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3UF.965. 3 S679 2 FICHA CATALOGRAFICA (Preparada pelo Centro de Catalogagio-na-fonte, ‘CAmara Brasileira do Livro, 8P) Sodré, Ruy de Azevedo, 1900- S668¢ °°’ Alea profisional’ € 0 ‘estatuto do advogado Ippe] Rev eEarevedo Soite!"* sto Paulo, Et. 663 p. alga anteriores ttm on tus: "O advogado, a regulamentacio ea ética profissional ado, seu estaluto ea érca profsional”. 1, Advogados — fica profisional — Brasil 2. ondtin or Rivogadon do Real hao (CDV. 347.965:174(81) 175.0556 CMT965 8181) {Indice para eatflogo slstemético: 1 Brasil: Advogados +: Estatutos 347.965.6(81) Brasil: Advogados + ftiea profisional Mr ges Al) 8. Ordem dos Advogados do Brasil 347.965.8(81) ee ; /AVERSIDADE DE PORTA: - BIBLIOTECA CENTR | th (Cod. 456.7) ©Todos os direitos reservados EDITORA LTDA, Rua Apa, 165 - CEP 01201 (011) 826-2652 ¢ 826-2740 - Sdo Paulo 1984 Fones: Scanned with CamScanner Carituto IV 1) A ETICA COMO CIENCIA E COMO ARTE A Stica & cidncia porque consagra principios ¢ é arte porque orienta como praticé-los — © advogado tem ‘com seu cliente relagées humanas, pessoais, antes que econdmicas. A Etica € ciéncia porque cria e consagra os principios bdsicos que devem reger a conduta, 0s costumes, a moral dos homens. # arte porque se torna necessdrio observar tais princfpios, praticd-los imperativamente, converté-los na realidade da vida. J. BRETHE DE LA GRESSAYE (!), em interessante trabalho sobre a disciplina nas empresas e profissdes organizadds, esclarece que: “Nas profissées liberais, a disciplina tende a assegurar a observancia da deontologia ou moral profissional, porque o advogado ou o médico tem com seus clientes relacdes humanas, pessoais, antes que econdmicas”. Como ciéncia e como arte, a Etica & verdade, tem 0 seu campo de acio limitado 20 comportamento do advogado e de modo algum visa _aumentar 0s conhecimentos técnicos — juridicos, mas t4o-somente orien- télo nas suas atividades profissionais. Ela no se ocupa com os postulados normativos que informam o direito, ela nao visa a0 ensino de matéria juridica, mas tao-somente expée as regras de conduta, que condicionam a atividade do profissional. 2) A CONFIANGA DO CLIENTE E A FUNGAO PUBLICA © sentido ético deve predominar na relagio de patrocinio — Confianga e consciéncia — Independencia significando que o advogado s6 se subordina A sua propria consciéncia; liberdade, significando agit moralmente livre — Os advogados devem ser (05 maiores interessados na observancia dos preceitos éticos « Nossa classe, vivendo da confianga do cliente, e desempenhando fun- 40. publica, no exerticio de atividade privada esta, mais do que qual- quer outra, sujeita 20 cumprimento de deveres éticos que informam € orientam a advocacia. (1) “Archives de Philosophie de Droit”, 62 Scanned with CamScanner © sentido ético deve predominar na relagio de patrocinio, Real- mente, nesta figuram, como elementos essenciais, a confianga € a cons- ciéncia, Consciéncia, do advogado, vinculada aos preceitos éticos, e confianga, do cliente, Este a adquire, mercé da forca moral do advogado. A relacao entre cliente ¢ advogado, em que aquele entrega ‘a este seus bens, sua liberdade ou sua honra, se forja na base da confianga. J uma confianga, — repetimos — que se enirega a uma consciéncia. Realmente, dando a profissio o alto valor moral de que ela estd reves- ida, a relagio de patrocinio ¢ selada pelos dois principios — confianga fe consciéncia, Confianca do cliente em seu advogado, sem a qual este nao poderd atuar livremente, e consciéncia do advogado pautada pelas normas éticas a que est sujeito. Liberdade e independéncia: esta, significando que o advogado nao se subordina a ninguém, mas somente 4 sua prépria consciéncia, disci plinada esta pelas normas éticas. Aquela, a liberdade, tem o sentido Inoral, ou seja, o de nfo atender a nenhuma pressio, sem receio, nem mesmo, dos juizes ®). E, no sentido positive, ela significa a liberdade moral de agi © advogado precisa conservar-se severo para consigo mesmo, a fim de manter a independéncia, que é 0 apanagio da profissao, nao cedendo a injungées, nfo pactuando nem se curvando a solicitagdes, donde {quer que venham, pois a liberdade moral de ago, a liberdade de julga- contol a liberdade de expressio, sio-lhe requisites bdsicos, sem ‘as Quais nunca postularé como verdadeiro profissional da advocaci Da independéncia, que ¢ outro prinefpio dominante, 0 aspecto fun- damental € 0 de que 0 advogado deve ser independente com relacéo So cliente, £ 0 advogado, segundo ordenamento expresso no n0sso- (C-Gbdigo de rica, quem conduz a demanda ¢ assim zelard pela com- peténcia exclusiva na orientacio da causat C Ele é independente com relagio aos magistrados, porque entre am- Ybos nao hé hierarquia nem subordinacéo, devendose, uns ¢ outros, Yeonsideragio e respeito reclprocos. Ele é independente em face dos poderes piiblicos, nfo sé porque na conduta profissional 6 presta contas A sua corporacio, que é a OAB, como também porque ele é potencialmente o censor, insurgindo-se con- tra os abusos daqueles poderes, na defesa da liberdade material preju- cada, da liberdade espiritual ferida, ou do impedimento do uso da liberdade fisica Ele nao conhece outra dependéncia senao a que resulte da consciéncia profissional, balizada pelas normas morais, estatuidas no Cédigo de tica, e deveres impressos no Estatuto. @ Art, 88 do Estatuto: “Nenhum receio de desagradar o juiz ou a qualquer autoridade, nem de incorrer em impopularidade, deter © advogado no cumpri- mento das suas tarefas ¢ deveres”. 63 Scanned with CamScanner Comprimido entre a lei ¢ a moral, 0 advogado vive um momento histérico, em que ninguém quer respeitar a lei ¢, muito menos ainda, viver segundo os preceitos morais. Uma época de subversio da ¢tica, como a atual é, indiscutivelmente, hostil ao direito, que € regra de conduta. £, portanto, época adversa & atividade do advogado — 0 paladino do dircito. Contra esse ambiente agreste em, que atua, a melhor defesa do advogado é, sem diivida, 0 Gédigo de Etica, como esteio da consciéncia profissional, assim como o Estatuto é a garantia de sua independéncia. ‘A fungio publica é que determina a intromiss4o do Estado, orga- nizando a corporaio dos advogados — Ordem dos Advogados — a ésta atribuindo os poderes de selecio, defesa e disciplina da classe. Depositdria da confianca imediata de seus clientes — acentua MARIO GUIMARAES DE SOUZA — sem a qual no poderd exercer ficientemente a defesa dos interesses a ela entregues, est, por isso mesmo, disciplinada com rigor, sendo de extrema delicadeza os liames que a prendem, que garantem a sua honorabilidade. Como observa judiciosamente SEBASTIAO DE SOUZA: “Serio os préprios advogados os maiores interessados na observancia dos pre- ceitos éticos compendiados pelos representantes da prépria classe e com © elevado propésito de manter a dignidade e a nobreza da profissio” (°). O espirito publico, o sentido social de que se reveste a advocacia, impée aos que a exercem a observincia rigorosa dos ditames da ética. Os canones de ética profissional justificamse por si mesmo, pois, como bem observou GLEASON ARCHER, em sua excelente obra “Ethical obligations of the lawyers” (*): "Nao é possivel deixar esse assunto 20 critério de cada profissional. Boas inteng6es, altos ideais de moralidade, nem sempre bastam para produzir solucdes acertadas”. 3) A ETICA PROFISSIONAL COMO UMA AUTODEFESA DO ADVOGADO ‘A advocacia é um constante exercicio da virtude, tais ¢ tantas sio as tentagdes que o envolvem — Submetendo-se as restrigées éticas, © advogado assegura a sua liberdade moral de agio € a sua independéncia. “A advocacia — a licdo é do grande EDUARDO ‘COUTURE () - como ética € um constante exercicio da’ virtude. A tentacdo passa sete (8) “Honorérios de “Advogado” —'2* éd., pag, 59. (# Gitada por ANTAO DE MORAIS “ch “ise Sibu Etica, In, “A Gazeta”, de 1161948: iain nae (6) “Mandamentos do Advogadts pag: 17,” 64 Scanned with CamScanner veres cada dia em frente do advogado, Este pode fazer do seu ministério a mais nobre de todas as profissGes ou o mais vil de todos os oficios". Sempre houve, em todos os tempos, regras impostas ao advogado; cumpre, todavia, deixar claro que as regras éticas que governam a Profissdo no visam tio s6 A defesa, ou melhor, ao interesse particular do advogado, nem tampouco sio os interesses particulares dos clientes que exclusivamente regulam os deveres profissionais. £ verdade que, submetendose as restrig6es éticas codificadas pela prépria classe, 0 advogado assegura a sua liberdade e a sua indepen- déncia, pondose ao abrigo das tentagdes que o cercam, de que fala COUTURE. Os cfnones éticos, a que estio vinculades os advogados e que bali- zam a sua conduta profissional, € que asseguram a sua independéncia. Esta nao poderia subsistir se ndo houvesse o Cédigo de Etica. Se 0 advogado nfo se subordina a nenhum poder, a ninguém, a néo ser A sua prépria consciéncia, precisa, com mais raz4o, de normas morais que iluminem o seu caminho, que o esclarecam em suas di vidas, que o defendam em, suas lutas. O Cédigo de tica, que ¢ 0 vade-mécum do advogado, torna-se, mercé dessa independéncia, que ¢ a nota caracteristica da profissio, a sua melhor garantia. 4) A ETICA E O DEVER DE SOLIDARIEDADE = As normés éticas constituem, também, um dever de sotida- Fiedade, que sc torna inerente & propria profissio, cabendo a0 érgfo da clase punit os transgressores — Tal punicko tem um duplo sentido: € punigao da falta cometida ¢.é uma adver- téncia A quebra do dever de solidariedade. — Esta é 0 apandgio da grandeza da profissio — A classe, autodisciplinando-se, impse solidariedade na obediéncia as regras éticas. Se de um lado as regras éticas so 0 melhor amparo que 0 advo- gado possui para assegurar a sua independéncia, a verdade € que, por outro lado, elas constituem um dever de solidariedade. ‘As normas morais que orientam a profissio, obrigando a todos os advogados manterem um nivel de conduta profissional digno, vincula- 0s a uma solidariedade que se torna inerente A prépria profissao. Essa solidariedade, que une todos os advogados as normas morais que orientam a profissdo, impSe ao seu érgio representativo o dever de punir aqueles que as trarisgridam. E essa punicao, imposta pela propria classe, tem duplo sentido: é a punicao de falta cometida, Punigo essa que se traduz, também, em adverténcia & quebra desse dever de solidariedade. 65 Scanned with CamScanner Tal solidariedade é 0 apandgio e a grandeza da nossa profissio. A classe se autodisciplinou, impondo, por essa circunstincia, solida- riedade na obediéncia as regras de conduta, de tal sorte que a falta disciplinar praticada por um atinge a todos os profissionais que inte- gram a corporacio, além de afetar, sio 6 a propria reputacao da classe, como a prestacio do servigo publico. A solidariedade, que no fundo constitui uma garantia do servigo puiblico de que se desempenha o advogado, traduzse, por seu turno, na defesa de seus direitos e prerrogativas. Por isso, como muito bem acentuou ANTONIO CARLOS 0Z6- RIO (®), “Tem o advogado o dever de defender as proprias prerroga- tivas — que nfo so criadas em beneficio privado, mas para proteger © servigo publico exercido — e para melhor defendélas é obrigado a manter e desenvolver a solidariedade profissional”. Exprimindo esse dever de solidariedade, prescreve o Estatuto a “obrigacdo de velar pela existéncia e fins de ordem; aceitar os man- datos € encargos que Ihe forem conferidos por esta; cooperar com 0s que forem investidos de tais mandatos.e encargos; defender com inde- pendéncia os direitos e as prerrogativas profissionais e a reputacio da classe; néo exercer a profissio quando impedido; nao estabelecer en- tendimentos com a parte ddversa sem ciéncia do advogado contrario” — Vide art. 87, n.* II — VII — 103, XII. Quando se pune um advogado por falta disciplinar, além dessa pu- nig&é conter, em si, satisfacio & parte prejudicada pela falta, de as segurar & sociedade a existéncia de fiscalizagio sobre os profissionais que a servem, além de ser corretivo a0 profissional faltoso, além de constituir equilibrio de forca no jogo processual, ndo permitindo que © juiz usurpe essa funcio, além desse e de outros aspectos, a pena imposta pela classe, pelo seu drgio representativo, tem o sentido de uma verdadeira adverténcia A quebra desse dever de ‘solidariedade. Por outro lado, nao se nega que tais regras protegem os élientes, aisegurandolhes profissionais probos que cuidem -de seus interesses. Mas, no fundo, as regras éticas impostas. aos advogados servem, em liltima anélise, principalmente ao direito. Nao resta diivida, porém, dé que a coletividade se beneficia com as regras éticas. impostas aos profissionais do foro. Ea razio é simples. Os que necessitam dé amparo da Justiga devem, obrigatoriamente, socorrer-se dé advogado, de vez que este, como ele- mento indispensavel 4 administragio da Justica, presta um servigo pi blico, (art. 106 do Cédigo de Processo Civil; art. 68 do’ Estatuto da Ordem. dos Advogados), para o qual, como pressuposto, deve possuit capacidade profissional e idoneidade moral. (©) “Revista da O.A.B, 66 — Dist, Fed. n° 2, pag. 110, Scanned with CamScanner

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