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Marina de Andrade Marconi Eva Maria Lakatos fundamentos de Metodologia Cientifica / 5? Edi¢ao 1.1.6 Sublinhar e Resumir A leitura informativa também é denominada de leitura de estudo. Assim, o que se pretende é, através das técnicas que ela requer, demonstrar como o estudante deve pro- ceder para melhor estudar e absorver os contetidos € significados do texto. As sucessi- vas etapas so 0 caminho a ser percorrido, mas duas outras técnicas so necessérias: sa- ber como sublinhar ¢ como fazer os resumos da parte lida. Em primeiro lugar, devemos compreender que cada texto, capitulo, subdivisio ou mesmo pardgrafo tém uma idéia principal, um conceito fundamental, uma palavra-cha- ve, que se apresenta como fio condutor do pensamento. Como geralmente nao se desta- ca do restante, descobri-lo é a base de toda a aprendizagem. Na realidade, em cada pardgrafo, deve-se captar esse fator essencial, pois a leitura que conduz & compreenso feita de tal modo que as idéias expressas sao organizadas numa hierarquia para se descobrir a palavra-chave. Ao descobrir, concretizar e formular as idéias diretrizes dos parigrafos, encontra-se todo 0 fio condutor que dé unidade ao texto, que desenvolve 0 taciocfnio, que demonstra as proposicdes. Por sua vez, a idéia-mestra ndo se apresenta desprovida de outras, que revelam pormenores importantes, gravitando ao seu redor, como uma miniatura do sistema solar. ‘Nas proximidades da idéia principal aparecem argumentos que a justificam, analogias que a esclarecem, exemplos que a elucidam e fatos aos quais ela se aplica. E necessério discemir este “sistema planetério” ao redor do “sol”, separando-o de fatores menos importantes, caso contrério perde-se a unidade de pensamento. E por esse motivo que 0 bom leitor utiliza 0 recurso de sublinhar, de assinalar com tragos verticais &s margens, de utilizar cores e marcas diferentes para cada parte importante do todo. Algumas nogées basicas da arte de sublinhar podem ser sintetizadas: a) nunca assinalar nada na primeira leitura, cuja finalidade ¢ apenas organizar © texto na mente, de forma hierarquizada, para depois destacar 0 mais im- portante; ) sublinhar apenas as idéias principais e os detalhes importantes, usando dois tracos para as palavras-chave e um para os pormenores mais significativos, a fim de destacar as primeiras; ©) quando aparecem passagens que se configuram como um todo relevante pa- ra a idéia desenvolvida no texto, elas devem ser inteiramente assinaladas com uma linha vertical, & margem. Da mesma forma, passagens que desper- tam dividas, que colidem com o tema exposto € as proposigdes que 0 apéiam devem ser assinaladas com um ponto de interrogacio, pois consti- ‘tuem material-base para a leitura explicativa, onde sua veracidade serd tes- tada, interpretada e confrontada com outros textos. O que consideramos passivel de critica, objeto de reparo ou insustentavel dentro do raciocinio desenvolvido, deve ser destacado mediante uma interrogacio; 24 ) cada parégrafo deve ser reconstituido a partir das palavras sublinhadas, ¢ sua leitura tem de apresentar a continuidade ¢ a plenitude de um texto de telegrama, com sentido fluente e concatenado; ©) cada palavra néo compreendida deve ser entendida mediante consulta a di- cionérios e, se necessario, seu sentido anotado no espaco intermediério, pa- 1a facilitar a leitura. O ideal, entretanto, ¢ que seu significado seja compre- endido ¢ a palavra adida ao vocabulério de quem Ie. Também & aconselhé- vel que a leitura nao seja interrompida diante da diivida relativa a uma pa- lavra, pois 0 texto que se segue muitas vezes esclarece qual dos sentidos, apontados no dicionério, mais convém no caso particular. Assim, durante a primeira leitura deve-se anotar os termos e, antes da segunda, consultar a fonte que esclarecerd o sentido deles. Nunca é demais repetir que a leitura & um dos meios para ampliar 0 vocabulério. Depois de assinalar, com marcas ou cores diferentes, as vérias partes constitutivas do texto, apés sucessivas leituras, devemos proceder a elaboragio de um esquema que respeite a hierarquia emanada do fato de que, em cada frase, a idéia expressa pode ser condensada em palavras-chave; em um pardgrafo, a idéia principal é geralmente expres- sa numa frase-mestra; e, finalmente, na exposico, a sucesso das principais idéias con- cretiza-se nos pardgrafos-chave. No esquema, devemos levar em consideracéo também que: se as idéias secundérias tém de ser diferenciadas entre si, depois de desprezar as no importantes, deve-se procurar as ligagdes que unem as idéias sucessivas, quer sejam paralelas, opostas, coordenadas ou subordinadas, analisando-se sua seqiiéncia, enca- deamento I6gico ¢ raciocinio desenvolvido. Dessa forma, o esquema emerge natural- mente do trabalho de andlise realizado. Resumindo o que foi dito acima, terfamos: a elaborago de um esquema fundamen- ta-se na hierarquia das palavras, frase © pardgrafos-chave que, destacados apés varias leituras, devem apresentar ligades entre as idéias sucessivas para evidenciar 0 racioci- nio desenvolvido. essa forma, um resumo consiste na capacidade de condensaco de um texto, paré- safo, frase, reduzindo-o a seus elementos de maior importéncia. Diferente do esquema, © resumo forma parégrafos com sentido completo: nao indica apenas os t6picos, mas condensa sua apresentacio. Por tiltimo, o resumo facilita o trabalho de captar, analisar, relacionar, fixar ¢ integrar aquilo que se esté estudando, € serve para expor 0 assunto, inclusive em uma prova. 1.1.7 Exemplo de Esquema e Resumo LAKATOS, Eva Maria. RelagGes sociais no provesso de producao. In O traba- tho tempordrio: nova forma de relacdes sociais no trabalho. So Paulo: Escola de Sociologia e Politica de Sao Paulo, 1979 (Tese de Livre-Docéncia). p. 11-2. 25 Para compreender as diversas fases da organizacao industrial, é necessério distin- guir os dois tipos de relacdes sociais que se encontram no processo de produgio: as re- lagGes sociais formais de produgo, mais duradouras ¢ estaveis, ¢ as relagées sociais no trabalho. Ambas tendem a se desenvolver de forma independente , 20 mesmo tempo, correlata. ‘A primeira — relagGes sociais formais de producdo ~ resulta dos direitos definidos, de acesso a um particular meio de vida, e de participacdo nos resultados do processo de produgao. Dessa forma, cada tipo de sistema produtivo origina tipos especificos de re- lacées sociais formais que Ihe séo peculiares e que determinam os termos sob os quais as pessoas ingressam no processo produtivo e participam de seus resultados. ‘A segunda — relagGes sociais no trabalho — compreende aquelas relacdes que se ori- ginam da associagio, entre individuos, no proceso cooperative de produgio, sendo, portanto, de carter direto ou primério, envolvendo contatos pessoais. A tecnologia em- pregada no processo produtivo e a divisdo de trabalho existente determinam as diferen- tes formas de relagdes sociais no trabalho. A correlagao entre 0s dois tipos de relagdes sociais verifica-se de varias formas: 1. Dependendo da natureza do sistema produtivo, as relagdes sociais no traba- Iho envolvem os mesmos ou diferentes individuos, Numa sociedade primi- tiva, baseada na agricultura, o individuo néo é apenas obrigado a trabalhar para o chefe da familia, mas, geralmente, trabalha com ele (no processo produtivo); na sociedade industrial, ao contrério, € raro que os dois tipos de relagdes sociais se combinem: 0 operério néo conhece, na maior parte das vezes, as pessoas com quem trabalha (para quem trabalha), 2. Apesar de a tendéncia de determinado tipo de relago formal no proceso de producdo criar um conjunto especifico de relagdes sociais no trabalho, geralmente 0s dois tipos de relagdes sociais variam independentemente, ‘como ocorre no sistema de producio industrial; sob as relagdes formais do industrialismo, os trabalhadores tém estabelecido, com seus companheiros, variadas formas de relagdes sociais. 3. As relagdes sociais formais de produco t@m variado, mas com menos freqiiéncia, apresentando-se mais estéveis e duradouras do que as relacdes sociais no trabalho. Estas, baseando-se nas condicdes tecnolgicas (do pro- ccesso de producéo) e na forma e extensio da divisio do trabalho, apresen- tam constantes mudancas. 4. As alteragdes nas relagdes sociais formais de produgao sio acompanhadas por profundas mudancas sociais globais (ou so por elas determinadas), 20 ‘Passo que as alteracdes nas relagdes sociais no trabalho sé afetam o grupo restrito de trabalhadores. 26 Esquema: 1. Proceso de produgio 11 relagdes sociais formais de produgio 1.2 relagdes sociais no trabalho Caracteristicas Correlagio 3.1. individuos envolvidos 3.2. variagées 3.3. freqiéncia das variagées 3.4. relaco com a sociedade global Resumo: © processo de producao origina: 1°) relagdes sociais formais de produgio ¢ 2%) re- lagées sociais no trabalho. As primeiras resultam da participacao definida nos resultados do processo de pro- dugao. ‘As segundas derivam da associagio entre individuos no proceso cooperative de produgio. ‘As duas formas de relagées sociais correlacionam-se de manciras diferentes: ) 05 individuos sio os mesmos (sociedades primitivas) ou diferentes (socie- dades industriais); b) 0s dois tipos geralmente variam de forma independente; ©) as primeiras variam menos do que as segundas, 4) as primeiras relacionam-se geralmente com alteragées na sociedade global e as segundas no. 1.2 ANALISE DE TEXTO 1.2.1 Fases Analisar significa estudar, decompor, dissecar, dividir, interpretar. A anélise de- tum texto refere-se ao proceso de conhecimento de determinada realidade e implica © exame sistemético dos elementos; portanto, € decompor um todo em suas partes, a fim de poder efetuar um estudo mais completo, encontrando o elemento-chave do au- tor, determinar as relagdes que prevalecem nas partes constitutivas, compreen- 27

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