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COEUR Seco merino te | Raves ose fo} ee) 10 POR lt (Opokoe SYR eSs= Ie Aescolha profissional como processo ‘A escolha profissional nao 6 uma deciséo isolada, e sim ‘um processo continuo, composto de uma série de decisées tomadas ao longo de varios anos da vida. Tal proceso se aguca na fase da adolescéneia, em que uma deciséo quanto a futura profissdo ou ocupacdo deve ser tomada. Em geral, a sociedade prepara muito poueo, ou quase nada, 0 adoles- cente para essa deciséo, A familia, a escola e a sociedade estdo sempre decidindo pela crianga e pelo adolescente, impedindo que eles aprendam a lidar com situagées de es- colha, Entretanto, chega um determinado momento em que a familia, a escola e a sociedade cobram e exigem do adoles- cente uma deciséo com relagdo ao sou futuro profissional. O adolescente enfrenta, entdo, uma dura tarefa, e nem sem- pre sabe como realizé-la Escolher uma profissio néo 6 somente decidir © que fa- zer, mas principalmente, decidir quem ser. Escolher uma ocupacéo ¢ escolher um estilo de vida, um modo de viver. Raramente os adolescentes se dao conta de que essa deci- sao abrange muito mais do que a escolha de um simples titulo: enfermeiro, engenheiro, administrador... Quando escolhemos uma ocupagéo, escolhemos néo sé uma ativi- as Masa Cot Neva dade de trabalho, mas também o tipo de lugar onde traba- Iharemos, a rotina didria & qual vamos estar sujeitos, 0 ambiente de trabalho do qual faremos parte, os companhei- ros de trabalho com os quais nos relacionaremos, os retor- nos que poderemos obter: saldrio, prestigio, promogio, ete. A anilise de todos esses fatores é essencial para que se tome uma decisio madura ¢ consciente Quem escolhe A escolha profissional ocorre geralmente no periodo da adolese&ncia, periodo esse jé conturbado por uma série de mudangas préprias dessa fase. O termo adolescéncia, de origem latina, se refere a “crescer”, "chegar @ maturidade’. ‘A adoleseéncia 6 caracterizada pelo desprendimento da in- fancia e pela entrada progressiva no mundo adulto. Ela é marcada por uma série de mudangas fisicas, cognitivas, afetivas e sociais. Nessa fase, como explica Moujan (1986), © adolescente pereche seu corpo como estranho, com novos impulsos e sensacées, nota mudangas nas suas idéias, me- tas e pensamentos, e sente que os outros jé nao 0 percebem como antes. Essas mudangas levam o adolescente a reestruturar sua identidade pessoal, a se reconhecer com seu novo corpo, novas idéias e novas relagées. Segundo Erikson (1987) 0 sentimento de identidade pessoal se baseia em duas obser- vagées: a pereepefio da mesmidade e continuidade da pré- pria existéncia no tempo e no espago e a percepedo de que 08 outros reconhecem essa mesmidade e continuidade. No proceso de reestruturagao da identidade, 0 adolescente tem 8 Procesas ce Ee « rng Passo de separar-se de seus aspectos infantis ~ corpo infantil, mentalidade infantil, relacoes infantis com os pais ~ e acei- tar a perda deles. Este 6 0 chamado processo de luto do ado- lescente. 0 desenvolvimento da nova identidade requer nao 86 a integracdo do novo, mas também a separacao do velho. Esse proceso gera no adolescente uma tendéncia ao des- prendimento, que vem acompanhada de um temor diante da perda do conhecido. ‘Segundo Bohoslavsky (1998, p. 42), a identidade traduz-se: Em uma série de antiteses: o sentimento de quem se 6 de quem nao se 6, quem se quer ser e quem nio se ‘quer ser, quem se eré que deva ser e quem se eré que no deva ser, quem se pode ser e quem néo te pode ser, ‘quem se permite ser e quem néo se permite ser. Em meio a tal proceso se instala, no adolescente, a necessidade de estruturar um projeto profissional. Junto com os novos papéis que vio se definindo pouco a pouco, esté também o de futuro profissional. O processo de iden- tidade vocacional-ocupacional & parte do processo de identidade pessoal e esta regido pelas mesmas leis e dificulda- des deste tiltimo. Nao se pode compreender um sem analisar 0 outro. As dificuldades que um adolescente apresenta na elaboracdo da sua identidade pessoal, quer no campo sexu- al, quer no cognitivo, social ou afetivo, refletem-se na ela- boragao de sua identidade vocacional-ocupacional. E muito importante compreender 0 proceso coma um todo, anali- sando cada um de seus aspectos. Bohoslavsky (1998) diferencia a identidade ocupacional da identidade vocacional. A identidade vocacional consti- tui a resposta ao porqué e para qué se escolhe uma deter- » thin Mara Cost Neva minada ocupagao. Essa resposta nem sempre é clara e co- nhecida pelo adolescente. Muitas vezes ele conhece seus inte- resses, mas ndo as suas raizes. A escolha profissional é fruto de motivos conscientes e ineonseientes. Jé a identidade ocu- pacional & adquirida quando o sujeito define o que quer fa- zer, de que modo e em que contexto. Ela inelui, portanto, ‘um com qué, um como, um onde, um quando e um & manei- ra de quem. A identidade ocupacional é determinada pela identidade vocacional. Considera-se assim que 0 provesso de escolha profissional implica a elaboragéo de uma identidade vocacional-oeupacio- nal, ou seja, a definicéo do que fazer, como e onde, e também a ‘compreenséo do porqué e para qué dessa deciséo. As identificagées que o individuo estabelece ao longo da ‘vida contribuem essencialmente para a sua identidade pes- soal ¢ para a sua identidade vocacional-ocupacional. Vin- culos positives com pessoas que desempenham determinados papéis profissionais levam o adolescente a querer ser como elas. Vemos, como exemplo, 0 adolescente que quer ser médi- €0 como 0 tio a0 qual é muito ligado desde crianga e que admira muito, ou aquele que quer ser professor de Histéria como 0 que teve no gindsio, cujas aulas eram muito interes- santes, As figuras parentais sdo fonte importante de iden- tificagdo. E muito comum o caso do filho que, muito identificado com a figura paterna, quer seguir a carreira do pai, A identidade vocacional-ocupacional pode ser assim com- preendida como a autopercepgao, ao longo do tempo, em ter- mos de papéis ocupacionais. Ela é adquirida por meio da integragio de diferentes identifieagdes que alcangam relati- va autonomia, O adolescente passa das identificagées (ser como 0s outros) a elaborago da identidade (ser ele mesmo). ry Procesas de Esa © Ovetagio Pessio Sempre que escolhemos uma profissdo ou ocupagio, eli- minamos as demais. Muitas vezes 6 dificil escolher, pois escolher requer renunciar algo. O processo de identidade vocacional-ocupacional exige a elaboracao de lutos espect- ficos por objetos que se deve abandonar. Levenfus (1997) discute alguns desses lutos: pela perda das escolhas profis- sionais fantasiadas, pela perda dos pais da infancia, pela perda do corpo adolescente, pela perda das identificagées profissionais que abandona, pela perda do papel e identida- de adolescente. Podemos acrescentar ainda os lutos relaci nados & vida escolar: pela perda da escola de ensino médio e da seguranca que ela oferece, pela perda de professores ja conhecidos, pela perda dos colegas que escolhem caminhos distintos. A elaboracdo dos lutos fica facilitada a medida que a decisao profissional vai se integrando a histéria do adolescente e que a sua escolha passa a ser mais importan- te do que a sua rentincia. A elaboracéo dos lutos se expressa pelos sentimentos ¢ comportamentos. Os sentimentos mais comuns so de tris- teza, solidéo, ambivaléncia, culpa, e sao observados na capacidade do adolescente de recordar e recuperar aconteci- mentos passados, idéias anteriores e projetos abandonados, integrando-os e vinculando-os a decisées atuais. Bohoslavsky (1998) considera que o proceso de elabora- go do Tuto passa por trés fases. 1) Jamentagdo: fase em que 0 adolescente queixa-se do que nao fez ou de sua situagao — "se tivesse estudado em outro colégio’, “se tivesse melhores condicées econdmicas"; 2) decepedo ou desespero: quando expressa sua impoténcia diante da situacSo ~ 'ndo sei como resolver’, "a sociedade ndo me dé garantias sobre 0 meu futuro"; 3) separagdo: quando passa a exprimir seus ver- dadeiros sentimentos pelas perdas, por aquilo que abando- na; quando se permite reconhecer sua tristeza e seus medos.

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