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| YVETTE PIHA LEHMAN Nao sei que profissa escolher O significado do trabalho e a utilidade ae G do écio [Néstemos nos dedicado,afeste moment, pri cipalmente aos aspecos psiol6gicostipicos da ‘olescéncia que inerferem na escola profissio- ral exigindo que pensemos Seriamente no assun- {o, Masiios6 os fitores psicoiicosinflem, Nao podemos esquecer 0 econtmics. Conheci uma oga que teve de deixar o emprego porque ocuso de Veteriniria exigia que ela estvesse todas as ‘mas na escola e mats algumastardes.O esr {Grio no qual tabalhava, por outro lado, a fazia ‘questio nenhuma de ter uma secretiri-vetering- Tia, "Se pelo menos fosse um curso de inform cal” disse Ihe 0 patro ao dispensla por fats Quantas jovens, mesmo tendo competénc no conseguem estudar medicina, por exemplo, porque o curso exige tempo integral eos livros © ‘© material So muito caros. Existem ainda components sociais. Desde adificuldade de certas ovens universitrias po ‘derem enfrentar preconceitoseexercer sua prO- fissdo, até a falta de infra-estrutra de certas tecolas para reeeber alunos de ambos os sex08 fa de uma certa regio. A filha de uma amiga formou-se em zocteenia e pretendia trabalhar rho mefo rural, Nao conseguiu emprego, enre- fant pois 0s fazendeiros no empregam mu Theres. "Como vooés poderio conviver com a pedozada?", perguntou o criador que a entre Vista, Hoje, essa moca dé aulas de Biologia tm colégios de Sio Paulo. Conheci também fuma moga que foi recusada na escola técnica ‘de mectinica do Senai,apesar deter tirado uma das melhores notas no exame de selegao, por tque os ditetores diziam nao haver sanitrios ‘ara mulheres nas dependéncias da escola. Por- tanto, am das quests itimas, existem in metas qutras a serem analisadas, conform in- dicaremos adiante. ‘Mas verdade € que o trabalho ocupa cada vez mais tempo de nossas vidas, mesmo 8 SO- teonsome nossas ideas, nOss0 tempo € NOSSaS tnergias. Assim, € preciso que aquilo que ee nos ttaz como reforno compense esse investimento, ‘0 trabalho modela nossas vidas, nossr ma seira de pensar e de nos comportarmos. Em, tal é ele oresponsivel pelo local em que mora , pelos amigos que mantemose pelos tos fhiios que acabamos desenvolvendo sa vide ‘Representa a coisa mais importante para grande parte dos eidadios. 0 trabato determina, muitas vezes, a cama- 4a social na qual nos ineluimos, os hibitos de consumo, 0 vocabulrio eas expresses que aca- tbamos usando, mesmo no dia-s-dia. E mais ou ‘menos como aqueleditado que diz que “o habi- to faz o monge” Os locais de lazer também so influenciados peo trabalho. Existem points nos ‘qua profissionas de determinadas reas seen- Contrame, muitas vezes, agueles questo estra- ‘hos ao meio no entendem as piadas nem os Aialogos do grapo. Os profssionas ou 0s cole- gs ormam uma turma unida que parece se co- ‘municar com 0 alka ‘Assim, 0 trabalho estabelece relagies de ‘uma pessoa com os outros e consigo mesma. Situa 0 ser e Ihe dum valor, um espago so- cial que extrapola 0 mundo da profissto ou da produgdo, A familia acaba estabelecendo um “meio-de-campo" com o trabalho numa rela- fo de amor e dio, sentindo-se as vezes pri- Yilegiadse As vezes preterida. A verdade & que «familia toda participa, de uma forma ou de ‘outra, desse universo criado pelo trabalho de seus membros No campo oposto a esse universo do taba ho, encontramos a iéia do écio. De uma ma- neira geal podemas dizer que é écio aquilo que ‘fo € nem se relacona com trabalho produtivo. ‘A mancira como cada cultura avalia 0 Scio de- pende da época e do lugar. Nas ociedades con- emplaivas, 0 Gcio era identificado, muita ve- 22s, com a meditagbo. Na Grécia Antiga associ- ava-se a0 exerciio da filosofia — enquanto os ‘xcravos se dedicavam ao trabalho produtivo, os filésoos se dedicavam a0 saber. Povos de indo- Te religiosa também associavam 0 dcio a uma atitude de enconiro com as divindades e d rp. Na sociedade ocidental, a elagio com o Scio 6 ambigua — ele € a0 mesmo tempo muito de- sejado e, também, desprezado, Tomou-se um privilégio dos poderosos, os quai, para manter ‘seu poder, entretanco, devern renunciar ale. E ‘por mais que as pessoas trabalher,parecem exi- bir como toféu desse labor seus momentos de {6eio, sua improduividade. E interessante como as evista de fofoca mostram pessoas importan- tes justamente em seu momento de dcio. Desse ‘modo, parece que as pessoas tabalham ardua- ‘mente apenas pra passcar em ites, desfilar em festas e...jogar dinero fora. Eo 6ciode quem trabalha que causa invea, e no sua produtvi- dade. Assim, 0 écio €0 status de quem trabalha ‘o deseo tltimo de quem se esforg. No entanto, para o trabalhador que nfo tem trabalho, @ écio é degradacio, Ele aparece na Sociedade come culpado ou degradado. A sua imagem associe ia de vicis, depressio «culpa, Hé pouco lugar e considerasio para !aqueles que nfo encontram um espago de pro- ddugio na sociedade, O desemprego, como uma das conseqiéacias da automagio produtiva, um. dos grandes problemas da sociedad atu ‘Gonzaguinha, um dos grandes compositores «da misiea popular brasileira, diz na misica Um Ihomem também chora que "sem o seu trabalho, ‘um homem néo tem honra”. sas palavras dio a dimensfo da importin- cia do trabalho para aidentidade do homem & para a construgio de sua dignidade, até mesmo ‘hum pafs que tee no malandro — que nd tra balla — uma de suas figuras célebres, 2 ‘Am dos matandros, outros que se opuse- tam a0 valor dado ao trabalho na sociedade ‘cidenal foram os hippies. Esse movimento ‘lacontraultura dos anos 60, nacido nos Es: tados Unidos e na Europa, pregava uma aft

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