crescendo, nacionalizando-se e internacionalizando-se, tive de dimi- nuit sia extensdo, em fungio dos problemas praticos para manter sua estrutura. A partir de 2013, o seminatio passou a ser transmitido pelo IP-TV @@ rede de tclevisio do Instituto de Psicologia da USP), gragas 4 dedicada equipe téenica comandada por Gilberto Carvalho e Sonia Luque. © material encontra-se disponivel no Youtube, ainda que in- completo, pois muitas sessbes do semindtio so transferidas, ds vezes em cima da hora, para locais onde nao hd tecnologia de gravacio, Portanto o que o leitor terd, nesta pequena colecdo de livros sobre o Seminario Contextos ¢ Referéncias sobre a Obra de Jacques Lacan, compreende o periodo das transcrigSes, feitas entre 2009 ¢ 3012 ¢ dedicadas ao projeto de releitura da diagnéstica de Jacques Lacan, confrontando a teoria das estruturas clinicas, desenvolvida entre os anos de 1954 € 1958, ¢ 0s achados da teoria dos quatro discursos (1968-1971), com as exigéncias impostas pela concep- cdo de sexuacio (1972-1974) e, ao final, com a topologia dos nbs 75-1980). Durante esse periodo, procurei uma psicopatologia néo-toda, uma critica tanto da diagnéstica psiquiatrica ascendente, quanto das reagbes psicanaliticas. A base dela, 2s vezes, era md fundamentacdo socicl6gica, ot a radicalizacao de uma certa episte- rologia clinica, ou, ainda, o desdém arrogante da propria existén- cia, ou da necessidade de uma psicopatologia em psicandlise, Mas stem da ertca, trabalhase com a hipétese de que nossos mods de 32 Discurso e Sembiante de sair de casa ¢ deixa-o grudado a mae. Ou seja, o objeto fobicg impede justamente que Hans se reconheca como alguém incluido ng para todo da funcao falica. O Hans cai da fungao falica, mas nao se Teencontra nesse conjunto. Enfim, essa é a primeira leitura da estry. tura, uma leitura que assimila a estrutura somente ao necessétio, A segunda acepgao de estrutura é diferente. Nela, a estrutura cor. responde a tese de que 0 necessario se relaciona tanto com o possivel, quanto com o impossivel. Por que tal tese é importante? Porque a pri- meira leitura carrega um problema: nao nos permitir pensar as dife- rencas estruturais no homem e na mulher, jé que nao se trata de um modelo sexuado. Na primeira acepcao de estrutura, a sexuacao ocorre como consequéncia, ela nao esta posta. Ou seja, em para todo que se inscreve na fungdo falica, haveria uma subdivisdo entre aqueles que se inscrevem na via do ter e aqueles que se inscrevem na do ser. Desejar ter 0 falo, ou desejar ser 0 falo so subdivisdes secundarias que impli- cam conceber 0 homem e a mulher com diferencas apenas relativas & posicao diante do falo, o que constitui grande problema reducionista. © problema comecara a ser contornado dentro do ensino, quan- do temos condicdes de pensar uma segunda leitura da estrutura. Ou seja, que a estrutura envolve esse atrelamento entre 0 necessatio eo possivel, mas também a relacdo do ao menos um que nao com 0 néo existe nenhum que ndo. Esta tiltima assertiva consiste na forma como Lacan lé a modalidade do impossivel. E a negacao do ao menos um para o nao existe nenhum. A figura escolhida para essa proposigio€é a figura da virgem, a posicdo freudiana para a mulher, Para Freud, 40 contrario do homem, a mulher nao pode ignorar a castragéo, pois esta fundamenta a interpretacdo e a assun¢ao do proprio corpo por ela. vo Homem [Wecessio——SSS«* | |_| tee Womens | () > Todos eles traduzem a fungio ndo existe nenhum que ndo se ins- Creva, mas ha diferentes maneiras de realizar essa fungao e, ao mes- ‘mo fempo, levar em conta a posicao do Pai. Vejam como isso converge Para um tema central do Seminario XVII: O Avesso da Psicanilise (1969-70), isto é, o debate sobre o pai real. Trata-se do ponto do ensi RO no qual Jacques Lacan liga o pai real a repetigdo: se, por um lado. €0 pai real que explica a repeti 0. por oUtrO, é a repetigado que explica Sintetizando, temos duas formas de ler o que seja a estrutura. Uma forma vertical, que constitui Una fom @ maneira classica de entendé-ta, i ambem a forma horizontal, uma proposta revisionista de leitura a estrutura, na qual um é o | Wet. Ne uum desen tentar re mal lado homem, enquanto o outro, 9 mtu * cso, a montagem da estrutura inclui, necessariamente, Wont. Os discutsos s, Paar e captar esse des Eneretanto, até aqui ‘do feitos justamente para isso, para ‘Acontro, para dar-the um destino for- © ensino lacaniano tinka um problema, i ——stle 1a dos disctursos, a resolver, Jacques Lacan havia anescente na teoria dos dis “ jas trés das quatro posigoes que aa cna esava name ost de Oto Or fee aeaha Oa retorna); ja havia designado a posigao da See rnd odiseurso tem efto, do qual melhor exemplo eed iste se ‘produgao de chiste, ha economia de goz0; jg teal saben rama a posigdo da verdade (um lugar abrigado; Sapee lacaniano, pode-se observar que, da verdade, so. mente saem setas, mas, a ela, nunca chegam) ——> $ se 3! t a $2 A verdade situa-se abaixo da barra, em um lugar abrigado, mas o 2 erdade sé se apreende por seus que isso quer dizer? Quer dizer que aM a eee efeitos, sendo diretamente acessivel. De fato, a ver la const um lugar que funciona muito mais erme um tempo, do que ono conietido. Em suma, a verdade nao varia de acordo com o saber, poi é aber, mas fugaz. *eatmcag adeno, qual €opobema remanestene na tora o discursos? O problema de Jacques Lacan era como nomeat ee, reservado ao sujeito barrado ($). Esse constitui lugar muito on f mAtico, pois seria quase natural supé-lo como reservado Ks autor, posigo daquele que enuncia um discurso, daquele que o diz. a outro, jé se sabe, é aquele a quem o sujeito se sala ee lugar do outro que o discurso produz efeitos e, em retorno, foureostd espaco para a verdade. Alias, quando a verdade se mostra, ¢ pt “nent zer girar 0 discurso, que move o sujeito, para um outro funcio ane © problema € que Jacques Lacan nao pode dar, ao lugar remvan ae 9 nome de lugar do autor, pois seu ensino justamente critica @ nay sica lundada na nogao de ser possivel um agente da linguagemn ae quem comanda o dizer? Definir quem comanda o dizer coloc: lo hlerarquizada e verte Aidos desde o Seminars nego Seminario de Lacan compreen- Seminério XIX: .0u Pior (1974 a Outro ao outro (1968-69) até o ). Nessa época, os alunos haviam ine. VIS po wee 2-0 semblante ea relago paranoica com oiconsciente| 45 formado em pequenos empresdrios de suas carreiras como ‘ortanto, obrigatoriamente, tinham de publicar. Bem, nesse aunt, Jacques Lacan inventou wma revista com a publicagéo de rextos sem autoria. Um projeto critico, dirigido contra a fetichizagao ‘fo autor que a universidade vinha praticando. Fol uma tentativa ‘de dar mais importancia a escola, ao estilo, ao pensamento e a co- ‘nunidade do que ao autor, principalmente, do autor de indexacao se trans! autores: P* universitaria. ‘A revista era esse experimento, que combinou com a nogao de car- tel, dentro do ensino lacaniano. O cartel constitui dispositivo formado no contexto da reelaboracao do projeto de escola com a Proposicao de 49 de outubro de 1967, ou seja, um ano antes da revolucao. Tanto 0 cartel quanto 0 passe Sao muito debatidos e tematizados, embora 0 experimento te6rico e bibliografico, que foi a revista sem assinatura, fique um pouco esquecido. No final de cada ano, apés a edi¢ao dos vo- lumes, a revista publicaria uma lista contendo a relagao das pessoas que escreveram, de tal forma que saberiamos quem tinha participado, mas ndo quem tinha feito o qué. Essa era, também, a forma de funcio- namento do cartel: as pessoas escolhiam-se livremente, quatro mais uma, que faziam um trabalho no final. Cada uma recolhia um produto préprio, mas o importante era que fosse do conjunto, o que destruia a ideia da individualizagdo de um saber. O cartel produzia um saber passivel de permuta, nao se identificava quem era o dono daquele saber, nao havia o proprietério da coisa. Outro dado hist6rico que devemos incluir em nosso comentario é a Revolugao Cultural Chinesa. Jacques Lacan mantinha-se em contato com varios grupos de orientagao maoista e atendia a muitos pacien- tes advindos desse contexto. Os grupos maoistas projetavam inventar outra maneira de relacionar-se com a cultura, que nao a publicacao escrita. Constituia protesto contra a reproducao industrial da cultura. Tais grupos queriam lidar com o saber de uma forma que nao aquela, impregnada pelo capitalismo, que transforma o saber em um produto, lum objeto a embrulhar, empacotar e vender. Assim, a critica & autoria pretende desmontar o valor comercial do saber. Feito esse adendo, retornemos a revista Scilicet niimero 1. Nela, aparecem duas apresentagdes de paciente, feitas por Lacan € ano- tadas por alguém, Uma das apresentagées refere-se ao caso do Sr. a yuan M_ apaventemente de paranoia, CONSeRUIMOS acompanh, ‘ anhar a, as cond era um paciente dele, nem um paciente em ria lise, no hospital psiquiatrico. A entrevista tinha fi “tina. imeervengies de Lacan ¢ observar © modo como tecebia ¢ 9 paciente. Nao mas um internado Talade didatica e de pesquisa: apesar disso, todos que participaran dlaguela praticadisseram que Lacan se mostrou muito acothedor coq © entrevistado, Nao raro, apds as apresentagoes, o paciente tinha aj. geuma mudanga clinicamente observada pelos membros do hospita, No nosso encontto de hoje, vamos comentar 0 caso do St. Juan M, a partir da hipotese de que, na psicose, a fungao do semblante se en. contra perturbada. Um dos maiores problemas do psicstico € a dificuldade de fazer aco social, uma notéria dificuldade de entrar no discurso. © sujeito a linguagem, mas nao consegue funcionar bem nela. 0 pacien- mas nao se situa muito bem em esta ni te psicatico passa pelos discursos, aigum. nao se vale do campo discursivo, tal como 0 neurdtico ¢ 0 perverse se valem. Por gue isso acontece? Ouvimos, frequentemente, gue a falta de laco € devida & perturbacao pela presenca do outro, ou, ainda, gue é 2 forma como o psicético lida com os efeitos de lingua- gem que inviabiliza sua pertenca. Mas tudo isso poderia ser resumido 2 um diagnéstico: 0 psicético no consegue valer-se da fungao do semblante. Esse € um argumento para avaliarmos a pertinéncia clini- ca do novo conceito de Jacques Lacan. A psicose implica uma ruptura do semblante e, acompanhando 0 manejo que Lacan oferece ao caso de Juan Mt, podemos inferir algumas caracteristicas atribuidas ao con- ito, Veremos se esse nosso exercicio ird funcionar, mas, antes disso, frei um resumo desse primeiro capitulo. No capitulo de abertura, Lacan refere-se a diversidade dos dis- cursos, que ele reduziu a apenas quatro. Além disso, ele retifica uma afirmacao que havia feito no Seminario XVII: de que o discurso do mestre no é 0 avesso da psicandlise; antes, constitui o lugar onde ne 2 Lanen uma dupla inscricéo. Saimos do Seminario XVII com eee pone aieeia do mestre é 0 avesso do discurso do '80 quer dizer 0 contrdrio? No discurs do mestre, temos $1, $2, sujeit (lo 108 + 52, Sujeito € objeto, 0 fa hee : objeto, o fantasma esta situa ica ton oinearsciente | 4 —_—_»> SI $2 ta a ista, terfamos uma oposicao. por mudanse sicanal iscurso 0 P' Ges ‘cupam os lugares: dos elementos que © > a $ ta art ques Lacan faz, no primeiro capitulo de seu Seminario jpotese legada pelo Seminario XVII Jagdo entre 0 discurso do psicana- mas Assim, Jac Xvill, uma retificagéo naquela hi como adendo, ele anuncia que a rel tista e o discurso do mestre nao é apenas uma relagdo de avesso- sim, de uma dupla inscricao. Tetomemos o termo dupla inscrigao. Essa expresso é uma hi- pétese examinada por Freud no seu texto sobre o Recalque (1915), onde compara duas formas de entendimento do recalcamento, Freud diz que ha uma hipétese tSpica, ou seja, a representagdo (R1) sai do campo da consciéncia e muda de lugar, isto €, vai para 0 inconsciente. FAS a) Consciente inconsciente Essa constitui uma maneira simples de entender a oper tecalcamento: a representagao estava em um lugar, depois mudou para outro. 4 ideia de lugar ¢ inerente a estrutura dos discurses, com es ugar, Entretanto essa maneira mais simples de descrever z equivocada, afinal, nao expde o que realmente se passa

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