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84 Diversidade e heterogeneidade da agricultura familiar no brasil e implicagées para politicas piblicas”? Sergio Schneider Sociélogo, doutor em Sociologia, pesquisador do CNPq e Professor Associado IV do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Professor dos Programas de P6s-Graduagao em Sociologia ¢ Desenvolvimento Rural da UFRGS. Atualmente em estagio de pés-doutorado no Centre for Food Policy, City University London, com botsa do CNPq, Abel Cassol Cientista social, mestre e doutorando em Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agricultura Familias Desenvolvimento Rural ~ GEPAD/CNPq, Resumo O Brasil registrou avangos significativos em relagdo 4 definigfio e compreensao das caracteristicas ¢ do significado do grupo social denominado agricultura familiar, especialmente no que conceme ao reconhecimento da sua diversidade econémica e heterogeneidade social. O objetivo deste trabalho consiste em oferecer uma contribuicao para compreensio da diversidade econdmica da agricultura familiar no Brasil. Trata-se de uma sintese de um estudo mais amplo © aprofundado realizado com base nos dados do Censo Agropecuario de 2006 sobre o perfil © as caracteristicas da agricultura familiar a partir de uma classifi produco agropecuaria destes estabelecimentos e, secundariamente, das receitas obtidas com estas atividades. Procedemos a elaborago de uma tipologia dos estabelecimentos agropecuarios familiares brasileiros utilizando indicadores da produgdo (mais especificamente 0 valor da produgdo apurado) e de renda com base em dados sobre as fontes de ingresso agricolas e nao- agricolas. © trabalho aponta para a necessidade de politicas especificas para os distintos tipos de estabelecimentos familiares que permitam o desenvolvimento de distintas estratégias de uso da terra e dos demais meios de produc3o para alcangar a reprodugio social e gerar excedente econmico que possa assegurar receitas adequadas do baseada no valor da ‘Termos para indexago: agricultura familiar brasileira, heterogeneidade social, diversidade econémica, politicas piblicas "ste trabalho fo apesentado no “Seminirio Nacional Agricultura Familiar Brasileira: Desafos Atais Perspectivase Fur”, realizada em Brain de 13.415 de agosto de 2014 « publiado na Revita Caderos de Ciania & Tecnologia da EMBRADA na edigdocomemnratva ‘do Ano da Agricultura Familiar (TAF 2014), v.31, 0.2, p. 227-263, maiiago, 2014, Os direitos de republicagio foram gentilmente cdidos fe sutorizados por Maia Amalia Gusmo Maras, Editors Ténica da Revista. Introdugao Nos iiltimos anos, o Brasil conhe su avangos significativos no que concemne a uma melhor definigo compreensio das caracteristicas ¢ do significado do grupo social denominado agricultura familiar. O principal avango, entre outros, refere-se ao reconhecimento da enorme diversidade econdmica e heterogeneidade social deste grupo social formado por pequenos proprictarios de terra que trabalham mediante 0 uso da forca de trabalho dos membros de suas familias, produzindo tanto para seu autoconsumo como para a comercializagio, e vivendo em pequenas comunidades ou povoados rurais Do ponto de vista historico, na verdade, ndo ha surpresa nisto, pois esta categoria social sempre foi genuinamente diferenciada em nosso pais. Mas seria um equivoco reducionista afirmar que 0 que hodiemamente chamamos agricultura familiar ndo representa nada de novo ou acréscimo algum em relacio as denominacdes que lhe eram atribuidas no passado, tais como pequena producio, producao de subsisténcia ou baixa renda e, em um nivel politico e conceitual mais consistente, campesinato. De um lado, reconhecimento da agricultura familiar se refere a um movimento ou esforgo cognitive e as vezes politico-retérico para requalificar e renomear a forma como os camponeses € pequenos produtores eram até ento definidos. Mas, por outro lado, trata-se também de atribuir um novo sentido analitico e politico, pois a agricultura familiar passa a ser entendida como uma categoria social diversa e heterogénea pelos estudiosos e cientistas e vista pelos gestores governamentais e os atores e organizacdes sociais pelo seu papel estratégico no processo de desenvolvimento social e econdmico. Trata-se, neste sentido, de um movimento de afirmagio que percorre o caminho indicado por Bourdieu (1977, 1981 ¢ 1993;) quando se referiu ao modo como as categorias do mundo empirico e politico passam a influenciar o campo analitico a medida que so construidas como temas ¢ objetos de reflexdo sociologica. Para dizé-lo de modo a parafrasear Jollivet (2001, p.80), os agricultores familiares de hoje nio deixam de ter suas raizes camponesas ¢ continuam a ser, em geral, empreendimentos econémicos que operam em regime de economia familiar. Mas no so mais camponeses 4 medida que sua reprodugio social e econémica deixa de estar confinada a pequena comunidade rural ou povoado isolado pois recebem influéncias externas (sejam elas tecnolégicas, culturais, informacionais, mercantis etc) que se tomam cada vez mais decisivas 4 sua reproducao A medida que se amplia sua insergdo social (Mendras, 1984). Tais influéncias externas apropriadas, redefinidas e mesmo resignificadas, fazendo com que os agricultores familiares —mesmo vivendo em areas rurais cujas distincias com o mundo urbano ainda sao fisicamente consideraveis — nao limitem sua interaco com a sociedade e os mercados io * Para uma discussio sobre este as interfaces entre campesinato e ariulura constr o belo e eslareedor texto de Wanderley (2003, p. 185) Delgado 2005) tom insstidocometamente na idea de que a nog sedimentada nae previdenciaria braieira de repime de economia familiar ofeoce uma guards especial os rabulhadoes oeupados por cont pra (dfinigdo da PNADVTBGE} que so, 20 mesmo tempo ‘usbulhadresepropietisios dos seus meios de producto. * Estamos ns apoiando na definigSo de Hart Friedmann (1978a, 19786, 1986) sobre a agriculture fariliar que € definida pa autora como forma social de producio simples de mercadoras. Também no aplamos em Ploeg (2003, 2008) querefere a um “modo camponis de fazer augricultura", que no pode ser assocado ao conesto de modo de produgo em sus defnieho maxiana. Em Schneier e Niedrl (2008) e Scheider (2010) discte-se em deta esas deinigdes ete, 85 86 Isto no significa dizer, absolutamente, qué muitos agricultores familiares ndo sigam sofrendo dos mesmos problemas ¢ limitagdes que os camponeses e pequenos produtores de outrora. A pobreza, a privacao de renda ¢ a vulnerabilidade social continuam a afetar muitos destes produtores ¢ suas familias, da mesma forma como no passado. Por isto, € importante enfatizar que a mudanga de nome ou a adocio de nova terminologia, por si, nio altera a condica0 real de vida dos agricultores familiares ¢ menos ainda a sua identidade. Muitos campesinos, colonos, sitiantes e pequenos agricultores, niio deixardo de ser e de se definir como tal, malgrado 08 tedricos ¢ formuladores de politicas passem a designé-los de agricultor nome/termo que venha a ser utilizado (Neves, 1995). Como referiu Shanin (1980), a definigao ou mesmo a revogacio de um conceito de campesinato ou de agricultor familiar no pode ser obra dos tedricos ou dos formuladores de politicas, pois os préprios agentes sociais tém direito as suas definigdes e a construgdo da sua identidade, que é um processo social e politico a um s6 tempo. Mas os anos recentes também testemunham o reconhecimento ¢ a compreensio de que é possivel pensar processos de desenvolvimento rural a partir da diversidade econdmica ¢ heterogeneidade social da agricultura familiar no Brasil (Mattei, 2014). No pasado, especialmente nas décadas de 1960/1970, vicejavam teorias ereferéncias politicas que pretendiam adaptar ou reduzir a diversidade social dos camponeses e agricultores a certos modelos ou padrées de desenvolvimento monoliticos. Naquela época, considerava-se que a “excessiva diversidade” era um obstaculo ao seu desenvolvimento econémico e social. Atualmente, contudo, estas referéncias foram colocadas de cabeca para baixo, pois esta cada vez mais claro que as dinamicas de desenvolvimento mais virtuosas emergem da diversidade das economias locais, que demonstram eficiéncia coletiva (Schmitz, 1999; Abramovay, 2000), capacidade de inovagao (Morgan, 1997; Cook e Morgan, 1998) e resiliéncia a choques e press6es (Ellis, 1998; Scoones, 2009). Enno contexto mais recente de (re)valorizacio da ruralidade, do reconhecimento do papel das economias locais e do potencial das dinamicas territoriais de desenvolvimento que o papel da agricultura familiar ganha forca (Veiga, 2004; Schneider, 2010). A crise dos modelos de desenvolvimento lastreados tanto nas ideologias do ajuste estrutural como das propostas de mudanca revolucionaria, criou espago para que experiéncias bem sucedidas de insercao social ¢ econdmica baseadas na agricultura familiar mostrassem suas potencialidades. Neste sentido, a agricultura familiar adquiriu centralidade politica tanto para organizacdes intemacionais como para os movimentos sociais, sindicatos e cooperativas, como para partidos politicos, programas ¢ politicas publicas O interesse renovado e crescente pela agricultura familiar (haja visto que 2014 foi declarado pela ONU como o Ano Internacional da Agricultura Familiar) esta relacionado a miltiplos aspectos, entre os quais dois se destacam. De um lado, est cada vez mais evidente que ao se falar em agricultura familiar no contexto atual, nao se esta referindo ao campesinato tal como este era concebido nas décadas de 1960 ¢ 1970. Os camponeses eram considerados os pobres rurais, pouco eficientes do ponto de vista econdmico ¢ ameagados de desaparecimento pelo emergente capitalismo urbano industrial da época (sem contar que em alguns paises eram familiares ou outro considerados perigosos e incémodos por suas politicas e alinhamentos ideologicos)”. De outro lado, os agricultores familiares que esti ganhando destaque no momento atual no séo aqueles diretamente identificados com os “family farmers” da América do Norte e da Europa do Norte, também conhecidos como agricultores “tipo farmer”, altamente tecnificados ¢ produtores de monocultivos. Com excegio de algumas regides e situagdes especificas, o esterestipo do “farmer americano” nio comresponde a maioria dos agricultores familiares que existem no Brasil e nos demais paises da América Latina. Nio se trata, portanto, de voltar a0 “velho debate” sobre o qual muito ja se discutiu, plasmado na clissica questo sobre o papel da pequena produco no desenvolvimento do capitalismo agrario ou sobre suas chances de persistir em face da modemizacio agricola (Bemstein, 2011). Pelo contririo, trata-se de entender porque, afinal, depois de décadas de condicionantes pouco favoraveis, as formas de trabalho e produco familiares nfo apenas nao desapareceram no meio rural, mas em muitas situacdes conseguiram se fortalecer e mesmo desenvolver novos mecanismos de reprodugao social e insergo econémica (Hayami, 1996). Este trabalho tem por objetivo oferecer uma pequena contribuicio para compreensio da diversidade econ6mica da agricultura familiar no Brasil. Trata-se de uma sintese de um estudo mais amplo e aprofiundado que realizamos com base nos dados do Censo Agropecuiirio de 2006 para estudar © perfil e as caracteristicas da agricultura familiar no Brasil a partir de uma classificagdo baseada no valor da produgio agropecudria destes estabelecimentos ¢, secundariamente, das receitas obtidas com estas atividades”. Os estudos sobre diversidade da agricultura familiar em geral resultam na elaboragio de tipologias e grupos que buscam recortar e isolar subgrupos do universo mais geral desta categoria social. Este tipo de trabalho tem uma finalidade mais heuristica do que teérica e analitica. Este processo se iniciou em 1994, quando foi langado o estudo INCRA/FAO (2000, ver também. GUANZIROLLI, et al. 2001) e segue até 0 Censo Agropecuario de 2006 (IBGE, 2009b), em que pela primeira vez foram levantados dados por estabelecimentos agropecusrios segundo a condigao de produtor, separando-se os estabelecimentos em familiares ¢ ndo-familiares. Um marco importante neste proceso de tipificagdo da agricultura familiar no Brasil foi o trabalho de Kageyama e Bergamasco (1989), em que as autoras apresentaram uma classificagdo dos estabelecimentos com base no Censo Agropecusrio de 1980 que utilizava como critério de segregacio 0 uso da forca de trabalho e no 0 tamanho de area de terra disponivel, como era usual até entio nos estudos econdmicos. Na década de 1990, em face do contexto favordvel e do reconhecimento crescente dos novos atores sociais ligados a agricultura familiar, a demanda por uma melhor classificagdo ampliou-se. Neste contexto surgiu 0 estudo FAO/INCRA 2 claro que nie somos ingénuos a pont de desconsderar outas dimenses que caraterizam o campesinto,notadamente sua diversidade sulla, a rigem dni tras dimensesnfo-econmieas, ue na veda oo tag08 mas marcates da ientdade deste grupo soci ‘Demodo gera,analses como a empreendida por Gumzioli Di Sabato 2014) nio levam em consierardo esas dimensées (Os dadostilizados nest texto foram prodicdos para um estido sobre “a agricul falar no Brasil” qu integra o Producto 3 (Reporte Sobre a agriculrura familiar) do projeto de “Andlisis de pobreza y desigualad rural en Amica Latina”, que o RIMISP elaborou para o ‘Fondo ltermacional de Desarrollo Agricola (FIDA) em 2013 Tal etd, tav como principal objetivo demonstra heterogensidade social « ccondmica da agicultra familiar em seis piss latino-americanos: Brasil, Chile, Equador, Coldmbia, Mérico e Guatemala. Para tanto, fol clade uma metodologia conmum que perntin «constu de uma Spologia dos estabelecimentos agropecuirios familiares em cada un desea paises sravés da ands de dstntsvaridves, tas como aceag a nto de obra, caracteitice da produgdo ucla aceso a ingessou receitasagriclas endo agricole acerco a mercado assstnci teeica, comsporigio felis dos exabelacimentos, ete outros 87 (1996), que foi o primeiro trabalho conduzido por érgios oficiais™ que fez uma anélise dos estabelecimentos agropecuarios brasileiros separando-os em estabelecimentos de agricultores familiares e patronais Neste trabalho, nao pretendemos discutir nenhuma tese ou mesmo apresentar argumentos que levem conclusdes normativas sobre o que deveria ou nao ser feito com este ou aquele subgrupo da agricultura familiar. Nao se trata, por certo, de renunciar ao papel de fazer uma ciéncia social com sentido, mas certamente ndo temos intencao de apresentar uma perspectiva engajada, Mas o fato de assim proceder nao nos impede de, ao final do artigo, arriscar algumas sugestdes e recomendasées para as politicas piblicas derivadas da elaboracao da tipologia a seguir exposta Assim, procedemos 4 elaboragao de uma tipologia dos estabelecimentos agropecuarios familiares brasileiros utilizando indicadores da produgdo (mais especificamente 0 valor da produgdo apurado) e de renda com base em dados sobre as fontes de ingresso agricolas e nao- agricolas. A metodologia do trabalho se baseia na utilizacao dos dados secundarios do Censo Agropecuario brasileiro de 2006, que foram disponibilizados mediante solicitagio de tabulagdes especiais elaborados por técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), os quais visam analisar e compreender a diversidade deste grupo social Neste sentido, além desta introdugdo, o artigo estrutura-se em cinco segdes. Na primeira, discutimos o perfil da agricultura familiar brasileira a partir de estudos que buscaram classificd- la, assim como o contexto social e politico de surgimento e consolidacio atual desta categoria. A segunda seco apresenta os procedimentos metodologicos adotados na montagem da tipologia dos estabelecimentos. A terceira se¢ao analisa e sintetiza os principais resultados da pesquisa A quarta segio € reservada as consideracdes em tomo da diversidade da agricultura familiar no pais e, por fim, a quinta e iltima segdo aponta algumas sugestdes de politicas piblicas que poderiam ser empregadas 4 agricultura familiar brasileira a partir dos resultados obtidos. Perfil da agricultura familiar no Brasil Sao relativamente bem conhecidos os niimeros sobre a agricultura familiar no Brasil. Trata- se de uma categoria social que representa o setor numericamente majoritario do agro brasileiro. Os dados do iiltimo Censo Agropecuirio do IBGE (levantados em 2007 tendo 0 ano base 2006) mostraram que o Brasil possuia em 2006 um total de 5.175.489 estabelecimentos agropecuarios dos quais 4.367.902 poderiam ser classificados como de agricultores familiares”. Isto significa que a agricultura familiar representa 84% do total dos estabelecimentosagropecuarios brasileiros © ocupauma drea de pouco mais de 80,3 milhdes de hectares, o que representa 24,3% da drea total dos estabelecimentos rurais brasileiros. A contribuigo da agricultura familiar para producao * AFAO da Orgmizario pare Alimenrao e Agricultura, organizasioligada ao sistema NapBes Unidas e que possul sede em diferente paises ‘iguatrie. O INCRA¢ o Instato Nacional de Colonicagio e Reforma gts, rganizacio encaegada dos tesatosSundios «de tea fm nivel federal do govemo brasileiro. Atualmente o INCRA évincuado a0 Minstro do Desenvolvimento Agric. BB» Os primeira resultados do Censo Agropecuine de 2006 form publicados em 30 de setembro de 2009 agropecuiria no é pequena, pois 38% do valor da produgio e 34% do total das receitas do agro brasileiro advém deste setor. Apesar dos estabelecimentos nio familiares representarem apenas 16% do total de unidades, ocupam 76% da rea de terra e geram a maior parte do valor da produgdo (62%) e da receita (66%). Tabela 1. Caracterizagio dos estabelecimentos agropecudrios do Brasil, segundo a classificagio da agricultura familiar/Lei 11326 — Brasil, 2006 Agricultura Familiar Agricultura Nao-Familiar Caracteristicas Ne % Ne % Namera de Estabelecimentos 4.367.902 84% 807.587 16% Area (milhdes de Hectares) 80,3 24% 249,7 76% Mao-de-bra (milhdes de pessoas) 12,3 74% 42 26% Valor da Produgao (RS bilhdes) 54,4 38% 89.5 62% Receita (RS bilhdes) 3 34% 805 66% Fonte: FRANGA, CG, ; DEL GROSS, M. E,; MARQUES, (2009) Na comparagdo com os dados do Censo Agropecusrio anterior de 1995/96, processados por Guanziroli et al. (2012), percebe-se que houve relativa estabilidade na variagio do niimero de estabelecimentos classificados como agricultores familiares entre os dois Censos. Entre 1995/96 ¢ 2006 houve um pequeno aumento no niimero de estabelecimentos assim como na proporcao da area ocupada do valor da produco produzido pelos agricultores familiares. Vale notar que a propria estabilidade destes indicadores pode ser comemorado, pois os Censos anteriores apontavam invariavelmente a redugio destes indicadores” Tabela 2 Evolugio das principais varidveis da participagao da agricultura familiar (%) entre 1996 e 2006 - Brasil Varidvel 1996 2006 ‘% de Estabelecimentos Familares 85,17 87,48 ‘% da Area dos Estabelecimentos Familiares 30,48 32,36 ‘de VBP dos Estabelecimentas Familiares 37,91 39,68 ‘% do Pessoal Ocupado Total dos Estabelecimentos Familares 76,85 77,99 Fonte: Guano et al. (2012, p. 387) labora dos autores com base em IBGE, Centos Agropecuirios 1995-1996 e 2006, Tabules especias Fran, Del Grossi e Marques (2008.8) alertaram para posieis problemas 4 subestimagdo da dea clivadee de mio-de-obraocupada chamam a atengdo de que "4 aniie comparaiva dos recltado: do Cenzo Agropecrio 2000 com 0 Cenzo 1995/1096 deve levar em considera do algunas mudanca: metodolégicas. Uma delas refereed mudancaz do periodo de coleta de dados, ue passou do ene egrcolaparao ane cil.) A rigor a muddenca metodoligicaedotada signa que ot ots conzos mats recente ndo to ecirtamente compardvet: em todos 0: ai: guesto:" 89 3 compas dot dois Censos, especialmente em rela 90 Nao obstante o seu significado e relevancia atual, e mesmo sua influéncia e projegdo em outros paises, a agricultura familiar como categoria politica pode ser considerada um fato novo até mesmo no Brasil (Manzanal e Schneider, 2011). A rigor, antes da década de 1990, a propria referéncia & agricultura familiar era quase inexistente no pais, uma vez que os termos usualmente utilizados para qualificar e identificar essas categorias sociais eram os de pequeno produtor, produtor de subsisténcia ou produtor de baixa renda (Schneider e Niederle, 2008). Resumidamente, 0 surgimento e 0 reconhecimento da agricultura familiar no Brasil ¢ muito recente ¢ deve-se A trés fatores igualmente importantes. O primeiro tem a ver com a retomada do papel do movimento sindical apés 0 fim da ditadura militar (Favareto, 2006; Medeiros, 1997, 2010; Picolotto, 2014); o segundo esta relacionado ao papel dos mediadores e intelectuais, especialmente cientistas sociais que debateram o tema no inicio da década de 1990 (Abramovay, 2001, Wanderley, 2009); e o terceiro fator esté relacionado ao papel do Estado e das politicas publicas (Grisa, 2012: Aquino e Schneider, 2010: Grisa e Schneider, 2013), que passaram a reconhecer este setor dar-lhe visibilidade a partir da criagdo do Programa ‘Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Ha um certo consenso entre 0s estudiosos que a institucionalizagio do PRONAF e os aumentos sucessivos nos valores de crédito disponibilizado a partir de 1998 fez com que a agricultura familiar passasse a ser conhecida reconhecida socialmente e politicamente legitimada pelo Estado. E 0s atores sociais, notadamente o movimento sindical ligado a CONTAG no inicio e mais tarde também a FETRAF foram ageis em criar eventos que mantiveram o tema em alta, tais como os Gritos da Terra. Em. resposta, o Estado ¢ os sucessivos governos desde meados da década de 1990 respondem a cada ano com um Plano Saffa, destinado a agricultura familiar. A década de 1990 marca, portanto, 0 inicio de um conjunto de transforma econémicas e politicas no Brasil que criam espaco e condigdes favordveis 4 emergéncia, legitimag3o e consolidagao da agricultura familiar. O mais importante aspecto contextual que beneficiou a afirmagio da agricultura familiar & o alcance da estabilidade macroeconémica e © controle da inflagio, através do Plano Real de 1993. O segundo condicionante macro, ainda que de ordem mais institucional e politica, esta relacionado as diretrizes da nova Constituiga0 de 1988, que criou as bases legais ¢ institucionais para descentralizagao das politicas publicas e conferin mais espaco para patticipagio dos atores da sociedade civil na sua elaboracio. E © terceiro fator refere-se 4 retomada do papel do Estado na regulagdo e governanga destas politicas e iniciativas (Schneider, 2010; Abramovay e Morello, 2010; Sallum Jr., 2003) Foi gracas a estes fatores e processos que marcam uma época de mudanca social no brasil que os proprios agricultores familiares e suas organizacdes puderam surgir e se fortalecer um ambiente institucional, econémico e mesmo ideolégico muito favoravel 4 agricultura familiar no Brasil. es sociais, Anilise da diversidade da agricultura familiar em uma perspectiva econémica Tal como ja dissemos, nao ha divvidas entre estudiosos, especialistas ¢ formuladores de politicas quanto 4 diversidade econémica e heterogeneidade social. Mas a questo a saber € sobre as caracteristicas dessa diversidade ¢ heterogeneidade a partir dos estabelecimentos existentes de fato Partimos da hipétese de que a agricultura familiar a que nos referimos ndo ¢ nem estritamente camponesa e tio pouco essencialmente capitalista e/ou mercantilizada. O tipo social médio de agricultor familiar a que referimos constitui-se de uma familia que trabalha em atividades agricolas sob um pedaco de terra, em geral nfo muito grande, e nem sempre de sua propriedade legal. Este regime de trabalho em economia familiar gera uma producao agroalimentar que é utilizada para o auto abastecimento (autoconsumo) mas também (e cada vez mais) para a comercializac3o. Por serem familias que vivem e trabalham com menos terra que desejariam, parte da forca de trabalho excedente € utilizada para o exercicio de atividades no-agricolas na regio ou fora dela, fazendo com que estas familias tenham ingressos nao- agricolas, que em algumas situacdes chegam inclusive de outros paises via remessas de parte dos salirios e/ou ganhos que foram amealhados por algum membro do grupo doméstico que emigrou. A formulagio de uma tipologia destas unidades visa, portanto, segmentar este universo social de tal sorte a compreender melhor a sua diversidade a partir de variaveis dependentes que possam fornecer informagdes sobre seu perfil e suas caracteristicas. A metodologia que foi desenvolvida neste estudo teve como objetivo central atender a esta demanda e formular respostas a esta questio. E claro que estudos de caso e outras anilises adicionais serio necessirios a posteriori para se compreender melhor os fatores que contribuem para 0 processo de diversificagdo, para entender porque regides aparentemente parecidas possuem tipos de agricultura tio diferentes, entre outros temas que emergem O recorte metodolégico deste estudo é, portanto, circunscrito a tentativa de compreender ¢ descrever a diversidade da agricultura familiar no Brasil a partir da base de dados do Censo que para efeito de classificago da agricultura familiar adota a definigdo da Lei 11.326, de 24 de julho de 2006. A partir desta definigo, a metodologia utilizada envolveu seis passos sequenciados e encadeados. O primeiro passo da metodologia consistiu em classificar os estabelecimentos agropecuatios brasileiros entre aqueles que se utilizam predominantemente de fora de trabalho da propria familia (agricultura familiar) daqueles que utilizam predominantemente forca de trabalho contratada (agricultura ndo-familiar) segundo passo consistiu em classificar os estabelecimentos agropecuarios familiares utilizando como critério central ¢ discriminatério a receita/ingr estabelecimento, A justificativa pela escolha desta varidvel foi o resultado das discussdes realizadas pelos membros da equipe do projeto, ¢ fundamentalmente se explica porque em alguns paises (Colmbia e Equador) nao havia informacdes censitarias disponiveis sobre a agricultura familiar e nem mesmo a possibilidade de separar este grupo do universo mais geral. Assim feito, 0 terceiro passo consistiu em estabelecer indicadores de corte para segregar grupos e criar 0s tipos pretendidos. Disso resultou a decisdo de que os estabelecimentos que tinham receita predominantemente advinda de agropecusria (considerando-se “predominante” uma proporgdo acima de 51% sobre o total das receitas do estabelecimento) foram denominados 10 agropecudria do 1 92 Estabelecimentos Familiares Especializados (EFE), enquanto que aqueles estabelecimentos cujas receitas da agropecuaria situavam-se entre 21% a 50% sobre o total das receitas foram denominados Estabelecimentos Familiares com Miultiplas Fontes de Receitas (EFMR). Finalmente, 0 terceiro e iiltimo tipo de estabelecimentos seriam aqueles em que a receita agropecuaria era muito pouco expressiva, ndo passando de 20% sobre o total. Estes foram denominados de Estabelecimentos Familiares com Residentes Rurais (EFRR). Apés a montagem desta tipologia, verificamos que, no caso brasileiro, 1.307.940 de estabelecimentos agropecudtios familiares, o que corresponde a 25,27% do total, nao obtiveram nenhuma receita agropecuaria no ano, resultando na sua classificagdo fora dos grupos propostos pela metodologia. O mimero de estabelecimentos com miiltiplas fontes de receita também ficou abaixo do esperado, o que acabou levando a novas discusses com colegas na busca pelo aperfeigoamento da metodologiat! Nao obstante, verificamos que haviam dificuldades" e limites para trabalhar com o critério/ varidvel receita agropecuaria dos estabelecimentos agropecuarios familiares relacionados tanto a problemas de informago na hora da entrevista do censo como em relagao a soma das entradas monetarias que derivam da produgio realizada no estabelecimento agropecuario como das demais fontes de ingressos nao agricolas. Por esta raz3o, partimos para um quarto passo na tipologia, que consistiu em classificar os estabelecimentos através do critério/varidvel valor total da produsao agropecuaria® e depois pelo critério de receita total do estabelecimento. ‘Vale notar e esclarecer que a variavel “valor total da produco” éa soma de toda a producao realizada pelo estabelecimento ¢ convertida em valor monetario. Mas a grande questio, para a qual fomos alertados apés a obten¢io de toda a base de dados, é que existem estabelecimentos agropecuarios que realizam/possuem produgdo que resulta de atividades agropecudrias, mas no a vendem. Este fato, que nio é inusitado para os agricultores, especialmente para aqueles que praticam atividades nfo temporarias (exploragio florestal, pecuaria, etc) ou mesmo que sofreram com alguma adversidade climatica, entre outros fatores possiveis, precisa ser muito bem destacado para que nao seja interpretado como sinal de ineficiéncia. Isto fez com que houvesse dois grandes grupos entre o total dos estabelecimentos agropecusrios classificados como familiares pelo ultimo Censo Agropecuatio do IBGE, aqueles que tém produsio e receitas das atividades agropecuarias e um segundo grupo de estabelecimentos que tém produgio mas nao obtém receitas desta porque nio faz a venda ou deixa de declarar ao recenseador que houve venda Por esta razao, decidimos modificar a metodologia de 10 dos estabelecimentos passando a adotar primeiramente 0 critério de producio (através da variavel Valor ssific ‘Somos especialmente gratos 20 colegas Professor Paulo Wag Professor Marcelo Corerta do PGDR/UFROS, ¢ Professor Maro Del si, a UNB, assim como ao Me. Fabiano Escher por disci conosco aspecos que ajudaram na definigde deste indicadores. Mas fat a ‘eeidaia ea ada indspensivel de Henrique Noroaha Figueiredo de ito ¢ Antonio CalosSimées Flondo, do ISGE, que permit anear Tuzes sobre os impasse e avancar. ® Esta difculade, no esso brasileiro, advém do ato de que areca agropecuira& mensurada a parr do maontante do valor edad plo estabelecimento com a Venda da producio agropecuaia, que einformada plo proprio produtor Desa forma, se estabelecimentoprodazi, sas no comercializou sua produce, areceita agropecuaia€2r0 Diferentemente da recet, 0 valor de producto é calculado a parr do montanteproduido, send os valores da produoatbuidosamavés da média dos prags decade um dos produos roduzidos na epoca da clea dos dades,o que é feito plo préprio IBGE. Total de Producio) ¢ depois o critério das receitas (através da variavel “Receita Total do Estabelecimento”). Ao escolher estas duas variaveis, acreditamos que haveria a possibilidade de que os estabelecimentos “sem classificagao” se reduzissem entre as trés categorias principais, jé que 0 niimero dos estabelecimentos com valor de producio é maior do que os estabelecimentos com receita agropecuaria. Assim, a classificagdo final sugerida resulta dos seguintes critérios a) estabelecimentos familiares ESPECIALIZADOS (EFE) - compostos por aqueles estabelecimentos nos quais 0 resultado da divisio entre Valor Total da Produgio Receita Total do Estabelecimento fosse $0% ou mais do valor total da produgio; b) estabelecimentos familiares que possuem MULTIPLAS FONTES DE RENDIMENTO (EFMR) - estabelecimentos nos quais o resultado da divisao entre Valor Total da Produgdo e Receita Total do Estabelecimento ficasse entre 20% a 50% do valor total da producio e: c) estabelecimentos familiares de RESIDENTES RURAIS (EFRR) - aqucles estabelecimentos nos quais a divisio entre valor total de produgio e receita total do estabelecimento fosse menor ou igual a 20% do valor total da produgao. Na Tabela 3 a seguir pode-se verificar que a mudanga na metodologia, apesar de ter distribuido de forma mais uniforme os estabelecimentos entre 0s tés tipos com valor da produsao agropecuaria, aumentando aqueles com Miltiplas Fontes de Receitas, assim como os Residentes Rurais, também nao alcancou o objetivo esperado, pois o mimero de estabelecimentos “sem classificagdo” permaneceu o mesmo. Tabela 3 Numero e porcentagem de estabelecimentos agropecuarios, por tipos de estabelecimentos, segundo agricultura familiar e nao familiar, Brasil 2006 Agricultura Fami ‘Agricultura Nao Famil Total Tipologia ne % Ne % ne % EFRR 237928 5.45 «45735 «5,65, 283.661 5.48 EFMR 276582 «63491816 «11,34 868.898 7.12 FFE 2543819 58,26 509368 «62,93 «3.053187 58,99 Sem classificagdo (sem receita) 1.307.940 29,95 162.450 20,07 ‘1.470.390 28,41 Total 4366267 100,00 809369 100,005 175636 100,00 , Cento Auropeeuirio 206, tbulages especiis Para compreender estas limitagdes é preciso analisar com acuidade a metodologia empregada pelo Censo Agropecudrio 2006, que define a varidvel “Receita Total do Estabelecimento” [W423811] como a soma do Total da Receita com Atividade agropecudria 93 94 [W423808] + Receitas outras no-agricolas [W324809] + Receitas com prestagao de servicos com empresas integradoras [W423600] + Receitas do produtor e da familia [W423810] (IBGE, 2009). Nio obstante, a0 consultar a findo a metodologia e discutirmos com representantes do proprio IBGE, descobrimos que a variavel “Receitas do Produtor e da Familia”, da qual fazem parte as receitas recebidas com participacdes em programas de govemos, aposentadorias, trabalhos fora do estabelecimento, doacdes ¢ desinvestimentos, no so somadas ao Total da Receita do Estabelecimento. Em outras palavras, apesar de prever na sua metodologia ‘uma variivel que compusesse o Total das Receitas do Estabelecimento (Receitas geradas pelas atividades no interior da unidade produtiva + Receitas geradas a partir de atividades e participacdes dos integrantes da familia), na pritica, estas duas fontes distintas de receitas ndo podem ser somadas. Isto explica a manutengo dos estabelecimentos “sem classificagio", os quais nio possuem receitas no/do estabelecimento, ainda que tenham receitas com atividades do produtor eda familia, as quais no so incorporadas 4 soma da Receita Total do Estabelecimento™. Desta forma, mesmo que primeiramente classificados pelo Valor Total de Produgdo, quando divididos pela Receita Total do Estabelecimento (que & zero), estes estabelecimentos ficaram “sem classificagao”. Finalmente, o quinto e ultimo passo da metodologia consistiu em comparar e descrever os trés grupos de estabelecimentos familiares classificados de acordo com variiveis relativas 4 producio agricola, caracteristicas dos estabelecimentos e dos produtores, acesso a ativos € outras informagdes que julgamos relevantes para qualificar o seu perfil. Ainda que tivéssemos. 08 dados disponiveis por Estados da Federaco, optamos por apresentar a distribuicao destes tipos segundo as grandes regides geograficas do Brasil. Classificando a agricultura familiar no Brasil Em seu conjunto, 0 universo dos 4.366.267 estabelecimentos agropecuarios da agricultura familiar brasileira pode ser dividido em trés grandes grupos, sendo o mais numeroso formado pelas 2.543.819 unidades em que as receitas de atividades agropecudrias so a fonte majoritaria de ingressos, representando em média 90,96% do total das receitas. O segundo grupo & composto por 276.582 de estabelecimentos familiares que possuem miiltiplas fontes de receitas, sendo que o peso das receitas agropecuarias chega a 62,54% da receita total. O terceiro grupo de estabelecimentos familiares & formado por 237.926 unidades que denominamos de residentes turais, pois a receita de atividades agropecudrias é de apenas 16,22% das receitas totais. © Conforms i mencionado, anio stengioa ate ‘detathe’matodolgico pode resltar am graves disores de avai fates de produsio da agropecuira, una Vez que ao nio considera as receits do produtor dos outros membros mos que sustentam eviabiicam as unidadesproduivas assim como deiar de fora do toal do valor da producio agropecuria aqueles ‘montantes que nio foram vendids (pr nio trem sido convertidos em producio para a vends) hi uma subestimaréo brutal da economia agropecuiis de ft. Tabela 4 Sintese da tipologia dos estabelecimentos agropecuarios familiares, Brasil 2006 Variaveis re EFRR EFMR = -EFE = Semrreceita 4% Valor Produgéo Vegetal 5078 45.44 70,61 84,74 °% Valor Produgdo Animal 4720 5119 28,90 14,54 % Valor Produgao Autoconsumo 58233177 19,74 94,42 % Recelta Atividade Agro 16,22 62,54 90,96 0,00 4% Receita Atividade Nao-Agra 8356 3646 2,03 0,00 4 Receitas de Aposentadorias 69,77 7393 61,91 61,32 4% Receitas Fora Estabelecimento 23,22 1660 22,41 30,18 ‘Area Média (ha) 1070 1684 20,67 1554 1% Acesso Assist. Técnica 783 1401 28,08 9,62 °% Chefe Exerceu Trab. Fora 2781-2487 23,41 29,21 Fonte: IBGE, Conso Agropecurio 2006, abuladesespecais Entre o s estabelecimentos familiares especializados (EFE), a producio vegetal representa 70,61%, mas também é significativa nos dois outros tipos, chegando a quase 50% em ambos. Destaque para a produgdo para autoconsumo, que representa 58,23% entre os residentes rurais. As receitas obtidas fora do estabelecimento representam quase 1/5 do total das receitas nos trés tipos. Outra caracteristica comum entre os trés tipos é o tamanho da rea média de terra, que é de 20,27 hectares entre os especializados, 16,74 hectares entre os estabelecimentos que posstem miltiplas fontes de ingresso e 10,70 entre os residentes rurais. O mesmo vale para a proporcio dos chefes que exerceram atividades fora do estabelecimento, que chega a quase % (em torno de 25%) ¢ a proporgdo da receita das aposentadorias na receita total, que alcanga quase 80%, mostrando que 0 acesso a este ingresso monetirio liquido & muito significativo na formagao das receitas dos estabelecimentos agropecuarios. As variaveis que geram a maior distingao entre os trés tipos so 0 acesso a assisténcia técnica, que varia de 7,83% entre os residentes, passa para 14% entre as miltiplas fontes de ingresso e chega a 28,08% entre os especializados. E as receitas de atividades ndo-agropecuarias, que representam 83,56% dos ingressos entre os residentes, 36,46% entre as miltiplas fontes ¢ apenas 2,03% entre os especializados. Sobre a localizagio regional dos tipos de agricultura familiar, verifica-se que 46,84% dos estabelecimentos especializados encontram-se na regio Nordeste e 24,19% na regido Sul do pais. Entre os estabelecimentos com Residentes Rurais, 70,97% esto localizados na regido Nordeste enquanto o restante é bem dividido entre as outras regides, assim como os estabelecimentos com miiltiplas fontes de receitas, que apesar de localizarem-se em maior mimero também na regio Nordeste, nas demais regides diferem pouco em relagio ao seu mimero total 95 96 Tomando estes dados como referencia, podemos dizer que a regio Sul é a que apresenta a agricultura familiar mais plenamente inserida na dina se encontra a maior proporco de estabelecimentos especializados e com miltiplas fontes de ica econémica, uma vez nesta regidio receitas em relagao ao total de estabelecimentos da regio. Vale notar que outras variaveis que aqui nfo esto contempladas também so importantes para avaliagio das condigdes gerais de reprodusio destes estabelecimentos, o que faz com que sua dependéncia em relacao as receitas agropecuarias possa até ser considerada um indicio de vulnerabilidade TABELAS Brasil, tipologia dos estabelecimentos agropecuarios familiares, segundo grandes regides, 2006 Norte Nordeste _—_Sudeste Sul Centro-Oeste Total Tipologla Estab, % Estab, —% Estab, 1% Estab, CEstab, = «OES, FRR ear 88 roar toto ozr sits ats 28” 40000 ais 7 a9 753 ey aoe 18 168 Fy 45 26 eFMR eT TR cost 12268 662 8559 00 2 s0n00 28 116 a3 15 1% 2549 EE we torr ager 98 1628 Saute ase * 8 s0n00 semreceta gy 4 geay 7 agg 14 oe rr ear 598 137 s00,00 198 607 339 149 340 a2 2187 09 Ha aT 4366 Total fee 845 gy 8009 Ets tos aa tooo Fonte: IBGE, Cento Agropecurio 2006, bulges especais Em sintese, podemos qualificar os agricultores familiares brasileiros como: a) um grupo majoritirio de estabelecimentos especializados, que depende muito fortemente da receita da atividade agropecuaria, especialmente a producio vegetal. Trata-se de estabelecimentos que possuem alguma abertura para atividades fora do estabelecimento, mas parece que sia vocagio e principal estratégia de reproducao social seguira sendo a agropecuaria; b) um grupo pequeno de estabelecimentos que possui miiltiplas fontes de ingresso, em que areceita agricola ja nfo é mais a tinica e nem mesmo a mais importante, mas as entradas monetirias de atividades nio-agricolas e de aposentadorias sio significativas. Nao sio estabelecimentos cujas estratégias de reproduco vio passar pela producao, pois acessam muito pouco os servigos de extensdo e possuem areas de terras relativamente pequenas para ampliar a agricultura; ©) um terceiro grupo de estabelecimentos familiares que vivem no espaco rural, mas a agricultura e a producao agropecuaria j4 nao tem um sentido econémico e produtivo expressivo. Talvez sua propriedade seja apenas um local de residéncia. Mesmo assim, a produgdo continua a ter alguma importincia, especialmente para 0 autoconsumo. Este perfil permite afirmar que as variaiveis eleitas para fazer a segmentago/classificagio da agricultura familiar do Brasil formaram trés ainda que numericamente o grupo dos especializados seja o mais importante Isto mostra que a agricultura familiar do Brasil ainda ¢ fortemente dependente da agricultura e das atividades de produgio agropecuarias para formacio de seu portfolio de ingressos, E mostra também que as atividades ndo-agricolas, ainda que importantes, sio uma oportunidade para poucos. Mostra por fim que ha um setor, formado pelos residentes rurais, em que a agricultura ja deixou de ser a principal atividade econémica e nio representa mais uma forga econdmica capaz de impulsionar suas estratégias de vida'* Este perfil da agricultura familiar brasileira, obtido a partir das principais varidveis representativas da atividade econdmica de um estabelecimento agropecuario, poder ajudar os planejadores a repensar as politicas agricolas, assim como sugere uma nova agenda de pesquisas ¢ estudos para os académicos. Ao final deste artigo, apresentamos um conjunto de recomendacdes de politicas que podem ser importantes para estes grupos grupos relativamente homogéneos em seu perfil, Os agricultores familiares “sem receita” agropecuaria Além deste grupo com estabelecimentos agropecuatios familiares com receitas, conforme referido, a tipologia que obtivemos encontrou um contingente de 1.307.940 estabelecimentos agropecuérios (29,95% do total) que no ano de 2006 no obtiveram nenhuma receita com atividade agropecusria, os quais foram classificados em cinco grupos. Nao se trata de um grupo homogeneamente pobre porque sem produgdo e sem receita! renda agricola, como se vera. Logo, a primeira conclusio a que se chega é que nem a variavel receita da atividade agropecuaria ¢ nem a variavel valor total da produgio agropecuaria permitem apurar informagio suficientemente judiciosa que permita pleitear conclusdes sobre suas condigdes de reprodusio social Mas imediatamente ergue-se outra interrogagdo, que se refere & caracterizagdo deste universo de 1.307.940 estabelecimentos agropecurios, clasificados como de agricultura familiar, que ndo obtiveram receitas de atividades agricola, A Tabela 06 a seguir apresenta um perfil destes 1.307.940 estabelecimentos agropecuarios familiares brasileiros segmentados segundo a tipologia que sera explicada logo em seguida verdade, seria importante que pudéssemos realizar estos logindinaise comparatvos em relago a evolurio histrica deste supa social. Conudo, este execiciondo posivel ser realizado quando se observa apenas um posto no tpo, como éo caso da ipologia age roposta. No fur, quando um noro Censoestivr disponivel, sri possvel empreender esta ands temporal comparatvae entender sua Ainmica de tansformasio 97 98 Tabela 6 Sintese dos estabelecimentos agropecuarios familiares sem receitas agropecuarias, Brasil 2006 Tipos Sem Receitas varitvels ComValor de ComValor deo viar ye — Produgao Produgéo Prowugao SH ss cctes (Area até 20ha) (Area > 20ha) N° de estabelecimentos 637.911 198.864 355.965 87.480 87.720 % de Estabelecimentos 48,77 10,62 222 669671 9% Area sobre o total 0,79 237 287 000 0,36 Area Média (ha) 414 56,89 24,10 0.00 13,69 4 Valor Produgéa Vegetal 86,35 83,26 0,00 71.27 0,00 4% Valor Produgao Animal 12,88 16,33 0,00 2741 0,00 % Valor Produgéo Autoconsumo 95.52 92.67 0,00 88.88 0,00 % Assentados 13.25 401 6,48 1691 7,38 % Receitas de Aposentadorias 70,05 66,56 42,11 5381 50,34 % Acesso Assist. Técnica 7,09 1469 12,19 458 9,83 Fonte: IGE, Cento Agropecuirio 2006, bulges expen Os cinco grupos formados a partir dos 1.307.940 estabelecimentos agropecudrios familiares brasileiros “sem receita” podem ser descritos da seguinte forma: 1) Estabelecimentos Agropecuarios Familiares Com Valor de Produciio e Area até 20 hectares: aqueles estabelecimentos agropecudrios familiares que nao obtiveram receitas com a atividade agropecuiria, todavia obtiveram valor de produgio com estas atividades e possuiam area igual ou inferior a 20 hectares. Este grupo é o maior, formado por 637.911, que correspondem a 48,77% do total. Sio estabelecimentos muito pequenos em tamanho, pois tem area média de 4,14 hectares e acessam apenas 0,79% da area agricola do Brasil. Sua produgdo é fundamentalmente vegetal (86,35) € destinada ao autoconsumo (95,52%). Sao unidades em que as receitas de aposentadorias io muito significativas, e apenas 7,09% tem acesso a assisténcia técnica, Uma parcela de 13,25% destes estabelecimentos esta localizada em Areas de assentamentos. 2) Estabelecimentos Agropecusrios Familiares Com Valor de Produsio e Area maior que 20 hectares: aqueles estabelecimentos agropecuirios familiares que nio obtiveram receitas com a atividade agropecuatia, porém obtiveram valor de produg3o com estas atividades e possuiam area maior que 20 hectares. Este grupo, nio tio grande quanto © anterior, é formado por 138.864 estabelecimentos, os quais representa 10,62% do total. Sao estabelecimentos com area média significativa, em torno de 56,89 hectares, representando 2,37% do total da area ocupada pelos estabelecimentos da agricultura familiar brasileira. Assim como 0 grupo anterior, a maior parte do valor de sua produgdo advém da produgdo vegetal (83,26%), enquanto que o percentual do valor de produgio destinada ao autoconsumo é de 92,67%. Tais estabelecimentos também possuem valores de receitas com aposentadorias © pensdes significativas (66,56%), sendo que 14,69% receberam assisténci |. Do total de ‘grupo, apenas 4,01% estdo localizados em areas de assentamentos. stabelecimentos deste 3) Estabelecimentos Agropecudrios Familiares Sem Valor de Produgio: aqueles estabelecimentos agropecuarios familiares que nao obtiveram receitas com a atividade agropecuaria, assim como nao obtiveram valor de produgio com estas atividades, independente do tamanho de drea. Este grupo corresponde a 355.965 estabelecimentos, os quais representam 27,22% do total dos sem receitas. Possuem rea média de 24,10 hectares, ocupando 2,57% da drea agricola nacional. Suas receitas com aposentadorias so significativas (42,11%), porém menos que a dos grupos anteriores. 6,48% destes estabelecimentos encontra-se em area de assentamentos e apenas 12,19% tiveram acesso a assisténcia técnica. 4) Estabelecimentos A gropecuarios Familiares Sem Area: sioaquelesestabelecimentos que nao dependiam de uma area especifica, porém, na data de referéncia, o produtor nao mais a possuisse, como, por exemplo, produtores de mel, produtores em leitos de rio na época da vazante, produtores em faixa de proteco ou acostamento de estradas, produtores de carvao vegetal que possuiam os fomnos utilizando lenha adquirida de terceiros, e as atividades de extracZo, coleta ou apanha de produtos que foram obtidos de matas naturais (IBGE, 2009, p. 32/33). Este grupo é o menor dentre os sem receitas, formado por 87.480 estabelecimentos, os quais representam 6,69% do total de estabelecimentos. Sua produgio é fundamentalmente vegetal (71,27%) e destinada a0 autoconsumo (88,88%). Suas receitas com aposentadorias correspondem a pouco mais da metade do valor total das receitas obtidas pela familia (53,81%). Dentre os estabelecimentos sem receitas é o que possuii maior percentual de unidades em areas de ntamentos (16,91%) e apenas 4,68% do total de abel assisténcia técnica. as cimentos acessaram 5) Estabelecimentos Agropecuarios Familiares com Outras Situagdes: finalmente, 0 quinto grupo entre os estabelecimentos sem receitas agropecuarias é aquele em que se enquadram estabelecimentos em outras situagdes que nfo as quatro anteriores. Este grupo corresponde 87.720 estabelecimentos, representando 6,71% do total de estabelecimentos sem receitas. Possui drea média de 13,69 hectares, ocupando 0,36% da rea agricola do pais. Pouco mais da metade das receitas do produtor e da familia advém de aposentadorias (50,34%) e 7,38% destes estabelecimentos esto em situagdo 99 100 de assentamentos de reforma agraria. Assim como os demais grupos, é pequeno 0 niimero de estabelecimentos que acessaram assisténcia técnica (9,83%). A existéncia deste grupo significativo de estabele que nao obtiveram receitas, deve-se, a nosso ver, a trés hipéteses principais (ndio exclusivas): a primeira delas é que as condigdes de producio destes estabelecimentos explicam as suas caracteristicas, Tratar-se-ia de estabelecimentos de pequenos produtores que produzem basicamente para autoconsumo, auferindo alguma receita com a venda de suas produgdes somente quando produzem algum excedente. Mas também podem ser estabelecimentos que apesar de possuirem areas maiores de terra se dedicam a criagdo de pecuaria extensiva, ou a imentos agropecudrios familiares culturas de exploragao florestal, cujas receitas nfo so anuais ¢ continuas e, por isso, podem nio ter obtido receitas no periodo anterior de coleta dos dados do Censo Agropecuario. Ou, podem ser estabelecimentos que ainda nao possuem receitas devido ao fato de que a terra foi recém ocupada ou acessada, tal como nas sitnagdes de assentamentos de reforma agriria ou produtores que iniciam uma nova atividade agropecuaria, que possivelmente teriam iniciando suas atividades no ano anterior ao Censo e, assim, ainda nio possuiam registro de producao destinada para a venda A segunda hipétese que pode explicar porque estes estabelecimentos familiares tem produgdo, mas ndo obtém receitas agricolas refere-se a possiveis efeitos de adventos climéticos. Segundo informagdes que obtivemos com 0 Diretor do Censo Agropecuario do IBGE, em 2006, ano da coleta dos dados, houve uma estiagem que atingiu a regiao Nordeste do Brasil, afetando significativamente a populagdo e a produgGo rural daquela regido. Resta, portanto, saber se ‘uma parcela expressiva destes estabelecimentos se concentra nestas areas, o que permitiria confirmar a hipétese. A terceira ¢ tltima hipétese pode estar relacionada ao processo de levantamento dos dados, que estaria relacionada a negativa dos entrevistados em declarar aos agentes censitarios seus rendimentos, ou mesmo o fato destes rendimentos serem subdeclarados. Esta hipdtese encontra respaldo nos trabalhos realizados de Hoffmann (2000; Ney e Hoffmann, 2009) e Dias (2010), que sustentam que algumas variaveis, principalmente as relativas as receitas dos estabelecimentos, podem softer problemas como sub declaracao" Analisando o niimero de estabelecimentos sem receita, verificamos na tabela 07 quea maior parte destes compdem o grupo 01, ou seja, aqueles estabelecimentos com valor de produsio e rea menor que 20 hectares. Tal grupo corresponde a 48,77% do total dos estabelecimentos sem reeeitas no pais, seguido pelo grupo sem valor de produgao (27,22%) e pelo grupo com valor de produgdo e area maior que 20 hectares (10,62%). “Hofmann destaca que malgado “as informasSes sobre rendaforecidas no Censo sejam reconhecidamente de boa qualidade, las apresentam algumasliitagSes que precisa sr consideradae, tis como (a) os dador sobre rendimento io senire airodeclarador, © que nio evita esquecientos ou omissées;() a subestimatdo da renda a subdecaracdo dos ganhos mais elevades e;(€) 2 colta {as infomapes que tem como base um determinado periodo correm o rise den captr os endimenos varivei, o que se teflete na ‘cule de caparorendimento médo na grande vanedade Je atvidades arco existentes to long do an m0 Pais, TABELA7 Brasil, tipologia dos estabelecimentos agropecuarios familiares sem receitas, por mimero de estabelecimentos, 2006 ‘Sem Receitas ‘N° Estab. % Com Valor de Produgao (Area até 20ha) 637 911 48,77 ‘Com Valor de Produgdo (Area > 20ha) 198 864 10.62 Sem Valor de Produgao 355 965 27,22 Sem area 87 480 669 Outras situagdes 87720 671 Total 1307 940 100,00 Fonte: IBGE, Cons Agropecuio 2006, abulaiesespecais Por sua vez, analisando a localizacao regional destes grupos, na tabela 08 abaixo podemos notar que a maioria destes estabelecimentos que no obtiveram receitas agropecuarias no ano de 2006 estio localizados na regido Nordeste do pais (56,17%), seguidos da regido Sudeste (17,38%), Sul (12,55%), Norte (7,97%) e Centro-Oeste (5,94%). Dentre os pequenos estabelecimentos (até 20ha) que tiveram valor de produc, chama atengdo que 64,94% encontram-se na regio Nordeste. Este dado esté de acordo com uma de nossas hipéteses anteriormente levantadas, qual seja, a de que tais estabelecimentos sao caracterizados por pequenas produces, sendo que s6 obtém receitas com a venda destas producdes quando conseguem produzir algum excedente, produzindo, portanto, apenas para 0 autoconsumo. Analisando 0 outro grupo de estabelecimentos com valor de produgio, todavia com Area superior a 20 hectares, percebemos que boa parte encontra-se também na regio Nordeste (42,59%), porém ha boa porcentagem localizada na regiao Norte (19,66%). Estes estabelecimentos, que possuem area média de 56,89 hectares so produtores de pecuiria extensiva ¢ exploragées florestais, que provavelmente ndo obtiveram receitas ou pelo fato destas producdes nfo serem anuais e continuas ou pelo fato da regio Nordeste, principalmente, ter softido com uma forte estiagem no periodo anterior a coleta dos dados do Censo"” © [As repides Nore e Nordeste do pais, nono de 2005106, passaram por um period de extnsaetigem,consderada uma ds pores em dos titimos 40 anos ma regio Norte (INPE, 2008), que acabou prejuicando de forma signficaiva a produ agropecuria ea populagio rural, darepio. 101 102 TABELAS Brasil, estabelecimentos agropecuarios familiares sem receitas, segundo localizasiio por Grande Regides, 2006 Norte Nordeste Sudeste sul Centro Oeste Total Sem Recetas ” " w w ” " Estab. estab. = estab, stab, «estab, stb, = Com Valor deProdugdo 19729 3,09 414284 64,94 98330 1541 88964 13.95 16604 260 637911 100,00 (ire até 20h) ‘Com Valor de Produgdo 27301 19,66 59138 42,59 22108 15,92 12447 896 17870 1287 198864 100,00 (ieva > 20na) ‘Sem Valor 43059 12,10 143395 40,27 88721 2492 43726 12,28 37124 1043 355965 100,00 de Produgao Som area 6.479 741 63089 72,12 8855 10,12 7400 846 1657 1,89 87.480 100,00 utas 870 54761 6249 9925 1063 11612 1324 4992 501 87720 100,00 situagées Total 1044198 7,97 734607 56,17 227339 17,98 164149 12,55 77647 5,94 1307940 100,00 Fonte: IBGE, Conso Agropecurio 2006, abulagdesespecais Finalmente, os estabelecimentos sem valor de produgdo, que representam apenas 27,71% do total de estabelecimentos sem receitas, encontram-se, além da regido Nordeste (40,27%), principalmente na regido Sudeste (24,92%). Consideragées sobre adiversidade da agricultura familiar Este estudo permitiu mostrar que o universo dos estabelecimentos agropecuarios da agricultura familiar brasileira compreende um total de 4.366.267 unidades, que pode ser dividido em trés grandes grupos. O mais numeroso é formado por 2.543.819 estabelecimentos cujas receitas de atividades agropecuarias sdo a fonte majoritiria de ingressos, representando em média 90,96% do total das receitas. O segundo grupo é composto por 276.582 de estabelecimentos familiares que possuem miiltiplas fontes de receitas, sendo que 0 peso das receitas agropecudrias chega a 62,54% da receita total. O terceiro grupo de estabelecimentos familiares é formado por 237.926 unidades que denominamos de residentes rurais, pois a receita de atividades agropecuarias é de apenas 16,22% das receitas totais. As principais diferengas entre os trés tipos se referem aos indicadores de produso. Entre 0s especializados, a produgdo vegetal representa 70,61% da produgdo total, ao passo que nos outros dois tipos ndo chega a 50%. A segunda grande diferenga entre os trés tipos esta na importancia da produgdo para autoconsumo, que representa 58,23% entre os residentes rurais, mas apenas 19,74% entre os especializados. A terceira diferenga significativa esta relacionada 4s receitas de atividades nao-agropecuarias, que representam 83,56% dos ingressos entre os residentes, 36,46% entre as miiltiplas fontes e apenas 2,03% entre os especializados. A quarta diferenga se refere ao acesso a assisténcia técnica, que varia de 7,83% entre os residentes, passa para 14% entre as miltiplas fontes de ingresso e chega a 28,08% entre os especializados. As similaridades mais salientes entre os trés tipos estio relacionadas ao tamanho médio da rea de terra, que € de 20,27 hectares entre os especializados, 16,74 hectares entre os estabelecimentos que possuem miiltiplas fontes de ingresso e 10,70 entre os residentes rurais. © mesmo vale para a proporcio dos chefes que exerceram atividades fora do estabelecimento, que chega a quase % (em tomno de 25%) e a propor¢do da receita das aposentadorias na receita total, que alcanga quase 80%, mostrando que o acesso a este ingresso monetario liquido é muito importante na formacio das receitas dos estabelecimentos agropecuarios. Além estes trés tipos de agricultores familiares o estudo revelow um fato novo, para o qual 05 estudos com base no Censo Agropecuario ainda nao haviam dedicado atenc3o. Nos referimos a identificago de um contingente de 1.307.940 estabelecimentos agropecuérios familiares (29,95% do total)que nao obtiveram ou nao declararam receitas de atividade agropecudria em 2006. Vale notar que inicialmente chegamos a nos indagar sobre a propria maneira de tratar ‘um grupo tio numeroso em face a tipologia triparte que obtivemos. No entanto, discussdes mais detalhadas ¢ reflexdes nos fizeram perceber que aqui residia um verdadeiro achado deste trabalho, pois conseguimos apontar que ha na agropecuétia brasileira um grupo significative de 1.307.940 estabelecimentos agropecusrios familiares que em 2006 nao obtiveram ganhos de sua produg&o agricola. Mas isto no significa, ipso facto, que estas unidades sejam ineficientes ou ineptas, pouco produtivas, e que por isto sua saida da agricultura seria o caminho vel. Encontramos aqui uma explicagio pertinente para o fato de que 29,95% do total de estabelecimentos agropecuarios nio obtiveram ou nao declararam rendimentos de atividade produtiva Este expressivo mimero de 1.307.940 estabelecimentos com produgao, mas sem receitas agropecuarias nos chamou a atengdo para trés aspectos. Primeiro, trata-se de um grande e significativo néimero de estabelecimentos que nem de longe so improdutivos ou ineficientes. Segundo, é necessirio afinar melhor as metodologias de coleta de dados e de calculos estatisticos para que nio se cometa erros de avaliaco em relacio a este expressivo grupo social do rural brasileiro, especialmente porque entre estes estio aqueles que foram afetados por adventos climaticos (como a estiagem que assolou o Nordeste no ano de 2005, justamente o ano anterior a coleta dos dados do iiltimo Censo Agropecuario), assim como entre estes esto aqueles que praticam culturas perenes, cujas receitas e ingressos nao so anuais. E, por fim, mas importante, neste grupo também estio incluidos a maior parte dos assentados de reforma agraria, que por estarem iniciando sua atividade no momento em que foram coletados os dados no poderiam mesmo ter receitas e rendimentos a declarar. A tipologia da agricultura familiar aqui alcancada mostra, portanto, que é absolutamente inequivoco que o desenvolvimento rural do Brasil leve em conta a diversidade de sua estrutura inexor: 103 104 social e econdmica da agricultura e do meio rural. Certamente, estudos e pesquisas sobre esta diversidade econdmica e imensa heterogeneidade social so uma demanda necessiria e urgente a ser encaminhada Implicagées para as politicas publicas Entre as implicagdes para as politicas piblicas que podem ser extraidas a partir de um estudo desta natureza pode-se indicar, inicialmente, a necessidade flagrante de politicas especificas para os estabelecimentos agropecuarios muito pequenos, em que a terra e os demais meios de produgio disponiveis ndo so suficientes para gerar excedente econémico agricola que possa garantir uma receita adequada. E preciso encontrar altemnativas ¢ meios de vida para este grupo no proprio meio rural, ainda que talvez no em atividades agricolas. Para este grupo, a migrago para as cidades ja no é uma altemativa vivel, especialmente devido a baixa qualificago de sua forga de trabalho para sc inserir em outros setores que nao a agricultura, Mesmo no setor de servigos os requisitos de qualificago profissional tém erescido muito e sto ‘uma barreira a entrada A segunda recomendagio é que em face da diversidade da agricultura familiar do Brasil, verificada a partir da tipologia apresentada, as politicas publicas para esta categoria social precisam, necessariamente, ser diferenciadas e ter um portfélio variado de op¢des. Estas politicas precisam ter pelo menos dois tipos de focos, sendo um deles mais voltado para o fortalecimento das condigdes de producio e meios que permitam gerar excedentes econémicos. O outro foco deveria ser voltado ao rural lato sensu, com agdes ¢ programas dirigidos ao fortalecimento dos meios de vida e do acesso a recursos, bens ¢ servigos. Trata-se da combinagao de politicas agricolas e de desenvolvimento rural. A terceira recomendagdo deriva da verificagdo sobre a concentragao da agricultura familiar no grupo dos 2.543.819 (58,26% do total) estabelecimentos especializados, cujas receitas de atividades agropecudrias so a fonte majoritaria de ingressos, representando em média 90,96% do total das receitas. © mesmo ocorre em relagio estabelecimentos nio-familiares, que so 809.369 unidades, dos quais 62,93% (509.368) esto igualmente no grupo dos especializados. Ainda que sejam estabelecimentos que dependam da agricultura para sua reprodugao social, seria importante analisar suas econémiico e produtivo para que se possa entender melhor a origem desta “especializaglo”. Com os dados que apuramos, no sabemos se sto estabelecimentos cujo valor da producao depende de monocultivos, como grios ou pecuaria, por exemplo. Mas podem também ter alto valor da racteristicas intemas para compreender melhor seu perfil produgdo de atividade agropecuaria com base em um sistema de produgio diversificado, que combina miltiplos cultivos e formas de criagio. A priort, nao é possivel concluir ou afirmar que 0 fato de que suas receitas dependem em mais de 50% de ingresso advindos de atividades agropecuarias representa uma vantagem ou um risco. ‘A quarta recomendagio esté relacionada as atividades ndo-agricolas. Nos iltimos anos, no foram poucos os pesquisadores que vislumbraram saidas ao desenvolvimento rural através do estimulo as atividades ndo-agricolas, especialmente através da descentralizagdo industrial de setores intensivos no uso de trabalho (como téxteis e manufaturados) para regiGes rurais onde parte desta forca de trabalho poderia se acessar postos no mercado de trabalho regional (Schneider, 2007; 2009; Graziano da Silva, 1999; Berdegué, Reardon, Escobar, 2001). Trata-se de fortalecer as economias de cidades intermediarias, os territérios rurais que ja ndo vivem mais exclusivamente da agricultura A quinta recomendacio esta relacionada a necessidade das politicas piblicas para a agricultura familiar aprofundar 0 apoio aos processos de organizacao da produgio ¢ apoio a construgao de mercados. Os agricultores familiares precisam de mais e melhores mercados, para que ndo fiquem dependentes e vulnerdveis dos canais de venda da produgdo agropecuaria que so dominados e oligopolizados pelas grandes cadeias do setor agroalimentar. No Brasil, © ciclo de politicas criativas e bem sucedidas que foi iniciado com a formulagio do PRONAF, entre 1993 e 1996, esté mostrando sinais de esgotamento, pois 0 crédito se tornou um fim em si ‘mesmo (especialmente de custeio) que acaba financiado “mais do mesmo” (Gazolla e Schneider, 2013), mas muito pouco criativo no estimulo e apoio ao desenvolvimento de inovagées fora do esquema produtivista, que implica em financiamentos para compra de insumos, sementes e servigos para cultivos altamente intensivos no uso de agroquimicos e outros itens que elevam © valor do consumo intermediario, o que resulta em drenagem destes recursos para fora do estabelecimento Uma Ultima recomendagdo refere-se a necessidade de compreender melhor as caracteristicas sociais a propria dinamica econémica e produtiva do grupo de 1.307.940 estabelecimentos agropecuarios familiares (29,95% do total) que descobrimos existir no rural, mas nao obtiveram ou nao declararam receitas de atividade agropecudria em 2006, Boa parte destes estabelecimentos, especialmente aqueles com valor de produsio e Area inferior a 20 hectares, formado por 637.911 unidades (48,77% do total), vive em condigdes muito precérias e de vulnerabilidade. Na verdade, trata-se da pobreza rural, pois sao estabelecimentos com rea media de apenas 4,14 hectares com receitas igualmente muito pequenas. Muito provavelmente, para estes estabelecimentos, as politicas de crédito para custeio ¢ investimento, notadamente 0 PRONAF, sio inadequadas, assim como os demais programas que visam aumentar a geracio de excedentes agricolas através do incremento de fatores produtivos que so precirios insuficientes, Agradecimentos Os autores agradecem aos colegas Paulo Waquil e Marcelo Conterato do PGDR/UFRGS, Mauro Del Grossi da UNB, Walter Belik da UNICAMP, Joacir Aquino da UERN, Vicente Marques (INCRA/RS) e Fabiano Escher pelas discussdes e comentarios recebidos. Dedicamos ‘um agradecimento especial a Henrique Noronha Figueiredo de Brito e Antonio Carlos Simées Florido do IBGE, que deram apoio fundamental para desenvolver a metodologia utilizada. A nenhum destes deve ser imputada qualquer responsabilidade em caso de omissdes on eros eventualmente remanescentes. 105 106 Referéncias bibliograficas ABRAMOVAY R.;MORELLO T.F. A democracia na raiz das novas dinamicas rurais brasileiras, in International Conference Dynamics of Rural Transformations in Emerging Economies, April 14-16, 2010, New Delhi, India. ABRAMOVAY, R. Agricultura, diferenciacdo social e desempenho econdmico. Rio de Janeiro: Ipea Project, Nead/MDA, World Bank, 2000. ALVES, E.; ROCHA, D. P. Ganhar tempo é possivel?. In: GASQUES, J. G.; VIEIRA FILHO, J.E. R.; NAVARRO, Z. A agricultura brasileira: desempenho recente, desafios e perspectivas. Brasilia: Ipea/Mapa, 2010. BERDEGUE,J.L; REARDON, T. ¢ ESCOBAR, G. La cresciente importancia del empleo y elingressorurales no agricolas. In: ECHEVERRIA, R.G (Ed.) Desarrollo de las economias rurales. Washington, Banco Interamericano de Desarrollo — BID, 2001 BOLLIGER, F. P.; OLIVEIRA, O. C. 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