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Tiquira Ciência e Tecnologia

Chapter · April 2016

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Vitor Hugo Brito Salentim Marney Cereda


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24

TIQUIRA
Marney Pascoli Cereda
Vitor Hugo dos Santos Brito

24.1 INTRODUÇÃO uma camada de 2 a 3 cm de folhas de bananeira.


O Brasil herdou da cultura dos ameríndios a Posteriormente os beijus eram borrifados com água,
tradição do preparo de alimentos fermentados obti- e sobre eles era colocada uma camada de folhas de
dos da mandioca (Manihot esculenta Crantz), pro- mandioca picadas que chamavam de manissoba.
dutos esses já bem enraizados na alimentação de Esta camada recebia outra de folhas de bananeira
base do brasileiro, em todas as regiões do país de mesma espessura que a primeira. A pilha era con-
(CHUZEL; CEREDA, 1995). Entre eles, cita-se o solidada por madeiras sobrepostas para que não
polvilho azedo, que é o amido de mandioca natural- desmoronassem. Depois de 3 a 4 dias, as camadas de
mente fermentado por 40 a 60 dias no processo tra- folhas eram removidas e os beijus, já cobertos de
dicional ou 15 dias no processo industrial e depois mofos, eram colocados em grandes recipientes, fe-
seco ao sol e a farinha d’água, carimã ou mandio- chados com folhas superpostas e amarradas com
ca puba que têm em comum uma etapa a fermenta- cipó. Após de 2 dias, ao desfazer a cobertura, verifi-
ção natural das raízes em água. Dentre todos os pro- cavam que os beijus estavam úmidos e que deles
dutos, o menos conhecido desses fermentados é a escorria um líquido amarelado e cristalino, com sa-
aguardente feita de mandioca, denominada tiquira, bor de “vinho branco”. Os beijus dissolvidos em
uma bebida tradicional do estado do Maranhão. Ain- água apresentavam variação de cor, que ia de ama-
da existem muitas outras bebidas que são de uso relo “gema de ovo” a pardacento, com consistência
dos povos indígenas brasileiros, entretanto são pou- cremosa. A bebida, denominada caxiri, tinha sabor
co divulgadas. O presente capítulo se propõe reunir agradável e era considerada diurética. Caso o caxiri
informações sobre estas bebidas alcoólicas obtidas não fosse consumido rapidamente, após 2 a 3 dias
da mandioca, com ênfase na tiquira. fermentava e dava origem a uma bebida embriagan-
Souza (1875) citado por Gonçalvez-Lima (1974) te, que quando destilada, dava origem a uma exce-
descreve uma síntese de todas as bebidas prepara- lente aguardente chamada tiquira.
das a partir de raízes de mandioca por índios. As raí­ Portanto, a origem da tiquira não é do estado
zes (descascadas) eram raladas e espremidas no ti- do Maranhão, mas se tornou conhecida neste estado.
piti (Figura 24.1a). O líquido (manipueira) era Os autores Venturini Filho e Mendes (2003) citam
desprezado e com a massa eram feitos grandes bei- que o estado do Maranhão é o principal produtor da
jus, que eram tostados no mesmo forno onde era tiquira, com fabricação que era então concentrada
feita a farinha de mandioca. Depois de cozidos, os nas cidades de Santa Quitéria, Barreirinhas e Hum-
beijus eram colocados sobre taboas cobertas por berto de Campos. A produção de tiquira ainda é

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artesanal e sua comercialização se faz no mercado se alimentar. Essa bebida era denominada tiquara.
informal, não sendo conhecidos dados estatísticos de Este tipo de bebida era também usual dos indígenas
produção ou registro de produtor no Ministério da de outras regiões da América do Sul. Sob a denomi-
Agricultura. nação de chibé, sendo esta ainda comum na Bolívia.
Segundo o imaginário popular, a tiquira é mui- A palavra caxiri se aplicava a diferentes bebi-
to forte e com duas ou três doses derruba qualquer das amazônicas, tanto ao autêntico fermentado dos
um. Dizem, no Maranhão, que quando uma pessoa beijus tostados, mas também a fermentados de fru-
toma algumas doses de tiquira não é bom tomar ba- tas. A confusão criada em torno da palavra caxiri e
nho ou molhar a cabeça ou os pés, pois assim acon- das designações de outras bebidas resultou de infor-
tecendo, a pessoa pode até morrer ou ficar aluado mações apressadas de alguns viajantes, porque os
ou ruim da cabeça (TIQUIRA, 2004). indígenas sabiam bem distinguir as diversas bebidas
Contrastando com essa potencialidade, a ti- por nomes adequados. É o que se conclui da diversi-
quira está desaparecendo do Maranhão, sem condi- dade de vocábulos, indicando diferentes bebidas em
ções de competir com os baixos preços da aguar- uma mesma região. Aparece na língua tupi, signifi-
dente de cana-de-açúcar proveniente do Sudeste do cando caldo obtido de qualquer dos frutos da mata,
país e do próprio Nordeste. A razão desta falta de como o açaí, o patauá e a pupunha. Entretanto, o
competitividade é seu processo artesanal de obten- autor ressalta a paixão dos índios pelas bebidas fer-
ção, que aumenta o custo de produção em função da mentadas, e neste caso o caxiri se prepara de gran-
baixa produtividade. des beijus de mandioca, enquanto o paiauaru é
Neste processo artesanal, a transformação do bebida mais elaborada do que o cauim e caxiri, re-
amido da mandioca em açúcares é feita por bolores sultando da preparação de uma papa feita de farinha
autóctones (mofos) que surgem sobre os beijus e a de beijus ou da própria mandioca cozida, que se di-
fermentação alcoólica é feita por leveduras selvagens. lui com água e se deixa fermentar um pouco.
Esse tipo de produção tradicional é demorado e de No diário do Padre Cristóvão d’Acuña, denomi-
baixo rendimento. Para alterar este padrão, o proces- nado “Novo Descobrimento do Grande Rio das
so deverá ser modernizado, sem alterar as caracterís- Amazonas”, no qual se apresentam os costumes dos
ticas da bebida e sem se tornar complicado demais, indígenas amazônicos ribeirinhos, tais como ainda vi-
com tecnologia adaptada às comunidades rurais. viam em 1639, já havia referências às bebidas que
preparavam, à base da mandioca. Segundo essa fon-
te, as bebidas feitas a partir dos beijus eram muito
24.1.1 Bebidas à base de mandioca
apreciadas, e serviam também de pão cotidiano, o
Os ameríndios preparavam diversas bebidas a qual acompanha todas as comidas. Os beijus secos
partir de diferentes matérias-primas, incluindo frutas podiam ser guardados por muito tempo nas partes
e amiláceos como milho e mandioca. A maioria das mais altas e secas das casas. Para usar bastava juntar
referências sobre as bebidas, fermentadas ou não, à água, desfazer e cozinhar ao fogo. Após, deixavam de-
base de mandioca, tem a região Amazônica como cantar o caldo e, estando frio, o “vinho” estava pronto
origem, sendo a tiquira descrita como preparada para beber e era tão forte quanto o vinho de uvas. O
por índios do Pará e Amazonas. mocororó era diferente do caxiri feito pelos povos
Gonçalvez-Lima (1974) relata a origem de di- aruaques, porque era previamente embolorado, o que
versas bebidas das comunidades autóctones das não ocorria com o caxiri. O nome caxiri parece ha-
Américas, algumas vezes fazendo as conexões com ver se tornado uma designação genérica, pouco pre-
bebidas similares de outros países. O autor divide cisa, já no século 18, a julgar pela frequência com que
essas bebidas em mitigadoras de sede, nutritivas e é citado apenas como mero significado de bebida fer-
alcoólicas. O autor lembra ainda, citando os visitan- mentada indígena (GONÇALVEZ-LIMA, 1974).
tes estrangeiros que tiveram longo contato com os Gonçalvez-Lima (1974) cita que José Veríssi-
hábitos dos índios, que na verdade estes preferiam mo, em publicação de 1878 sobre as populações in-
ingerir os alimentos líquidos aos sólidos. dígenas da Amazônia, estabelece uma valiosa carac-
Como os índios evitavam beber água pura, con- terização sistemática dos principais fermentados. A
siderando que os debilitava, preparavam uma bebi- partir do mbeiu-açu (beiju-açu), preparavam di-
da pela suspensão de farinha de mandioca em água, versas bebidas, doces ou embriagantes. A caissuma
a qual usavam para matar a sede e ao mesmo tempo é descrita como um tucupi engrossado com farinha,

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TIQUIRA 471

cará (taro) ou outro tubérculo, até a consistência de Neste caso, o beiju-guaçu ainda quente era ensopa-
mingau. O autor cita ainda que os índios elaboravam do em água, disposto no solo entre duas camadas de
diversos tipos de “vinhos” e “aguardentes”. Essas folha de embaúba, permanecendo por 4 a 5 dias até
bebidas alcoólicas eram consumidas com abundân- embolorarem. Quando o líquido apresentava sabor
cia nas festas e banquetes. doce, era coado em vasilhames de cerâmica.
Diversas bebidas alcoólicas eram derivadas das Gonçalves-Lima (1974) assinala que na catego-
raízes de mandioca. A base para elaboração destas ria de bebida-alimento estava o massato, uma mas-
bebidas era o beiju, que segundo o autor podia ser sa ralada de mandioca parcialmente sacarificada
de dois tipos, os beijus secos e os beijus d’água. Os pela saliva. A massa insalivada era acondicionada
beijus d’água seriam os mais comuns por dar origem em folhas de bananeira e sofria um cozimento par-
a bebidas do tipo cerveja, vinho e aguardente. Como cial do amido, devido ao aumento da temperatura
variação, os beijus podem ser colocados ao relento, causada pela fermentação natural. Mesmo entre os
sobre folhas de palmeira onde recebem sol e chuva. índios tapuias, havia o hábito de levar esses bolos
Com isso, seria favorecido o crescimento de bolores de massato como um alimento de viagem. Desta for-
na superfície. Para fazer o mocororó, um tipo de ma, era considerada uma bebida-alimento de fácil
fermentado, os beijus eram mastigados pelas idosas preparo, disponível e de longa duração. A preserva-
da aldeia até se desfazerem como um mingau. Esse ção se dava pela formação de ácidos e álcool, que
mingau era então colocado em vasos de barro e diluí­ faziam dos bolos um tipo de conserva. Sugere tam-
do com água para fazer o “vinho” doce. Este podia bém o autor a provável origem da bebida paiauaru,
ser deixado fermentar naturalmente por mais alguns esta já derivada de um processo de sacarificação da
dias para ficar com sabor mais acentuado. Segundo massa ralada de mandioca por bolores. Ainda segun-
o autor, o mocororó seria a transição entre os ensa-
do o autor, essa bebida derivou do hábito dos índios
livados simples de amiláceos cozidos ou tostados e
de guardar e mesmo esconder os bolos de massato
as bebidas do Extremo Oriente, do grupo tsiu-djin
em cavidades das árvores nas florestas úmidas, para
chinês, isto é, as cervejas elaboradas por utilização
poder comê-los quando necessário.
da capacidade sacarificante dos bolores.
Um tipo de “cerveja” denominada chicha, seme-
De acordo com o informe de Le Cointe e Ber-
lhante ao cauim preparado do milho, usava massa
nardino de Souza (1873), a bebida de nome tarubá,
ralada de raízes de mandioca. Era preparada a partir
também era preparada pelos índios com beijus mo-
de beijus finos que eram assados no forno e guarda-
fados, mas não era fermentada. Neste caso, os bei-
dos em locais secos e arejados. Com esses beijus secos,
jús-assus mofados eram conservados envolvidos
eles preparavam um tipo de “vinho”, desmanchando-os
em folhas de bananeira por 8 dias. Depois, eram pul-
verizados em água juntamente com folhas de curu- em água e deixando decantar e fermentar. A bebida,
my (Muntingia calabura L. Elaeocarpaceae) e em correspondente ao sobrenadante, podia embriagar
seguida, a suspensão era peneirada para ser usada como vinho de uva (GONÇALVEZ-LIMA, 1974).
como bebida adocicada. O tarubá era uma bebida Segundo Gonçalvez-Lima (1974), o beiju embo-
inofensiva, um sacarificado de mandioca não alcoó- lorado seria o correspondente indígena do “bolo-fer-
lico. Essa bebida não alcoólica correspondia ao mento” de Sikkim (Índia), ao chew ou pia chinês, ao
paiwari não fermentado, ou ao próprio caxiri pri- ragi malaio (Java), ao tane-koji (fungo-fermento)
mitivo, como descrito em 1839 por Ladislau Montei- japonês. Barbosa Rodrigues, citado por Gonçalvez-
ro Baena, citado por Gonçalvez-Lima (1974), para -Lima (1974), em seus informes sobre os ipurucotó
quem a partir da massa ralada e prensada da man- de Uraricuera e Parimá, informa que as festas eram
dioca se faziam beijus grandes (beiju-açu) que de- animadas com um tipo de “vinho” inebriante chama-
pois de cozidos eram postos em camadas sobre a do de anaruapá, que como o caxiri, era feito com
folha de curumicaá, colocados em um paneiro o paiauaru. A bebida era feita a partir de um gran-
(cesta) feito com a folha do açaizeiro. Passados dois de beiju de massa ralada e prensada de mandioca,
dias, era feito o caxiri, pela dissolução do beiju em torrado sobre a chapa do forno. Acamado em um
água, seguida de peneiragem. cotai (paneiro) e borrifado com água até ficar azedo,
Uma variante da fabricação do paiauaru é en- embolorado e fermentado, era metido em potes ou
contrada na descrição de 1786, feita por Alexandre yaçahuas (cahaná) para fermentar mais. Dissolvi-
Rodrigues Ferreira citado por Gonçalvez-Lima (1974). do na água e coado, originava então o anaruapá,

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bebida usada em suas festas. Além deste fermenta- deri­vando de ti (água, sumo ou caldo, como em ti-
do, faziam também o pajuá ou caxiri preto e o quire ou tiquiri pingar, destilar). Esta etimologia
anaecó. O primeiro era feito de mandiocas peque- também aponta para a existência de destilados já na
nas, raspadas e cortadas em lâminas, que eram se- época do descobrimento do Brasil.
cas ao sol e depois torradas no forno. Depois de pul- Entre as bebidas derivadas da mandioca, ape-
verizadas em pilão, o pó era misturado com polvilho nas a tiquira possui legislação específica. A tiqui-
fresco (amido de mandioca), a fim de fazer os bei- ra, como outras aguardentes, é uma bebida de ele-
jus. O anaecó era feito com milho cozido, mascado, vado o teor calórico, principalmente em razão de
fermentado e coado. seu teor alcoólico. A graduação alcoólica especifica-
Dessas bebidas, a única destilada é a tiquira, da no Decreto 6.871 (BRASIL, 2009) é de 36 a 54%
conhecida também como pinga de mandioca. A raiz, v/v, a 20 °C. Embora haja especificação da gradua-
depois de processada na forma de beiju, é fermenta- ção alcoólica mínima, dificilmente ela é aferida, em
da por técnicas próprias e destilada (TIQUIRA, 2004). razão do nível artesanal de sua fabricação e da co-
Le Cointe (1922), citado por Gonçalvez-Lima mercialização dispersa.
(1974), informa que, terminada a fermentação, o A destilação da tiquira deve ser efetuada, de
caldo fermentado e coado era destilado em alambi- modo a garantir ao destilado características senso-
que, que mais frequentemente era feito de barro. A riais, como aroma e sabor semelhantes aos elemen-
Figura 24.1b ilustra um destilador de cerâmica en- tos naturais voláteis contidos no mosto fermentado,
contrado em um antiquário da cidade de Itú, SP. derivados do processo fermentativo ou formados
durante a destilação. Segundo a mesma legislação,
a tiquira pode conter até 30 g L–1 de açúcar. Quan-
do a quantidade de açúcar adicionado for superior a
6 g L–1, a denominação deve ser seguida da palavra
adoçada. O coeficiente de congêneres (impurezas vo-
láteis não etanol) deve estar na faixa de 200 a 650 mg
por 100 mL de álcool anidro.

24.1.3 Consumo e saúde


a) b) A tiquira não pode ser considerada como nu-
Figura 24.1 Tipiti (a) e caldeira de destilador de tritiva, sendo apenas uma bebida alcoólica destilada,
cerâmica usado por povos indígenas portanto energética. O consumo crônico de bebidas
do Amazonas. alcoólicas é um problema social e pode causar diver-
Fonte: Cereda e Costa (2008). sos agravantes à saúde, tais como danos físicos seve-
ros ao estômago e fígado (NASCIMENTO et al., 1992).
Em trabalho realizado por Nascimento et al.
A existência de alambiques de cerâmica na (1992), os pesquisadores demonstraram o efeito do
América do Sul poderia ser explicada pela origem consumo de bebidas alcoólicas, inclusive tiquira
asiática dos ameríndios. Alambique do mesmo mate- com grau alcoólico de 48% v/v (20 °C) sobre o siste-
rial foi encontrado na província de Jiangxi na China ma imunológico. Os testes foram realizados com for-
e datado da dinastia Yun (1271-1368). Antes desta necimento ad libitum a camundongos adultos com
descoberta a existência de destiladores em cerâmi- 2 a 3 meses de idade e de 16 a 17 g de massa corpo-
ca era desconhecida. ral. O ensaio foi avaliado e comparado a um controle
que recebeu apenas ração e água sem tiquira. Os
24.1.2 Definição e legislação da tiquira resultados (Tabela 24.1) demonstraram que o con-
A literatura esclarece a etimologia da palavra. sumo continuado desta concentração de tiquira
Segundo Stradelli, citado por Gonçalvez-Lima (1974), por 30 dias induziu à produção de anticorpos auto-
tiquira é palavra nheengatu, significando “desti­ -reativos nos camundongos e interferiu nas reações
lada” ou “obtida a pingos”, a partir do beiju de imunológicas por reduzir o número total de células
mandioca fermentada. Para Anchieta, citado por excretoras de imunoglobulina e aumentar a produ-
Gonçalvez-Lima (1974), a palavra tiquira é tupi, ção de anticorpos.

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TIQUIRA 473

Tabela 24.1 Efeito do consumo de tiquira sobre o sistema imunológico de camundongos (consumo diário
de 8 mL de tiquira 48% v/v por 30 dias).
Grupos Controle Tiquira
Ração (g dia )
–1
15,00 ± 4,00 13,00 ± 4,00
Consumo Água (mL dia )–1
24,00 ± 5,00 16,00 ± 2,00
Tiquira (mL dia–1) 0,00 ± 0,00 8,00 ± 2,00
Imunoglobulina EU 1600,00 ± 30,00 193,00 ± 20,00
Níveis no sérum
Anticorpo RBC 119,00 ± 16,00 800,00 ± 20,00
Proteínas A 482,00 ± 22,00 58,00 ± 3,00
Número de Células
Anticorpos RBC 183,00 ± 14,00 272,00 ± 16,00
Legenda: Total de líquidos: 24 ± 2 mL dia–1; UE: Unidades ELISA.
Fonte: Nascimento et al. (1992).

A pesquisa prosseguiu para verificar se esse Ambos os polímeros são formados por unidades de
efeito se deve apenas ao álcool presente na tiquira glicose, entretanto a estrutura da amilose é essen-
ou a outro composto presente na bebida, mas deve-se cialmente linear, formada por unidades conectadas
levar em conta que a quantidade administrada aos ca- por ligações α 1-4, enquanto que a amilopectina
mundongos foi de 47 a 50% sobre a massa corporal possui ligações α 1-4 e ligações α 1-6, proporcionan-
dos animais, por dia, durante 30 dias, não sendo, por- do arranjo ramificado à estrutura (GARCIA et al.,
tanto, uma dosagem comparável à do consumo hu- 2009; UTHUMPORN et al., 2010). Para que ocorra a
mano, mesmo exagerado. conversão do amido em açúcares de menor massa
molecular é necessário usar enzimas específicas para
24.2 MATÉRIA-PRIMA o rompimento da estrutura.
A matéria-prima para a produção de tiquira é
a raiz de mandioca ralada e moída. Embora não tenha
sido localizada a composição específica de massa ra- Tabela 24.2 Composição média de raízes de man-
dioca do cultivar Liberato do estado
lada e prensada de mandioca usada para fabricação
do Maranhão, comparada a um valor
de tiquira, pode-se considerar a sua composição
médio na região Sudeste.
como semelhante à de outros cultivares de mandioca
Cultivar Região Sudeste
em uso no Brasil. Além da massa ralada e prensada Composição
Liberato (*)
de raízes, apenas água é adicionada no momento de
Massa seca (%) 38,92 40,60
diluir os beijus e preparar o mosto.
Distribuição na massa seca
A composição das raízes de mandioca de alguns
cultivares do estado do Maranhão é apresentada na Amido (%) 86,66 82,50
Tabela 24.2. Açúcares
2,12 2,00
Como pode ser observado na Tabela 24.2, as redutores (%)
raízes de mandioca apresentam predominantemente Fibras (%) 1,63 2,70
amido, com cerca de 2% de açúcares redutores, que Gordura (%) 0,91 0,30
poderiam também ser transformados em álcool, Proteína bruta (%) 1,07 2,60
caso se adotasse um processo sem prensagem (Figu- Cinzas (%) 1,72 2,40
ra 24.4). A maior diferença entre os cultivares mara-
Outras
nhenses e sulistas está na massa seca, maior para o
cultivar sulino, mas o teor de amido dos cultivares pH 6,38 6,47
maranhenses foi ligeiramente maior. Acidez (mL de
2,52 2,91
NaOH N 100 g–1)
O amido de mandioca é composto por molécu-
las de amilose e amilopectina (Figura 24.2a e 2b). * Venturini Filho e Mendes (2003).

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474 Bebidas alcoólicas

CH2OH
HO O
HO
HO CH2OH
O O
HO
CH2OH
HO O
O CH2OH
HO O
HO
O HO
n
HO
OH
a)

CH2OH
O O
CH2OH OH
CH2OH
O O
O OH
HO
OH
HO
CH2OH OH
HO
O O O
HO
CH2
HO O
O
HO CH2OH
HO O
O
n CH2OH
O
O
HO
HO
HO
b) OH
Figura 24.2 Estrutura química do amido. Amilose (a) e amilopectina (b).
Fonte: Corradini et al. (2005).

No processo tradicional de produção de tiqui- OH OH


ra, as enzimas produzidas pelos bolores e bactérias O
HO O HO
autóctones hidrolisam o amido gerando açúcares O CH3 HO O CH3
HO
que as leveduras fermentam a etanol. Para não dei- OH OH
C CH3 C CH2CH3
xar essa importante fase ao acaso, no processamen- N N
to apresentado na Figura 24.4, emprega-se enzimas
e leveduras comerciais. a) b)
As massas secas de mandioca dos cultivares Figura 24.3 Estrutura química dos cianoglicosídeos
maranhenses apresentam valor médio de 39% (Ta- linamarina (a) e lotaustralina (b).
bela 24.2). Os teores de proteínas (1,1%) e gorduras Fonte: Cagnon, Cereda e Pantarotto (2002).
(0,9%) são baixos, o que é uma característica da
mandioca. O teor de proteína não representa adequa­
damente os compostos nitrogenados da mandioca, A toxicidade cianogênica da mandioca origina-se
que, além do nitrogênio proteico, apresenta nitrogê- da formação do ácido cianídrico (HCN) a partir da
nio não proteico, destacando o cianeto (CN-) dos gli- hidrólise enzimática dos cianoglicosídeos por ação
cídios linamarina e lotaustralina, cujas formulas estão das enzimas linamarase e hidroxinitriliase. A con-
apresentadas na Figura 24.3. centração de glicosídeos pode variar amplamente

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TIQUIRA 475

entre as cultivares, tanto por razões genéticas, como cristalinidade, sua estrutura se abre, as cadeias
por fatores ambientais (localização, tipos de solo, es- em espiral se esticam, facilitando a ação das
tação), podendo atingir valores de até 2.000 mg kg–1, enzimas. Detalhes sobre a estrutura do amido e
tanto nas raízes, quanto nas folhas. o efeito do calor podem ser encontrados em
A presença desses glicosídeos cianogênicos Cereda (2001).
pode influir na geração de carbamato de etila, pois o ◆ Sacarificação: nesta etapa, as ligações α 1-4 e
cianeto é considerado um precursor. Portanto o po- α 1-6 do amido são rompidas. Quanto mais
tencial tóxico da tiquira tem início na maior ou me- completo esse rompimento, maior a produção
nor presença de cianeto na raiz, e se esse cianeto de açúcares fermentescíveis. Na conversão, há
permanece ou não na bebida, em sua forma original aumento do rendimento, pois a reação de hi-
ou como produto metabólico. drólise incorpora uma molécula de água por li-
gação rompida. O cálculo prático dos açúcares
24.3 PROCESSAMENTO DA TIQUIRA fermentescíveis é feito dividindo-se o teor de
amido por 0,9. As enzimas envolvidas são prin-
24.3.1 Operações unitárias
cipalmente a α-amilase e a amiloglucosidase.
Para produzir álcool a partir do amido, são ne- Detalhes sobre a ação destas enzimas podem
cessárias três etapas, a gomificação/sacarificação do ser encontrados em Surmely et al. (2003).
amido, fermentação alcoólica e destilação.
◆ Preparo do mosto: o preparo do mosto é feito
No processamento tradicional, a sacarificação é simplesmente por diluição dos açúcares com
feita por bolores e a fermentação por leveduras, am- água, sem complementações. O teor de sólidos
bos da flora autóctone. No processo tecnológico mo- solúveis deve ficar entre 12 e 14 °Brix. No pro-
derno (CEREDA; COSTA, 2008), os bolores são subs- cesso moderno, são usados refratômetros para
tituídos por enzimas comerciais. Outra vantagem do esse fim, o que deve ser recomendado também
processo moderno é que o resíduo líquido se reduz à no processo tradicional.
vinhaça, eliminando a produção de manipueira. ◆ Fermentação: no processo tradicional, ocorre
As operações unitárias para o preparo da tiqui- por leveduras autóctones, no moderno com le-
ra são: veduras comerciais na forma prensada ou seca.
◆ Pesagem das raízes: tem objetivo de calcular ◆ Destilação: no processo tradicional era feita
o pagamento e de controlar o rendimento da em alambiques de cerâmica (citado na literatu-
produção. ra como usada pelos ameríndios) ou de cobre.
◆ Descascamento e lavagem das raízes: tem por No processo moderno, recomenda-se o uso de
objetivo a retirada da casca marrom (epiderme), destiladores de aço inoxidável, mas a presença
pois a entrecasca (córtex) possui amido que de cobre na destilação continua importante,
pode ser convertido em açúcares e álcool. Pode pois melhora o aroma do destilado. Deve ser
ser feito à mão ou em lavadores-descascadores. obrigatoriamente usado um alcoômetro para
◆ Ralação: rompe os tecidos, expondo o amido e estabelecer o teor alcoólico do destilado e o fi-
facilita a retirada do excesso de umidade na nal do processo de destilação.
prensagem. ◆ Engarrafamento: é feito preferencialmente em
◆ Prensagem: tem por finalidade a remoção do garrafas de vidro, em geral transparentes. No
excesso de umidade e facilita a confecção dos entanto, comercialmente o armazenamento tem
beijus. A linamarina, o composto cianogênico sido feito em garrafas de politereftalato de etile-
da mandioca, é solúvel em água, razão pela no (PET).
qual a prensagem pode remover grande parte ◆ Envelhecimento e armazenamento: embora não
dela, mas também parte dos 2% de açúcares tenham sido encontradas informações, depois
solúveis presentes na raiz. No processo moder- de elaborada, a tiquira deveria passar pelas
no, não é necessária esta prensagem, pois não mesmas fases de envelhecimento e armazena-
há necessidade de fazer os beijus. mento que a cachaça ou aguardente de cana.
◆ Gomificação do amido: permite que a enzima
tenha melhor acesso ao amido, para transfor- O fluxograma exposto na Figura 24.4 apresenta
má-lo em açúcares de menor massa molecular. todas as etapas para elaboração de tiquira pelo pro-
A gomificação deve ser feita à temperatura aci- cesso tradicional (linhas cheias) e pelo processo
ma de 60 °C. Neste processo, o grânulo perde a moderno (linhas tracejadas).

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476 Bebidas alcoólicas

Raízes Lavagem e Cascas


Água descascamento Água

Enzima
Ralação

Prensagem Manipueira

Enzima Cozimento Água

Emborolamento do beiju
Sacarificação
Sacarificação do amido

Fermentação
Água

Peneiragem Resíduo

Destilação
Vinhaça
Tiquira
Figura 24.4 Fluxograma da produção de tiquira pelo processo tradicional (linhas cheias) e moderno (linhas
tracejadas).
Fonte: adaptado de Cereda e Costa (2008).

24.3.2 Processamento tradicional


O procedimento tradicional é claramente uma
adaptação da fabricação da farinha de mandioca. O
preparo da tiquira é iniciado pelo descascamento
das raízes, que são em seguida raladas e prensadas
sem adição de água. Com a massa ralada, os beijus
são elaborados, diretamente sobre a placa do forno
de farinha, com cerca de 30 cm de diâmetro e 3 a 4 cm
de espessura (Figura 24.5), pesando aproximada-
mente um quilograma e com 50% de umidade (CHU-
ZEL; CEREDA, 1995).
Para Paul Le Cointe, citado por Gonçalvez-Lima Figura 24.5 Fabricação de beijus em empresa ar-
(1974), os beijus eram cozidos até tostarem. Chuzel tesanal do Maranhão.
e Cereda (1995) complementam essa informação Fonte: Raízes ONG (2003).
lembrando que os beijus são virados de vez em quan-
do para cozer e tostar os dois lados. Uma vez resfria-
dos, os beijus apresentam teor de umidade entre 30 Como variante, os beijus podiam ser colocados
e 35%, portanto perdem parte da umidade durante a sobre estrados e mesas. Os beijus permaneciam
fase de cozimento. nestas condições por cerca de 8 dias, após os quais
Paul Le Cointe, citado por Gonçalvez-Lima (1974), se apresentavam recobertos de mofos negros. Se as
lembra que, uma vez resfriados, os beijus podiam ser manchas eram de outras cores, o autor considerava
pulverizados com um pouco de água nos dois lados e que o processo não se desenvolvera de forma ade-
estendidos no solo sobre um leito de folhas de bana- quada. Para Gonçalvez-Lima (1974), a observação
neira ou de palmeira e recobertos também de folhas. de Le Cointe sobre a cor negra da frutificação dos

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TIQUIRA 477

bolores nos beijus indica se tratar de Aspergillus eram esfarelados em água no interior de grandes va-
niger e, ainda mais, que a presença de bolores com silhas de cerâmica ou escavadas em madeira. No dia
esporulação diversamente colorida era considerada seguinte, a mistura era passada em peneiras e deixa-
uma contaminação indesejável. O autor cita ainda da fermentar naturalmente por cerca de 8 dias. De-
que nos beijus de elaboração industrial da tiquira, pois, o fermentado era destilado em destiladores que
no Maranhão, o agente sacarificante predominante em geral eram de cerâmica (PAUL LE COINTE, cita-
era o A. niger, o qual, segundo Bronse, citado por do por GONÇALVEZ-LIMA, 1974).
Gonçalvez-Lima (1974), apresentava desempenho A questão dos bolores que se desenvolvem sobre
em sacarificação semelhante ao A. oryzae, sendo ca- os beijus foi objeto de vários estudos, inclusive por
paz de hidrolisar completamente o amido, transfor- pesquisadores estrangeiros. Park et al. (1982) estuda-
mando-o em glicose. ram a flora natural (bolores) de beijus coletados em 3
Neste ponto, os beijus eram prontos para o uso, unidades de fabricação de tiquira no Maranhão, pró-
mas podiam ser secos e assim guardados por muito ximas da capital. Os autores dosaram também a ativi-
tempo. Para a produção de fermentados, os beijus dade de α-amilase e amiloglucosidase (Tabela 24.3).

Tabela 24.3 População de bolores em três amostras de beijus coletados no estado do Maranhão.
Contagem Atividade Atividade
Fungos (UFC/g) (UI/g) (UI/g)
Beiju 1 Beiju 2 Beiju 3 α-amilase (*) Amiloglucosidase (**)
Aspergillus niger 7. 10 5
6. 10 5
3,9. 105
– 1 497,00 ± 6,00
Paecilomyces sp 1,1. 10 6
1,2. 10 6
– 57,00 ± 3,00 448,00 ± 2,00
Penicillium sp – – 1,7. 105
– –
Rhizopus sp 1,5. 105 1,0. 105 1,8. 105 9,00 ± 1,00 1 276,00 ± 3,00
Neurospora sp 1,9. 104 – 1,2. 104 – 452,00 ± 3,00
– ausente; UFC: unidades formadoras de colônias; (*) em dextrina; (**) em glicose.
Fonte: Park et al., (1982).

Esses resultados são conflitantes com os de cuidado, pois não houve avaliação de bactérias com
Gonçalvez-Lima (1974), para quem a sacarificação atividade hidrolítica para amido e nas condições em
do amido era feita principalmente pelo bolor Neu- que se faz a incubação dos beijus, a presença de
rospora crassa que foi isolado de beijus e caracte- bactérias não pode ser descartada. A pesquisa de
rizado pelo autor em 1937, mas estão em acordo bolores é valorizada pela literatura. Como é comum
com os de Bronse, citado por Gonçalvez-Lima (1974), em fermentações naturais, é difícil determinar que
para o qual o Aspergillus niger, além de caracteri- uma espécie possa apresentar maior importância
zar os bolores do beiju, apresentava atividade de que outra, pois em geral ocorre uma sucessão de es-
amiloglucosidase elevada. pécies, em razão das necessidades nutricionais de
Chuzel e Cereda (1995) citaram também a iden- cada uma delas. Também a produção de amilases
tificação de Monilia sitophila, bolor de cor rosada por bolores não deve ser o único enfoque para de-
e com forte atividade amilolítica, presentes quando terminar a importância de micro-organismos nas be-
os beijus eram envoltos em folhas de mandioca, bidas à base de mandioca.
além de cepas de Aspergillus niger e de Peni- Park et al. (1982) informaram que bolores do
cillium sp., ambos citados na literatura. Os autores gênero Neurospora (raça que foi depositada como
observaram também a produção de aroma agradá- ATCC 46892 e também disponível como FGSC 6673),
vel, de fruta madura. presentes em massa ralada e fermentada natural-
A variação de espécies tem em comum a pro- mente de mandioca, produziam aroma agradável de
dução de enzimas, pois como visto anteriormente, a frutas. Posteriormente este aroma agradável foi atri-
mandioca é nutricionalmente pobre. Embora estes buído ao composto hexanoato de etila (YOSHIZAWA
resultados sejam importantes, devem ser vistos com et al., 1988). Esta raça de Neurospora tem sido

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478 Bebidas alcoólicas

objeto de muitos estudos relativos à produção e uso nitrogênio total do mosto e as concentrações relativas
desta substância, incluindo testes em escala piloto de cada um dos constituintes nitrogenados afetam o
da cepa 46892, no Japão, para produzir koji e sake crescimento das leveduras, a velocidade de fermenta-
(YAMAUCHI et al.,1989). Entretanto, não há com- ção e a formação do produto final (BELL; OUGH;
provação de que o aroma desenvolvido pela Neuros- KLIEWER, 1979 citados por POLASTRO et al., 2001).
pora passe para a tiquira destilada. A ureia não é adicionada no processo de fabri-
Neste ponto, os beijus podem ser deixados secar cação da tiquira e também não é reportada a pre-
e estão prontos para serem usados (Figura 24.6). sença de ureia na bebida ou na mandioca. Assim, é
Chuzel e Cereda (1995) citaram que à medida que possível que a mesma se forme durante o processo
passam os dias, os beijus perdem parte de sua umida- de fermentação. Estes resultados são preocupantes
de e ainda assim ocorre a proliferação de fungos tanto e provavelmente expliquem os elevados teores de
na parte externa, quanto na parte interna das massas. carbamato de etila encontrados na tiquira, como
citado por Andrade Sobrinho et al. (1998), pois como
se sabe este composto pode ser formado a partir da
ureia (POLASTRO et al., 2001).

24.3.3 Processamento moderno


O processo moderno foi desenvolvido como des-
crito a seguir e transferido para produtores de tiquira
no Estado do Maranhão (CEREDA; COSTA, 2008),
por meio de cursos ministrados pelos autores.
Nesse processo, as enzimas e leveduras comer-
ciais substituem com vantagem a microflora autóc-
Figura 24.6 Armazenamento dos beijus embolora- tone durante a fase de sacarificação e fermentação
dos em empresa artesanal do Maranhão. do processo tradicional. O descascamento e lavagem
Fonte: Raízes ONG (2003). das raízes foram considerados desnecessários e eli-
minados, pois fazem parte do processamento de fa-
rinha de mandioca, que foi a base da elaboração da
Entre 10 e 12 dias, a reação do amido com iodo tiquira. Também nesta linha de raciocínio, as raízes
(lugol) passara de azul (positiva para amido) para serão apenas raladas, sem necessidade de prensa-
amarela (negativa), indicando que não há mais ami- gem. Esta modificação do processo tradicional per-
do. Isto não quer dizer que todo o amido tenha se mite aproveitar cerca de 2% de açúcares (sacarose,
hidrolisado a açúcares fermentescíveis, pois na pre- glicose e frutose) da água de constituição da raiz de
sença de dextrina a coloração não é mais azul, mas mandioca, contribuindo para o aumento de rendi-
não chega a ser negativa (amarela). mento de produção da bebida.
No preparo das amostras para a etapa de fer- Surmely et al. (2003) avaliaram as amilases co-
mentação alcoólica os beijus são esfarelados em um merciais disponíveis no Brasil, para a produção de
recipiente de madeira ou em grandes potes de barro glicose a partir do amido de mandioca. As principais
cheios de água. Os beijus desintegrados na água apre- enzimas envolvidas no processo são as alfas amila-
sentam aspecto de um xarope grosso, com teor de só- ses (dextrinizantes), beta amilases (sacarificantes)
lidos solúveis entre 14 e 15 °Brix. No dia seguinte pela e as glucoamilases (sacarificantes). Na Figura 24.7,
manhã, toda a suspensão é passada por peneira e o são indicados os pontos em que as ligações são rom-
caldo deixado fermentar naturalmente por 8 dias. pidas pela ação das enzimas.
O líquido com consistência cremosa, obtido no Na etapa de sacarificação, foi utilizada a enzima
processo de fermentação, é deixado fermentar por AMG 300 L.
mais de 48 horas. Entre as leveduras selvagens pre- A massa ralada de mandioca tem em torno de
sentes na fermentação, foram identificadas as do 20% de amido, correspondente a um beiju padrão,
gênero Saccharomyces. como citado na literatura. Neste caso, a proporção
As leveduras responsáveis pela fermentação al- foi de 0,6 mL de Thermamyl ou BAN e 0,4 mL de
coólica dependem da presença de compostos nitroge- AMG por quilo de massa ralada. Considerando essas
nados para seu crescimento, tais como proteínas e quantidades, pode-se usar os dados obtidos por Su-
ácidos nucléicos, os quais são fundamentais à biossín- merly et al. (2003) para amido de mandioca, a fim de
tese celular (POLASTRO et al., 2001). O teor inicial de calcular o tempo de reação em temperaturas ideais.

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TIQUIRA 479

Liquefação

Sacarificação
Figura 24.7 Representação das fases de hidrólise do amido. Superior, liquefação por ação de alfa amilase
(dextrinizante), inferior esquerda sacarificação por glucoamilase e inferior direita sacarificação
por beta amilase.
Fonte: Surmely et al. (2003).

Surmely et al. (2003) apresentaram um exem- cillus licheniformes. A enzima hidrolisa as ligações
plo de como essas enzimas são calculadas, usando α-1,4 da amilose e da amilopectina, convertendo ra-
produtos comerciais da empresa Novozymes® dis- pidamente o amido em dextrinas e oligossacarídeos
poníveis no Brasil. solúveis. A Thermamyl foi desenvolvida para promo-
Os autores avaliaram duas α-amilases para a ver a liquefação (dextrinização) do amido e produ-
fase de liquefação ou dextrinização. Foram seleciona- ção de maltodextrinas.
das a Thermamyl 120L de origem bacteriana e resis- O aumento da concentração de açúcares redu-
tente ao calor e a BAN 120L, mais sensível ao calor. tores expressos em dextrose equivalente (DE) em
função do tempo, para uma determinada concentra-
THERMAMYL 120 L ção enzimática, em uma suspensão com 35% de ami-
Thermamyl é um preparado enzimático líquido do e temperatura de reação de 90 °C é apresentado
e concentrado à base de α-amilase termoestável, na Figura 24.8.
produzido a partir de uma cepa selecionada de Ba-

30
Dextrose equivalente – DE (%)

24,1
25

20

15
12,4 1 mL kg
10
3 mL kg
5

0
0 20 40 60 80 100 120 140
Tempo (minutos)
Figura 24.8 Evolução do teor de Dextrose Equivalente (DE) com o tempo de reação para amido (35% m/v)
a 90 °C, com duas concentrações da enzima Thermamyl.
Fonte: Surmely et al. (2003).

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480 Bebidas alcoólicas

A concentração máxima de Dextrose Equiva- A Figura 24.9 apresenta o perfil dos carboidra-
lente atingida pela enzima Thermamyl foi de 26%, tos de amido de mandioca hidrolisada. A concentra-
obtida com 3 mL de enzima por quilo de amido, de- ção de Thermamyl de 3 mL kg–1 gera 30,60% de dex-
pois de 60 minutos. Para concentração de enzima de trinas (Gp>7), enquanto com concentração de 1 mL
1 mL kg–1, a reação foi mais lenta e não atingiu máxi- kg–1 sobram cerca de 62% desses carboidratos, indi-
mo em 120 minutos. cando uma atividade incompleta.

70 Thermamyl: 1 mL kg–1 61,9 35 Thermamyl: 3 mL kg–1 30,6


60 30
Porcentagem (%)

Porcentagem (%)
50 25
40 20
13,6 14 13,4
30 15 11,6
20 10 7,7 6,2
6,8 6,1 8,4 7,3 3,1
10 0,6 4,4 4,7 5
0 0
Dp1 Dp2 Dp3 Dp4 Dp5 Dp6 Dp7 Dp>7 Dp1 Dp2 Dp3 Dp4 Dp5 Dp6 Dp7 Dp>7

Grau de polimerização Grau de polimerização

Figura 24.9 Perfil de moléculas obtidas após hidrólise de amido (35% m/v) incubada com duas concentra-
ções Thermamyl a 90 °C por 60 minutos.
Fonte: Surmely et al. (2003).
Legenda: Dp1: Glicose; Dp2: Maltose; Dp3: Maltotriose; Dp4: Maltotetraose; Dp5: Maltopentaose;
Dp6: Maltohexaose; Dp7: Maltoheptaose e Dp>7: dextrinas (Dp = grau de polimerização).

BAN 120 L
A BAN – Bacterial Amylase da Novozymes é O aumento da concentração de DE em função
uma α-amilase produzida por fermentação submer- do tempo, para uma determinada concentração en-
sa de uma cepa selecionada de Bacillus amyloli- zimática, com 35% de amido e temperatura de rea-
quefaciens. A enzima hidrolisa as ligações α-1,4 da ção de 80 °C é apresentado na Figura 24.10. O perfil
amilose e amilopectina, o que resulta em redução da curva das duas concentrações de BAN é diferen-
rápida da viscosidade do amido gelificado. Os pro- ciado, apresentando maiores concentrações com o
dutos provenientes da decomposição são dextrinas uso de 3 mL kg–1.
e oligossacarídeos solúveis, como as maltodextrinas.

25
Dextrose equivalente – DE (%)

20

17,4
15

10
7,0 1 mL kg
5
3 mL kg

0
0 20 40 60 80 100 120 140

Tempo (minutos)
Figura 24.10 Evolução do teor de Dextrose Equivalente (DE) com duas concentrações da enzima BAN, em
função do tempo de reação para amido de mandioca (35% m/v) a 80 °C.
Fonte: Surmely et al. (2003).

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TIQUIRA 481

A Figura 24.11 mostra o perfil de carboidratos Thermamyl, a concentração de 3 mL kg–1 resultou


para os dois teores de BAN. De forma semelhante à em maior hidrólise do amido.

100 Ban: 1 mL kg–1 60 Ban: 3 mL kg–1 54,5


83,8
Porcentagem (%)

Porcentagem (%)
50
80
40
60
30
40
20 12,5
7,2 8,8
20 5 10 5,7 4,8 5,1
0,2 1,4 2,3 1,9 1,6 3,9 1,3
0 0
Dp1 Dp2 Dp3 Dp4 Dp5 Dp6 Dp7 Dp>7 Dp1 Dp2 Dp3 Dp4 Dp5 Dp6 Dp7 Dp>7

Grau de polimerização Grau de polimerização

Figura 24.11 Perfil de moléculas após de hidrólise de amido (35% m/v) incubada com duas concentrações
da enzima BAN a 80 °C por 60 minutos.
Fonte: Surmely et al. (2003).
Legenda: Dp1: Glicose; Dp2: Maltose; Dp3: Maltotriose; Dp4: Maltotetraose; Dp5: Maltopentaose;
Dp6: Maltohexaose; Dp7: Maltoheptaose e Dp>7: dextrinas (Dp = grau de polimerização> 7).

AMG 300 L do tipo de ligação e do comprimento da cadeia. A


A AMG é uma amiloglicosidase de grau alimen- AMG é recomendada para sacarificação do amido
tício, produzida a partir de uma cepa selecionada de para produção de glicose.
Aspergillus niger. A enzima hidrolisa as ligações O aumento da concentração de DE para uma
α-1,4 e α-1,6 do amido liquefeito. Durante a hidróli- determinada concentração enzimática, em função
se, as unidades de glicose são produzidas gradual- do tempo, em uma suspensão de amido a 35% e
mente a partir da extremidade não redutora do ami- temperatura de reação de 60 °C é apresentado na
do ou da dextrina. A velocidade de hidrólise depende Figura 24.12.

80
Dextrose equivalente – DE (%)

70
60,8
60
46,2
50

40

30
1 mL kg
20
2 mL kg
10

0
0 1 2 3 4 5
Tempo (horas)
Figura 24.12 Evolução do teor de Dextrose Equivalente (DE) com o tempo de reação para amido (35% m/v)
a 60 °C, para duas concentrações da enzima AMG.
Fonte: Surmely et al. (2003).

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482 Bebidas alcoólicas

A atividade da enzima AMG permite obtenção gossacarídeos Gp1 (glicose) e Gp2 (maltose) são
de teores de DE maiores em relação às enzimas des- predominantemente produzidos. Neste caso, a du-
critas anteriormente, o que explica sua recomenda- plicação da concentração da enzima alterou o perfil
ção para produção de glicose. A evolução do teor de do hidrolisado. Com 2 mL kg–1 predominaram glico-
DE também é diferenciado de acordo com a quanti- se e maltose, sendo que os teores de oligossacaríde-
dade de enzima empregada, com uma tendência à os intermediários (Gp3 a Gp6) apresentaram maior
estabilização depois de 4 horas. concentração na com 1 mL kg–1. A maior concentra-
A Figura 24.13 apresenta o perfil dos carboi- ção de dextrina com 1 ml kg–1 indica menor ativida-
dratos obtido a partir do amido hidrolisado. Os oli- de hidrolítica neste tratamento.

50 AMG: 1 mL kg–1 AMG: 2 mL kg–1


39,5 50
Porcentagem (%)

38,2

Porcentagem (%)
40 40
31,3
30 23,6 30
20,9
20 14,3 12,3 20
10 3,7 2,7 2 2,1 10 4 2,7
0,4 0,7 1,7
0 0
Dp1 Dp2 Dp3 Dp4 Dp5 Dp6 Dp7 Dp>7 Dp1 Dp2 Dp3 Dp4 Dp5 Dp6 Dp7 Dp>7

Grau de polimerização Grau de polimerização

Figura 24.13 Perfil de moléculas obtidas após hidrólise de amido (35% m/v) incubada com duas concentra-
ções da enzima AMG por 2 horas, com temperatura de 60 ºC.
Fonte: Surmely et al. (2003).
Legenda: Dp1: Glicose; Dp2: Maltose; Dp3: Maltotriose; Dp4: Maltotetraose; Dp5: Maltopentaose;
Dp6: Maltohexaose; Dp7: Maltoheptaose e Dp>7: dextrinas (Dp = de grau de polimerização).

Com a substituição do crescimento de bolores processo fermentativo. Com esse ajuste, é mais difí-
pelo uso de enzimas comerciais, torna-se possível cil ocorrer inibição da levedura pelo teor de açúca-
prever que a liquefação se completaria em 60 minu- res ou de etanol.
tos, tanto com a Thermamyl como com a BAN, nas Na inoculação do mosto, devem ser adicionados
concentrações propostas. O pH ideal para a ação en- cerca de 10 gramas de fermento prensado por litro de
zimática é o mesmo pH natural do tecido da raiz da mosto. O fermento seco conserva-se melhor, entre-
mandioca. A temperatura ideal para a Thermamyl é tanto, para ser usado, primeiramente deve ser ativado
de 90 a 105 °C, próprio da fervura, mas para a enzima por duas horas em água morna com açúcar. A levedu-
BAN pode-se usar temperatura menor, de 70 a 80 °C. ra pode ser reutilizada, mas para isso deve-se recupe-
A liquefação pode ser feita concomitante com a rá-la do fundo da dorna de fermentação e tratá-la com
gomificação do amido. A sacarificação com a AMG ácido sulfúrico (pH 2,0 - 3,0), por duas horas. Depois
estaria completa em 2 horas, ganhando em tempo e deve receber água e novamente utilizada. Mas é pre-
padronização, o que se refletirá em melhoria de qua- ciso levar em conta que estará mais diluída. O trata-
lidade, produtividade e eficiência na fabricação de mento com ácido tem como função eliminar as leve-
tiquira. Neste caso, o pH deve ser ajustado entre 4,0 duras fracas e bactérias contaminantes.
e 4,5 e a temperatura ideal é obtida apenas deixando Ao final da fermentação, a filtragem do mosto é
o mosto resfriar. obrigatoriamente feita para evitar que os sólidos em
Uma vez terminada a mosturação, o mosto deve suspensão queimem no fundo do destilador. Em
ser fervido para desativar as enzimas, o que reduz em pesquisa realizada pelos autores para avaliar possí-
muito a contaminação e garante uma fermentação vi- veis interferentes dos resíduos sólidos gerados no
gorosa, rápida e com elevado rendimento. processo (moderno), foram preparados dois mos-
Em seguida, a suspensão de massa ralada de tos. No primeiro seguiu-se normalmente a etapa de
mandioca deve ser diluída com água potável para 12 fermentação acompanhada pela filtragem, e no se-
a 14 °Brix, valores adequados para que ocorra o gundo foi realizada uma filtragem logo após o prepa-

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TIQUIRA 483

ro do mosto. Em ambos os testes usou-se um tecido possível destilar de 15 a 20 litros, com tiquira de
limpo e esterilizado. Os resultados mostraram que teor alcoólico de é de 36 a 54% v/v, a 20 °C.
no final do processo fermentativo, no teste de filtra- A destilação da tiquira é feita em alambique
gem após o preparo do mosto os valores de açúcares simples (Figura 24.14), portanto, através de proces-
redutores foram 14 g L–1 contra 17 g L–1 para filtrado so descontínuo. Independentemente do modo de
depois, mas em ambos os testes o teor alcoólico final aquecimento da caldeira do alambique (fogo ou va-
foi o mesmo, com 45% v/v. por), a destilação deve ser conduzida de forma bran-
O único problema que decorre desta filtragem da, sem pressa, devendo-se identificar e separar as
é que a recuperação das leveduras fica prejudicada frações de cabeça, coração e cauda.
uma vez que saem juntamente com a borra na filtra- Na fração cabeça, a primeira a sair do destilador,
gem o que dificulta a sua recuperação. Com a filtragem estão presentes os componentes mais voláteis, entre
antes da destilação, é gerado um único resíduo sóli- eles os ésteres e os aldeídos. Na fração cauda, a últi-
do, uma borra contendo, fibras e restos de leveduras ma a deixar o alambique, permanecem os componen-
que pode ser destinado à alimentação animal. tes menos voláteis que o álcool etílico, entre eles os
ácidos e os alcoóis superiores (fúsel). Tanto a cabeça
24.3.4 Destilação como a cauda devem ser separadas e destiladas nova-
O processo mais empregado faz uso de alambi- mente na batelada seguinte. A parte nobre da destila-
ques de cobre para evitar o mau odor (CHUZEL; ção é constituída pelo coração, que é pobre de impu-
CEREDA, 1995). A filtração do mosto fermentado, rezas de cabeça e de cauda (VENTURINI FILHO;
antes da destilação, é obrigatória, como já foi expli- MENDES, 2003). Esta é a fração que deve ser apro-
cado. A partir de 100 litros de mosto fermentado, é veitada para a produção da tiquira de qualidade.

2
10
7 5
1 – Cucurbita ou caldeira
2 – Capitel, domo ou elmo
1 3 – Alonga ou tubo de condensação
4 – Condensador
4 5 – Entrada de vinho
9 6 – Descarga de vinhaça
7 – Válvula igualadora das pressões
6 8 – Saída de destilado
8 9 – Entrada de água
10 – Saída de água
Figura 24.14 Alambique de destilação simples.
Fonte: Venturini Filho e Mendes (2003).

Como a obtenção da tiquira tem sido basica- muito peculiar como é a própria técnica de fabrica-
mente artesanal e submetida a um controle técnico ção. Consiste em passar a bebida de um recipiente
inferior ao da cachaça, deve-se esperar que a conta- para outro. A quantidade de espuma formada e du-
minação química durante a destilação da tiquira ração para seu colapso são consideradas fatores de-
seja maior. Assim, um controle mais eficaz do pro- terminantes da graduação alcoólica.
cesso de destilação poderá reduzir ou mesmo elimi- Cereda e Costa (2008) relatam que após cada
nar a presença de ureia e aminoácidos nos destila- destilação, o alambique é lavado para retirada dos
dos (ANDRADE SOBRINHO et al., 1999). resíduos da borra que pode acompanhar o mosto
Cabe frisar que a técnica adotada no Maranhão fermentado. No Maranhão, a medida de volume uti-
para estabelecer a graduação alcoólica da tiquira é lizada ainda é a lata, recipiente de 20 litros utilizado

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como medida comercial. A comercialização da ti- fermentado, que reage com óxido de cobre de desti-
quira é feita por intermédio de atravessadores que ladores mal lavados. Mais recentemente, esse corante
a revendem nas cidades turísticas do Maranhão. natural foi substituído por forte corante de arroxeado,
A destilação deve ser feita sob as melhores con- o cristal violeta, correspondendo este a um corante do
dições disponíveis, neste caso, o rendimento teó­rico grupo dos trifenilmetanos. Por ser um composto de
esperado é aquele citado por Venturini Filho e Men- intensa ação biológica, cujas consequências para o
des (2003) para a mandioca, que seria de aproxima- orga­nismo ainda não estão bem esclarecidas, a práti-
damente 480 litros de tiquira a 45% v/v por tonelada ca de colorir a tiquira com o cristal violeta deve ser
de raiz de mandioca. reprimida (SANTOS et al., 2005).
Em bebidas alcoólicas, ainda não existem limi-
24.3.5 Controle de qualidade tes de referência de cianeto, entretanto o limite má-
Furtado et al. (2007) abordaram a necessidade ximo fixado pela Organização Mundial da Saúde
do controle de qualidade da tiquira e de bebidas para ingestão é de 10 mg kg–1 de massa corpórea.
semelhantes, relacionando a problemática de íons Em pesquisa realizada por Brito et al. (2009), foi
metálicos e cianeto residual nas aguardentes. avaliado o teor de cianeto, durante as etapas do
A tradição informa que no Maranhão são adicio- processamento proposto como moderno na fabrica-
nadas folhas de lima (citros) à tiquira recém-desti- ção de tiquira. Os valores estão dispostos na Tabe-
lada, o que proporcionaria uma fraca coloração azul à la 24.4. Os autores relatam que na etapa de preparo
bebida. Essa informação não é confirmada por pes- do mosto, com a trituração de raízes de mandioca
quisa, ficando em nível de conhecimento popular, (cv Fécula Branca) em água, o teor médio de cia-
entretanto pode estar associada à acidez do líquido neto foi de 55,6 mg L–1.

Tabela 24.4 Valores de concentração de cianeto em tiquira destilada e bidestilada.


Preparo Hidrólise Hidrólise Tiquira Tiquira
do mosto Thermamyl AMG destilada bidestilada
Repetição Concentração (mg L–1)
1 55,50 ± 0,11 8,87 ± 0,10 5,36 ± 0,11 1,96 ± 0,05 0,41 ± 0,00
2 55,71 ± 0,11 8,87 ± 0,10 5,36 ± 0,11 1,96 ± 0,05 0,41 ± 0,00
3 55,71 ± 0,11 8,87 ± 0,10 5,36 ± 0,11 1,96 ± 0,05 0,41 ± 0,00
4 55,71 ± 0,10 8,67 ± 0,10 5,57 ± 0,11 2,06 ± 0,05 0,41 ± 0,00
Média 55,66 8,82 5,41 1,98 0,41
CV% 0,18 1,13 1,94 0,02 0,00
Fonte: Brito et al. (2009).

Com o tratamento enzimático com Thermamyl, o que se perderam por volatilização. Essa redução foi
conteúdo médio foi reduzido a 8,82 mg L–1. Na terceira significativa e nestas condições não há riscos de in-
etapa, com ajuste do pH e da temperatura para o tra- toxicação pelos íons remanescentes.
tamento com enzima sacarificante AMG, a concentra- Entretanto, se não há risco de intoxicação dire-
ção média foi reduzida para 5,41 mg kg–1. Após o pro- tamente com o radical cianeto, há relatos que este
cesso fermentativo de 24 horas, quando o mosto ainda pode estar envolvido em outras reações quími-
fermentado foi destilado em alambique de cobre, a ti- cas, principalmente na formação de carbamato. Se-
quira apresentou concentração média de 1,98 mg L–1. gundo Andrade Sobrinho et al. (2009), o carbamato
Na tiquira bidestilada, os teores foram ainda de etila (C3H7NO2) ou uretana é um composto poten-
mais baixos, em torno de 0,4 mg L–1. Os autores lem- cialmente carcinogênico. Este composto é formado
bram que estando presentes as enzimas responsá- naturalmente em alimentos fermentados como pão,
veis pela hidrolise da linamarina nas primeiras eta- iogurte, vinho, cerveja e saquê (ANDRADE SOBRI-
pas do processamento, os cianoglicosídeos liberam NHO et al., 2002), sendo citado como presente em
HCN, reduzindo os teores de cianeto das amostras, bebidas fermentadas e destiladas, de origem estran-

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geira, como uísque, rum, vodca, graspa ou nas nacio- como para o enquadramento destes produtos nos
nais, como na cachaça (NAGATO et al., 2003). padrões internacionais. Um fato importante que deve
Segundo Andrade Sobrinho et al. (2001), o ser realçado é que esses resultados referem-se às
Brasil é um dos maiores produtores de destilados bebidas disponíveis no mercado. Somente o acom-
alcoólicos do mundo, sendo de grande importância o panhamento da bebida ao longo do processo de pro-
conhecimento dos níveis de ocorrência de uma dução e armazenagem irá permitir uma melhor ava-
substância potencialmente carcinogênica, como o liação da gênese do carbamato de etila em cachaças
carbamato de etila, pois, além dos aspectos ligados à e tiquiras (ANDRADE SOBRINHO et al., 2002).
saúde pública, a sua presença em concentrações su- Além do cianeto, também a ureia é considera-
periores a 0,150 mg L–1 constitui também uma bar- da precursor de carbamato de etila. Segundo Polas-
reira para a exportação de bebidas para a Europa e tro et al. (2001), foram utilizados métodos colori-
América do Norte. métricos na investigação da presença de íon amônio,
As amostras de tiquira analisadas pelos auto- ureia e aminoácidos em 51 amostras de aguardente
res apresentaram teor médio de carbamato de etila de cana-de-açúcar (cachaça) e em 9 amostras de
(2,4 mg L–1) muito superior ao da cachaça. Obser- tiquira. As nove amostras de tiquira, todas sem
vou-se que as amostras de tiquira com a concentra- marca registrada, eram oriundas do estado do Ma-
ção de carbamato de etila inferior a 0,65 mg L–1 apre- ranhão. Os resultados das análises são apresenta-
sentaram graduação alcoólica de 28% v/v, abaixo do dos na Tabela 24.5.
mínimo especificado pelo Ministério da Agricultura
e do Abastecimento (2009), que é 36% v/v, a 20 °C.
Vários autores citam que as vias possíveis para Tabela 24.5 Valores de concentração (mmoles L–1)
de ureia, íon amônio e aminoácidos
a formação de carbamato de etila nas bebidas desti-
em tiquira.
ladas, geralmente envolvem a reação entre o etanol
Amostras
e precursores nitrogenados. Entre os precursores Amônia Ureia Aminoácidos
de tiquiras
nitrogenados, citam a ureia, o fosfato de carbamila e
1 0,015 2,52 0,008
o cianeto (ANDRADE SOBRINHO, 2002; BRITO et
al., 2009), indicando que este último é considerado 2 0,013 1,42 0,175
um precursor de carbamato de etila, durante e após 3 0,014 1,42 0,514
o processo de destilação. 4 0,015 1,42 0,117
Quando o cobre é empregado na parte ascen- 5 0,006 1,42 0,233
dente do fluxo de vapor, como ocorre nos alambi-
6 0,004 1,67 0,387
ques, é esperado que ocorra uma fixação de cianeto
(ANDRADE SOBRINHO et al., 2002; BRITO et al., 7 0,004 2,07 0,131
2009), com a formação de compostos, tais como 8 0,001 0,92 0,579
CuCN, Cu(CN)2, Cu2(CN)3-, Cu3(CN)4-, diminuindo a 9 0,014 0,15 0,470
concentração de cianeto no destilado (ANDRADE Média 0,010 1,45 0,290
SOBRINHO et al., 2009) e, consequentemente, redu-
Fonte: Polastro et al. (2001).
zindo o teor de carbamato de etila. Porém os autores
Andrade Sobrinho et al. (2002) não encontraram di-
ferenças significativas para as cachaças analisadas. Foi possível identificar e quantificar íon amô-
Tal resultado indica que a formação de carbamato de nio, ureia e aminoácidos nas amostras de aguarden-
etila após o engarrafamento, se ocorrer em propor- te de cana e de tiquira. Os resultados obtidos indi-
ções consideráveis, é independente da radiação lu- cam que as tiquiras apresentaram concentrações
minosa incidente sobre a bebida. Também não foi médias de ureia e aminoácidos superiores aos das
encontrada correlação do tempo de envelhecimento aguardentes de cana, ao passo que os teores médios
da cachaça e o teor de carbamato de etila. de íon amônio são equivalentes nas duas bebidas. A
Por ser o carbamato de etila uma substância de presença indesejável desses compostos nos destila-
potencial carcinogênico, esses resultados indicam a dos é provavelmente devida a falhas relacionadas ao
necessidade urgente de alterações no processo de processo de destilação. As variações dos teores de
produção de aguardente de cana e tiquira, tanto ureia e íon amônio, em função das regiões produto-
para eliminar esse problema de saúde pública, bem ras, podem ao menos em parte serem explicadas

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486 Bebidas alcoólicas

pela não-padronização da adição das fontes de nitro- amino acids, urea and ammonium íon in tiquira by a spec-
gênio ao mosto. trophotometric method. In: Brazilian Meeting on Chemis-
Para as características sensoriais, o dimetils- try of Food and Beverages, II, Araraquara. Anais...Arara-
sulfeto é relatado como causador de aroma desagra- quara: UNESP, 1999. v. 1, p. 48.
dável em bebidas alcoólicas. Segundo Cardoso et al. ANDRADE SOBRINHO, L. G.; BOSCOLO, M.; LIMA-NE-
(2004), foi possível quantificar dimetilssulfeto em TO, B. S.; FRANCO, D. W. Carbamato de etila em bebidas
bebidas alcoólicas por cromatografia. Foram anali- alcoólicas (cachaça, tiquira, uísque e grapa). Química Nova,
sadas 60 amostras, assim especificadas: 22 de ca- São Paulo, v. 25, n. 6, p. 1074-1077, 2002.
chaça, 8 de tiquira, 7 de graspa, 8 de uísque, 9 de ANDRADE SOBRINHO, L. G.; CARDOSO, D. R.; LIMA
brandy, 10 de vodca, 4 de rum e uma de tequila. NETO, B.S.; FRANCO, D. W. Teores de carbamato de etila
Todas as amostras de tiquira foram obtidas no es­ em aguardente de cana e de mandioca. Química Nova,
tado do Maranhão. As amostras de cachaça exibiram São Paulo, v. 32, p. 116-119, 2009.
a maior concentração de dimetilssulfeto (mediana
BRASIL. Decreto n. 6.871, de 4 de junho de 2009 que re-
de 3,16 × 10–4 mol L–1), seguidas pelas amostras de
gulamenta a Lei n. 8.918, de 14 de julho de 1994, que dis-
graspa (mediana de 1,45 × 10–4 mol L–1). Apenas
põe sobre a padronização, a classificação, o registro, a
uma amostra de tiquira apresentou dimetilssulfeto
inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. Diário
(9,66 µmol L–1) na faixa de concentração de sensibi-
Oficial da União de 20/09/2012. Seção 1. p.4
lidade do método (8 × 10–9 mol L–1).
BRITO, V. H. S.; RAMALHO, R. T.; RABACOW, A. P. M.;
Os autores explicam a presença de elevados te-
MORENO, S. E.; CEREDA, M.P. Colorimetric method for
ores de dimetilssulfeto nas aguardentes analisadas
free and potential cyanide analysis of cassava tissue. Gene
como causada pela presença de traços de cobre nas
Conserve, Brasília, v. 8, p.841-852, 2009.
colunas de destilação de aço inoxidável. Essa expli-
cação é difícil de aceitar uma vez que as tiquiras BRITO, V. H. S.; SANTOS SOBRINHO, V. S.; SILVA, L. C.;
apresentaram baixos teores e são sempre, destila- SILVA, V. C. F; CEREDA, M. P. Monitoramento do teor de
das em alambiques de cobre. Os autores destacam cianeto livre e potencial durante etapas de processamen-
que, embora a tiquira seja produzida em condições to na produção de tiquira. In: SIMPÓSIO EM BIOTECNO-
de controle de qualidade deficiente em relação às LOGIA, 1., 2009, Campo Grande. Anais...Campo Grande:
outras bebidas alcoólicas, exibiu baixos teores de di- UCDB, 2009. v. 1, p. 35. 1 CD-ROM.
metilssulfeto, mesmo quando comparada com bebi- CAGNON, J. R.; CEREDA, M. P.; PANTAROTTO, S. Gli-
das internacionais. cosídeos cianogênicos da cassava: biossíntese, distribui-
Como epílogo, o capítulo destaca a necessidade ção, destoxifição e métodos de dosagem. In: CEREDA,
de introduzir conceitos de tecnologia para elabora- M. P. (Coord.). Agricultura: tuberosas amiláceas latino
ção da tiquira como exigência do consumidor para americanas. São Paulo: Fundação Cargill, 2002. v. 2, cap. 5,
manutenção do padrão de qualidade, caso contrário p. 83-99.
a bebida tradicional não conseguirá se adequar as CARDOSO, D. R.; ANDRADE SOBRINHO, L. G.; LIMA-
normas atuais. Apenas a proteção da pequena in- -NETO, B. S.; FRANCO, D.W. A rapid and sensitive me-
dústria artesanal não garante uma bebida com con- thod for dimethylsulphide analysis in Brazilian sugar cane
dições para competir com a cachaça, que atingiu nos sugar spirits and other distilled beverages. Journal of the
últimos 20 anos um nível mais estável de tecnologia, Brazilian Chemical Society, Campinas, v. 15, n. 2, p. 277-
que permite que seja produzida em vários estados 281, 2004.
brasileiros. A tiquira ainda resiste em seu estado de CEREDA, M. P. (Coord). Propriedades gerais do amido.
origem, mas gradualmente menos produtores tradi- São Paulo: Fundação Cargill, 2001. v. 1, 250p.
cionais podem ser encontrados. CEREDA, M. P.; COSTA, M. S. C. Manual de fabricação de
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