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Dana Arnold Introducao a historia da arte Sumario Agradecimentos Prefacio Capitulo 1-0 que é historia da arte Apreciagao da arte e critica O conhecimento especializado.. Hist6ria como progressao ... Evidéncia ¢ andlise na histéria da arte Historia da arte e “cultura visual” A pritica da hist6ria da arte 2.0.0.0 Capitulo 2 - Como se faza historia da arte ....... Historiadores da arte ao longo dos séculos Histérias da arte machistas . O lugar da arte nao-ocidental na histéria Capitulo 3 - Uma apresentacao da historia daarte ........... Capitulo 4 — Reflexdes sobre a historia da arte Capitulo 5 - Como interpretar a arte Capitulo 6 - Como apreciar a arte Esbogos e desenhos... Pintura com témpera Pintura a dleo Escultura: modelagem, mee e = fandicts ae Como 0 conhecimento técnico alimenta a histéria da arte Referéncias bibliograficas Informagoes adicionais Glossario llustragoes Indice remissivo 11 15 15 16 18 21 26 29 43 44 59 60 69 91 105 119 stele wae 12d . 122 124 126 129 131 133 139 141 1 0 que ¢ historia da arte Uma coisa bela é uma alegria para sempre. Keats A arte pode ter uma histéria? Pensamos na arte como algo atemporal, cuja aparente “beleza” ao longo dos séculos tem tido um significado, uma importancia, para a humanidade, ao mesmo tem- po que exerce um fascinio sobre ela, Pelo menos isso é 0 que se apli- ca normalmente a nossa ideia de “arte culta” ou “arte maior”, ou seja, a pintura e a escultura. Esse tipo de material visual pode ter uma existéncia auténoma ~ sentimos prazer em observé-lo em si mesmo, independentemente de qualquer conhecimento de seu con- texto, embora, é claro, observadores de diferentes épocas ou cultu- ras possam ver o mesmo objeto de maneiras contrastantes. Apreciacao da arte e critica Quando olhamos para uma pintura ou escultura, sempre faze- mos as seguintes perguntas: Quem ¢ 0 autor? Qual é o tema? Em que época foi feita? Bastante pertinentes, essas perguntas com frequéncia sao antecipadas e respondidas, por exemplo, nas legendas das ilus- tages dos livros de arte € nas inscrigdes das obras expostas em mu- seus e galerias. Para muitas pessoas, essas informagoes sao suficientes. Sea curiosidade sobre “quem”, “o qué” e “quando” da arte ¢ satisfei- ta, pode-se continuar a apreciar a obra, ou simplesmente sentir pra- zer em olha-la. Para aqueles que também se interessam pelo “como”, informagoes sobre a técnica utilizada — por exemplo, dleo ou témpe- ra (veja 0 capitulo 6) — poderao ajudar a apreciar ainda mais a peri- agao cia do artista. O importante a destacar é que esse tipo de apres 15 Dana Arnold into algum sobre histéria da arte, historia de uma ae pode ser encontrada nas respos “quando” ¢ ssi Fats so expos do tipo de detalhe que aparece nos ca ccogns das coleges dos museus eda galeias, ou naquelesclabora- Mos pra lees de ate, nos quai, talvez, a informagio sobre o patrono original (e relevante) responda também 3 pergunta “por qué?” Leilociros, museus e galerias cosrumam, também, dar énfase & provengncia de una obra de arte: a histéria de quem foi seu pro pretro a quai colegoes a pega pertenceu. Isso funciona como tuma especie de pedigree c pode ajudar a provar a autenticidade da cobra de determinado artista. Todas essas informagics sto importan- tes para se determinar o valor monetério de uma pintura ou escul- ‘ura, mas nao necessariamente para a histéria da arte. ste nao requer conhecimet ‘obra isolada esta contida em si me as questoes “quem”, “o qu da Desse modo, a apreciagio da arte nao requer conhecimento al- gum do contexto artistico; a abordagem “eu sei do que gosto € gos- to do que vejo” do frequentador de galerias mostra-se suficiente. E isso € absolutamente legitimo. Podemos ter prazer em contemplat alguma coisa apenas pelo que ela é, €a arte pode ser absorvida pelo aque se costuma chamar de cultura popular. A apreciagio da ate também pode envolver o processo mais exi gente de critica do objeto artistico com base em seus méritos estéti cos. Normalmente, aspectos como estilo, composi ‘evados em conta; c, de um ponto de vista mais abrangente, se far ferénciaa outras obras do mesmo autor, se conhecidas, ou a artistas do mesmo period ou pertencentes ao mesmo movimento ou estilo. jo © cor sa0 Oconhecimentoespecializado A apreciacao ¢ a critica também esto relacionadas & pericia dos ‘onnaiseur. Por si, 9 nome j& implica algo mais elitista do que # mera apreciacao da arte pelo prazer dos sentidos. Um connaisseu— ou S¢ja, um conhecedor de arte ~ é alguém com conhecimentos 6 frsifcos ou treinamento em determinado campo das belas-artes das artes decorativas © conhecedor de arte pode trabalhar pa 16 Introducao a historia da arte uma casa de Liles ~ todos nds vinos programas de TV nos quals especalstas sto capazes de identifier e precisaro valor de qualquer tipo de objeto, ¢ nao somente de pinturas, simplesmente examinan dlo-0 com atengao ¢ fazendo algunas perguntas a0 proprictitio, Fs- se tipo de apreciacao esti ligado ao mercado de arte e tequer a capacidade de reconhecer o trabalho de certos artistas, algo que afe ta diretamente o valor monetitio da obra Outro aspecto dessa categoria de petitos é sua relagio com 0 que se entende por gosto. © gosto de um conhecedor em relagio 4 arte ¢ considerado refinado ¢ seletivo. Ja 0 nosso conceito de gosto nessa area mostra-se bastante complicado, ¢ est, inevitavelmente condicionado &s nossas ideias sobre classe social. Deixe-me explorar isso melhor. Ja falei sobre a pritica da apreciacao da arte— arte a0 al- cance de todos e que pode ser vista ¢ aproveitada por qualquer um. Em contraposicao, a pericia em arte impoe uma hierarquia de gos- to. Aqui, 0 sentido de gosto constitui a combinacao de duas defini- goes da palavea: nossa faculdade de fazer juizos discernentes em matérias estéticas ¢ nosso senso do que ¢ apropriado e socialmente aceitivel. Entretanto, por essas definigoes, 0 gosto é determinado tanto por aspectos culturais quanto socias, de modo que o que € con siderado esteticamente “bom” ¢ socialmente “aceitivel” difere de ‘uma cultura ou sociedade para outra. O fato de o nosso gosto ser de- terminado culcuralmente é algo de que temos de estar conscientes, ¢ essa nogao permeia todo este livro. Aqui, porém, ¢ importante pen- sat na dimensio social do gosto como algo que tem mais a ver coma arte como um processo de exclusio social ~ tendemos a nos sentir intimidados quando nao sabemos quem ¢ 0 artista, ou, pior ainda, ‘quando nao nos sentimos emocionalmente tocados pelo “primor 4a obra. Todos nés ja lemos algo sobre as sentencas categsricas pro- feridas por alguns desses especialistas ou ouvimas falar delas. Feliz mente, entretanto, 0 mundo deles nao faz parte da historia da are Ao contritio: a histéria da arte é matéria aberta, a disposigio de (o- dos os que estejam interessados em admirat 0 visual reflecir sobre cle € compreendé-lo. Minha intengio neste livro é desctever como Podemos, por esses caminhos, nos envolver com 2 arte W er Dana Arnold Historia como progressao Paraque arte tenha uma hist6ria, esp ra-se dela nao s6 um ca. str aumpor as também algun tipo de sequencia ou propa tao. Hi que € 80 que “histria™ sugete, Nossos livtos de histong we ples de eventos do pasado que nos So apresentadoe quay como parte de um movimento continuo em ditesao ao progrene ue como histrias de grandes homens ou de épocas que se devs am das outtas~ por exemplo, o Renascimento italiano ou o llum: mismo. Com relagio a €ssas formas cristalizadas de pensar sobre » pasado, a histéria da arte no nos desaponta. No encontto desss ‘dus vertentes, demos ver como a hist6ria reorganiza a expetién cia visual, fazendo com que assuma uma série de formas. A mais po- pular delas opta por escrever sobre a histéria da arte do ponto de vista de artistas ~ normalmente “proeminentes”. Como alternativa, percebemos que os historiadores procuraram definir as grandes épo- cas esilisticas na histéria da arte ~ por exemplo, o Renascimento, 0 Barroco ou o Pés-impressionismo. Cada uma dessas tradigdes pode ser descrta independentemente das outras, ¢ elas forneceram uma «spinha dorsal para as hist6rias da arte. Uso o plural aqui, pois 0s r- sultados de cada um desses modos de registrar a histéria da arte sio diferentes, recaindo a énfase no que é considerado mais importante ~ em alguns casos, 0 artista, em outros, as obras ou o movimento 20 qual elas pertencem. (O problema em nos concentrarmos nos elementos formais, tis como o estilo, € que o préprio estilo vira o tema da discussao, em lu- gar das obras de arte. Quando nos tornamos preocupados em dest car mudangas de estilo, temos de usar nosso conhecimento do que velo depois da obra em discussao. O conhecimento do estilo ulterior € esxencial aqui ~ pois de que outro modo poderiamos saber que WT intetesse incipiente na natureza ¢ no naturalismo na arte dos prime? dios do Renascimento italiano prefigurava as conquistas consi dos artistas do Alto Renascimento a esse respeito? Q trabalho © quadro te refer 'm dois titulos: um descreve o seu tema, 0 outro faz “nels 8 familia que © encomendou. E curioso notar que 0 pin- YFPei 29 Dana Arnold 5. Adoragao dos magos (1423), de Gentile da Fabriano, é também conhecida como Retabulo Strozzi. Originalmente, localizava-se na capela da familia Strozzi, na lgreja da Santissima Trindade, em Florenca. ‘or, nesse cas0, vem indiscutivelmente em terceiro lugar, mostrando como artistas menos famosos podem ser relegados a um segundo plano quando outras preocupages na elaboragio da histéria da 3° te se destacam. A estreita relagio entre o patrono e a pintura pode nos levar a questionar a motivagio para essa imagem. O tema =? adorago dos magos, em que trés reis vém prestar homenagem 20 r sus menino ~ é baseado no Novo Testamento ¢ constitu um es dio importante na fé crista. A imagem de Gentile capt &° momento, j4 que os reis se ajoelham para mostrar respeito 40 Me" no Jesus. © que enfatiza o reconhecimento deles de que cle °° senga de Deus na Terra, Na verdade, a maior parte da arte pros ito ao men Introducao a historia da arte naldade Média no Ocidente era religiosa ~ compreendendo tetabu los ¢ afrescos em capelas, como também elaborada manuscritos. Embora a obra date do comego do Renascimento. Gen tile mostra uma afinidade com essas tradigées mais antigas no estilo fe material empregados, © que implica nao haver rupturas claras er tre um periodo artistico & 0 seguinte Uma abundancia de folhas de ouro € a riqueza de cores realcam a aparéncia de joia do retébulo. E facil imaginar como essa pintura, em sua ornamentada moldura dourada, aparentava uma imagem ‘magica, ao ser iluminada pela luz de velas na capela da familia. O uso de material tio espléndido — folhas de ouro verdadeiro para actesce tar destaques na pintura ¢ para recobrir a moldura, além de pedras semipreciosas como o lépis-lazili, que era moido para se obter o in tenso azul tao predominante na pintura ~ nos diz muita coisa Em primeiro lugar. 0 patrono deve ter sido rico o bastante p2 ra poder arcar com esses materiais caros ~ sabemos que pinturas co- ‘mo essas eram vistas como simbolos de riqueza, jf que nos contratos entre 0s artistas ¢ os patronos frequentemente havia cléusulas indi- cando quanto ouro ¢ pigmentos semipreciosos deveriam ser usados No caso dos membros da familia Strozzi, abastados comerciantes flrentinos, sabemos que foram patronos entusiastas por muitas ge rag6es (hd um outro Retdbulo Strozzi, mostrando Cristo entroniza do com a Virgem e os santos, de Orcagna [Andrea di Cione]. datado de 1357, que permanece em seu local de origem em Santa Maria Novella, em Florenca) Em segundo lugar, o efeito decorativo da pintura de Gentile ‘como um todo acrescenta muito ao seu aspecto luxuoso. Se olhar Mos para ela de relance, 0 fundo, 0 primeiro plano ¢ todas as fi "35 parecem formar um rico padrio ao longo do quadro, como se a trama de um tecido. Essa aparéncia de desenho de estampa- 2 Na superficie da pintura mais a opuléncia dos materiats ¢ 2 1ma- Bem chapada (nao hi ilusio de espago ou profundidade nessa Pintura) sio caracteristicas de um modo de pintar conhecido como ‘Bice internacional”. Aqui, como em quase toda historia da arte, ‘nternacional” se refere apenas ao Ocidente €, newe Caso Particle u » Dana Arnold lar. 3 Europa, uma vex que a América nao era conhecida quando 4 obra foi criada, Essa visio do mundo comega a nos conta algo so bore como as historias da arte foram esctitas, ce uma perspecting muito ocidental, baseada em ideias ocidentai dle valores que uma sociedade e uma cultura dominadas por homen, desejam ler e enxergar nas proprias obras. Um dos objetivos deste | vro é mostrar que podemos pensar sobre os mesmos objetos de ma- neiras diferentes e mostrar sua riqueza e valor como evidéncias ou documentos histéricos, A segunda pintura que escolhi é conhecida como As meninas (c. 1656-1660; figura 6), de Diego Veldzquer. Uma vex mais, depa- ramos com uma obra de arte com mais de um nome. Na verdade, trara-se de um retrato da familia do rei Filipe LV da Espanha, e ape. nas em um catélogo da colegio real de pintura, feito em 1843, por Pedro de Madrazo, o titulo Las meninas (que equivale a “As damas de companhia’) foi dado a obra Nessa pintura, 0 artista se torna mais proeminente do que seu tema, nao s6 porque sabemos que esse trabalho foi uma de suas com énfAse N05 tips obras-primas, mas porque ele préprio se incluiu no quadro. Néso vemos de pé, atrés da tela, & esquerda da pintura, olhando em nos- sa diregao. $6 podemos concluir que seus patronos teais estavam satisfeiros por Velézquer ter-se incluido nesse retrato de familia ~ cle é, na verdade, uma das figuras dominantes, a0 passo que 0 € rainha s6 sao vistos refletidos no espelho ao centro da parede do fundo, A inclusio de tao dbvio autorretrato demonstra o tipo de status que os artistas poderiam alcangar, nao apenas como pintores da cor fe, como € 0 caso aqui, mas, de maneira mais geral, quando atinge™ quase a condigao de celebridade. Sua reputasdo pode prefigurat 0% aé sobrepujar, seu trabalho, Isso ainda ¢ assim nos dias de hoje, &™ que lembramos o nome de artistas mais répido do que o titulo suas obras ~ exemplos noraveis sio Damien Hirst ou Tracy Emin Mas nao ha duivida de que Velazque? é tido como uma das maior figuras na historia da arte ocidental. Ele é particularmente aprec® do pelo tratamento que da a tinta; ha um alongamento em st 32 6.Asmeninas (c. 1656-1660), de Diego Velazquez .Oartista se incluiuno reat ddefamitia do rei Filipe W da Espanha. Pinceladas que é vagamente impressionista. Na verdade, Edouard Manet, um dos fundadores do movimento impressionista na Fran- Be aaere 2 Espana ¢ foi profundamente influenciado pela obra Velazquez, = baie também na mancira como a luz ¢ explorada: senti- Torin Penetta pels janelas diteta do quadeo ¢ destaca a ga- No centro, Notemos como a porta aberta no fundo traz uma Fonte de luz iferente para a pintura. As meninas também suscita al- Sumas questoe : Pre ter em mer Pago ou pro} 's importantes sobre o espago pictorico. Devemos sem- ‘te que a superficie da pintura ¢ plana ~ toda nogio de fundidade ¢ ilusdria, Alguns artistas tém pouco interes- 33 —_ eee Dana Arnold se em tentar criar a ilusio de profundidade ~ ou “uma janela para 6 mundo”, como chamam alguns. Outra olhada em Gentile revela que bhi pouca ilusao de espago pict6rico as figuras esto amontoadas contra a superficie plana da pintura. Em contrapartida, Veldzquez criaailusio de uma sala utilizando-se do recurso-padrao da perspec: tiva linear. Mas hé muito mais nessa pintura, Presumimos que 0 que esa mos vendo é a prépria visio que Velizquez tinha de si e de seus mo- delos no espelho que usou para fazer seu autorretrato. Isso pode cexplicar por que a luz vem do lado dircito da pintura em vez de vir do lado esquerdo, 0 que era muito mais comum na arte ocidental ~ vemos 0 reflexo da cena real no espelho. Entretanto, 0 rei ea rainha aparecem na pintura refletidos no espelho que se encontra no cen tro da parede ao fundo. Entao, quem de faro Velézquez enfocou? Podemos achar que é a garorinha, jé que cla estd no centro e ¢ des tacada pela kuz, mas o artista olha além dela, talvez na diresao das fi guras que s6 podemos ver no espelho. Nés, os observadores, somos atraidos para dentro desse conjunto de relagoes espaciais ¢ compos: tivas, enquanto o artista olha em nossa diresio — como se estivesse pincando 0 nosso retrato ~, e nds olhamos de volta, assumindo o p= pel do rei ¢ da rainha refletidos no espelho. Esse aspecto levantou importantes quest6es na hist6ria da arte Em particular, hé a ideia de arte como ilusio ~ 0 que estamos de fato vendo sio pinceladas sobre a tela; o restante se faz com o* nossos processos cognitivo ¢ intelectual, que dao & pincura esse $8 nificado ~ no que diz respeito ao reconhecimento dela como wi trato e das maneiras com que ele mexe com nosso senso de percePs2? A Adoragio, que pintada em um painel, dé ailusio de tecido ¢)8 num quadro chapado do qual ficamos de fora; a destreza do arse std dissimulada na superticic lisa da pintura e nos ricos materi Ao contrario, As meninas, pintado sobre tela, cria tu Ce plexa de espago tridimensional que tanto nos atrai quanto NOS be ta, Temos bastante consciéncia nao s6 do artista como também ©? modo como a tnta foi aplicada na rela, com largaspincelads <1 do um efeito realist ma ilusio 34 Introducao a historia da arte Quero agora falar de representagoes do mundo e de ideias. exe entes, € para isso escolhi uma escultura eutadas em materiais difel clissica € uma instalagao recente. © Apolo de Belvedere figura 7) talver seja uma das esculturas is conhecidas do mundo antigo. Isso se deve sobretudo i sua im mai pressionante aparéncia ~ tem mais de dois metros de altura ¢¢ feito inteiramente de marmore branco, E a imagem de Apolo, um dos 12 deuses do Olimpo, que representava o espirito grego classico, simbo lizando 0 lado racional e civilizado da atureza humana 2 Umadi 40s mais conheci ‘onhecidas esculturas do mundo antigo, o Apolo de Belvedere rapass 2330 dois metros culo vee 21 MEt05 de altura, € cépia romana de um original grego do sé 35 —_ ae Dana Arnold Embora haja muitos mitos que narram os episédios da vida de Apolo, 0 nome dessa escultura vem do lugar onde era exibida. Fica va no Patio Belvedere (hoje parte do Museu Pio-Clementino), cons. truido para 0 papa Jilio I] em 1503, a primeira da colegio papal de estatuas da Antiguidade a ser colocada ali. E uma cépia romana de um original grego do século V AEC. Deve ter sido esculpida por Le cares, entre cujas obras citadas por Plinio figura um Apolo usando um diadema Como irmao gémeo da deusa Artemis, também conhecida como Diana, Apolo era a representacao da perfeigao fisica mascu lina, assim como sua irma representava a contraparte feminina Essa escultura, com certeza, explora a ideia de perfeigao fisica - 0 acabamento liso do marmore contribui para a ilusio de carne ma cia, de misculos ¢ do rosto idealizado e sem macula do deus. O contraste entre as dobras do pano ¢ a lisura da pele enfatiza a tex- tura de cada um ¢ a destreza do escultor em fazer com que a pe dra dura aparente ser duas substancias bastante diferentes, Embora essa imagem de Apolo, como outras estituas masculinas da Ant guidade, tivesse a intengao de celebrar a perfeigao do fisico hums no, aqui o recato de Apolo é demonstrado pela folha de Figueira sobre sua genitilia, No original grego é improvavel que exists se uma folha, mas a certa altura, posteriormente, uma mudanga de atitude em relagao a nudea e a representagdes do corpo ¢ da sexu lidade exigiu que a folha de figueira fosse acrescemtada, ¢ ela pet ‘maneceu no lugar. Pode parecer estranho que junto dessa perf lizada haja um tronco de drvore tao pouco atraente, Diferente te do contraste entre a capa e o corpo de Apolo, 2 textura do acrescenta pouco A imagem. Um exam mais atento revela que tam a figura o antebrago direito ¢ a mao esquerda. B isso comes? * nos dar pistas da razio para o tronco estar ai, As esculeuras dePe? I de que sao feitas, O mirme ididos, pols *© Na verdades# o; cer também feigao humana idea men dem da resisténcia duictil do material re mio € muito bom para esculpir membros esten quebra com facilidade, como vimos nesse exemple. capa nao funciona apenas como recurso compositive 36 Introducao a historia da arte uma aplicagao pritica, sustentando 0 brago estendido de Apolo Considerando 0 equilibrio e as caracteristicas do material da escul tara, 0 taco é €Nt20, OUKTO FecurSO para sustentar 0 peso do con junto, Pademos julgar a vulnerabilidade da escultura pela perda do eebrago dircito, O tronco de érvore destoa do restante da compo sigio do mesmo modo que afolha de Figueira, como se tivessem st do acrescentados depois. Dessa ver, temos praticamente certeza de que foi o copista romano o autor desse atéscimo,jé que 0 original rego deve ter sido forjado em bronze ~ material com maior resis- téncia diictil, necessdria para se conseguir esse tipo de pose. Uma das consequéncias do uso do marmore no lugar do bronze € hoje acharmos, etroneamente, que todas as esculturas clissicas eram brancas, reforcando a ideia de que a arte clissica € pura, simples e, em razao disso, de valor perene. O Apolo de Belvedere agora comeca a revelar bastante sobre uma série de aspectos da histéria da arte. Para comeco de conversa hia questio do re-emprego ¢ da reinterpretagao das formas clissi cas a0 longo do tempo. Basta vislumbrar Apolo como um exemplo puro da escultura grega. Em geral, a Grécia € a Roma antigas evo- cam a nogio de mundo clissico — isso localiza com precisao um Periodo no tempo. Mas o termo “classico” também tem conotagao de apogeu ou de exemplo excepcional que se ajusta a um estilo ¢s tito e refinado e tem uma qualidade que desafia 0 tempo. A asso- ‘lagao da arte da época clissica com esse juizo de valor langa a ideta dle que “clissico” € melhor. E podemos comprovar que o interesse Por ese estilo de arte, no seu sentido mais amplo, perdurou. Os manos copiaram ou adaptaram muico da arte € da arquitetura panes verdade, a maior parte do que sabemos sobre a escultu- Finan neBU até nds por intermédio de e6pias romanas de oF s Bregos. pa de ascent, quando 0 interesse pelo mundo clissico go- lo papa pan gpotscimento generalzado, 0 Apolo foi adquirido pe obra eae nia sua colegio de esculturas.O interese pelas *oropradas pana intiguidade era tal que elas eram consideradas colegdes cristis, inclusive a de propriedade do Va 7 etn cnneemeeeh tee Dana Arnold no, apesar de incluirem imagens de deuses papins A pose do Apolo, como a de muitas outras esculturay clissc ae 8, f0i copiada g usaht como referencia por artistas, esctltores, pintores ¢ pravadon a8 Formas sadas, reinterpretadas © até mesmo rcjeieg day em varias épocas. A pose ness dle getagdes posteriores. Isso nos di uma ideia de como clissicas foram re cultura é um exemplo do con traposto chissico, em que um hido do compo faz 0 oposto do que o outro executa, O lado esquerda de Apolo est aberto, com o braga estendido, enguanto o dieito esti Fechado, do mesmo modo que seu peso repousa sobre um ds pés somente, algo que também trans. nsagao de movimento, © Apolo de Belvedere também revela algo sobre o surgimento do interesse em colecionar ¢ expor obras de arte ~ 0 que nesse caso in fluenciou até mesmo 0 nome da escultura ~ ¢ sobre como a reuniio de objetos artisticos deu proeminéncia a certas obras ¢ as disponibil. zou para os artistas as copiarem e aprenderem com elas, As colegoes do Vaticano sio importantes nesse aspecto, jd que, a partir do século XVI. 0s artistas visitavam Roma como parte de sua instrugao Outto aspecto da histéria da arte que © Apolo de Belvedere in- woduz éa iconografia, um importante método para entender 0 sn tido da arte, Iso seri discutido mais profundamente no capitulo 5, fciente dizer que se trata do estudo dos temas das mite mas por ora € sul narrativas descritas na arte, sejam elas religiosas ou seculates. Jé vi mos como isso funciona com a Adoraedo dos magos, de Gentile ~ 2 historia por tris da imagem. A iconografia também pode incluir 0 estudo de certos elementos de uma obra que atuam como pistas ot simbolos do que esté acontecendo ou de quem ¢ o retratado, No e- so do Apolo, se jé nao soubéssemos que se trata da imagem de um deus greco-romano, poderfamos chegar a essa conclusio gragas 4 dobservacio da coroa de louros, dada a Apolo em reconhecimente por seus éxitos nas artes ‘Meu quarto exemplo € a instalagao de uma artista que este 4 frente do movimento feminista. O jantar (figura 8), de Judy Chicago, foi exibido pela primeira vez em 1979. A primeira vis parece um esforco louvavel de chamar a atengio do paiblico pa 38 Introducaa a histiria da arte mulheres famosas. E, sugestivamente, temo acess também a0 fea propria artist fala ca obra, de mode que conhecemos a sua intenga0 Minha ideia para O jamtar nasceu de pesquisas sobte 4 bi séria da mulher, que cu comegara no final da década de 4) 4 postura predominante em relagao a historia da mulher peste ser mais bem resumida pela narrativa que se segue. Quando er estudante da Universidade da California em Los Angele (UCLA), eu me matriculei em um curso intitulado Historia In telectual da Europa. O professor, um respeitado historiador. prometeu que na dltima aula ria discutie a conteibuigaoferini na para 0 pensamento ocidental. Esperci ansiosamente todo o semestte ¢, no iltimo encontto, 6 professor entrou na sala com passadas largas e anunciou: “Contribuigio das mulheres para 2 histria intelectual da Europa: nenhuma Fiquei arrasada com essa frase, e quando, mais tarde, meus estudos demonstraram que a avaliacio de meu professor nao re sista a um escrutinio incelectual, convenci-me de que aideia da ‘mulher sem histéria alguma ~ e a conviesio decortente de que ‘nunca houve grandes artistas mulheres ~ era simplesmente um Preconccito clevado a dogma intelectual, Suspeito que a princi pal causa de muitos aceitarem csss ideias€ jamais terem ropado com uma perspectiva diferente Assim que comecei a descobrir 0 que provou ser um ines- Perado resouro de informagées sobre a historia da mulher, ga: hei, um s6 tempo, auroridade no assunto ¢ inspiragio. Mew Intenso inceresse em dividir essas descobertas por meio de mi nha arte me levou a imaginar se 0 aspecto visual das imagens Poderia exercer um papel na mudanga da mentalidade domi namte em relagio as mulheres ea historia da mulher. Judy Chicago, The dinner party (1996). p. 3-4 A mes st de jantar ei a conjuntos dee oetat eiangular de Judy Chicago é composta por de“trabalhos”tradicionalmente femininos. ais como bor 39 see etreca Dana Arnold 8. Abra O jantar, de Judy Chicago, foi exibida pela primeira vez em 1979.0 ‘Museu de Arte Moderna de San Francisco. dado e cerimica, com 0 nome de mulheres famosas, como Virgin's Woolf e Doris Lessing, em cada lugar. Pode parecer uma iniciatia Jouvavel, mas — olhe mais atentamente ~ sobre cada prato, as fruras¢ fe oldes da flores, que a primeira vista soam bem inofensivas, formam mold genitilia feminina, Essa referéncia alegérica ao sexo feminine < flores ¢ frutos tipifica a feminizagao da arte, jé que ais elementos considerados decorativos e domésticos. A obra de Judy Chicago te" ¢ ainda tem seus criticos. Algumas feministas acham que ela retratt de incluila aspecto biolégico como um destino inevitavel. A razao é : a historia aqui € que cla levanta importantes questoes a respeito da hist 40 ntroducao a historia da art sbvia mostra que a arte pode ter uma intengao franca ce. A mais 6 arte. Mivjgca € ser um meio bastante provocativo de expor idetas met ay usa a eécnica de desestablizar 0 observador, ji que 0 qu earn ca principio aparenta ser comportado demais, para logo deixar de ser familiar uestao da participa 10 Pato facil que a mulher ¢ os integrantes de minorias se a arias da historia da arte. Isso implica que 0 t6pico e se tornar perturbador. A obra também suscita a ao da mulher ¢ de outros grupos minoritérios em subs tornem su ‘© homem ocidental branco, como tema, artista ¢ histo rincipal € ron O que se segue neste livro contesta essa visto. 0 jantar também nos fala da natureza efémera da obra de arte trata-se de uma instalagao sem local permanente, Uma existéncia pastance fragil. mas, como sua mensagem hoje em dia esti datada cu nio é bem-vinda aos olhos de muitos, permanece encaixorada ¢ Tonge das vistas. Isso levanta nao $6 a questa de moda € gosto, co mo também a da relagao entre artistas € obray de arte quando nao ha patronos nem galerias, Minhas qu ro imagens apresentaram a maior parte do que se ri abordado neste livro. Todas demonstraram de maneiras diferen tes que a histéria da arte nao consiste apenas em descrever imagens que representam o mundo que julgamos ver. O assunto é bem mais rico e complexo. E um meio de e a cultura ¢ a sociedade de diferentes Epocas e perceber como pensamos sobre esses periodos ¢ como os pontos de vista mudaram ao longo do tempo. A enorme sé fie de k6picos possibilita usar a histOria da arte para pensar nessas questées em je4o a temas como vida ptiblica e privada, priticas teligiosas ¢ seculares, ativi al. Os ca. as diferentes perspectivas da histéria mo politico ¢ dominagao culty Pitulos seguintes exploram e: da arte. Mas, no ¢ apitulo final, termino onde comecei, com os ob» Jecos em si, descrevendo como, a luz de varios aspectos da disci aban Acetevendo como alu d aspectos da disciplina livro introduté mos “ler” a histéria da arte odutério, podemos “ler” a histéria d Pelas obras, a el Como se faz a historia da arte Nos tiltimos anos, a comunidade académica tem se preocupa- do com a historiografia, ou seja, 0 estudo da historia ~ ou historias — da arte, mais do que com 0 proprio objeto da disciplina, Trata se de uma preocupagao relevante que tn certos pontos encontr: correspondéncia com as questées levantadas ne € capitulo. Aqui desejo destacar as diferentes estruturas narrativas da historia da ar te para examinar as arias manciras como ela pode ser escrita. E: sas formas de escrever foram comentadas no capitulo anterior. err que se mostrou que as abordagens com énfase na biografia de de terminados artistas ou no estilo constituem estruturas narrativas populares ¢ persistentes na historia da arte. Além disso, leva questio de como lidamos com objetos visuais usando palavras Quero tratar agora das maneiras como as historias da arte foram claboradas para descrever a arte ¢ Ihe dar um contexto. A partir dai, discutirei no capitulo 4 — que tem pontos de contato com te capitulo — varios modos de pensar sobre a disciplina de que te livro se ocupa. Ha trés pontos Principais que desejo examinar aqui. Em pri- meiro lugar, cito exemplos de tratados sobre historia da arte produ- ‘tados ao longo de um vasto periodo para vermos 0 que 0s escritores tem, de fato, em comum e, também, para constatarmos as diferen- as entre eles. Depois, avalio como 0 género € 0 machismo in mo desenvolvimento da histéria da arte. Por ultimo tessalto a importanci. Progresso ¢ de MAS Sa0 escrit flucnciara a de refletirmos sobre nossas expectativas de evolugao da arte em relacdo a0 modo como as histo- d as. Assim, podemos perceber como as varias maneiras © esctever sobre a historia da arte alteram a forma de ver um obje- te refle © refletir sobre sua historia UFPei 43 Biblioteca ™ Campus Pore SS S=_E_" Dana Arnold Historiadores da arte ao longo dos séculos Gaius Plinius Secundus, conhecido como Plinio, © Velho (23/24-79), foi um escritor romano cuja Histéria natural, em 37 volumes ¢ dedicada ao imperador Tito, ¢ uma das obras mais co nhecidas sobre a arte € a arquitetura do mundo antigo. Como su gere o titulo, o alentado trabalho se ocupa, em especial, da historia natural do mundo greco-romano, mas abrange também a arte. Na Ikélia da época do Renascimento, muita atengio foi dada as fontes textuais sobre a arte da Antiguidade. Havia uma grande quancida de de textos passiveis de consulta, mas de alguns 6 restavam frag mentos, € outros s6 estavam disponiveis em grego. Os volumes enciclopédicos de Plinio, a0 contririo, haviam sobrevivido intactos ¢ tinham sido traduzidos para 0 italiano em 1476, 0 que tornou 0 acesso a eles muito mais facil. Em consequéncia disso, a atencio que Plinio dedicou a discusséo de arte assumiu uma importancia desproporcional em relagdo aos objetivos da obra como um todo. Mesmo assim, a Historia natural teve influéncia significariva nao 36 no desenvolvimento dos trabalhos escritos sobre arte como tam bem para a propria arte. E as descrigdes que Plinio fez de objetos artisticos ajudaram na identificagao de esculturas antigas di tas durante o Renascimento ¢ também em épocas posteriores. Edi ficil imaginar como proceder se nao fossemos capazes de recon! Belvedere (figura 7). Entte coor lescober jeconhecet ‘0 tema de esculturas como o Apolo de tanto, do Renascimento até o século XVIII, s6 uma cuidadosa denacio entre 0 registro escrito das descrigGes ¢ as escultuas remanescentes tornou possivel sua identificagio. Como esses 3n0"! mos fragmentos do passado devem ter sido atracntes ¢ er i gmaricos Nao muito diferente da arte pré-historica sobre a qual cespecla mos hoje. Plinio também deu atengao aos detalhes biogrificos dos 2% tas, Mais digno de nora, seu relat sobre o pintor Apeles influen? o Renascimen'© bastante a formagao dos valores artisticos durante ee O surgimento da figura do artista como alguém de posisa? 7 i abalho foram co” prestipiosa e urna abordagem intelectual do seu 1 a Introducao a historia da arte antes do periodo do Renascimento para a arte. Is- para a continuidade da tradigao classica, jd que to da arte da Grécia € ibuigdes impor so serviu tam status artistico ers da Roma ancigas. Plinio foi uma influéncia importante para Giorgio Vasari (1511 1574), escritortido como dos mais respeitados ¢ resistentes a0 tem aque escreveram sobre arte. Pintor ¢ arquiteto florentino realgado pelo conheci po entre os ep frequentemente é visto como o primeiro historiador da arte, € sua Sora, Vidas dos mats excelentes pintores,escultores ¢ argutetositalianos ug hoje se encontra & venda, constituindo uma valiosa obra de rete réncia para nosso conhecimento sobre os artistas do Renascimento. Vasari tinha consciéncia de seus antecessores nesse tipo de empreita: da, inclusive da Histéria natural de Plinio, como atesta Deixei de fora muitas coisas encontradas em Plinio © em ‘outros autores, as quais poderia ter usado caso no desejasse, talvez de um jeito polémico, permitir a qualquer um descobrir por si sé o pensamento de outros autores nas fontes of i Mas suas biografias acabaram tendo destino semelhante 2o de suas Fontes antiga, jd que a primeira tradugao para o inglés de Vi- + em 1685, logo se tornou um modelo de como escrever sobre ar te no mundo pés-clissico poteads Vasari, como se sabe, compreende trés partes. A pri- inet dels retata Cimabue e Giotto, que trabalharam no que Va- crime @ "enascimento” das artes apés a Idade das Trevas. A ends pare discute o periodo que agora chamamos de Baixo Re- eae ¢ inclui os pintores Masaccio ¢ Botticelli, 0 arquiceto pices a a arquiteto ¢ teérico da arte Alberti. E im: drguictane dats havia pouca diferenciagao entee as privicas da Bl baie pi ne da escultura nessa época, ¢ muitos “artis- Im as trés (Vasari, po thojeda Calan co re por cemplo desenhou o prédio que em Florenga). A parte final comeca om Leonard ta chan nn? 4 Vinci € trata dos an aman Alto Rest do eit pertencentes 40 que a 45 Teen nA Dana Arnold Asescothas de Vasari sobre como organizar seu material tiverayy repercussao na histéria da arte, Ao colocar tanta énfase no “ging thos éxitos de determinado artista, Vasari langou os fundamentos dy hordagem dos conhecedores da historia da arte que discuti ng ca palo 1. Esse autor foi um dos primeiros historiadores a emit jy jos de qualidade sobre a arte para criar um cinone de grandes artist. ce, denteo dele, lstar grandes obras de arte de autoria desses individuos. Para cle, a qualidade se bascava na capacidade do artist, de criar a ilusao de naturalismo © na habi idade técnica requerida ida. Além do mais, como ja desta por esse grau de “beleva” ideali ‘que’ anteriormente, essa abord: atribuigao de obras au m da historia da arte incentivaa artista, ou a influéncia de um artista sobre ilar ‘outro, com base nas sil ules estilisticas ~ se duas coisas se pa das. Para comesar, € importante refletir sobre a ideia de se escrever uma histéria da arte fundamentada apenas na vida dos artistas € se isso nao & de fato, muito mais uma histéria dos artistas do que uma histéria da arte, Claro que Vasari provavelmente sabia muito mais recem, devem estar relacior sobre uns artistas do que sobre outros. E, como todo mundo, tinha ‘0s seus favoritos. No caso de Vidas, isso repercutiu. no modo como a obra foi escrita e na sua influéncia historia da arte, A primeira edigto do livro, publicada em 1550, tinha a intengao de celebrat ¢ genialidade de Michelangelo Buonarroti ~ 0 escultor ¢ pintor rem peramental que assombrou a Tilia do comego do século XVI com sua pintura para decorar o teto da Capela Sistina (1508-1512) ¢08 gigantesca escultura de marmore de Davi (1501-1504) Nea Michelangelo foi o nico artista vivo biogeafado em Vidas q2' da primeira edigio do livro, Ele morreu em 1564, ¢ a segund (40, muito mais conhecida, saiu em 1568. O problema com a trajetéria da histéria ja arte de Vasari se te: depois de Mi sume a simples questao do que aconteceu com aarte IEPON inio? av Icangae chelangelo, Estacou ou entrou em declinio? Uma ver 2 P lui disso auge da perfeigio, aonde iria a arte? Podemos concltt icecao 8 arte tabelecer a ito 038 ideia de progresso artistico ~seja ele em divest petlativa de um individue, como nesse caso, ou um 46 Introdugao a ria da arte apstrato de recriagao de formas clissica, seja a representagad pe Cavel do tema humnano ~ implica haver um fin na historia d: ba Fe ponco levanta uma importante questao sobre as maneiras dees erever qualquer tipo de hist6ria, As hist6rias sao escritas com a van tagem do conhecimento posterior: sabemos 0 que vein ante depois dos eventos examinados. A idcia de quie 05 eventos se desen folam em diregao a um resultado conhecido € chamada de telcolo- gia. Emretanco, a histéria continua além do momento em que o historiador escreve; somos, encio, capazes de reconfigurar os proces sos € as narrativas da hist6ria da arte, Mas jé estou me adiantando. O segundo problema com Vasari é que o modo como ele divi deo desenvolvimento da arte na Itilia de cerca de 1270 a 1570 na verdade nunca foi questionado, Ainda vernos os artistas que ele si twou na parte dois de Vidas como pertencentes a0 Baixo Renasci mento, mostrando apenas 0 come¢o do que via como os aspectos importantes da arte ~ 0 re-emprego ¢ a reinterpretacao da arte da Antiguidade. Mas sabemos que os contemporineos de Vasari nao percebiam tais divisoes entre os artistas do Baixo ¢ do Alto Renas- cimento. Além do mais, 0 autor nao tinha interesse na arte de pe todos anteriores, agora conhecida como gética ou bizantina, nem 2 apreciava. De modo que ha superposicdo ¢ também desacordo cntt a dvisio da historia da arte em periodos especiticos concebi ls por Vasari e as que foram propostas pelos historiadores que vie ram depois. Por exemplo: Giotto foi incluido em Vidas como a brine luce (“primeira luz") do Renascimento, ja que em sua obra sari vislumbrou os primeitos sin. 22, 0 asso tradicio 96 foam, Sotica em virtude de seu interesse nas poses estilizadas © na 1 compostiva desse periodo, bora Vasari nao tenha apontado nenhuma r ts sodas apontado nenhuma rel s para julgar a qualidade Precis 4 aldade dle uma obra c que decerminariam com hegre como a narrativa da *80es subsequentes, Uma breve di destac ais de um interesse pela nature Que, mais recentemente, esse pintor foi enquadrado na lagio entre ar a, ele estabeleceu critérios que podem ser usa- arte tem sido elaborada pe: me perenne scussao sobre esses quesitos an também, uma das maiores influéncias sobre a » 7 i oa Dana Arnold filosofia da arte, © neoplaronismo*, € como ele interagin com a py tica artistica no periodo do Renascimento. Os critérios de Vasari in eluem o disegno — a arte do bom desenho ou tragado. Aqui, Vas usa a concepgao neoplatdnica de que 0 artista tem a idea do objeto aque ele esta rentando reproduzir plantada em sua mente por Deus A obra de arte, seja ela pintura ou escultura, refere-se tanto 20 obje. to que o artista vé quanto a forma perfeita que existe apenas em sua mente. O segundo critério € attra ~a arte como imitagao da natu reza era um conceito novo no século XV. Aqui, também, Vasari in troduz a ideia platénica de que 0s artistas sio capazes de superar a natureza pelo conhecimento das formas perfeitas. O terceiro, gracia ~ ou graga ~ € uma qualidade essencial da arte, como fica patente na suavidade de obras de artistas como Michelangelo. O quarto, de. coro, refere-se 4 decéncia artistica ou adequagao — por exemplo, 0 santo, homem ou mulher, devia aparentar virtude. Isso passoua sig- nificar também uma forma de pudor que exigia que a genitilia de nus esculpidos ou pintados fosse coberta — as vezes, depois de a obra tersido terminada. A categoria final de Vasari era maniens, quesere- fete tanto ao estilo pessoal do artista quanto ao estilo de uma escola especifica. Esses critérios ainda hoje tém grande aceitagao como par te do continuo interesse no naturalismo da arte cléssica, com refle- xos no Renascimento ¢ em fases posteriores. método de Vasari para escrever sobre a historia da arte pet maneceu concentrado nas obras ¢ apoiado na observagio arena do detalhe, acompanhada de fragmentos da biografia do artista. Penso ser iil, nesta alrura, comparar a discusséo efetuada por Vasati de uma determinada obra com a de outro historiador da arte. Eras Gombrich é um dos mais conhecidos historiadores da cultura 60 culo XX. Seu trabalho voltou-se principalmente para 0 Renascims to, ele procurou examinar as obras da cultura (owarte)erudita com como osofica tem Proclo (210485) woes 2 ,andria, ssa escola fi (250-330) € esta nas nsttoses aticas ntrosPet ‘undada por Amdnio Sacas (sé), em Alex principais representantes Plotino (204-270), Jamblico Caracterizava-se pela crenca na transcendéncia divina mani {9052s € na emanacdo e retorno do mundo a Deus por meio de Pt (WN. da revisora técnica) Introducao a historia d caidénca da atemosferaaneclectua mats aberva daquels época, Cor vyieh eambém tinha interesse em : gar ao significado cultural da arte, Como p acusado de conservador e de reforcar antropologia € psicanalise neios de chet aa do Renascimento, tem sido nica, Mas seu trabalho também cobre a psicolo hisedria da arte ca giadaarte,utlizando-se de desenhos animados ede anincis pu Eeirios como evidencia cultura popular a conseiencia de Gombrich das fungoes cambian ddas imagens c da importancia de seu contexto social e cultural imbx ‘ua analise de camadas de significados e nuances, de modo que en contro dificuldade em vé-lo como um tradicionalista. Isso posto, de vo levantar 2 mao aqui € manifestar minhas objegdes ao livro de Gombrich, que é um sucesso de venda, A historia da arte, publi «em 1950 eaté hoje reimpresso. Nele, esse autor estabelece um desen solvimento linear da arte, concentrando-se nos artistas canénicos com pouca consideracao por contextos mais amplos ou por aborda gens tedricas parentes em outras obras suas. Assim como 0 livro de Vasari, A historia da arte é todo construido com base em “homen: eminentes” € “estilo”. O leitor, se é que ainda nao 0 fez, com certeza nio deixard de perceber até o final deste livro as razdes do meu desa grado diante de uma narrativa linear ¢ teleolégica da arte, do tipo “do homem das cavernas a Picass Uma comparagao entre 0 que escreveram Gombrich ¢ Vasari 4respeito de uma mesma obra de arte demonstra‘as diferengas em ashordagem dla historia da arte. Escola de Atenas (figura 9) € um imams? Convenient para esse exerico, ji que se tata de uma ‘omplexa, de interesse duradouro. Rafael, junto com ou ‘10s artistas, foi contratado pelo papa hui c ns mado peo ipa Jtilio II para decorar uma sé- Quer esteja discutindo belas-artes 0 ado os cio — citadas frequentemente como ile = aoe As Pinturas murais, conhecidas por afrescos, al acon eg kbeaters (Cimara da Assinatura), na Stanza Ia de Coma gta do Incéndio) ¢ a Sala di Constancino (Sa Porvolta de rapa) foram realizadas por Rafael ¢ seus asistentes Seghaninas ma an dante. Costuma-se considerar a Stancs dell 'S importante dessas salas, jd que Rafael se dedicou a Dana Arnold 9. Escola de Atenas (c. 1509-1511/12), de Rafael, um dos afrescos que decoram @ Stanza della Segnatura, no Vaticano. mais 3 execugao do trabalho nessa sala. Os dois aftescos principais nessa sala eram a Escola de Atenas a Discussio do Santisstmo Sacra mento ~ cujos temas demonstram uma interessante justaposigio entre o secular ¢ o sagrado, ou pagio ¢ o cristéo. O papa Jilio Il era um entusidstico patrono das artes ~ sua colegio de esculeuras no Vaticano, que inclui o Apolo de Belvedere, foi mencionada no capitulo anterior: © relato de Vasari sobre essas importantes obras de arte 0 seguinte: Nessa ocasido, Bramante de Urbino, que estava erabalhan~ do para Jilio II, [disse a Rafael] que havia convencido 0 paps * construir alguns novos aposentos nos quais Rafael ceria a chan ce de mostrar do que era capaz. Depois de ser recebido muito afetuosamente pelo PaP* Jilio, Rafael comecou a pintar o afresco na Stanza della Seen Introducao a historia da arte que mosira os tslogos comciand 4 flfia © area 7 idos todos os sibios d reg teologia, no qual fora rettatad : indo entre si de varias maneiras. De pé, urn por os, estao alguns aste mde desenhar gos que acab co afasta vinios tipos de Figur icteres relatives a geomancia © 4.4 Trologia em pequenas tdbuas, que cles por intermédio de a Entre os dois grupos encontra-se Didgenes, com ta do nos degraus, imerso em seus pensamentos: € uma figu icional concepgio, que merece os maiores clogios pela pelo esperado desalinho dos trajes. Ali também estio ‘Aristétcles € Platao, um segurando 0 Time 0 outro, a Erica: jos muito belos, para que os expliquem de ¢, ao redor deles, um grande grupo de filésofos. Os astrdlogos ‘eos geometras usam compassos para desenhar indmeras figu ras ¢ caracteres em suas fabuletas; ¢ € praticamente impossivel descrever seu esplendor Em seu livro de 1972, Symbolic images, Ernst Gombrich con fronta e corrige o relato de Vasari Em sua chegada a Roma [...] Rafael “iniciou na Camara [Stanza] della Segnatura uma pintura que mostra os tedlogos conciliando a filosofia e a astrologia ¢ a teologia, na qual foram retratados todos 0s sibios do mundo discutindo entre si de vi n 0 relato de Vasan (... las maneiras”. Essas palavras que haturalmente constituiram a chave da interpretagio desses afres- €08 nos séculos seguintes. Vasari nio apenas instituiu a convic So de que © tema desse ciclo seria de profunda importincia fllosofica como também reforgou a interpretagdo ao isolar os alrescos de seu contexto int ‘tigem dlesse erro: Vasati ectual e decorativo. (...] Sabemos a -ou-se em gravuras dos afrescos (e am consequéncia disso] colocou os evangelistas entre os filéso- fs gregos (.] fe] essa tendéncia persist [..] e, embora os pes: suitors io tenham conscguido chegar a um consenso sobre 'nterpreté-los, persiste a convicgao de que havia uma res 51 s _ Dana Arnold posta nesses affescos que precisa estar de acordo com as ideigy humanistas do século XVI Gombrich atribui toda a culpa pelos mal-entendidos da icono, erafia da stanza a0 relato equivocado de Vasatie 20 mode comm, historiadores que vieram depois interpretaram os components, dividuais da sala ~ 0 teto ¢ as paredes ~ em ver de observar a enn Posigio como um todo, Ele argumenta que, se interpretada dere ieito, a sala, com sua mistura de temas pagios ¢ ctistaos, “nao ter, ocidental linear o™ Jos proble dos mais respeitados filésofos na historia do pensamente propos que a histéria ndo consistia em uma progressi0 inevitavel declis mas enfrentados por Vasari e Winckelmann. ia sido um d io ¢ queda ~ crenga que havi Saeed : Introducan a historia da arte pistria fosse 0 resultado das operagées de um “espirito a arte fosse una das formas pelas qu J termo Zeitgeist (Co espirito da época dirava que do mund s esse espi e que hoje pifestava. ( E Ft aa filosofia da historia de Hegel. Seu sistema € um tae mterpretar nao apenas as obras de arte mas toda a prod modo de inte ido momento. Assim, tém pouca rel I de deters 5 de individuos, ou seja, 08 artistas, NO NOSSO Caso, € I da produgao de uma obra de io cultural ae tao Contexto social ato na perspectiva hegeliana ¢ diferente da abordagem de conhe cedor de arte em Vasari. Na concepgao de Hegel, o estilo tem uma epécie de autonomia, jé que se desenvolve ao longo do tempo ¢ transcende a atividade humana, desse modo derrubando a ideia de gevialidade*, to crucial para outras formas de escrever a historia da arte. A concepgao de Ernst Gombrich sobre uma historia cultural foi influenciada por Hegel, mas Gombrich arribuiu a arte, ou as imagens, fungSes mutaveis que reagem ao contexto ~ 0 que chamou deuma “ecologia da arte”. Esse termo foi por ele tomado de emprés timo & sociologia ¢ significa a relagio entre a arte ¢ seu ambiente E somente no século XX, de fato, que comegamos a notar uma ‘uptura com essas duas preocupagées principais com o autor (artis- '2) €a forma (estilo). Vimos como a arte da Antiguidade dominou © pensamento artistico a pritica, ¢ como o proprio termo “classi <0" passou a denorar tanto um periodo histérico quanto um juizo dc valor favorivel & produgio daqucla época. Historiadores da arte el chegaram quase a se desculpar, convencidos de que a ar Gombich onPe M8 5 squiparava 3 dos antigos. © trabalho de Frit Soa gu ts Contemporaneos, como Rudolf Wirtkower saa ana Hea mistura de filosofia, hist6ria teologia que nos ‘2 uma Kulturgeschichte, ou histéria cultural da arte — a Proporcio oe Introducao a historia da arte 0 priv mas dose nani expec grupo de ans, ha nog crucial any para 2 ate do oe ento modern. Mas serd ele mais A a EX quanto para © pensame i ea Je apropriago colonial pelo Ocidente ou ha eviden vim exemplo ia de influéncia transcultural? E. verdade que © encontro entre 0 eidente € a arte primitiva se dew no auge do colonialisto, Em : ea cia, deveos estar cientes de que um: toes racais c politicas entraram em jogo, seja aberta ou implicita profusao de ques: mente, no que se escreveu {anto sobre a arte quanto sobre 0 povo que a produziu Recentemet tem preocupado os historiadores, que comegaram a questionar a in Auéncia dos aspectos formais, antropoldgicos, politicos e historicos no estudo da arte da Oceania, da Africa e das Américas do Sul e do Norte. Contudo, isso nao resulta necessariamente em um grupo de sociedades destituidas de significado; a0 contrario, a interagao des- sas culturas com as tradigdes ocidentais criou identidades comple- tamente novas. Até pouco tempo atra ¢, a nogio de primitivismo nas artes a tendéncia no Ocidente foi de encarar aarte da Oceania como primitiva. Contudo, é importante conside- rar 0 significado e a relevancia da arte para os povos do Pacifico. Es- sas formas de arte fazem parte de rituais sociais e de praticas culturais desses povos — por exemplo, os entalhes ancestrais dos maoris ¢ as ca- ss cerimoniais do rio Sepik, ou a decoracio corporal na Polinésia: ¢ as formas de arte feminina, como a tapa. Aqui percebemos a intima ligagao entre a histéria da arte ¢ a antropologia — Antropélogos veem a palavra “arte” como um tern ‘e ocidental com efeico, alguns mo demasiadamen Se deixarmos a arena Australia, para onde um cando 0 deslocamento S6es da arte ly pains - foram usadas para afirmar a presenga dos habitantes P68 © 05 eure ee ancestral & terra. A interacio entre os aborigi de fivore a fea lui formas de arte que vao da pintura em cascas tografi P Monsttando ee ni 42 Pintura rupestre a escultura, tudo isso de- “ica textura da tradigao artistica australiana, europeia ¢ examinarmos paises como a grande ntimero de europeus migrou, provo- dos povos nativos, constatamos que as tradi- , Dana Arnold Vamos agora inverter a q 0 da influéncia avaliar o impacto da imigracao e da diaspora a ae ocidentais levaram as sociedades do Ocidente. Penso ae cravidao e na arte afto-americana. Essa ultima contin 3 erescentemente com a arte dos Estados Unidos, desde 1. Mt Vital ¢ 38 sua gens nas comunidades de negros escravizado: s of s los, no comeso do sé 9 do séculy XVIIL. Ela inclui artes folcléricas e decorativas, como cera bilielo.« colin de rezathas, « samen bela-erme ~ aang a aed emer prere dae sat meureetereeeeattaeaa Teese an longs de todo 0 souls 20% A wecaloemeicnn + tra que, em sua diversidade e sintese cultural, espelha a sociedad americana como um todo. Precisamos pensar na influéncia dis gale rias e dos museus, do novo movimento negro de 1920, da era dos di reitos civis e do nacionalismo negro das décadas de 60 ¢ 70, e do surgimento de novos artistas ¢ tedricos negros na segunda metde do século XX. Precisamos examinar com atengao as obras candnicas dos colo- nizadores e da metrépole ¢ levar em conta como os individuos coloni zados foram tratados, tenham sido eles os escravos, os descendentes destes ou aqueles de quem se tomou a terra. Da mesma maneita que a mulher, esses grupos foram praticamente banidos da hist importancia ou influéncia naa Isso endossou a ideia de mungando da prética dade. Como vi al, ema eabor no. A te escrita como que desprovidos de te europeia tida como de grande accitacao. que arte culta era a presenga de artistas co tradicio ocidental, com a nogao correlata de geniali mos, tal concepgao engloba uma ortodoxia de mater dagem — ¢, é claro, requer um artista branco ¢ do sexo masculi site nio-ocidental foi amplamente julgada pelos padres do Ociden- te-—é “primiciva’, porém se rorna primitivismo quande adaptada po" artistas ocidentais. Contudo, nos tiltimos anos, tem havido tura e certa conscientizagao quanto & visio co} Isso fica evidente pelo fato de que ocidental admitindo-se sua historia PP, ‘Africanos 4 uma mudanga de Pe Jonialisca da arce ™°” rora se eset? ocidental ee respeito da arte nao~ ainda que essa hist6ria seja escrita por ocidentals Ti

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