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3UF.965. 3 36792 FIGHA CATALOGRAFICA (Preparada pelo Centro de Catalogagio-na-fonte, ‘CAmara Brasileira do Livro, SP) Sodré, Ruy de Azevedo, 1900- S663 A’ ética profisional’ ¢ 9 estatuto do advogado Ippe] Roy. deVAsevedo Sodre!"" Sto Peulo, LT. 668 p. digs amcriores thm oo tle a regulamentaglo ea ica prot gado, sen extatuto ea dilea profission: 1. Advogados — fica profisional — Brasil 2. Ordein ‘Gor Advogados do Bras Tivulo. eDu-347-965:174¢81) 75-0556 "347'965.8(81) Indice para eatilogo sistemético: 1. Brasil : Advogados : Estatutos $47.965.8(81) 2, Brasil : Advogados : ftica profissional '347.905:174(81) 8, Ordem dos Advogidos do Brasil $47.905.8(61) a ; “iVEKSIDADE DE FORTAL! - | | + BIBLIOTECA CENTR LEME date £6-1-34 (Céd. 456.7) ©Todos os direitos reservados Wis EDITORA LTDA, Rua Apa, 165 - CEP 01201 - Fones: (011) 826-2652 e 826-2740 - Sao Paulo 1984 Scanned with CamScanner Carituto IX DEVER DA VERDADE = 0 advogado precisa sentirse moralmente livre para pesquisar a verdade — © conceito de verdade, segundo Sio Tomas — A verdade judiciéria € aquela que ficou melhor comprovada nos autos — Os és sistemas que abordam o problema da verdade, sob 0 Angulo profissional — O dever da verdade 4 produsao da |prova'em joizo = © proceso ¢ reallzagfo da justia, © neghuma justiga/pode apoiarse na mentira — A tendéncia mo- detna de elevar/a categoria do dever juridico o dever moral de dizer a verdade — O advogado nio esté obrigado a dizer, em julzo, toda a’verdade, mas apenas a no mentir — A verdade ‘completa é obrigagio dos juizes — & inadmissivel a desculpa maliciota de que 0 advogado quando disimula, quando dis- torce, quando mente, noo faz em proveito proprio, mas do Glienté, embora saiba que esti enganando a Justiga, desmere- endo da sua fungio publica e desonrando a classe — O desdo- [bramento psfquico do advogado, estando a par da verdade ¢ defendendo a mentira — O Céd. de Proc. Civil, de 11/1/73, edica especial capitulo a0 problema, colocandose na vanguarda dos demais cédigos de outros paises — O dever da verdade para com o juiz — A lealdade ¢ a probidade constituem um dever processual — © advogado nio pode mentir, enganando a Jus- Higa, da qual cle & elemento indispensivel — Se 0 advogado ndo esté obrigado a dizer toda a verdade, esta vedado de al- teréla, deforméla ou negéla, Nos trés mandamentos citados h4 expressa referencia as “defesas veridicas”, a ser o causidico “sempre verdadeiro”, e a de que nfo de- vera ele alegar nem sustentar fatos, “que nao julgue verdadeiros”. ‘Trata-se de um problema — o dever da verdade — de natureza ética, que apresenta dificuldades para sua caracterizagio. Nao ha divida de que o advogado tem necessidade de agir com plena liberdade, de sentir-se moralmente livre para pesquisar a ver- dade. Mas, 0 que .é a verdade? SAO TOMAS DE AQUINO ja ensinava que “A verdade tem con- tornos cambiantes e cada um a reconhece, A sua maneira, através de estados intimos, nem sempre transferiveis e tampouco comuniciveis” E, no processo, onde atua o advogado, qual a verdade que se evi- dencia? Existe, na realidade, mais de uma verdade possivel, atendendo @ prova produzida em cada processo, triunfando afinal, sem que seja a melhor ou a pior, a que se conseguiu provar como a mais evidente. ‘A esta denominarfamos de “verdade judicidria”. 105 Scanned with CamScanner Quanta vez, na nossa vida profissional, nZo perdemos causas que, a nosso juizo, a verdade pendia para o lado dos nossos clientes, sé porque, na batalha forense, a prova testemunhal no as tornaram evi. dentes. Da mesma forma, vencedora foram outras tantas causas em que, inversamente, a verdade mais se evidenciava a beneficio de nossos adver- strios. ¥ 0 dever da verdade, antes de ser preceito de natureza processual, uma norma ética. nosso Cédigo de Etica discrimina na letra “e,” n.° VIII, Seccao IIL, a proibica “alterar maliciosamente, ou deturpar o teor de depoimento, do- cumentos, alegacio de advogado contrério, citacko de obra dou- trindria, de lei ou de sentenca; redigir infielmente depoimento on declaracéo; em suma, por qualquer modo, iludir ou tentar iludir 0 adversdrio, ou o juiz da causa”. © Estatuto deu ao preceito ético relevo especial, figurado, no rol das infragies disciplinares, a do n.° XXIII, do art. 103: “deturpar 0 teor do dispositivo de lei, de citagéo doutrindria ou de julgado, bem como de depoimentos, documentos ¢ alegacdes da parte contréria, tentando confundir o adversério ou iludir 0 juizo da causa”, A. A. LOPES DA COSTA (') examina o dever da verdade sob 0 Angulo profissional. ‘Aludindo aos trés sistemas que abordam 0 problema, esclarece que © primeiro, como simples dever moral de formular a verdade no pro- cesso, é inécuo. O dever, como simples dever moral, ndo comporta © elemento da coacéo. Sua angio ser puramente moral: a acusagao da consciéncia ¢ o castigo além dessa vida. O segundo sistema sera definir esse dever como um “énus proces- sual”. ‘A esse sistema, apresenta LOPES DA COSTA a sua critica, nos se- guintes termos: “O énus processual, como se sabe, difere da obrigacio proces- sual. O énus traduz apenas uma necessidade da parte. ¥, como diz GOLDSCHMITD, um “imperativo de seu préprio interesse.” © terceiro sistema — a exposi¢io ¢ ainda do grande processualista — institui o dever de lealdade como obrigacdo. A parte aqui é obri- gada a obedecer, sob d’reta sancao, © autor que por edital obtiver a intimagio do réu, havendo para isso dolosamente afirmado que o outro se achava em lugar incerto ou nio sabido, incorreré na multa de Cr$ .. . Apurase a (I) “Direito Processual", vol. 1, 2 ed., 1959, pigs. 861 © segs 106 Scanned with CamScanner infragio e aplica-se a pena. Pena contra a malicia do litigante. Como se vé, conclui, sancionase o dever de lealdade e de colaboracio na descoberta da verdade processual, néo sb por meio dos énus proces- suais, como também por verdadeiras obrigagées juridicas, impostas sob sangio disciplinar. Comentando o dever de nfo alterar intencionalmente a verdade, LOPES DA COSTA ensina estar nele implicito o de “nao ocultar elemento algum essencial. A verdade de fato pode ser alterada quando a ela se substitui a mentira, quando parte dela se oculta ou quando a ela se acrescenta alguma falsidade”. ALFREDO BUZAID, no seu anteprojeto do Cédigo de Processo Civil, deu merecido destaque ao assunto, incluindo, no capitulo dos deveres das partes e de seus procuradores, o dever da verdade, expresso como “dever de expor os fatos em juizo conforme a verdade”. E no Cédigo, recentemente promulgado, Lei n.° 5869, de 11/1/73, com vigéncia para 1/1/74, foram inclufdos todos os dispositivos cons- tantes do anteprojeto do prof. ALFREDO BUZAID, tendo, assim, 0 problema do dever da verdade o especial tratamento que lhe dedicara aquele culto jurista. © nosso diploma coloca-se, nesse passo, na vanguarda dos demais Cédigos de outros patses. Ainda, com a aprovacao do capitulo do ante- projeto, o principio do dever de dizer a verdade, que estava situado na esfera moral, com a sua consagracio no texto do Cédigo de Processo Civil, transformou-se, de um postulado ético, em uma norma legal. O Capitulo II, dedicado aos deveres das partes e dos seus procura- dores, inicia-se com a reprodugio do texto do anteprojeto, ou seja, o dever de “expor os fatos em juizo conforme a verdade”. A seguir, no item Il, alcando a um dever processual, a lealdade e a boa {é, caracteriza-o como um principio inerente ao dever da ver- dade. © item III sai do campo das generalidades, tornando-se especifico € objetivo, a0 formular como um dever, que, também se enquadra na categoria do “dever da verdade”, o de “nao formular pretensdes, nem alegar defesa, ciente de que so destitufdas de fundamento”. Com o mesmo sentido, o item IV se refere 4 obrigacio do advogado “no produzir provas, nem praticar atos imiteis ou desnecessdrios & declaragdo ou defesa do direito”. Ja no art. 15 se dispde sobre 0 comportamento das partes, em julzo, prescrevendo ser defeso as partes € seus advogados empregar express6es injuriosas nos escritos apresentados no proceso, cabendo ao juiz, de offcio ou a requerimento do ofendido, mandar riscd-las. Hi ‘Agrafo nico, cuida do mesmo assunto “quando as expres: S6es injuriosas forem proferidas em defesa oral”, hipétese em que “oO juiz advertird 0 advogado que nio as use, sob pena de Ihe ser cassada 107 Scanned with CamScanner © nosso estatuto, ao tratar do exercicio da policia das audiéncias confere aos juizes e tribunais a correco dos excessos de linguagem. E, no § tinico do art. 121, quando a injuria for assacada contra 0 juiz, nos autos, este nao poderé mandar riscé-la, devendo representar a instAncia superior, para que esta determine a providéncia de serem riscadas as expresses injuriosas. No tocante a esse problema, cumpre levar em consideracio o que dispde o art. 142, n° I, do Cédigo Penal: “Nao constituem injiria ou difamacgo puntvel: — 1) a ofensa irrogada em juizo, na discussio da causa pela parte ou seu procurador”. Enfileiramo-nos na corrente dos que sustentam que a imunidade ju- dicidria isenta 0 advogado que atingir o juiz. # verdade que, no caso art. 121, 0 juiz ou o tribunal que mandar riscar as expresses injuriosas no est4 punindo o advogado, mesmo porque, nos termos do art. 118, 0 poder de punir disciplinarmente 0 advogado compete & Ordem. O juiz que aplicar o disposto no art. 15 do Géd. de Processo Civil, ou o 121 do Estatuto, no estar4, na realidade, punindo o advogado, mas apenas 0 ato por ele praticado, ou seja as express6es injuriosas. Por estas, estard 0 advpgado isento até de processo criminal, ampa- rado pela imunidade judiciaria. O art. 16 do novo Cédigo de Processo Civil cuida da responsabi- lidade das partes por dano processual, prescrevendo que “responde por perdas ¢ danos aquele que pleiteia de m4 fé, como autor, réu ou interveniente”. E no art. 17 elucida: “Reputase litigando de mé fé aquele que: I — dedurir pretensio ou defesa, cuja falta de fundamento no possa razoavelmente desconhecer; II — alterar intencionalmente a verdade dos fatos; Ill — omitir intencionalmente fatos essenciais a0 julgamento da causa; IV — usar do processo com 0 intuito de conseguir objetivo ilegal; V — opuser resisténcia injustificada a0 andamento do processo; VI — proceder de modo temerdrio em qualquer incidente ou ato do processo; VII — provocar incidentes manifestamente infundados”. Os trés primeiros itens, ao caracterizar a ma fé, constituem um desdobramento de infracées ao dever da verdade. Os outros itens re- produzem normas éticas (Seccio III n.° VIII letras a, b, ¢, d, ¢.) © art. 18 complementa a responsabilidade do dano processual, causado tanto pelas infracées ao dever da verdade, como pela trans- gressio das normas éticas, — aquelas e estas, transformadas pelo dis- posto no Cédigo de Processo, de simples normas éticas em deveres juridicos. O referido inciso fixa a indenizagio, nos seguintes termos: 108 a Scanned with CamScanner “O litigante de ma {€ indenizar4 a parte contréria 0s prejutzos que esta sofreu, mais 0s honordrios advocaticios € todas as despesas que efetuou; § 1.° — Quando forem dois ou mais os litigantes de m4 £6, 0 juiz condenard cada um na proporgio do seu respectivo interesse na causa, ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte con- ria § 2° — Néo tendo elementos para declarar, desde logo, o valor da indenizagdo, o juiz mandara liquidé-la for arbitramento na execucio”. Em trabalho apresentado nas “Primeras Jornadas Latino-Ame- ricanas de Direito Processual” realizadas em homenagem & meméria de EDUARDO COUTURE, em Montevidéu, em maio de 1957, con- cluiuse j4 se ter tornado “cinone consagrado no Direito Processual a exigéncia de que a luta judicidria tem que desenvolver-se sob a égide dos principios éticos do dever da verdade. ‘A corrente dominante, nesse ponto de vista, na observacéo de EDU- ARDO COUTURE, € no sentido de considerar que “Existe, efetiva- mente, um dever de dizer a verdade, com texto expresso ou sem texto expresso, com sangdes especificas ou sem sang6es especificas”. © processo “é a realizagZo da Justiga e nenhuma justiga pode apoiar- se na mentira”. Comentando as opinides de diversos processualistas — RAUL H. VINAS, em “Etica y Derecho de la Abogacia y Procuracién,” pag. 238 —.destaca a orientagdo das legislagées modernas de formular normas que elevem & categoria de dever juridico 0 dever moral de dizer a verdade. ‘Alids, tal orientagio esta expressa‘no nosso Cédigo de Processo Civil — arts, 1 a 18. Comentando o dispositive do art. 68 do Cédigo de Processo Civil, ora revogado, ALCIDES DE MENDONGA LIMA esclarece que nele hd referencias “A alteragio intencional da verdade, isto é quando a parte sabe que nao est dizendo a verdade em qualquer de suas mani- festagdes em jufzo, tanto por escrito, como oralmente”. E acrescenta: “f necessério que a parte aja, assim, com dolo, com o propésito'de iludir, de enganar” “O dever da verdade — a licio é ainda de A. MENDONGA LIMA — inerente a todos os atos de processo, desde a propositura da agio até sua terminacio, quer nias manifestacdes escritas, quer nas orais, ¢ em qualquer feito, porque a norma est4 contida no Titulo VII do Livro I das Disposigdes Ge i : Interessante, ainda, a opit de que “o principio do dever da verdade, como miodalidade do dever inido desse nosso, reputado -processualista, de lealdade ¢ probidade, € inerente a todo 0 processo, pela prdpria finalidade da atividade jurisdicional, em sta concepgéo’ moderna” “Assim, “O litigante pode rido mentir © tansgredir o dever de leal- dade ou.probidade, como, por exemplo, se ofende, sem necessidade, 0 109 aw Scanned with CamScanner adversario, por meio de palavras injuriosas ou, sobretudo, difamatérias, Poder no estar mentindo, mas 0 seu comportamento ser desleal ¢ fmprobo”. | : ‘A lealdade ¢ a probidade constituem, na verdade, um dever pro- cessual, na conformidade do exposto no Capitulo I do Cédigo de Processo Civil, recentemente promulgado. Realmente, ao tratar “dos deveres das partes e dos seus procura- dores”, consigna 0 Cédigo, no art. 14, n.° I, o de “proceder com leal- dade e boa fé”. © dever de lealdade, pela fundamental importdncia de que se se- veste, se equipara ao dever da verdade. “ Cumpre, porém, esclarecer que 0 advogado nao est4 obrigado a dizer, em juizo, toda a verdade, de sorte a prejudicar o cliente. O dever a que esta adstrito € o de nfo mentir. -Mas, como pondera um escritor italiano —- ANGELO MAIORANO 0s advogados, pela sua qualidade de representantes das partes, tm 0 dever de expor, nfo j4 a verdade inteira e absoluta, mas sobretudo aquela porgio da verdade que possa estar contida nas razbes de seus clientes. A verdade completa, absoluta, cabe, no campo teérico, aos profes- sores, € no terreno pratico, aos juizes, mas no aos defensores das partes. Alias, como j4 nos referimos, SAO TOMAS DE AQUINO, ao tratar do problema da causa justa ensina: “Ao advogado que defende uma causa justa, é Mcito ocultar, prudentemente, 0 que poderia prejudicar 0 seu processo; nao lhe é Icito usar de falsidade alguma.” Respondendo a MEDEIROS ALBUQUERQUE, em “Amnistia in- versa, Caso de Teratologia Juridica,” 2° ed., 1896, doutrinou RUY BARBOSA; "No meu papel de advogado, porém, a parcialidade era a atitude natural, Vali-me de um principio, de uma regra, de uma sentenca, onde eles pudessem aproveitar aos meus constituintes, era 0 meu direito e a obrigagio do meu cargo. Essa necessidade profissional pode autorizar o patrono de uma causa a nao expender a verdade toda: = 0 que se lhe nao permite é afirmar o contrario da verdade” — pig XI do prefacio, Ao dever da verdade, do advogado para com o juiz, ¢ 0 que mais realce se deve dar, face As contingtncias da época em que predomina a imoralidade inflaciondria, em que ninguém quer obedecer a lei € nem viver segundo os preceitos morais. © advogado no pode iludir o juiz da causa, deturpando citagdes doutrindrias, fraudando ementas de acérdaos, alegando em falso. Sao faltas graves de ética, porém, mais graves serao ainda aquelas que induzam o juiz a acreditar que a doutrina ou a jurisprudéncia acobertam a causa defendida pelo advogado desonesto, no tendo 2 outra parte, sendo em futuro recurso, a possibilidade de desmascarat a mentira, de restabelecer a verdade, 110 Scanned with CamScanner advogado é o traco de unio entre o juiz e a parte. © advogado deve apresentar ao juiz, para persuadi-lo a aceitar os seus argumentos, os fatos como verdadeiros. No tocante a esse dever da verdade, ha um conselho a que se refe- rem todos 0s monografistas da profissio: — 0 primeiro dever do advo- gado é ndo enganar os juizes; pois ndo deve esquecer-se jamais de que é um elemento indispensdvel & administragéo da justica. Mas, essa verdade pode, nfo raro, apresentar-se sob diversos n- gulos. Invocamos, a titulo de esclarecimento, uma lenda descrita por PEDRO LESSA, ‘a0 examinar as relagdes entre advogados e juizes: — “Dois cavaleiros, caminhando um ao encontro do outro, em uma ave- nida, na qual se erguia a estitua de Marte, armada de um escudo, de um lado de prata e de outro de ouro, furiosamente se engalfinha- ram, porque cada um sustentava ser 0 escudo somente do metal que podia ver do seu lado”. — “Biblioteca Internacional de Obras Céle- bres,” vol. XI, pag. 1049. Se, no seu ministério, 0 advogado presta servigo ptiblicn, constitu- indo com os juizes e membros do Ministério Publico, elemento indis- pensdvel administragdo da Justica, nao se pode admitir que o advo- gado, no desejo justo de ver triunfar o cliente, use de processos imorais, desservindo & Justica, de cujo funcionamento é peca essencial. J. PINTO LOUREIRO, prefaciando a traducio de “O advoga- do” de HENRI ROBERT, cita incisivo ensinamento do grande basto- nario francés, no sentido de que nada justifica 0 desdobramento psi- quico da parte do advogado, estando, por um lado, no conhecimento da verdade e, por outro, na defesa dq mentira, como se fora come- diante representando no palco. i : Na verdade, aquele que transige com a consciéncia, usa da auto- ridade, desfruta da posigio de pega essencial a distribuiczo da Justica, para enganar, é profissional desprezivel. Nao se admite a justificativa maliciosa de que o advogado quando dissimula, quando distorce, quando desvirtua, ele nfo 0 faz em pro- veito proprio, mas na defesa de legitimos interesses de clientes. £ falsidade que deve ser combatida. O advogado pleiteia perante a 12 Instincia ou o Tribunal, no exercicio de fungao publica, objeti- vando esclarecer 0 juiz, colaborando na distribuicdo da Justica. Ele ndo pode enganar a Justia — de que é elemento indispensdvel — pois que ela se baseia na verdade € ndo na mentira, Nao age no interesse do cliente, pretendendo o amparo da Justica, apoiado na mentira, porque o advogado no é mandatdrio daquele, pois se o fosse estaria, juntamente com o mandante — 0 cliente — incurso no Cédigo Penal. Ele assiste a0 cliente e, nessa sua missio, o crime que pratica é de sua exclusiva responsabilidade (n.° XXV do art. 103 do Estatuto): — "Constitui infragao disciplinar, praticar, no exercicio da atividade pro- fissional, ato que a lei defina como crime ou contravencio. iL Scanned with CamScanner Aplica'se, ainda, na espécie, 0 prescrito no art. 127: “A jurisdigio disciplinar estabelecida nesta lei nao exclui a jurisdigéo comum, quan. do 0 fato constitua crime ou contravencio.” © desejo de ganhar a demanda nio deve — adverte CREMIEU — jamais ir a ponto de o advogado usar de meios que a consciéncia Teprova. ; Q nosso Cédigo de Etica, como vimos, pune como falta o advogado que alterar maliciosamente ou deturpar o teor de depoimento, do- cumentos, alegacses do ex-adverso, citagio de obra doutrindria, de ementa jurisprudencial, de lei ou de.sentenca, que redigir infielmente, depoimento ou declaragao; em suma, por qualquer. modo, iludir, ou tentar iludir, 0 adversdrio ou o juiz da causa. : Segundo COUTURE, “O proceso & a realizagio da justica, ¢ nenhuma Justia pode apoiarse nd mentira’. ‘io afirmar, conscientemente, coisas contrérias A verdade, “nao estio prescritas, segundo PIETRO DE CASTRO, em nenhuma lei. positiva, mas so imanentes, cuja violagio implica quebra de normas de ordem superior, todavia mais elevadas que a do Direito Positivo”. Na observacio de COUTURE “existe, efetivamente, um dever de dizer a verdade, com texto expresso ou sem texto expresso, com san- Ges especificas ou sem sangdes especificas”. O dever da verdade, para PONTES DE MIRANDA, nasce entre as partes € 0 Bitado, e nio entre as partes. J4 existe quando existe a pretensio & tutela juridica e comega a ter que ser observado desde que se inicia o exercicio da pretensfo a tutela juridica. Preexiste ao pro- cesso, de modo que jé 0 pode infringir quem expde fatos em petigio inicial ou em agao preparatéria. (2) Nao pode o advogado faltar intencionalmente ao dever da verdade. Nao pode propor demandas temerdrias, nem tampouco levantar inci- dentes para protelar a marcha’ do processo. Se nao est4 obrigado a dizer toda a verdade, esta vedado de alterdla, deformé-la ou nega-la. Sobre o dever da verdade, 0 melhor preceito ético que. conhecemos € 0 contido no Cédigo de Moral Profissional, de Honduras, em cujo art. 42 se dispde: “A conduta do advogado deve caracterizar-se por sua sincéri- dade e honradez; em conseqiiéncia, a verdade deve ser a base fundamental no exercicio de stia profissio.” aatrrr= a0 Gédigo de Processo Civil,” vol. 19, 28 ed., 1988, pas. 12 Scanned with CamScanner

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