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Resumo do Estudo de Caso

O artigo aborda a experiência clínica de um terapeuta ao acompanhar uma


criança de onze anos em terapia psicanalítica. O caso destacou desafios significativos
e levou a reflexões sobre a prática psicanalítica tradicional, enfatizando a necessidade
de flexibilidade sem comprometer a teoria. O estudo foi realizado durante um estágio
clínico supervisionado na Universidade Federal de Goiás, no qual o atendimento
psicanalítico infantil ocorreu pelo menos duas vezes por semana, com sessões de
supervisão semanais. O Centro de Psicologia da universidade serve como um espaço
de intervenção e produção de conhecimento. O estudo explora a interação entre teoria
e prática na psicologia clínica e destaca a importância de manter um diálogo com a
comunidade. Além disso, enfatiza a necessidade de repensar o atendimento infantil na
perspectiva psicanalítica, mantendo-se fiel aos princípios teóricos fundamentais. O
texto se baseia em autores como Freud e Mannoni para aprofundar a compreensão da
clínica psicanalítica infantil.
O infantil, na psicanálise, é conceituado como aquilo que é formado e
determinado pelo recalque, sendo uma construção permeada pela fantasia. A análise
psicanalítica da infância é enfatizada como fundamental, pois a psicanálise de
crianças é considerada a própria psicanálise. O autor ressalta que a infância é um
período de intensos conflitos internos, onde as pulsões, a realidade e as demandas do
ambiente estão em constante conflito. A infância é vista como um momento crucial na
formação das estruturas psíquicas. Além disso, o texto aborda a clínica psicanalítica
com crianças e adolescentes, destacando que essa prática requer uma flexibilidade
maior do que a clínica com adultos. As técnicas projetivas, como desenhos, jogos e
testes, são mencionadas como estratégias facilitadoras no trabalho com crianças e
adolescentes.
O autor também enfatiza a importância da escuta atenta da família e da
contratransferência do terapeuta. Um estudo de caso que utiliza diversas técnicas
projetivas é apresentado como exemplo de como essas abordagens podem ser
aplicadas na prática clínica. O texto também destaca a relevância das técnicas
projetivas, como os desenhos, jogos e testes projetivos, como ferramentas essenciais
para a compreensão da psicodinâmica de crianças e adolescentes. Essas técnicas
permitem que os pacientes expressem seus sentimentos, conflitos e fantasias de forma
não verbal, o que pode ser especialmente valioso, dada a dificuldade das crianças em
comunicar suas experiências de maneira verbal.
De acordo com os autores citados (Zavaroni et al., 2007), a abordagem
psicanalítica concebe o "infantil" como um construto psíquico que se origina e é
determinado pelo processo de recalque, intrinsecamente ligado à fantasia. Este
construto é percebido como um constante movimento de retorno e atualização das
pulsões ao longo do processo terapêutico. A escuta psicanalítica é descrita como uma
essencial treinar a audição do "infantil", uma vez que, como Mannoni (1999) destaca,
"a psicanálise de crianças é a psicanálise". Destaca-se ainda a relevância da infância
como um período crucial de conflitos internos intensos, nos quais as pulsões, a
realidade e as demandas externas se entrelaçam.
Na clínica com crianças e adolescentes, a flexibilidade e o uso de técnicas
projetivas, como desenhos, jogos e testes, emergem como ferramentas facilitadoras
para acessar o mundo psíquico desses pacientes, dada a dificuldade de expressão
próprias questões e emoções relacionadas à infância são ressaltadas como aspectos
cruciais da prática clínica com esse grupo. O texto também destaca a importância de
considerar o contexto familiar, uma vez que muitas vezes o sintoma da criança pode
ser reflexo de dinâmicas familiares complexas. Além disso, o texto expõe a transição
dos estágios da infância para a adolescência e os desafios que isso implica. A
adolescência é descrita como um período de transformações significativas no corpo,
na identidade e nas demandas pulsionais, com uma complexa interação entre a busca
de independência e a dependência em relação aos pais. Em suma, a abordagem
psicanalítica oferece uma perspectiva valiosa para a compreensão das complexidades
da infância e da adolescência, destacando a importância da escuta, da flexibilidade e
do uso de técnicas projetivas como elementos fundamentais para a prática clínica
eficaz com crianças e adolescentes.
No caso clínico de R, um garoto de 11 anos que buscou atendimento no
Centro de Psicologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), sendo o motivo da
consulta presentado pela mãe de R, que estava preocupada com o baixo desempenho
escolar do filho e seu comportamento problemático na escola e em casa. O primeiro
contato com R revelou ser bastante tímido, retraído, tendo dificuldade em se expressar
verbalmente. Ele se envolvia em atividades solitárias, como desenhar e brincar com
quebra-cabeças e blocos de montar. Durante as sessões, R frequentemente respondia a
perguntas com respostas curtas, resultando em longos períodos de silêncio. Esse
comportamento sugeriu uma possível sensação de solidão e dificuldade em
compartilhar seus sentimentos e preocupações. Através do uso de técnicas
terapêuticas, como o Teste de Apercepção Temática Infantil (CAT), R começou a
revelar aspectos de sua vida familiar e emocional que estavam afetando seu
desenvolvimento.
Ele compartilhou experiências relacionadas às brigas entre seus pais, castigos
rígidos impostos pelo pai e preocupações em relação à escola. Durante o processo
terapêutico, R demonstrou uma imersão significativa na fantasia como forma de
escapar de um ambiente familiar percebido como opressivo, expressando também
preocupações em relação à identidade de gênero e ao seu papel na família.
O acompanhamento terapêutico proporcionou a R um espaço seguro para
expressar suas emoções e enfrentar seus desafios pessoais. Gradualmente se tornou
mais aberto e envolvido nas sessões, compartilhando suas preocupações e
pensamentos de forma mais direta. Ao final do processo, R mostrou sinais de
autoconsciência e uma compreensão mais profunda de sua própria vida e relações
familiares. O caso mostra a importância do acompanhamento psicoterapêutico para
crianças e adolescentes que enfrentam desafios emocionais e comportamentais. A
terapia forneceu a R uma plataforma para explorar seus sentimentos, melhorar sua
comunicação e desenvolver estratégias para lidar com suas dificuldades, contribuindo
assim para seu crescimento e desenvolvimento emocional.
O caso de R, conforme observado, demonstra a complexidade da clínica com
crianças e adolescentes, que, como Sturmer (2009) aponta, está sujeita ao inesperado
e, portanto, requer uma abordagem flexível e sensível. O processo terapêutico de R
demandou a adoção de várias estratégias para compreender suas preocupações e
dificuldades, bem como para lidar com suas particularidades no processo associativo,
uma vez que a comunicação de crianças difere da de adultos. No tratamento de R, foi
necessário considerar não apenas sua perspectiva, mas também ouvir os relatos de
seus pais e da escola para obter uma visão mais completa de sua situação. Isso destaca
a importância da colaboração com outros sistemas, como a família e a escola, no
tratamento de crianças e adolescentes.
O uso de métodos projetivos, como jogos, brincadeiras, livros, desenhos e
testes, permitiu acessar as questões subjacentes que estavam afetando R. Essas
técnicas forneceram um espaço seguro para que ele expressasse suas emoções e
pensamentos de uma maneira mais indireta e simbólica, que é típica da comunicação
infantil. Ficou claro que as dificuldades escolares de R estavam ligadas às complexas
questões que surgem quando a criança entra no mundo da linguagem e da
aprendizagem. Essa transição pode ser especialmente desafiadora e emocionalmente
carregada para algumas crianças, como foi o caso de R.
Em resumo, o caso de R ressalta a importância da flexibilidade, sensibilidade
e uso de abordagens terapêuticas diversas ao trabalhar com crianças e adolescentes.
Também enfatiza a relevância de considerar não apenas as questões evidentes, mas
também as complexidades emocionais e familiares subjacentes que podem afetar seu
bem-estar e desenvolvimento.

Referências
DIAS, Stéfani Inacio Aguiar. ATENDIMENTO PSICOLÓGICO NA
INFÂNCIA: ASPECTOS TEÓRICOS E UM ESTUDO DE CASO APARTIR
DA ABORDAGEM PSICANALÍTICA. In: Anais Colóquio Estadual de Pesquisa
Multidisciplinar (ISSN-2527-2500) & Congresso Nacional de Pesquisa
Multidisciplinar. [2016]

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