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ee CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SECULO XIX Richard Graham Editora UFRJ 1997 TRES Eleigdes e Clientelismo DURANTE TODO O REINADO DE MEJO SECULO de Dom Pedro I, o Brasil exibiu a completa aparéncia de uma democracia representativa. Observadores estrangeiros eram praticamente unanimes em louvar um sistema politico tio parecido com os regimes burgueses da Europa. O principal foco de seu entusiasmo era a regularidade de eleigdes e a alternancia de partidos no poder. O governo tinha escrdpulos em respeitar a Constituicao, os direitos individuais pareciam protegidos, e nenhum Ider militar ou outro ditador derrubara o poder eleito, Um Senado com cerca de 50 membros, eleitos por toda a vida, e uma Camara com aproximadamente 120 deputados, constitufam a legislatura. O governo parlamentar significava que, na pratica, os Gabinetes tinham que receber a aprovacao da legislatura para governar, ainda que o imperador pudesse demitir um Gabinete e convocar outro; quando um deles nao conseguia a confianga da Camara de Deputados, pedia ao imperador que a dissolvesse e convocasse novas eleigGes. Até 1881, essas eram indiretas, realizadas em dois turnos: os votantes escolhiam seus eleitores, que se reuniam nos Colégios Eleitorais, um por distrito; os eleitores votavam para deputados, e quando um senador morria eles escolhiam trés nomes, dos quais o imperador selecionava um substituto. Os Gabinetes Liberais revezavam-se com os Conservadores (quando nao se juntavam em coalizao, como fizeram de 1853 a 1856) € um Partido Progressista, combinando elementos Liberais 104 cLteNTELISMo E POLITICA NO BRASIL DO sécULO xIK Conservadorss, teve algum sucesso na década de 1860. Até mesmo um Partido Republicano, organizado em 1870, conseguit obter uma pequena representaco parlamentar em 1884. Para éescobrir, sob as aparéncias, 0 que significavam as eleigdes para os seus patticipantes, é preciso estar atento as varias dimensbes interrelacionadas da politica brasileira, tanto em nivel local quanto central. E esse o meu objetivo, neste e nos proximos capitulos. Conseguir formar um grupo de seguidores, locais ou nacionais, obviamente implicava assegurar a lealdade de outros; a fidelidade de um grupo podia ser demonstrada mais cefetivamente vencendo-se eleigdes. Por isso, 0 governo — isto 6,0 Gabinete governante — usava 0 poder do clientelistmo para garantir a eleigdo da Camara de Deputados que quisesse. E 0 chefio local usava sua vitéria nas urnas para mostrar que merecia receber 0s cargos publics, para si ou seus amigos, enquanto seus adversérios faziam o que Ihes era possivel para desafiar seu dominio eleitoral. Ao mesmo tempo, como a manutencio da ordem exigia a crenga generalizada de que todos tinham liberdade, e de que os oponentes tinham chances de ganhar cleigdes, 05 que participavam do sistema enfatizavam a justeza do processo eleitoral. Os esforgos para garantir eleigbes abertas ¢ livres, a0 lado da preocupagdo nao menos real de vencé-las, naturalmente geravam muita angistia nos responsaveis pela votagao. Impulsos Contraditéries De fato, os Ifderes politicos do século XIX lutavam com trés impulsos conflitantes. Primeiro, sabiam que a leg! ‘imidade do sistema politico estava nos mecanismos que possibilitavam ‘a todos os membros da elite exercerem alguma autoridade, ou a certeza de poder fazé-lo se assim 0 quisessem. Eleigdes honestas garantiam esse fim. Segundo, sentiam como os alicerces do edificio social eram precérios € tentavam consolidé-los, impondo trangtilidade pdblica e comportamento ordeiro Por as eleigdes no deveriam disse conseguinte, minar violencia, Eleigoes ¢ Clientelisme \05 ‘ses poderiam destampar um vule%o, Terceiro, dade hierérquica dependia de jade. Nao se podia perder honestas ¢ ordeiras, mas 0 pois as dissens a lideranga numa socie demonstragées piiblicas de leald: cleigdes. Em suma, elas deviam ser : ia vencer sempre. No final, a elite partido governante deveris poltca brasileira resolvia seu problema exercendo um firme Jientelismo, € 4 principal controle eleitoral através do uso do cl preocupagio deste capitulo € examinar as técnicas especificas empregadas para esse fim. Primeiro, contudo, sejamos claros num ponto: os Ifderes do pais. desejavam sinceramente, © acreditavam ser posstvel, organizar eleig6es de tal modo que @ oposigao ficasse satisfeita, contando que ela tivesse 20 menos alguma voz. Realizar eleigdes significava sobretudo que as elites brasileiras se preocupavam com esse problema, pois do contrério, se a vit6ria do governo estivesse garantida, por que realizé-las? Além de outros objetivos que podem explicé-las, as eleigdes adquiriam importéncia porque legitimavam a estru- tura de poder. O constants esforgo de legislar eleigdes justas demonstrava uma preocupagdo em abrir a politica a homens de opinides divergentes, que assim nao se voltariam contra 0 regime. Poderfamos achar surpreendente essa preocupagao com as eleigdes. O governo representative nfo era uma heranca dos tempos coloniais, mas uma exética ideologia importada; € os princfpios democrdticos nfo se ajustavam a estratificada sociedade brasileira, razio pela qual a crenga contréria, na necessidade de impor a ordem, vinha & tona com tanta obstinagao, junto com a — ou acima da — crenga em liberdade eleitoral, Mas os brasileiros persistiam em realizar eleigées, € sua crenga no aperfeigoamento eventual do processo continuava sincera, apesar de toda prova. em contrério. Duas consideragdes sus- tentavam essa insisténcia nas eleigdes. Primeiro, como muitos povos na época, os brasileiros sentiram o impacto esmagador da “Bra das Revplugées” e da crenga européia e norte-americana na liberdade. Toda pessoa educada — nao apenas os intelectuais — 106 cLIENTELISMO £ POLITICA NO BRASIL DO SéCULO Ux sentia o impulso de um sistema de idéias proveniente dos centros mundiais de poder politico e econ6mico. Exatamente por causa da energia do capitalismo, sua ideologia liberal exercia atragdo mesmo em regiées que nfo haviam sido centrais em seu nascimento ¢ desenvolvimento, como o Brasil. Um outro estimulo a favor do liberalismo talvez esteja no fato de 0 Brasil star tio envolvido numa economia de exportagdo, e portanto estreitamente ligado ao mundo capitalista, Sem divida, membros da classe superior viam-se como parte de uma civilizacdo européia, enaltecendo entfo a liberdade e a vontade do povo. Certamente, havia alguns raros dissidentes, como o membro do Congtesso que insistia em que “uma coisa (...) nos faz muito mal: € 0 exemplo da pritica do estrangeiro. O nosso governo, em regra geral, é exercido por homens que (...) legisla essa terra como (...) Locke para a Carolina”. Mas a maioria dos Mderes politicos achava os principios de John Locke perfeitamente aplicdveis & sua terra, se nfo no presente, entBo no futuro, Eles conclufam, sem muito entusiasmo, que 2s liberdades individuais tinham que ser protegidas, a imprensa aberta a todas as opinibes, e as eleigdes nfo apenas realizedas, mas livres, permitindo direitos significativos & minoria?, Realizando eleig6es, eles definiam-se como parte do mundo civilizado © europey. Havia uma segunda e mais pragmitica consideragfo: com as eleiges livres vinha a legitimidade que iria garantir a ordem Reconhecia-se amplamente que no se poderia eternamente manter 0 comportamento pacifico apenas de cima para baixo. Como alguns, que julgavam ter direito ao poder, inevitavelmente no o conseguiriam, seu protesto precisava ser acomodado para que nfio ameagasse a estabilidade. Era preciso arranjar um meio de reassegurar-Ihes que sua vez chegaria, Dom Pedro TT observow que, “para que 0 governo mesmo mantenha a ordem com toda fa superioridade que Ihe compete, € preciso que ele evite as exclusdes injustas”’. A harmonia piblica exigia pelo menos @ renga no liberalismo, quando nao a sua prética. Pare conservar Eleigbes ¢ Clientelioma 107 8 legitimidade do regime, as condigées da vida politica tinham que garantir aos adversérios o direito de expressar sua opiniao, organizer seu partido © nutrir a esperanca de vitéria. Essa esperanga, por sua vez, dependia da percepeo de justica nas eleigdes. As eleigdes livres, a0 lado dos direitos individuais, ndo apenas encorajavam a oposigao politizada a aceitar o sistema existente, mas, num sentido maior, legitimavam 0 controle que alguns poucos tinham sobre toda a sociedade ¢ desviavam a hostilidade dos despossuidos, onde essa existisse. Mais impor- tante ainda, 0 liberalismo aparente do regime talvez. atenuasse 1 culpa técita das classes que monopolizavam o poder. Embora uma doutrina importada, o liberalismo servia a um propésito e ajustava-se a uma necessidade. Portanto, era importante garantir aos adversérios que eles poderiam ganhar algumas vezes. J4 que era impossivel cuidar de todas as ambigSes de um adversério em potencial, era preciso rocurar constantemente mecanismos novos ¢ aperfeigoados que dessem ao menos a impressfo de que as eleigdes eram justas. Toda lei eleitoral tentava novas medidas para proteger o direito da oposigto, limitar 0 controle governamental sobre as eleigdes © aumentar a representagio da minoria — isto é, os perdedores. Tal esforgo revelava a necessidade social de se acreditar na honestidade eleitoral. O fato de que as leis freqtientemente tinham o resultado oposto daquilo que visavam nao minimiza a seriedade de propésitos daqueles que as redigiam. Os direitos da minoria @ participar livremente das eleigbes, ter uma voz, ¢ até mesmo ganhar aqui ¢ ali, constitufam uma parte essencial das prioridades dos legisladorés. A lei cleitoral de 1846, que constituiu a lei bésica durante trinta e cinco anos, dispOs deliberadamente uma série de cldusulas destinadas, como descreveu um contemporineo, @ “ibertar 0 voto puiblico, arredando dos atos eleitorais 2 interferéncia oficial dos agentes policiais”. Os eriticos susten~ taram, contudo, que, uma vez que os candidatos langavarn-se em Ambito provincial, o sistema impedia « minoria de 108 cLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SECULO XIX conseguir quaisquer cadeiras parlamentares. Em maio de 1853, José Tomas Nabuco de Aratjo, um estadista prestigiado ¢ brilhante, entéo Conservador, observou didaticamente, em um Congreso inteiramerte formado por membros de seu partido, que qualquer partido governante podia se beneficiar da presenga de alguns representantes da oposi¢ao. Exortou 0 Gabinete a apoiar no futuro a cleigéo de “oposicionistas esclarecidos e moderados”, visto que “desta maneira se coloca 0 pais nas verdadeiras condigdes do sistema representativo, que no pode deixar de morrer se ficar falseado pela unanimidade"’, Em setembro daquele ano, Dom Pedro II indicou um Gabinete que afirmou que reconciliaria Liberais moderados ¢ Conservadores, criando um espago para ambos os grupos no sistema. O Conservador Honério Hermeto Carneiro Leo, visconde e mais tarde marqués do Parand, presidiu um Gabinete que incluiu, por exemplo, 0 famoso ex-lider da revolta liberal de 1842, Ant6nio Paulino Limpo de Abreu, visconde de Abaeté, ao lado de Luiz Alves de Lima e Silva, marqués ¢ depois duque de Caxias, que devia seu nome em grande parte ao feito militar de subjugar essas revoltas. Também incluiu Nabuco de Aratjo como minis- tro da Justiga. Com 0 apoio desses homens, Parané apresentou uma medida em 1855 — primeiro proposta pelos Liberais em 1847 — que pedia a divisdo de cada provincia em varios distritos eleitorais, sendo que cada qual escolheria apenas um deputado®. Varios Liberais conquistaram cadeiras na cleigio seguinte e 0 jurista Liberal José Anténio Pimenta Bueno acreditava, pelo menos em 1857, que 0 objetivo da lei tinha se realizado, ¢ que ela fortalecera as liberdades da minoria® Outros logo observaram que na realidade a medida dava a0 partido do governo ainda mais poder do que antes, pois o& I{deres dos partidos podiam agora concentrar todos os seus esforgos em alguns poucos distritos incertos. De fato, um aspirante a politico na Bahia escreveu a um membro do cee que, gragas a essa Tei, “86 sairé deputado (ao en ane provincia) (...) quem 0 governo quiser (..) Assim, a Eleigbes ¢ Clientelismo 109 protegendo, eu serei eleito”. Numa eleigo de ambito provincial, prosseguiu, ele ndo temia competir com alguns dos candidatos menores, “mas desgracadamente, é de circulos [distritos] e entéo 1a influéncia do governo &a unica eficaz.” Se 0 primeiro-ministro ‘no pudesse apoié-lo em seu distrito natal, concluiu, “entZo me designe para um outro circulo (do sertdo), af a ago do governo ainda seré mais infalivel"?, Um comentarista observou que a lei de 1855 cedia alguns deputados & oposig#o “quando 0 governo ‘0s manda ou deixa eleger”®. Assim, em 1860, apenas cinco anos aps essa primeira reforma, o Congreso respondeu a tais queixas aumentando grandemente os distritos para criar unidades das quais se elegeriam trés deputados, a no ser nas provincias menores, onde as eleigges mais uma vez seriam em ambito provincia?’ © principio de possibilitar alguma representagio da oposigao persistiu. Em 1368, com os Conservadores outra vez recém-empossados, um politico na Bahia escreveu para Joi0 Mauricio Wanderley, bario de Cotegipe, membro do Gabinete, dizendo: “Sei quanto V. Exa. abunda nas idéias de que fagamos alguma concessao justa — mesmo para que 08 nossos contrérios nfo clamem que fechamos completamente as,umas”. Alguns dias antes, esse mesmo politico observara que seria aconselhavel permitir que um liberal obtivesse uma das quatorze cadeiras da Bahia, “para mostrar que a eleigao foi Jive”. No ano seguinte, © Partida Liberal propés que o problema fosse resolvido pela modificagao da lei, para que cada eleitor votasse em apenas dois tergos do nimero dos deputados a serem eleitos em sev distrito, dando assim alguma chance & minoria de eleger delegados. Em 1875, um Congresso Conservador aceitou essa proposta e também retorou, mais’ uma vez, as eleigdes em Ambito provincial. Contudo, a lei, alcunhada de Lei do Tergo, logo provocou outras criticas da oposigao. Um politico Liberal, ignorando o papel de seu proprio partido na gestéo desse plano, achou “até uma ignomfnia para a oposigao quando, por grande favor, se Ihe concede a representagio do tergo”. E, claro, um 110 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SECULO XIX planejamento cuidadoso entre cleitores sensiveis a0 partido governante ainda podia assegurar que todos os seus candidatos vencessem'®. Em 1881, um governo Liberal rejeitou a cléusula do tergo, criando novamente distritos de um nico membro, em mais uma fitil tentativa de salvaguardar os interesses da minoria, isto €, dos adversérios do Gabinete entio no poder!"; A procura por um arranjo que carreasse a ampla aceitagdo do sistema Politico do Império, e com isso a preservacio da paz, continuava. Era justamente ein relagio as eleigbes que os membros da elite exibiam com mais nitidez as contradigdes que per- meavam sua atitude em relagfo & ordem € & liberdade. A liberdade constituia parte importante de sua retérica € vinha constantemente & baila como tema no discurso politico. Mas # ordem continuava sendo a preocupagio predominante; somente a ordem podia assegurar a verdadeira liberdade, jé que “enarquia fe despotismo” caminhavam juntos, na realidade eram virtualmente sindnimos'?, As eleigdes desmascaravam 0 autoritarismo que enrijecia sua concepgio de liberdade testavam a possibilidade de coexisténcia desses principios. Por ium lado, de todas as liberdades, as cleigGes livres eram as mais vitais, Por outro, contudo, a contestagio de eleigdes disseminava a desordem, capaz de ameagar com a dissolugio da sociedade, Observem como se justificava 0 emprego oficial de forga nas eleigdes: o presidente do Cearé, nas instrugdes eleitorais enviadas a delegados e subdelegados, insistia que “em hipétese nenbuma” se devia usar a forga “como um instrumento de coagio ¢ de terror, a menos que seja contra os provocadores de distarbios € de cenas desagradéveis”. A excegBo citada permitia a coerg#o ou terror contra os que solapavam o decoro. Uma mesa eleitoral captou o tom correto 20 relatar que a eleiglo tinha sido “calma, justa”, e a forca usada apenas na “manutengio da cordem péblica”, j& que muitos daqueles que agora protestam contra a conduta da mesa “prometiam ganhar por meio de ldesordem”!, Se as autoridades governamentais, representando «© partido no poder, acreditavam que as eleigdes podiam ser 20 moderada € Eleigbes e Clientelismo WY mesmo tempo tranqiiilas © honestas, entio, logicamente, a desordem devia provir apenas daqueles que se opunham ao parti- g Jado interessado na desordem”*. E estavam do governante, ido no poder se beneficiaria certas: somente a oposi¢&o a0 parti fem desafiar a autoridade. Nesse sentido, a liberdade era para quem apoiasse 0 candidato do governo. ‘Também se empregavam com tal facilidade medidas pars supostamente evitar a anarquia e manter a disciplina ao nivel local, a fim de garantir a vit6ria do partido governamental, que, se uma eleigdo transcorria pacificamente, muitos brasileiros presumiam que ela havia sido manipulada ¢ sua liberdade comprometida: os vencedores teriam subjugado totalmente 0s perdedores pelo medo. Se, por outro lado, a oposigdo ousava exigir seus direitos, enfrentava com muita freqiiéncia a forga, diante do que s6 a forga era uma resposta adequada; entio, a anarquia reinava. Portanto, se honestas, as eleigdes eram tumultuadas, © se trangiiilas, eram desonestas. Um presidente provincial se deleitou ao informar que ndo se precisava temer nada em um distrito, famoso por suas “turbuléncias” eleitorais, porque um partido simplesmente néo participaria da eleigfo. Lamentavelmente, porém, acrescentou, em outro distrito a Rela~ lo concedera qualificagdo para mais de 800 pessoas serem inclufdas na lista dos votantes registrados, estimulando assim a coposigao a acreditar que tinha chance de ganhar; por isso tenta~ riam lutar agora “por todos os meios™'5, Seja como for, a énfase oficial na liberdade, nas eleigées livres e em outras liberdades conseguiu estabelecer a legitimidade do sistema politico por um longo tempo. Bxistia liberdade suficiente, ou acreditava-se que existia, para comprar cumpli- cidade, Os que perdiam as eleigdes ndo deixavam de protestar, ‘mas niio se revoltavam em grande escala, pelo menos entre 1848 © 1889. Em 1876, Manuel Pinto de Souza Dantas queixou-se de que “nunca foi maior nem to indecente a farsa eleitoral neste pobre Brasil”, e perguntou: “que importa que 0 povo sofra, que as garantias politicas e civis the estejam seqiiestradas [e] que © 112 cuenrevismo & POLITICA 'NO BRASIL DO SECULO XIX afs seja presa de um partido intolerante e reator”. Mas Dantas ‘nunea tolerou qualquer intriga que implicasse a violenta derru- bbada do governo ou do Gabinete. Na verdade, quando no poder, manipulou as eleigbes tanto quanto qualquer um. Como explicou uum escritor sardénico, quando os Conservadores exerciam 0 oder, os lideres Liberais “dizem aos de baixo, ‘cala a boca’, que 6s logo subimos, ¢ entio morderemos por nossa vez™®, Um estimulo final complicava mais a prética politica. Os que estavam no poder nfo podiam se dar ao luxo de perder eleigdes porque a medida de um homem dependia do tamanho de seu grupo de seguidores ¢ uma eleicéo perdida reduziria visi- velmente essa comitiva. Ser demitido por um superior no governo ra tolerdvel, pois assim & que devia ser; mas ser rejeitado por seus préprios seguidores indicava um fracasso de lideranga, forga, caréter, enfim, da propria clientela, Exatamente porque a elite local mudava e renovava-se com frequncia, seus membros mais fortes precisavam afirmar 0 tempo todo sua autoridade por meio da vitéria eleitoral. No nivel do Gabinete, a rejeigdo dos votantes iria solapar a prépria hierarquia que as eleigdes deviam manter de pé, enquanto ser demitido pelo imperador reforgava- a. Uma derrota nas umnas implicava que 0$ de baixo podiam, pelo proprio esforgo, chegar ao topo; tal exemplo também seria muito perigoso, se testemunhado pelos despossufdos. Isso nunce acontecia. Nem o Gabinete nem o chefio local toleravam qualquer divida sobre o poder de comandar. Como observou um contemporaneo, a maioria na junta eleitoral necessariamente perguntaria: “O que querem? A mesa é nossa; por forga devemos ganhar a eleiglo, sob pena de desmoralizar-nos""”. Pois a domi- nagio tinha que ser visivelmente mantida e a vitéria assegurada, mesmo em eleigdes aparentemente livres. © governo geralmente limpava o terreno ¢ sempre ganhava maioria parlamentar. Como primeiro-ministro, em 1886, 0 bardo de Cotegipe encolheu os “ombros aos criticos que acharam a vit6ria Conservadora naquele ‘ano suspeitamente uniforme: “Quanto aos ataques da oposiso, cela que grita € porque the d6i"". Eleigées ¢ Clientelismo 113 Encontrar um meio de satisfazer essas exigéncias conflitantes demonstrava 0 génio dos que controlavam a politica. Eles trabalhavam de dois modos. Primeiro, a legalidade de qual- quer eleigo podia conciliar-se com a necessidade de vencer leig6es, se os responsdveis por cada passo formal do processo cleitoral devessem fidelidade ao Gabinete e sempre pendessem para o interesse do partido. Essa dependéncia mantinha a base legal da eleigfo e os contestadores deparavam-se com obstéculos cesmagadores ao tentarem desacreditar seus resultados. Segundo, também se podia empregar o clientelismo para reduzir uma potencial oposi¢o, colocando seus pretensos lideres em cargos do autoridade no governo. Fazer isso postibilitava que as elei- es se realizassem com total legalidade, enviando-se ao mesmo tempo para o Rio de Janeiro deputados que apoiariam o Gabinete. © clientelismo tornava possivel conciliar vitéria com ordem & aparente justiga, A Estratégia do Clientelismo © grande esforgo para 0 exercfcio do clientelismo comesava, de certa forma, com o préprio imperador. Ao nomear © Gabinete, ele ocupava um lugar no topo da “grande pirtmide”, como um jurista a chamou, O poder moderador, que ele exer junto com 0 Conselho de Estado, “nomeando ¢ demitindo livremente os ministros de estado”, inclufa o direito de dissolver ‘a Camara dos Deputados ¢ convocar novas eleigdes. De 1840 a 1889, Dom Pedro Il, sempre aconselhado pelo Conselho de Estado, dissolveu © Congreso onze vezes: ¢ sete Congressos cumpriram seu mandato completo de quatro anos. Houve, portanto, um total de dezoito eleigdes nacionais durante seu reinado. Como o Gabinete que supervisionava as eleig8es podia, pelo uso do clientelismo, conseguir a Camara de Deputados que quisesse, seguia-se que, como comentou ironicamente um politico na época, “a melhor ¢ mais pensada atribuigo do poder moderador” consistia em “o dircito de eleger representantes da nagdo”. Ein’1868,.0 senador Nabuco de Araijo, entio Liberal, 114 curenreusmo £ roLttica No arasit 00 stcuto xix condenou sucintamente o “silogismo fatal” “ Pelo qual “o poder moderador chama a quem quer para organi: ined ; izar © Ministério; 0 @ eleigio faz a maioria. Eis aqui o nosso pais!"!9 Ministério faz a eleigko; sistema representative em José Tomés Nabuco de Araijo (1813-78), 1861 primeiro-ministro capitaneava o trabalho eleitoral, pois sua vida politica dependia disso. Escolhia seu Gabinete com as eleigdes em mente, e ninguém duvidava dos resultados. Como Paulino José Soares de Souza (depois visconde do Uruguai) escreveu em particular para um amigo, em 1852: "A oposigao disputou aqui a eleig&o com grande firia, e com grandes meios. Batemo-la ccmpletamente porque estamos no governo, Se ela estivesse no governo, teria vencido completamente (...) Assim € © sistema’, Em 1866, quando os Liberais “puros” lutaram contra Eleigbes e Clientelismo \NS © Partido Progressista, um politico observou que “se © governo for puro, a eleigéo tomard essa cor (...) € s¢ for progressista, sero progressistas os votados". Quando um primeiro-ministro percebeu a capacidade de um jovem auxiliar, disse-lhe um dia: “Precisamos fazé-lo, pelo menos, deputado”, E 0 fez. Outro politico prometeu a um amigo em busca de sade em centros de tratamento europeus: “Se nossos amigos subirem ao poder, para sua eleig&o nao é mister precipitar sua volta. Efetue sua segunda ‘cura em Karlsbad e venha bom’. Um eritico do regime resumiu assim: “Os representantes da nag&o s6 representam 0 governo™®, © Gabinete sempre assegurou resultados eleitorais favordveis porque detinha 0 poder de fazer todas as outras nomeagées. Eles deviam prestar atengdo a trés tipos de cargos, Primeiro, havia cargos que implicavam o controle direto de certos aspectos do processo eleitoral. Segundo, os que ocupavam alguns cargos — freqilentemente os mesmos — podiam usar sua autoridade para influenciar 0 comportamento dos votantes, influenciando © mesmo forgando 0 seu voto. Finalmente, os votantes, ou melhor, seus protetores € eleitores, podiam ser ganhos com a garantia de cargos piblicos que desejassem para si mesmos ou para clientes seus. © Gabinete indicava ou controlava a nomeacto de um grande nimero de pessoas que desempenhavam legalmente uma Fungo piblica nas eleigoes. Mesmo antes da dissolugio de um Congresso, 0 Gabinete esforgava-se, “nomeando presidentes chefes de polfcia de sua confianga, removendo jufzes de direito € dando as comarcas aos seus protegidos, demitindo alguns em- pregados, reintegrando outros (..) {procedendo] a todos os atos preparat6rios, necessérios a0 bom éxito da eleigao”. Um eritico ‘eemente, Aureliano Candido Tavares Bastos, execrava sistema fem que “um poder judicial dependente do executivo, (e] uma centralizac8o policial, administretiva e politica que Ihe assegura 8 obediéncia da nagdo, bastam — com 0 auxilio das corporagdes religiosa e militar — para consolidar a supremacia do executivo, isto é, a dominago do soberano™. Claro, o sistema nem sempre 116 cuewreusmo & PoL{TicA No BRASIL DO SECULO Ix funcionava com a certeza que the atribufam seus criticos ou defensores, e em determinados lugares 0 governo podia perder uma cleigao. Afinal, um nimero muito grande de pessoas moldava seu resultado, e as providéncias algumas vezes davam errado. Era preciso levar em conta também as rivalidades locais. © controle efetivo do Congreso, contudo, nunca falhava enquanto os membros do partido permanccessem unidos ali Para assegurar um Congreso cooperative, 0 Gabinete dependia acima de tudo da forga dos presidentes das provincias. ‘Um observador contempordneo notou que “o mais desconhecido cidadio nomeado presidente de provincia constitui-se logo, e por este simples fa:o, © Unico poder eleitoral da provincia a que preside”. Dom Pedro Il observou que “os presidentes servem, principalmente, para vencer eleigdes”, e esperava que eles fossem plenamente informados ¢ se envolvessem nas organizagoes eleitorais, embora afirmasse que “os que eu souber que intervieram em eleigdes nunca serdo mais presidentes, se minha opinido prevalecer"®?. Aparentemente, sua opinigo nunca prevaleceu. Repreendidos &s vezes por fazer com que os presidentes se imiscufssem em objetivos eleitorais, membros do Gabinete enfrentavam igual condenagdo daqueles que os apoiavam se nfo o fizessem: “perderam os nossos amigos a eleigdo porque a provincia nao tinha um presidente (e por causa a] inépcia inqualificavel do vice-presidente”. Dependendo da preferéncia politica de uma pessoa, ela via a chegada de um novo presidente com medo ou esperanga: “Estamos vendo se podemos ultimar a nossa chapa de dleputados] Provinciais; o que muito dependeré do presidente que vir, que muito desejamos seja 0 Tiberio, ou outro bom amigo. Qualquer que elle seja, porem, V. Exa. recomende a mais séria cooperagio para o triumpho da 123, Os bons presidentes j4 conheciam sua tarefa. Em 1871, 0 presidente do Rio Grande do Sul esereveu a0 primeiro-ministro para informar sobre as profundas divisées no Partido Conser- vador daquele lugar e a falta de qualquer lider capaz de reunir chapat . Eleigoes e Clientelismo \\7 erescentou confidencialmente, porém, que “assu- vrindo ev, como delegado politico do Gabinete presidido por V. Exa,, a dirego suprema do partido, substituo facilmente a auséncia de outro chefe”. Por isso, conclufa, todo 0 faccionalismo Jocal ndo seria “obstéculo & realizagto do pensamento politico do Gabinete (...) quando ele tiver de apresentar-se no campo cleitoral”, Nem todos os presidentes gostavam de fazer 0 que tinham de fazer, e um deles, escrevendo do Paré, desejava poder “desprender-me totalmente das consideragdes do partido & atengdes que devo ter com os amigos do governo”. Outro presidente, este em Minas Gerais, enviando ao Gabinete “um resumo das informag&es que tenho coligido a respeito dos candidatos que se apresertam em cada um dos distritos eleitorais”, acrescentava esperar que fosse “exonerado logo que termine a campanha das eleigdes dos deputados”, argumentando que, por motivos pessoais urgentes, ele tinha que deixar 0 cargo™ ‘Assim que o presidente assumia seu posto, iniciava a aco eleitoral em todos os nfveis. Exercendo com energia seu direito legal de supervisionar 0 apropriado cumprimento das leis, sempre recorrendo a sua letra, quando no ao seu espirito, ele podia demitir um juiz de paz, que normalmente presidiria reuniao do Colégio Eleitoral, pelo motivo de ele no residir na parquia. Ou podia afastar 0 presidente de uma mesa eleitoral local porque acumulava um outro cargo publico que havia sido declarado incompattvel com tal autoridade, ou mesmo com base em que uma pessoa culpada de um crime, embora pudesse votar, nio podia presidir & mesa%. Algumas vezes, as mudancas necessérias nfo chegavam a ser feitas a tempo. Nesses casos, um Presidentetinha a surpreendente autoridade de adiar uma eleicao, reprogramando-a para um momento mais oportuno, embora Tegalmente dentro de, no méximo, trés meses. Também podia estabelecer normas sobre a Iegalidade das eleigdes para jutzes de paz ¢ membros das cimaras municipais — ¢ portanto sobre quem presidiria as mesas eleitorais das paréquias e quem contaria 05 votos dos Colégios Eleitorais. Tal autoridade podia ser crucial as facgbes. A T18 cuewreuisio & routrica No aRasit Do sécuLo xix ” ees A decisfo de um presidente podia set tras aes st do Impési, assim como pelos tibunis, ee Poder era consideraver®, ____ A nomeagio de juizes dava aos Gabinetes uma alavanca ainda mais poderosa na méquina cleitoral. As Relagoes examinavam recursos a respeito dos procedimentos de Qualificagdo ¢ decidiam sobre casos envolvendo comportamento ilegal em eleigées. Intermindveis discussdes centravam-se na Presenga de supostos falsos votantes, ou ‘fésforos’, ¢ as Relagées formulavam a decisao final. Um Ider politico na Bahia escreveu a0 primeiro-ministro sugerindo a nomeagio de alguns juizes para uma Relac&o porque: “estamos agora em minoria ¢ te- memos injustiga nos recursos da qualificago”. Um presidente Conservador relatou de Minas Gerais que, uma vez que contam “os Liberais com todos os desembargadores da Relacao (excetuado o Belém), crescem de arrogancia””’. Decidindo sobre a legitimidade dos procedimentos de qualificago, um tribunal podia incluir “um niimero crescido de ‘fésforos'! Sé pela freguesia de Santana admitiu ele [um desembargador], nesta Ultima revisio, perto de 200!" As Relagdes também deli- beravam sobre a validade de uma elei¢do, ¢ podiam declard-la ula e suspensa. “Caf das nuvens”, escreveu um politico experiente, “com a noticia do que fez a Relagfo, e do ntimero de eleitores a que ficou reduzida a provincia do Rio de Janeiro. Qual sera, & vista disso, o resultado da eleigfo na mesma provincia? Até onde chega a paixdo partidéria? E depois queixam-se"”* Tufzes de diteito ¢ municipais também exerciam grande poder sobre os resultados eleitorais. Jufzes de direito podiam ser colocados em jurisdigées dificeis para criar um compromisso eleitoral, porém, com mais freqiiéncia, eles pareciam desevergonhadamente parciais em relag&o a uma ou outra faccio. O presidente da provincia do Rio de Janeiro escreveu a um juiz de direito em 1860, alertando-o para algumas trapagas em sua jurisdigao e instruindo-Ihe que fosse & paréquia encrencada, Eleigbes ¢Clientelismo 19 “sendo melhor prevenir do que punit tais abuses”. Em 1856, Pa Baie, quando um grupo de eleitores que tivera seu voto recusaco no Colégio Eleitoral veio apresentar suas queixas ao jhiz de diteito, este disse-lhes que “nfo se toma protestos por ordem do governo”, e supostamente ordenou 20 tabelio que ae declarag6es falsas contra a contestagdo deles. Os presidentes informavam com especial cuidado a preferéncia politica de cada juiz municipal. No Rio Grande do Sul, um presidente Conservador, recém-nomeado, comegou © trabalho verificando imediatamente, e com cuidado, a lista dos jutzes existentes ¢ seus substitutos. Depois pedia aos Ifderes partidérios locais suas sugestdes para jufzes municipais, delegados e subdelegados. As respostas revelaram-se previsfveis: “esses trés”, disse um dos interrogados, néo devem ser mantidos “porque aqueles dois so Liberais exaltados e este € duvidoso”; outre fez uma lista de substituig6es potenciais, dizendo: “a qualidade de qualquer destes individuos € boa ¢ todos sf Conservadores”™. A lei, como mostrei, tentava circunscrever 0 direito do governo de transferir jufzes ¢ limitava severamente o poder de demiti-los. Contudo, sobrava um espaco enorme pata manobra. Podia-se usar até mesmo uma promogio judicial para prejudicar um inimigo: “A apregoada nomeag#o do Dr. Afonso de Carvalho para uma Relagio longingua, afirma-se, [¢] para que nq possa ele presidit a apurago eleitoral”, Um deputado alegou que algumas longinquas comarcas, do interior remoto, haviam sido propositalmente elevadas ao mais alto nivel para que essas transferéncias de juizes municipais se tornassem legais — lugares “para degredo mais tarde dos jufzes de excelentes comarcas [mas] de segunda entrncia, que tenham incorrido no desagrado do governo”™®, De vez em quando, o govemo recorria a meios mais radicais: em 1862, Joao Lins Vieira Cansansio de Sinimbu, um ministro da Justiga Liberal num Gabinete de coalizio, impés @ muitos jufzes vitalicios aposentadorias forgadas, com salério ‘mas sem cargo. Com propésitos eleitorais em mente, o Gabinete Liberal em 1844 transferiu 52 dos 116 juizes de direito; em 1848, 120 cuienTeLismo POLITICA NO BRASIL DO SECULO XIX 0s Conservadores transferiram 70", Os jufzes municipais — no vitalicios — eram naturalmente ainda mais vulneraveis que os de direito. Como se expressou 0 autor de uma carta em 1878: “Todas as varas (municipais) no Piauf estéo ocupadas por jufzes, que findaram 0 quatriénio”. Agora, com a “subida do Partido Liberal”, esses lugares podiam ser ocupados por “amigos correligionérios". Os candidatos sabiam muito bem que a substituigdo de jufzes municipais era a chave para sua elei¢ao. Esperando se tornar deputado, Manuel Pinto de Souza Dantas sugeriu que seu irmao fosse nomeado juiz municipal, na cidade de Pombal: “sem pio nem pedra ele chamard os pombos & nossa bandeira"™, Por todos esses meios, 0 presidente do Conselho de Ministros, agindo diretamente ou através de outros, podia quase determinar os resultados das eleigdes, ¢ fazé-lo inteiramente dentro da lei. Ele nemeava os presidentes das provincias, que podiam anular a eleicio de jufzes de paz (que presidiam as meses € 08 Colégios Eleitorais) e dos membros das cimaras municipais (que controlavam 0 recurso do, processo:de qualificagao ¢, nas cidades que encabegavam os distritos eleitorais, apuravam os resultados dos Colégios Eleitorais). Aconselhado pelos presidentes, ministro da Justiga podia transferir e afastar juizes de direito e municipais, assim como os que tinham assento nas Relagées, e assim obter acérdios favoraveis sobre a legalidade de qualquer processo cleitoral. © Poder de Coagir Um meio ainda mais direto pelo qual o partido no poder moldava os resultados eleitorais era controlando cargos que, em bora néo diretamente relacionados ao proceso eleitoral, influen- vam og votantes. Na auséncia de uma cédula secreta — as ‘cédulas consistiam de listas de nomes depositadas na urna cleitoral & vista de todos os espectadores — a pressio governa- mental era altamente efetiva, Apesar de “o mais simples campénio sabe{r) empalmar uma oédula para deixar cair outra

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