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Africano ¢ © europeu, mas nso destinada a substituir aqucles, fem, na sua opiniGo, falsos, descon- centest, wvestigagio” das pos imigracdo chinesa fez da questio um tema de estariam fadados a “ocupar” qualquer pais em que tomassem pé®, Em suma, Nabuco opunha-se aos chineses, “etnologicamente, porque vém criar um conflito de ragas e degradar as existentes no pais; economicamente, porque nfo resolve! o problema da falta de bragos; moralmente, porque vém introduzir na nossa so- iedade essa lepra de vicios que imigragdo chinesa se estabelece; politicamente, afinal, porque em fo do trabalho, nfo € senio ‘moral que o caracteriza © a c mesmo tempo da esravidio”™. cchineses seria um passo atrés, Nabuco ps em dlivida 0 valor see © apoiou: | cone oe San eae a esperanga de impo: populagdio escrava esc Royal Navy & plano, O debate levara, porém, opinives raciais. Eo que emergiu fc de um Brasil, paulatinamente, mais branco. (O PENSAMENTO EUROPEU B DILEMAS DETERMINISTAS seguira de perto a Revolugo Industrial, a urbanizacdo acelerada © 0 crescimento econémico. Todas essas mudangas tinham sido mmo surgiu como resultado de tendéncias intelectuais mais do que por qualquer mudanca econdmica profunda. Embora as ci- dades crescessem rapidamente depois de 1850, nfo houve salto dida que as poténcias européias cresciam — econd- mica ¢ politicamente —, ¢ A medida que consolidavam sua domi- hago sobre novas partes do mundo, os pensadores da Europa comegaram a formular explicag6es para 0 sucesso econdmico, Ofe- reciam razées “cientificas” para o éxito da Europa. Tais apologias 48 s para a América Latina, juntamente com 0 libe- !aposigo que criava um inconfortavel para- oxo para o brasileiro intelectualizado, Tdgias que emergiram depois que o prestigio da ciéneia na- grande parte, uma criagéo derma) tinba reforgado a autoridade intelectual da Europa. Estava armado 0 raciocinio segundo 0 qual os europeus do Norte tinham atingido 0 poder econdmico e politico superior ao dos outros de- vido & hereditariedade © a0 meio fisico favordveis. Em resumo, 8 europeus do Norte eram racas “superiores” © gozavam do lima “ideal”, © que, por certo, implicava em admitir, implici- tamente, que ragas mais escuras ou climas trop capazes de produ Assim, uma Europa em expansio encontrou uma rationale para suas conquistas politicas ¢ econdmicas"’. Para forma bisica — fossem grosseira deformadas. A verdade 6 que mui dor inglés Henry Thomas Buckle (1821-62), cuja Histéria da Chilizagdo na Inglaterra, em muitos volumes (1857-61), continha, laramente enunciai i Em oito pginas, Bi ‘ma hidrogréfico e regime dos ventos do Brasil. Sem nunca ter visitado © pais e sem dispor de estudo genuinamente cientifico ia, Buckle fiou-se em relagdes de viagens, que citou Sua descrigo do Brasil soa muito como o estere6- tipo roméntico: “Tao luxuriante € a vegetagio que a natureza parece desregrar-se na ostentagdo do seu poder”. Prosseguiu des- ‘erevendo as “florestas emaranhadas” e “aves de esplendorosa plu- magem”, Desgracadamente, porém, “em meio a essa pompa e fulgor da natureza, nenhum lugar é deixado para o homem, Ele 44 reduzido a insignificincia pela majestade que o circunda”. O sil mereceu censura especial nessa revista da civlizacio de kle: “Em nenhum outro lugar h4 tfo penoso contraste entre grandiosidade do mundo exterior e a pequenez do interno. a mente, acovardada por essa fancar, mas sem ajuda estrangeira t lide. Porque mesmo no presente, com ios originrios da Europa, nao hd sinais de progresso Nao é de crer que os intelectuais brasileiros tenham lido na “gra 0 massudo trabalho de Buckle, mas, certamente, conhecem is, Um pensador social ado de maneira expressa. Outra doutrina determinista com uma longa hist6ria, 0 ra- cismo, foi igualmente trazida A tona — por essa época ¢, em nova forma —, através de escritores europeus, como Arthur de Gobineau (1816-82) que € 0 exemplo mais saliente, Pouco antes da publicagio por Buckle da Histéria da Civilizagdo na Inglaterra, jou seu Essai sur PInegalité des Races Humaines era a maior colénia do Novo Mundo e proporgio de pretos na populagio era superior a 50 por cento. ‘A populagio negra nos Estados Unidos, em geral, jamais atingira 6s 50%, nem mesmo no sul (exceto em uns poucos estados). 45 ‘Ao contrério de Buckle, Gobineau visitou, de fato, o Brasil, ‘depois de publicar seu Essai. Diplomata ambicioso, com aspiragies ppoliticds, viu o Brasil como um posto sem futuro para a sua ‘carreira mas, por outro lado também, como laboratério experi- ‘mental das suas teorias. Logo que foi transferido para o Rio como ministro francés (desembarcou durante carnaval de 1869), detestou o pais. Julgava-o culturalmente estagnado ¢ um isco permanente para a satide. Desprezava os brasileiros, que ‘via como irrevogavelmente manchados pela miscigenagio”. E vivia aterrorizado com a possibilidade de contrair a febre ama- rela antes de rever a Franga (nfo sem razio: houve uma epi- demia em 1869-70). Seu senso estético ofendia-se com 0 espeticulo de “uma populagio totalmente mulata, viciada no sangue © no espitito € assustadoramente feia””®. Anunciava que “nem um s6 brasileiro tem sangue puro porque os exemplos de casamentos entre brancos, indios e negros.sio to disseminados que as nuancas de cor sio infinitas, causando uma degeneragio do tipo mais deprimente tanto nas classes baixas como nas supe- riores”. Gobineau nao hesitou em tirar conclusées dristicas, no- tando em um relatério oficial sobre a escravidio que 0s nativos brasileiros nfo so “nem trabalhadores, nem’ ativos, nem fe- cundos”™., © timo ponto tornou-se central na andlise do futuro ra- cial do Brasil por Gobineau. Malgrado o clima ¢ os recursos na- turais favordveis, pensava ele que a populagao nativa estava fadada fa desaparecer, devido & sua “degenerescéncia” genética. Com um pouco de curiosa matemética, calculou que levaria “menos de duzentos anos... 0 fim dos descendentes de Costa-Cabral © dos emigrantes que os seguiram”. A tnica mancira de ‘mudangas possi- pais, De nenhuma maneira, esse filosofar a longo prazo poderia amainar a fiiria do francés por ter sido relegado a um remanso 46 imperador. Fazendo eco a deserigéo ‘varia, diz: “A excegio do imperador, povoado de marot ce désert peuplé de conqui io de Gobineau extravasou sobre a sua conduta a, freqiientemente, ¢ acabou por meter-se num feroz ino (1877-1925), teve grande fa com suas confusas doutrinas da inferioridade racial dos ndo-brancos*; Louis Couty franqueza. Este francés — conhecendo bem o se especialmente, pelas provincias cafeciras sborou estreitamente com reformadores brasi- ‘um livro sobre 0 Brasil sob 0 titulo Ebauches Sociologiques. Revelava, no prefé- m_ambages, i Gecorrente do amélgama do ragas, mais geral aqui do que em qualquer outro pals do mundo, ¢ que vai apagando, rapidamente, as melhores qualidades do branco, do negro ¢ do indio, deixando jum tipo indefinido, brido, deficiente em energia fisica ¢ mental”, Agassiz concluit ‘0 tentando prestar tributo honroso ‘05 seus amigos bri que, por certo, em breve, seriam ca- pazes de ler a obra na traducdo francesat?, Reconheceu -— ¢ autor que melhor descreven os brasileiros — os atributos quali- fativos raciais de sua formacdo quanto a sensibilidade aos altos impulsos © emogées, seu amor a liberdade abstrata, sua natural Senerosidade, sua faciidade de aprender e seus dons de elogiién- ia. Nao se pOde impedit, porém, de fazer de novo uma alusio a raga e ao clima, e acrescentou: “Se é verdade que também sints falta de qualidades das ragas nérdicas, Iembro uma antiga quanto as proprias zonas tropical e temperada’*®, A AGONIA DE_UM NACIONALISTA FRUSTRADO! SILVIO RomERO de que os brasi- apenas afloraram os problemas postos a sua nagio pelas 4 tas da raga. E, todavia, uns poucos pensadores debatiam os temas que a maioria dos seus com- ‘mesmo os cultos, 6 enfrentaria muitos anos. depois. lo termina com uma discussio do reformador liberal honesta e porfiadamente como qualquer outro — fez face as questdes de raga © meio ambiente — Silvio Romero (1851-1914), Analisaremos, a seguir, 0 pensamento de Silvio Romero so- bre 0 assunto, antes de 1889. Suas opinides dessa época haviam Sido decantadas — prineipalmente entre 1869 e 1881 — e, entéo, resumidas na obra-prima da sua carreira, a Histéria da Literatura Prasileira, que veio a lame em 1888, (As opiniSes postetiores ‘om pequenas mudangas bésicas na questo de raga, sera0 las em capitulos posteriores. Romero ganhou fama principalmente como critico lite- ica A literatura, argumen- we raga © meio so as chaves para a compreensio da cria- "8. Dizia-se um darwinista social ¢, embora tivesse re- "a de algumas das idéias de Spencer, pensava que elas im © melhor guia para se entender a H , Por mais deptessivas que se tor- fem suas conclusSes. Sustentava, de partida, que toda nagio Produto de uma interagio entre a populacdo © o habitat na- . A cultura e 0 cardter especifico de uma nagéo sio de Jongo termo. Quio longo? A estimativa de Silvio ‘ero variou. E as implicagses de qualquer estimativa cram 's porque refletiam, inevitavelmente, sobre o stafus do Brasil seu futuro, Romero atacou, diretamente, a questo das leis deter- ministas do meio, declarando que 0 veredito de Buckle sobre 0 Brasil era duro mas, no fundo, correto®, Embora contestasse al- guns pontos especificos, pensava que Buckle devia ser 1as da secgio sobre o Brasil da Historia da ‘na Inglaterra, Yss0 apareceria tanto numa série de art cados na Revista Brasileira em 1879-80 como na su: Literatura Brasi vulgar 0 requi tha exagerado em sua racial e que ela era “demasiado cosmogréfica"™, Ele vide a grandes ramos: o da Eu- , predomina 0 esforgo do ho- mem sobre a natureza; no outro, € © contrétio que se nota, Esta Mlistingdo € caprichosa”®*, Além disso, achava Buckle mabinfor- 49 mado sobre 0s contornos geogréficos © climéticos do Brasil, © Brasil no tem altas montanhas (como Buckle afirmou); soft a do que com a precipitagio chuvosa excessiva; travel era problema muito menos sétio que i-érido™. Os recursos da natureza so tidos mo mais abundantes do que em qualquer » “O que 6 uma vantagem, dizem os patrio- que é um empecilho — diz Buckle; 0 que & um erro, di- zemos n6s"®*, Ni tinha divida de que o habitat brasileiro fosse debili- {ante, O calor opressivo ¢ a seca periédica contribuiam para tor. diferente © apitico"®, Citou, com aprovagéo, tum manual de higiene que arrolava as supostas conseqlléncias ff. cia do homem no teépico — sangue moroso, di- © pele ultra-sensivel. As condigées fisicas do indio igo mais ow menos mérbida de vida curta, sua maior parte"!™, Teria ele por irreme- Giével a influtacia ruinosa do clima? Aparentemente néo, pois ‘ejeitava de plano o determinismo de Buckle, Ademais, apreciava & importancia da dieta ¢ da higiene como instrumentos, auxiliares de adaptagdo do homem a0 trépico. Nao pdia saber, natural. mente, das iminentes descobertas no campo das docngas conta. giosas e do tratamento dos parasites, e, assim, o tom da sua dis, euss40 € equivocado. varse mais, todavia, com a raga. Comegou por acei- uma hierarquia racial usando, freqiiente- la etno} referindo-se_a ragas ra suficientemente ‘eeber algumas das inconsisténcias © faldcias do Pensamento racial — notando que a propria definigao era vaga e que as ragas hist6ricas (inclusive a ariana vivido no mais completo cruzamento © quase fundidas” no o im, i Visualizava 0 Brasil como produto de trés correntes raciais: Do ramo particular, branco (“‘greco-latino”) que veio para — com 05 portugueses — tem a mesma opiniio dos iticos que haviam popularizado o nacionalismo cultural, isto le eta inferior ao ramo “germano-saxio”, que “2s robustas gentes do Nor esté reservado © papel ". Concorda com Wilberforce no que diz respeito A inttinseca inferioridade do homem preto, ¢ repete o argumento familiar, se bem que infun- dado, de que 0s negros jamais criaram uma civilizagéo%™, Tendo descrito esses clementos étnicos, Silvio Romero afir- mou que 0 carter particular do Brasil advinha de uma mistura os trés: “A raca ariana, reunindo-se, aqui, a duas outras total- ‘mente diversas, contribuiu para a formagio de uma sub-raca mes- tiga e erio fa da européia”. “Nao vem ao caso” — acres ‘discutir se isto € um bem ou um mal; & notabilizou na His cigenagao mostrava s foram aniquilados pela guerra e pela nos foram brutalizados pela escravidio. “A : x % pelo mestigo, seu por suplanté- 10, tomando-lhe a cor © a preponderiincia”®", Pensava, Silvio Romero, que o gene africano tinha contribuido mais que 0 gene 51 indio para a nova raga, chegando a descrever o preto como um “agente robusto, civilizador” que ajudara a nova raga a adaptar- ‘se ao clima tropical™®®, —* A firdua questio de saber se tal mistura racial fora ou nfo benéfica dava azo para respostas vérias. Como no caso do deter- ‘minismo climético, os argumentos cientficos de que necessitava para uma rejeigo definitiva do determinismo racial ainda nfo haviam sido formulados. Em 1800, escreveu: “Povo que descen- demos de um estragado e corrupto ramo da velha raca latina, a que juntara-se © concurso de duas das racas mais degradas lobo, os negros da costa e os peles-vermelhas da América se mais esperangoso. No mesmo ano em que publicou a afirmaao precedente (1880), desafiou os br minticos. “Nessa grande obra da nfo ha pri de ragas © continentes; hd somente o privilégio da forca cria- orate.” No fundo, nat “Se € certo que a mi iva do progresso contempo- ssoal de confundir and- no 6 de surpre~ dos mudava rapida- continuaya a renegar € potencialmente es- téreis. Silvio Romero pensava que , provavelmente, uma tolice, mas ainda nio i ara procl S quando 0 assunto ‘era o futuro do Brat 52 “A minha tese, pois, ¢ que = Em outro contexto, via 0 resultad puro branco: presumidos Gtnicaestaré iano” 113, E em outro local: dois grandes agentes de trans- cla de povos diversos — esto Itado nfio pode ser determinado mesmo ano, observou, em outro passo: ragas nfo desapareceram confundidas

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