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Tarefa01 - Correção 1 1
Tarefa01 - Correção 1 1
1 INTRODUÇÃO
contado e que forneça elementos para tentarmos entender melhor o que somos hoje”
(FERNÁNDEZ; BEDOYA, 2012, p. 23).
Assim, quando em nosso estudo relativo à Capoeira Angola propiciamos que
os seus cultores participassem do processo de produção do conhecimento,
contribuindo por meio de seus próprios relatos e também participando do processo da
análise, como descreveremos em momento oportuno, conseguimos lançar luzes
sobre a mesma, desvelando aspectos muito particulares dessa forma de lazer e, ao
mesmo tempo, de resistir ao modo colonizador ainda dominante. Com efeito, foi no
espaço do folguedo, da festa, do batuque, da “brincadeira” negra, permitidos porque
aparentemente inofensivos, que
ou seja, sua forma organizativa, seus treinos, os temas que foram debatidos em seus
eventos e publicados em suas revistas e, principalmente, o ritual da Roda de Capoeira
Angola, percebemos que a própria função da Roda de Capoeira é a de presentificar
essa cosmovisão.
Nesse sentido, com o objetivo de conhecer mais sobre essa cosmovisão, já que
é transmitida por meio de um longo processo iniciático no qual se possibilita ao
aprendiz uma vivência estética afro-brasileira, buscamos, inicialmente, a partir da
bibliografia especializada, compreender as características de tal estética. Isso feito,
passamos a analisar a Capoeira Angola, suas funções, seus fundamentos e suas
técnicas, a partir desse paradigma estético. Tal paradigma, embora muito diferente
dos referenciais estéticos políticos, liberais ou socialistas do mundo ocidental
moderno, engendra uma estética também política na medida em que realça as
diferenças étnicas e culturais dentro do contexto de exploração econômica e de
subjugação étnico-cultural.
Considerando que os iniciantes introjetam essa cosmovisão a partir da
experiência estética, convidamos vinte e cinco, dentre os Contramestres e Treinéis da
Acesa, todos com mais de nove anos de prática, a participarem de entrevistas
roteirizadas. Essas entrevistas nos permitiram perceber que, para além de uma
estética, uma ética também se constituiu no grupo. Desse modo, a partir dos padrões
estéticos verificados, tangenciamos os fundamentos éticos da Capoeira Angola.
A seguir, tratamos de esclarecer os aspectos da resistência política
concernentes a essa prática cultural e pudemos verificar que, não só a estética e a
ética grupal estariam orientadas por padrões culturais afro-brasileiros, como
demonstramos, mas a própria forma de organizar do grupo também presentificaria
modelos já experimentados pelos afro-brasileiros em Palmares, os quais, por sua vez,
reportavam às formas de lutas e de organizações sociais dos Bantos na África.
Por fim, verificamos como os fundamentos que organizam essa cosmovisão -
uma vez que “[...] consagram a magia e a hierarquia como um dos elementos centrais
de seu universo de valores” (MONTERO, 1996, p. 113), reafirmando, portanto, valores
dissonantes com a modernidade - contribuem para construção da cidadania e de uma
ordem social democrática.
Diante dessas considerações iniciais, apresentamos em seguida o percurso
teórico-metodológico desenvolvido neste trabalho.
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REFERÊNCIAS