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Envelhecimento Da Sociedade Portuguesa
Envelhecimento Da Sociedade Portuguesa
Fausto Correia
Coimbra 2012
Fontes de Informação Sociológica 2012
Faculdade de Economia
Universidade de Coimbra
Fausto Correia
Coimbra 2012
Foto capa:
http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.informenoticia1.com/wp-
content/uploads/2010/04/idoso.jpg&imgrefurl=http://blogs.estadao.com.br/dicas-de-
saude/page/3/&h=362&w=500&sz=90&tbnid=MVat0lQRn59WCM:&tbnh=90&tbnw=124&pre
v=/search?q=imagens+envelhecimento+idoso&tbm=isch&tbo=u&zoom=1&q=imagens+envel
hecimento+idoso&usg=__ixOasa50FGV85D7dLuEmpGnJ1tY=&docid=ucz8PvfdXDbvGM&hl
=pt-PT&sa=X&ei=i5XIUJ3IIY64hAe6wYCIAQ&ved=0CDkQ9QEwAw&dur=6687
Fontes de Informação Sociológica 2012
ÍNDICE
1. Introdução………………………………………………………………………… 1
2. Envelhecimentos………………………………………………………………… 2
3. A Pesquisa……………………………………………………………………….. 15
5. Ficha de Leitura………………………………………………………………….. 18
5.7. Síntese………………………………………………………………………. 26
6. Conclusão………………………………………………………………………… 27
7. Referências Bibliográficas……………………………………………………… 28
1 Introdução
Confesso, todavia que, nunca como agora, pensei que esta realidade me impressionasse
tanto. O interesse pela informação que vai sendo disponibilizada. A leitura mais atenta sobre
a realidade do envelhecimento, não só em Portugal. A abordagem deste tema em unidades
curriculares de sociologia, como demografia e família, contribuíram para que este passasse
a ser um assunto quase nuclear.
Quando alguém, das minhas relações, me perguntou, mostrando mais estupefação do que
interesse, do “porquê eu ter com esta idade resolvido fazer uma licenciatura e em
sociologia”, a minha resposta foi: “ estar mais preparado para compreender a sociedade e
melhor preparado para poder contribuir para ajudar em algumas soluções”. Toda a minha
argumentação mental passava, como já deixei expresso noutra altura, por uma preocupação
e uma vontade de poder ser mais útil na sociedade em que me insiro.
Para poder fazê-lo melhor, nada como conhecer bem quais são as problemáticas que estão
associadas ao envelhecimento. O livro de Maria João Valente Rosa, “ O Envelhecimento da
Sociedade Portuguesa”, foi sem dúvida o clic despertador para este trabalho e também para
uma melhor compreensão de problemas que estão adjacentes ao envelhecimento.
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Fontes de Informação Sociológica 2012
2 Envelhecimentos
O termo envelhecimento nunca me foi estranho. Já o mesmo não posso dizer em relação a
outras expressões como, envelhecimento individual, envelhecimento colectivo, pirâmides
etárias, envelhecimento demográfico, só para citar alguns, que não eram expressões do
meu quotidiano, nem às quais atribuísse um significado preciso.
Não deixa de ser interessante poder analisar o envelhecimento sobre perspectivas diversas.
Por exemplo, quando estamos a invocar o nosso percurso de vida e nos estamos a referir
ao nosso envelhecimento individual. Ou, por outro lado, se nos estamos a remeter para uma
sociedade como um todo e queremos avaliar o envelhecimento da população, e aqui
estamos a referir-nos ao envelhecimento demográfico. Ou ainda se nos queremos referir à
sociedade, e estamos neste caso a reportar-nos ao envelhecimento societal.
Para compreender melhor como se fundamenta uma pirâmide demográfica, cremos não ser
descabido alargarmos o nosso estudo à caracterização das estruturas demográficas por que
são constituídas. “ Uma vez decomposta uma estrutura demográfica em grupos funcionais
podemos proceder à sua manipulação, no sentido de os transformar em indicadores que
resumam a abundância de informação existente numa repartição por sexos e idades: são os
índices – resumo”. (NAZARETH 2009;p115).
Não querendo ser exaustivos, apresentamos os principais índices resumo das estruturas
demográficas:
Percentagem de «Jovens»
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Fontes de Informação Sociológica 2012
Percentagem de «Idosos»
Definição: Divide-se a população idosa com mais de 65 anos pela população total e
obtém-se um indicador que mede a importância dos idosos na sociedade, sendo
também um indicador de medida do «envelhecimento demográfico» no topo da
pirâmide de idades.
Índice de Juventude
Índice de Longevidade
Definição: Compara o peso dos idosos mais jovens com o peso dos idosos menos
jovens. É também um indicador de medida do «envelhecimento demográfico».
Fórmula: (População com 0-14 anos / População com 15-64 anos) x 100
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Fontes de Informação Sociológica 2012
Mede o peso conjunto dos jovens e dos idosos na população potencialmente activa.
Por cada 100 potencialmente activos existem x jovens e idosos. É a soma dos
índices anteriores 8 Índice de dependência dos Jovens + Índice de Dependência dos
Idosos).
Fórmula: (População com 15-39 anos / População com 40-64 anos) x 100
Fórmula: (População com 20-29 anos / População com 55-64 anos) x 100
Índice de maternidade
Fórmula: (População com 0-14 anos / População com 15-49 anos) x 100
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Índice de Tendência
Índice de Potencialidade
Fórmula: (População com 20-34 anos / População com 35-49 anos) x 100
Para além destes factores, há também uma outra razão que contribui para o envelhecimento
da sociedade portuguesa. O número de nascimentos por mulher em idade fértil deixou de
ser suficiente para garantir a renovação de gerações. Os quadros abaixo, mostra-nos
realmente as duas afirmações por nós produzidas. Relativamente à taxa de mortalidade,
podemos verificar que a mortalidade total se mantém praticamente estável desde 1960,
(10,7 por mil, para 9,7), enquanto a mortalidade infantil desceu de 77,5 em 1960, para
apenas 3,1 em 2010, sendo um dos valores mais baixos do mundo.
Gráfico 1
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Fontes de Informação Sociológica 2012
Já no que diz respeito à renovação das gerações, é considerado que para que exista é
necessário que cada mulher em idade fértil tenha pelo menos 2,1 filhos. Em Portugal, desde
1982 que esse valor não é atingido, situando-se neste momento em 1,3.
Mostramos também um gráfico com o índice de fecundidade. O índice de fecundidade é o
número médio de crianças vivas nascidas por mulher em idade fértil (dos 15 aos 49 anos de
idade), admitindo que as mulheres estariam submetidas às taxas de fecundidade
observadas no momento. Valor resultante da soma das taxas de fecundidade por idades,
ano a ano ou grupos quinquenais, entre os 15 e os 49 anos, observadas num determinado
período (habitualmente um ano civil).
Gráfico 2
Como corolário do que temos vindo a afirmar, o abaixamento, por um lado, do índice de
fecundidade e, por outro, uma redução da taxa bruta de reprodução, acabam por traduzir-se
no quadro que apresentamos a seguir. O número de nascimentos em Portugal apresenta
um declínio permanente desde 1960, com um único período de excepção, entre 1990 e
2000. Não deixa de ser preocupante, já que o quadro apresentava o ano de 2010 com um
valor ainda de estimativa. Agora podemos afirmar já que, o valor de nascimentos em 2011
foi de apenas, 97.112 bebés, menos 4.269 do que em 2010. Para 2012 prevê-se que este
número seja ainda inferior, já que nos seis primeiros meses do ano nasceram menos 4.000
bebés do que em igual período de 2011.
Fonte: http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=514171&tm=8&layout=122&visual=61:
Reportagem RTP.
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Fontes de Informação Sociológica 2012
Gráfico 3
Se a primeira pirâmide (gráfico 4), nos apresenta a situação real da população portuguesa,
residente, em 2010. A segunda (gráfico 5), apresenta-nos uma projecção do que será a
realidade portuguesa em 2020. Aquilo que é mais visível nos dois gráficos é que no quadro
de 2020 há um estreitamente na base e um alargamento no topo. O que isto nos quer dizer,
é que vai continuar a haver um envelhecimento da sociedade portuguesa.
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Fontes de Informação Sociológica 2012
Para alterar esta situação, não bastam medidas paliativas, como por exemplo premiar
casais que optem pela natalidade dupla ou tripla, ou ainda criar mais creches, ou até criar
condições de excepção para pais e/ou mães nos seu percursos profissionais, de molde a
incentivar a natalidade.
Gráfico 4
Fonte Pordata
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Fontes de Informação Sociológica 2012
Gráfico 5
Fonte Pordata
Para que possa haver uma renovação de gerações, é preciso acima de tudo que haja um
valor de nascimentos superior ao valor de óbitos. Ora, em Portugal, durante o século XX, já
se registaram valores de óbitos superiores aos nascimentos em pelo menos quatro anos,
1918, 2007, 2009 e 2010. Se exceptuarmos o ano de 1918, que foi marcado por uma grande
crise de mortalidade, provocada pela epidemia de gripe pneumónica, nos anos mais
recentes, o défice de nascimentos em relação aos óbitos é uma manifestação clara de uma
diminuição dos níveis de fecundidade. Para além da relação nascimento/óbitos, a ciência
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demográfica diz-nos que para haver uma renovação assegurada, cada mulher em idade
fértil deve gerar pelo menos 2,1 filhos. Como vemos no quadro abaixo Portugal está bem
longe desse valor.
Gráfico 6
Fonte: http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?c=po&v=31&l=pt
No que concerne à taxa de mortalidade, porque cada vez há mais pessoas idosas , ela tem
tendência para aumentar, embora, como o quadro abaixo mostra, desde o ano 2000, a sua
variação não tem sido muito significativa.
Gráfico 7
Fonte: http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?v=26&c=po&l=pt
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Como diz Maria João Valente Rosa, “ Em resumo, a primeira grande ameaça que paira
sobre nós, associada ao envelhecimento progressivo da população, é a da
descaracterização do nosso modo de viver e da eventual alteração dos valores
civilizacionais que nos habituámos a respeitar” (2012;p39).
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Fontes de Informação Sociológica 2012
Os activos mais velhos são assim dispensados e atirados para uma situação de reforma
inactiva, num período em que ainda reuniam condições físicas e intelectuais, para
continuarem a dar um contributo valioso à sociedade, quer em termos económicos, quer
mesmo em termos sociais
Maria João Valente Rosa (2012;p44) sintetiza de forma muito assertiva todas as
contradições que são vivenciadas nesta sociedade tão contraditória. “ Em suma, são
inúmeros os receios que associam o envelhecimento da população à produtividade. Mas,
porventura, não é a produtividade que está em causa, mas a necessidade de uma profunda
mudança na forma da organização da sociedade, questionando certos direitos que
defendemos por adquiridos. É essa provavelmente, a verdadeira fonte de tais receios”.
Pelo quadro que apresentamos abaixo, podemos verificar que, os grupos de idades que
mais são penalizados com a situação de desemprego, são os jovens até aos vinte cinco
anos. Os restantes grupos etários repartem entre si valores muito semelhantes.
Gráfico 8
Gráfico 9
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Tudo em demografia é longo. A saída dos idosos do mercado de trabalho não tem criado
lugar para os mais novos.
Muitas vezes definimos uma mesma situação com pareceres ou opiniões díspares. Assim,
ao olharmos para um copo com água, esse copo para um olhar pode estar meio vazio, e
para outro olhar ele pode estar meio cheio. São dois pensamentos, duas formas de análise
diferentes. É um pensar diferente.
É este desafio que está colocado à sociedade para que, com um pensar diferente, que
conduza a um agir diferente, se possa organizar para aproveitar no seu seio todas as
capacidades que podem ser geradas pelo envelhecimento. Parece-nos oportuno reproduzir
uma parte do texto de Maria João Valente Rosa, que temos vindo a analisar, referindo-se
aos dessafios que são colocados à sociedade pelo inexorável envelhecimento da
população.” Por isso, justifica-se que se pergunte: porque não aceitar uma revisão dessas
lógicas á luz dos desafios que se colocam ás sociedades actuais, em vez de perpetuarmos
a sua reprodução de modo acrítico? Porque não tomar consciência de que esses modelos
nos foram transmitidos _ durante séculos, provavelmente – por uma tradição cultural
dependente de acontecimentos, de homens, de organizações, de movimentos com os quais
já não temos qualquer afinidade? Numa palavra, porque não aceitamos o facto simples de
que poderíamos, hoje, ser diferentes do que somo se o que somos, ou como nos
organizamos em sociedade, nos está a conduzir a um impasse?” (2012;p51).
Todos os valores que hoje são transmitidos, como símbolos de uma sociedade que se
“alienou”, são os de juventude, de moda, de bem-estar, de movimento, de independência,
de individualismo, de prazer. Nestes conceitos, o envelhecimento demográfico é visto como
um excesso, já que a sociedade precisa de jovens activos, irreverentes e que são cada vez
mais insuficientes. Esta mesma sociedade, que se diz e quer livre, que se reclama do
conhecimento e que se identifica como global, deve reflectir sobre as razões por que se
torna tão premente reservar uma considerável parte das suas energias ao envelhecimento
demográfico. Parece-nos evidente que, a autora da obra que tem servido de suporte para o
n osso trabalho, não tem dúvidas quanto à existência de condições para que a sociedade
responda de uma forma humana aos desafios que são colocados resultantes dos avanços,
quer de ordem científica, quer de ordem material, económica ou cultural, que permitiram que
a vida seja cada vez mais prolongada e preservada.
Maria João Valente Rosa, defende um modelo de interligação, entre aquilo a que chama “
vantagens na coexistência entre juniores e seniores”, como uma resposta mais qualitativa à
ocupação de pessoas em ciclos mais avançados de idade. Neste campo avança com duas
ideias que nos parecem chave: o conhecimento como factor de competitividade e a
meritocracia.
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Fontes de Informação Sociológica 2012
Os desafios que são lançados devem ser respondidos e apreendidos por toda a sociedade,
na qual se devem integrar os idosos, mas também o Estado e todas as estruturas sociais.
Do modelo de partição, que caracteriza a sociedade de hoje, como refere Maria João V.
Rosa, deve passar-se para um modelo de interligação. Significa que os mecanismos de
protecção do Estado Social terão que vir a reflectir estas mudanças. Por exemplo, se, como
sugere Maria João V. Rosa, for interrompida a actividade laboral para estudar e mudar de
rumo profissional, como se processa o cálculo do período e do valor da reforma por idade?
É possível antecipar algum desse valor/direito sobre o futuro para pagar esses estudos? Em
que moldes e limites? Abandona-se completamente a lógica de repartição, em que os
trabalhadores de hoje pagam as reformas dos trabalhadores de ontem (reformados de hoje),
já que a distinção entre reformado e trabalhador poderá fazer muito menos sentido?
São interrogações que devemos colocar, estas e outras, para que seja possível obter uma
resposta para um problema que nos vai tocar, no futuro mais, do que no presente, mas que
nos obriga a prepararmos as respostas necessárias hoje.
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Fontes de Informação Sociológica 2012
3 A Pesquisa
Para a realização do presente trabalho, para além do recurso à obra de Maria João Valente
Rosa, já atrás citada, baseámos as pesquisas com consultas ao sítio da Pordata e ao sítio
do INE. Recorremos também a outros sítios, com a preocupação de reunir um maior número
de informação, que pudesse servir de suporte à argumentação que sustentámos.
Para além dos recursos utilizados nas pesquisas que efectuámos, salientamos também as
obras: Demografia a Ciência da População, de J. Manuel Fernandes, da Editorial Presença;
Demografia, Objecto, Teorias e Métodos, de Mário Leston Bandeira, da Escolar Editora e
Discriminação da Terceira Idade, de Sibila Marques, da Fundação Francisco Manuel dos
Santos.
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Fontes de Informação Sociológica 2012
A página da internet que escolhemos para avaliação está também relacionada com o
envelhecimento.
http://www.envelhecimentoativo.pt/conteudo.asp?tit=0.http://www.envelhecimentoativo.pt/defa
ult.asp
Se saber «dar anos à vida e dar vida aos anos» é uma vocação individual, poder envelhecer
bem exige o acesso à saúde, segurança e outras condições de vida tornando-se assim, também
uma missão política.
• Sugerimos que veja aqui o vídeo promocional oficial do Ano Europeu do Envelhecimento
Activo e da Solidariedade entre Gerações 2012 | "O primeiro passo para mudar
mentalidades" (1'00| Jan 2012).
Trata-se de uma página que tem a ver com o Ano Europeu do envelhecimento Activo. O
seu conteúdo pareceu-nos adequado, para além de ser muito informativa, bem delineada e
de fácil consulta. O seu título “ Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da solidariedade
entre gerações 2012”. Apresenta depois um conjunto de sete janelas: Ano Europeu-
Portugal; Iniciativas; Parcerias; Testemunhos; Recursos; Notícias; Ligações.
A Coordenação do AEEASG é apoiada por uma EO, com responsabilidade pela elaboração
e coordenação do programa nacional do Ano Europeu, que inclui as seguintes entidades:
a) Instituto da Segurança Social, I.P.;
b) Instituto de Emprego e Formação Profissional, I.P.;
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Fontes de Informação Sociológica 2012
c) Direção-Geral da Educação;
d) Direção-Geral de Saúde;
e) Instituto Nacional de Reabilitação, I. P.;
f) Instituto Português do Desporto e Juventude, I. P..
Iniciativas
Parceiros
Recursos
Agir sob o paradigma do "envelhecimento ativo", numa sociedade que prime pela igualdade
e solidariedade entre gerações, pode ganhar maior expressão se sustentado em recursos, entre
outros, éticos, científicos, metodológicos, tecnológicos e expressivos.
Esta é uma área, em permanente construção, com espaço para incluir recursos como:
• Dados sócio-demográficos
• Doc. técnicos&Publicações
• Apoios financeiros
• Multimédia
• Logos e material promocional
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Fontes de Informação Sociológica 2012
5 Ficha de Leitura
A Fundação Francisco Manuel dos Santos, justifica a inclusão desta obra nos “ Ensaios da
fundação”, com o texto que vai reproduzido:
“ Todos envelhecemos, por isso o envelhecimento individual (de cada um de nós) faz parte
do nosso quotidiano. Porém, começámos recentemente a ser confrontados com um outro
envelhecimento, de tipo colectivo: o envelhecimento da população em geral.
Este ensaio começa por falar das razões que conduziram à situação demográfica em que
nos encontramos. Argumenta, em seguida, que a aflição com o envelhecimento da
população é muito explicada por um outro envelhecimento mais profundo: a incapacidade de
a sociedade adaptar as suas estruturas sociais e mentais à evolução dos factos. Propõe, por
fim, um rumo alternativo de organização social sintonizado com as realidades
sociodemográficas em curso”.
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Fontes de Informação Sociológica 2012
Cada vez se torna mais usual falarmos de envelhecimento. Seja porque o tema merece
mais atenção, seja porque o “ser velho” é uma realidade cada vez mais presente na
nossa sociedade. Mas sempre se envelheceu, embora fosse mais corrente usarmos
este termo para caracterizar o envelhecimento individual. Mais recentemente, começou
também a falar-se no envelhecimento colectivo. Embora com características comuns,
são termos com significados diferentes.
Surgem assim duas situações para caracterizar o envelhecimento individual. Uma mais
ligada ao envelhecimento cronológico e outra ao envelhecimento biopsicológico. Uma
mais ligada à idade, vamos envelhecendo por um processo natural ao longo da vida. A
outra, embora reflexo do envelhecimento cronológico, não é tão linear, não é tão fixo em
termos de idade, porque cada pessoa envelhece de maneira diferente. Cada um de nós
apresenta de forma diferente e em diferentes períodos da sua vida sinais de
envelhecimento, mas que nos acabam de conduzir para a velhice.
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Numa abordagem mais exaustiva (estado das artes), retomaremos este tema com maior
profundidade. Agora interessa-nos compreender que, para a identificação clara das
idades que estão associadas às três categorias acima mencionadas, em Demografia,
consideram-se essas fronteiras, a partir de marcadores administrativos. Sempre que
estamos a utilizar, em relação à vida ou à idade, valores que possam ser arbitrários,
eles são ao mesmo tempo precisos.
“Esses marcadores correspondem às principais fases do ciclo de vida: até aos 15 anos,
antes da entrada na idade em que é possível ser-se activo, os jovens; entre os 15 e os
64 anos, a idade activa; com 65 e mais anos, ou seja, a partir da idade «normal» de
reforma, os idosos, também referidos como «terceira idade».” (M. J.V. Rosa 2012; p 23).
“As pirâmides de idades são gráficos que permitem ter uma visão de conjunto da
repartição da população por sexos e idades. As idades são representadas no eixo
vertical. Os efectivos são representados em dois semi-eixos horizontais (o da esquerda
é reservado aos efectivos masculinos e o da direita é reservado aos efectivos
femininos).” (Nazareth,2009;p109).
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Fontes de Informação Sociológica 2012
Os factores que a ciência demográfica mais tem identificado como as causas para o
processo do envelhecimento da população são dois; a redução da mortalidade e a redução
da fecundidade.
Todos nós aceitamos com o indesmentível que hoje se vive mais anos do que num passado
bem recente. A esperança de vida à nascença tem tido progressos muito assinaláveis.
Basta dizer que, no que toca a Portugal, por exemplo, em 1920, os homens tinham uma
esperança de vida de cerca de 36 anos. Em 1960 esta já atingia os 60 anos. Em 2010 a
esperança de vida dos portugueses à nascença é de cerca de 76 anos. Progresso
extraordinário.
Mas será que a estes avanços têm correspondido respostas eficazes, capazes de
acompanhar os progressos obtidos e que se traduzam num equilíbrio geracional que não
dramatize ainda mais a condição do envelhecimento?
Para além de outros factores, um dos que mais contribui para o envelhecimento da
população tem a ver com os baixos níveis de fecundidade. Trataremos com mais detalhe no
“estado das artes” este tema, mas não podemos passar sem o referir ainda que
superficialmente. Portugal tinha em 1960 um dos valores mais elevados na Europa, de filhos
por mulher, superior a três. Hoje esse valor situa-se em 1,4 filhos por mulher, sendo um dos
mais baixos da Europa e do mundo. Convém referir, que para haver renovação geracional é
necessário que cada mulher em idade fértil tenha 2,1 filhos.
Todo este conjunto de dados, vai forçosamente conduzir-nos para que tenhamos receios
quando nos debruçamos sobre as questões do envelhecimento demográfico no futuro.
O envelhecimento da população, que se traduz num cada vez maior número de pessoas
idosas, tem reflexos muito significativos sobre todo o universo social. São maiores as
necessidades e a procura de cuidados de saúde. Doenças do foro degenerativo como;
tumores, diabetes, doenças cardiovasculares, alzheimer. As dificuldades de visão de
mobilidade, são também responsáveis por perdas significativas de autonomia e por uma
maior dependência de apoio, seja ele familiar ou social.
A vida moderna, associada à mobilidade imposta pelas condições de trabalho, conduz a que
o apoio geracional que sempre esteve associado à nossa forma de viver, no passado, se
tenha alterado radicalmente. A inexistência de infraestruturas suficientes para dar resposta
ao envelhecimento e às consequências que daí advêm geram situações dramáticas.
As famílias monoparentais, que nos idosos representam um valor muito elevado, por morte
de um dos cônjuges, são causa de solidão, isolamento e receio. Esta realidade está
associada a uma parcela muito elevada dos agregados familiares de idosos em Portugal.
As precárias condições de habitações, principalmente nos grandes centros populacionais,
onde residem a maioria das pessoas com 65 ou mais anos, aliada a bolsas de pobreza,
constituem por si só receios fundados, face ao envelhecimento da população em Portugal.
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Fontes de Informação Sociológica 2012
Maria João valente Rosa, sobre os múltiplos receios face ao envelhecimento da população,
refere três ideias, que lhe parecem mais habituais quando se alude ao tema. Para a autora o
envelhecimento é mau porque: a população estagna e não há renovação de gerações; a
produtividade diminui; põe em risco a sustentabilidade da Segurança Social
É necessário renovar as gerações. Verifiquemos, mesmo que de forma algo superficial o
que se passa em Portugal. O número de óbitos tem-se mantido estacionário (cerca de
100.000 por ano), comum número de nascimentos em decréscimo, o saldo natural
(nascimentos menos óbitos), aproxima-se de zero ou até de valores negativos. Significa isto
que a população tenderá a diminuir pela via natural, por existirem mais óbitos que
nascimentos.
Uma forma de obstar a que esta situação se materialize tem a ver com as migrações.
Portugal depois de ter sido um país com inequívoca tendência para a emigração, sentiu
desde a década de oitenta um surto de imigração que contribuiu para atenuar a nossa
calamidade demográfica. Com efeito, a imigração de cidadãos brasileiros e, de uma forma
muito significativa, de todos os países com os quais partilhamos a língua e temos uma
relação de grande proximidade histórica e afectiva, contribuiu para tornar menos dolorosa a
nossa ameaça demográfica. Mais recentemente, outras nacionalidades, principalmente de
países do Leste europeu têm também contribuído para aumentar o fluxo da imigração.
Nem sempre são pacíficos ou pelo menos ausentes de receios estes movimentos. Os
imigrantes são confrontados muitas vezes com notícias ou referências que pouco dignificam
a presença destes grupos, sendo que o contrário não é tão frequente.
Deveremos reconhecer todavia que as sociedades envelhecidas e com fracos crescimentos
demográficos com estas opções: ou estão sujeitas a uma forte imigração, que seja superior
a emigração, ou a uma fraca imigração. Em qualquer dos casos uma certeza deve ser
reconhecida, a população autóctone irá progressivamente diminuindo em comparação com
a de outros territórios, no caso de a imigração ser fraca, ou diminuirá dentro do próprio
território caso a imigração seja forte.
Devemos aceitar que a globalização acontecerá também nos fluxos migratórios que se farão
sentir, cada vez com mais intensidade, e cada vez provenientes de locais do mundo que
apresentam índices de crescimento demográfico muito superiores aos verificados no
Ocidente.
Como refere Maria João Valente Rosa “a primeira ameaça que paira sobre nós, associada
ao envelhecimento progressivo da população, é a da descaracterização do nosso modo de
viver e da eventual alteração dos valores civilizacionais que nos habituámos a respeitar”
(2012;p39).
Portugal, nunca acompanhou os ciclos de industrialização e de desenvolvimento que foram
acontecendo ao longo da História no mundo e que por esse facto nunca desfrutou de
índices de produtividade que o aproximasse dos países desenvolvidos da Europa.
Agora que o nosso envelhecimento é particularmente acelerado, é mais um entrave à
produtividade. Somos levados a admitir que, ao envelhecer, um indivíduo produza menos.
Mas produzir menos não é o mesmo que deixar de produzir. Subsistem contudo
contradições que importa realçar. O tempo de vida que é dedicado à produção tende a
diminuir, o que parece um paradoxo com o aumento da esperança de vida.
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Fontes de Informação Sociológica 2012
“A confirmá-lo, está a diminuição, em Portugal, das taxas de actividade até aos 25 anos,
entre 1983 e 2010: passaram de quase 70% para menos de 40%. Quer isto dizer que, até
aos 25 anos, são cada vez menos os jovens que integram o grupo da população activa, ou
seja, que se encontram em situação de empregado ou de desempregado.” (M.J.V. Rosa
2012;pp40-41).
São vários os processos e situações que concorrem para que possamos observar a
realidade que já apontámos. A idade da reforma em Portugal é hoje inferior a 62,5 anos,
apesar da idade estabelecida por lei se situar nos 65 anos. Já se olharmos para as taxas de
actividade observadas actualmente no grupo etário 55-64 anos, elas situam-se próximo dos
55%, enquanto as taxas de actividade do grupo etário imediatamente anterior, dos 45-54
anos, ficam próximo dos 85%.
Numa sociedade que envelhece como a nossa, ganhos de produtividade poderiam estar
associados à utilização de imigrantes que nos procuram com elevadas qualificações. Tal
não tem acontecido, principalmente com muitos imigrantes oriundos dos países da Europa
de Leste, com níveis de qualificação muito elevados, mas que não são colocados em
sectores mais competitivos da economia. Vemos sim, licenciados ou mesmo doutorados em
tarefas de construção civil ou para trabalhos em que o seu potencial foi completamente
desbaratado.
Quando falamos do envelhecimento da população, associamo-lo sempre ao agravamento
das despesas sociais, como a protecção social e as pensões de velhice.
O permanente agravamento destas despesas, coloca uma incerteza permanente na
sustentabilidade do sistema de Segurança Social e para o aumento progressivo do esforço
contributivo.
Em Portugal, um número muito significativo de pessoas desconhece na realidade, em que
base assenta o princípio da fórmula redistributiva das pensões. O modelo baseia-se no
princípio da solidariedade geracional. Isto estabelece que, as gerações activas,
trabalhadores e empregadores, ao descontarem, financiam as reformas dos actuais
reformados, pressupondo-se que estas mesmas gerações, quando atingirem a idade de
reforma, tenham alguém que financie as suas reformas.
Só que o número de activos, por pessoas reformadas, tem vindo a diminuir, o que põe em
risco a sustentabilidade futura do sistema, não garantido que o mesmo se mantenha nos
moldes em que hoje se encontra.
Maria João Valente Rosa identifica um conjunto muito alargado de constrangimentos que
põem em causa a solidariedade geracional e que são propiciadores para o aparecimento de
graves conflitos e atropelos ao modelo de financiamento da Segurança Social. No seu
entender a verdadeira razão dos problemas sociais está, antes, na inadequação de que dá
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Fontes de Informação Sociológica 2012
mostras a sociedade ao curso dos factos. Houve uma mudança significativa no seu «corpo
populacional», mas não mudaram os modelos e sistemas que a organizam.
“Logo, o problema não pode ser imputado à alteração do corpo populacional, mas às
adaptações, que abrangem múltiplas dimensões (como a relação com o trabalho, com a
formação, com os outros – conhecidos ou estranhos, com o lazer), obrigam a pensar de
forma diferente” (M. J. V. Rosa 2012;p49).
5.6 Para uma Sociedade Mais Inteligente, Novo Paradigma de Ciclo de Vida, Situação
no Trabalho.
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Como já vimos em referências anteriores, a sociedade olha para o idoso de maneiras muito
diversas. Mas há sempre determinados estereótipos que retratam estes tratamentos com
uma marca definida. A autora apresenta dois ou três casos que ilustram bem essa carga de
pré-definição, como lhe chama, referindo-se a notícias veiculadas sobre pessoas idosas:
«idoso atropelado», «idoso assaltado»; «idoso há cinco dias desaparecido». E questiona de
seguida se faria algum sentido que, em vez da palavra «idoso», estivesse a palavra
«adulto», ou «activo».
Aparece associado ao ciclo de vida o termo idadismo, que não poucas vezes sugere uma
classificação negativa não muito diferente das expressões utilizadas para o racismo ou para
a classificação de minorias étnicas.
As novas sociedades não carecem mais de uma mão-de-obra assente no esforço físico e,
portanto, na utilização de uma mão-de-obra assente em indivíduos apenas em idades
activas pujantes. Um conjunto muito alargado de ocupações de grande prestígio, podem
perfeitamente ser exercidas, com vantagem, por pessoas, que estão já, por imperativos
legais, fora do mercado de trabalho, por terem atingido o limite de idade.
O ciclo de vida, tal como temos vindo a referir, não pode continuar associado a uma
sociedade que já não existe. São diferentes as idades com que hoje se iniciam as carreiras
profissionais, são diferentes os percursos profissionais que hoje se estabelecem. A
formação já não acontece num período específico da vida, mas tem que ser uma constante.
A produção também não está hoje associada a uma única arreia ou percurso.
Todas estas alterações tendem a que sejamos desafiados a encontrar novas soluções que
compatibilizem, formação, trabalho, lazer, vidas mais longas e usufruto de bem-estar.
5.7 Síntese
Talvez por me encontrar num período da minha vida que me aproxima muito do tema desta
obra, ela me tem despertado tanto interesse e tenha sido alvo da minha escolha.
Há alguns anos atrás, no exercício das funções que então desempenhava nos corpos
gerentes de uma Associação da aldeia onde vivo e a propósito de dotar a referida
associação de outras valências de que ainda não dispunha, fui muito criticado por ter
defendido que o foco principal de via estar assente na protecção à «terceira idade». Numa
altura em que só se pensava em jardins-de-infância, os meus argumentos caíram muito mal.
Apesar de tudo, não vislumbrava já que a dimensão do problema tomasse as proporções
que hoje tem e em tão pouco espaço de tempo.
O desafio que retenho também desta obra, pela sua objectividade, fácil leitura, e quantidade
de informação disponibilizada, também se coloca no patamar de uma melhor compreensão
e preparação para poder agir e participar em acções de variado tipo e a variados níveis, por
forma a contribuir para que os problemas do envelhecimento, na sociedade portuguesa,
possam ser minorados.
A dimensão deste ensaio não o obriga a uma abordagem transversal do problema do
envelhecimento da sociedade portuguesa. Daí compreender que a autora não se tenha
referido ao problema das infraestruturas, ou da ausência delas, que são absolutamente
fundamentais para a evolução do envelhecimento da sociedade portuguesa.
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6 Conclusão
O momento que vive a sociedade portuguesa não é o mais propício para este tipo de
reflexão. Os problemas sociais que vivemos no dia-a-dia podem distanciar-nos dessa
reflexão necessária. Mas hoje quando assistimos às notícias que nos informam e mostram a
degradação cada vez mais acentuada das condições de vida de faixas da população, que
até há pouco pensávamos completamente imunes, podemos mais facilmente antever e
compreender o que nos espera o futuro.
Se esta obra contribuir para esse debate e essa reflexão, é também um contributo
importante da Sociologia Portuguesa, para o trabalho de terreno que é necessário
implementar.
Terminamos este trabalho com uma frase com que Maria João Valente Rosa inicia a sua
obra.
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7 Referências Bibliográficas
Rosa, Maria João Valente. O Envelheciemnto da Sociedade portuguesa. Lisboa: Relógio D'Água, 2012.
Rosa, Maria João Valente. O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa. Lisboa: Relógio D'Água, 2012.
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Anexo A
Fontes de Informação Sociológica 2012
Anexo B
http://www.envelhecimentoativo.pt/conteudo.asp?tit=0
À escala europeia, vale a pena explorar esta plaforma para saber de iniciativas, parceiros,
eventos, novidades, perceções e afinal, boas ideias para uma sociedade com vitalidade e
dignidade para todos...leia mais