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8ª Regional de Saúde do Paraná

Consórcio Intermunicipal de Saúde do Sudoeste - CONSUD


Secretária Municipal de Saúde de Dois Vizinhos - PR
Secretaria Municipal de Pranchita - PR

PROTOCOLO DE ENCAMINHAMENTO PARA LEITOS DE


SAÚDE MENTAL NOS HOSPITAIS GERAIS DA 8ª REGIONAL
DE SAÚDE DO PARANÁ

1. CONSIDERAÇÕES SOBRE A INTERNAÇÃO EM SAÚDE MENTAL

Nos moldes da Lei Nº 10.216, de 06 de abril de 2001, a internação em saúde


mental é medida excepcional e só deve ser acionada após o esgotamento dos
recursos extra-hospitalares, em hipótese alguma, a única ou primeira opção de
tratamento aos sujeitos em sofrimento psíquico.

Os leitos de saúde mental em hospital geral têm como diretrizes (art. 52


Anexo V da Portaria Consolidada nº 03 de 2017):

• Preservação da vida e garantia da continuidade do cuidado pelos outros


componentes da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS);
• Integração e articulação à Linha de Cuidado em Saúde Mental regional;
• Oferta de suporte hospitalar para situações de urgência/emergência
decorrentes do consumo ou abstinência de álcool, crack e outras drogas,
bem como de comorbidades psiquiátricas e/ou clínicas advindas da Rede
de Atenção às Urgências, da Linha de Cuidado em Saúde Mental e da
Atenção Básica;
• Funcionamento em regime integral, nas 24 horas do dia e nos 7 dias da
semana, sem interrupção da continuidade entre os turnos.

2. INTERNAÇÕES PSIQUIÁTRICAS
No que tange às internações psiquiátricas a Lei Federal anteriormente
mencionada, estabelece três modalidades de internação:

• Internação psiquiátrica voluntária:


o Que se dá com o expresso consentimento do paciente;
• Internação psiquiátrica involuntária:
o Que se dá sem o consentimento do paciente e a pedido de
terceiro;
• Internação psiquiátrica compulsória:
o Que se dá com determinação da justiça;

Além disso, a Lei estabelece:

“Art. 7º A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente,


deve assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse
regime de tratamento.

Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita


do paciente ou por determinação do médico assistente.

Art. 8º A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico


devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde
se localize o estabelecimento.

§ 1º A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas,


ser comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do
estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser
adotado quando da respectiva alta.

§ 2º O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar,


ou responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo
tratamento.

Art. 9º A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente,


pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do
estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e
funcionários”.

3. DOS CRITÉRIOS DE ENCAMINHAMENTO PARA INTERNAÇÃO


Os usuários elegíveis para internação em unidade de referência
especializada são aqueles em cenário de crise aguda em saúde mental.

Os qualificadores para internação são:

• Tentativa de suicídio;
• Episódio depressivo grave com ou sem sintomas psicóticos associado à
ideação suicida com planejamento e/ou história anterior de tentativa de
suicídio;
• Episódio de Mania (euforia) com sintomas psicóticos associado
comportamento inadequado com risco para si e/ou terceiros;
• Autonegligência grave associada à comorbidades orgânicas;
• Intoxicação aguda por substâncias psicoativas (medicamentos, álcool e
outras drogas);
• Quadro psicótico com delírios, alucinações, confusão mental, ansiedade
intensa, pânico e impulsividade com risco para si e/ou terceiros;
• Episódio de agitação psicomotora, agressividade auto e/ou
heterodirigida, com ideação, planejamento e/ou tentativa de homicídio ou
suicídio;
• Quadro de alcoolismo ou dependência química a outras drogas com
sinais de agitação e/ou agressividade auto e/ou heterodirigida, várias
tentativas anteriores de tratamento extra-hospitalar sem êxito com riscos
elevado psicossocial;

Nos atendimentos pré-hospitalares e hospitalares, e nos casos de solicitação


de internação em saúde mental, é fundamental que o serviço de saúde que
recebeu o paciente realize o diagnóstico diferencial, excluindo possíveis causas
médicas não relacionadas a um transtorno mental (causas orgânicas) para o
quadro apresentado.

Além disso, quando houver alguma condição clínica associada ao transtorno


mental que implique risco à vida ou instabilidade hemodinâmica, o usuário
deverá ser direcionado às unidades que realizam o tratamento desse quadro,
isso é, clínica médica, pediatria, cirurgia ou obstetrícia, para estabilização do
quadro antes do encaminhamento à Unidade de Referência Especializada em
Saúde Mental.

Portanto, são usuários que necessitam inicialmente de estabilização clínica:

• Intoxicações agudas ou abstinência de substâncias: deve-se manter


observação clínica por pelo menos 48 horas;
• Tentativas de suicídio que demandem internação por motivo clínico,
cirúrgico ou ortopédico;
• Quadros de desidratação, desnutrição, alterações metabólicas,
hidroeletrolíticas, ou outras consequências clínicas de transtornos
mentais, como transtornos alimentares, catatonia ou outros;
• Hipertensão Arterial Sistêmica, com PAS>180mm e/ou PAD>110mmHg
• Qualquer nível de insuficiência cardíaca sintomática;
• Qualquer nível de insuficiência respiratória;
• Qualquer nível de insuficiência hepática;
• Isquemia (cardíaca, encefálica ou periférica) suspeita ou confirmada;
• Hematoquesia e hematêmese;
• Doenças hematológicas em atividade ou sangramento ativo;
• Doenças neurológicas cujo diagnóstico e/ou manejo necessite de
intervenção da especialidade, incluindo epilepsia descompensada (crises
há menos de 60 dias) e história de trauma recente com perda da
consciência (há menos de 7 dias);
• Doenças infectocontagiosas que necessitem de tratamento agudo
(especialmente por procedimentos invasivos) e/ou que apresentem risco
de contágio a outrem;
• Portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV) com
CD4+40kg/m2);

Estes usuários(as) devem ser assistidos(as) pelas equipes de internação,


podem ser realizadas interconsultas de saúde mental por meio de ferramenta de
telessaúde, até que possam receber alta ou ser encaminhados para uma
Unidade de Referência Hospitalar em Saúde Mental.
4. DO CONTEÚDO DESCRITO MÍNIMO QUE O ENCAMINHAMENTO DEVE
TER:

4.1 Avaliação em Saúde Mental

Na avaliação em saúde mental, é preciso fazer uma anamnese apropriada que


deve incluir tanto a história física quanto de condições mentais e
comportamentais, seguida de avaliação da saúde física.

A avaliação em saúde mental deve conter as seguintes informações coletadas


junto ao paciente e/ou junto ao familiar e/ou responsável:

A avaliação deve conter as seguintes informações:

a. Identificação: Dados pessoais e contato de familiar ou responsável legal;

b. Anamnese:

• Queixa principal: sintoma razão principal que levou a pessoa a


buscar atendimento; quando, por que e como começou;

• História pregressa de condições mentais e comportamentais:


problemas semelhantes no passado, eventuais internações
psiquiátricas ou medicamentos prescritos para condições de
sofrimento mental, bem como sobre eventuais tentativas de
suicídio; presença de tabagismo e o uso de álcool e substâncias;

• História clínica geral: problemas de saúde física e os


medicamentos usados; lista dos medicamentos atuais; alergias a
medicamentos; doenças crônicas, comorbidades orgânicas
associadas;

• História familiar de condições mentais e comportamentais:


possível história familiar de condições mentais e comportamentais
e pergunte se alguém teve sintomas semelhantes ou recebeu
tratamento para uma condição mental ou comportamental;

• História psicossocial: fatores de estresse atuais, métodos de


enfrentamento e apoio social; atual funcionamento sócio-
ocupacional (como é o funcionamento da pessoa em casa, no
trabalho e nos relacionamentos); informações básicas que incluam
local de residência, escolaridade, história de trabalho ou emprego,
estado civil, número e idade dos filhos, renda, estrutura doméstica
e condições de vida;

c. Exame físico

A avaliação da saúde física deve conter minimamente:

• Pressão arterial (PA);


• Frequência cardíaca (FC);
• Frequência respiratória (FR);
• Temperatura axilar (TAX);
• Hemoglicoteste (HGT);

d. Exames complementares:

Hemograma, eletrólitos, função renal e hepática, glicemia, teste de


gravidez em pessoas em idade fértil, eletrocardiograma.

e. Exame psíquico:

• Nível de consciência;
• Escala de Glasgow;
• Aparência Global;
• Comportamento;
• Discurso/linguagem;
• Pensamento;
• Humor/afeto;
• sensopercepção (fenômenos alucinatórios);
• Juízo de realidade;
• Crítica de morbidade.

f. Hipótese diagnóstica

g. Conduta terapêutica: nesta deve incluir quais medidas já foram


instituídas; se houve contenção mecânica e por quanto tempo.

Cabe destacar que os itens “c. Exame psíquico”, “d. Hipótese diagnóstica” e
“e. Conduta terapêutica” são prerrogativas do profissional médico, entretanto, as
demais informações que contém a avaliação em saúde mental podem ser
coletadas por outro membro da equipe multidisciplinar, pois é fundamental as
percepções de todos os profissionais envolvidos no cuidado para garantir um
olhar integral à pessoa atendida.

5. DA REGULAÇÃO DE LEITOS

Os usuários encaminhados são pessoas em situações de


urgência/emergência decorrentes do consumo ou abstinência de álcool, crack
ou outras drogas, bem como pessoas com transtornos mentais agudizados
advindos da RAPS – Atenção Primária em Saúde, Ambulatórios de Saúde Mental
ou Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) - e da Rede de Urgência e
Emergência (RUE) da 8ª Regional de Saúde do Paraná.

A avaliação em saúde mental completa (ANEXO I) deverá ser encaminhada


para um dos estabelecimentos hospitalares nos quais há internação
especializada em saúde mental (Dois Vizinhos ou Pranchita) que funcionam para
retaguarda para a RUE e para os eixos que compõem a RAPS da 8ª Regional
de Saúde.
Conforme avaliação dos critérios adequados para internação hospitalar do
caso e, de acordo com a disponibilidade de leitos, a equipe de regulação do
hospital fornecerá a resposta para o serviço que realizou solicitação da vaga.

Em caso de transferência, o município de origem do usuário ou o serviço da


rede no qual se encontra é responsável por providenciar o transporte que deve
ser feito exclusivamente pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(SAMU). O usuário será acompanhado por familiar ou responsável durante o
transporte que deverá ter ciência da necessidade de acompanhante em tempo
integral durante todo período de internação.

A admissão do paciente no hospital deverá acontecer em até 12 horas após


comunicação da disponibilização da vaga. Caso a admissão não ocorra nesse
período, o leito irá retornar vago ao sistema de regulação e será disponibilizado
para outro usuário.

6. DA ALTA HOSPITALAR

A alta é um procedimento médico, que só deverá ser efetuado se o


profissional achar que há condições para que o paciente deixe a instituição.

A alta hospitalar após uma internação por transtornos mentais por


transtornos mentais pode se dar quando:

• Os sintomas ainda existentes permitirem a continuidade do tratamento em


contexto ambulatorial;
• A avaliação de risco de auto ou heteroagressividade indicar redução do
risco iminente, considerando o contexto atual e as possibilidades de lidar
com as condições que levaram à crise;
• Houver suporte social e/ou familiar adequado e participativo suficientes
para dar prosseguimento ao acompanhamento em contexto de Atenção
Primária ou Secundária.
A alta necessita acontecer com acompanhamento de familiar ou outro
responsável para garantir a plena capacidade de entendimento do seguimento
terapêutico.

Na alta, os usuários devem ser referenciados aos Centros de Atenção


Psicossocial – CAPS, além de receber o encaminhamento acompanhamento
compartilhado com a Unidade Básica de Saúde (UBS).

No caso de o indivíduo não ter condições, não proceder a alta. Caso o usuário
deixe o local sozinho, considerar como fuga e realizar boletim de ocorrência.
Caso deixe o local acompanhado e apoiado por seus familiares ou outros
representantes, considerar evasão, e não alta a pedido. A alta a pedido visa
principalmente respeitar a autonomia do indivíduo e de sua família, e só deverá
ser realizada quando não há risco em deixar local e na possibilidade de outras
alternativas de tratamento.

7. DO CONTEÚDO DESCRITO MÍNIMO QUE A CONTRARREFERÊNCIA


DEVE TER:

A contrarreferência deve conter minimamente os dados:

• Identificação pessoal e de responsável ou familiar, com endereço e


telefone para contato;
• Motivo e tempo de internação;
• Hipóteses diagnósticas ou diagnóstico;
• Prescrição realizada;
• Orientações para continuidade do tratamento.

Pessoas em situação de vulnerabilidade sociofamiliar, na ocasião da alta


hospitalar, deverão ser referenciadas pela Unidade de Saúde para o Conselho
Tutelar, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de
Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) ou outros dispositivos
da Rede de Proteção.
8. FLUXOGRAMA DE ENCAMINHAMENTO À INTERNAÇÃO EM LEITOS
ESPECIALIZADOS EM SAÚDE MENTAL
9. REFERÊNCIAS

Lei 10.216/2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas


portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde
mental.

Portaria de Consolidação GM/MS nº 2, de 28/07/2017, que instituiu a


consolidação das normas sobre as políticas nacionais de saúde do Sistema
Único de Saúde.

Portaria GM/MS nº 529, de 1º de abril de 2013, que institui o Programa Nacional


de Segurança do Paciente (PNSP).

Portaria GM/MS nº 3.390, de 30 de dezembro de 2013, que institui a Política


Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP) no âmbito do Sistema Único de
Saúde (SUS), estabelecendo-se as diretrizes para a organização do
componente hospitalar da Rede de Atenção à Saúde (RAS).

Resolução CFM nº 2.057, de 2013, que consolida as diversas resoluções da


área da Psiquiatria e reitera os princípios universais de proteção ao ser humano,
à defesa do ato médico privativo de psiquiatras e aos critérios mínimos de
segurança para os estabelecimentos hospitalares ou de assistência psiquiátrica
de quaisquer naturezas.

Portaria SES/DF nº 386, de 27 de julho de 2017, que organiza o Componente


Hospitalar da Rede de Atenção às Urgências no âmbito do Sistema Único de
Saúde (SUS) do Distrito Federal.

Portaria SES/DF nº 536, de 08 de junho de 2018, que institui as Normas e Fluxos


Assistenciais para as Urgências e Emergências em Saúde Mental no âmbito do
Distrito Federal.

Plano Diretor de Saúde Mental do Distrito Federal 2020-2023, aprovado pelo


Conselho Distrital de Saúde na Resolução nº 540, de 16 de março de 2021.
ANEXO I

INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO EM SAÚDE MENTAL


Serviço de encaminhamento:

Cidade:

Profissional responsável:

Data:

Identificação do Paciente
Nome:

Data de nascimento:

CNS:

Endereço:

Identificação do Acompanhante
Nome:

Grau de parentesco:

Telefone:

RG:
Endereço:

Anamnese
Queixa principal:

Apresentação do quadro atual:

Medicações em uso:

História pregressa de condições mentais e comportamentais


Início de sintomas e/ou sinais sugestivos de transtorno mental:

Histórico de tratamento psiquiátricos e/ou psicológicos no passado:

Medicações prescritas em tratamentos anteriores:

Histórico de tentativa de suicídio prévias:


Histórico de internações psiquiátricas:

Presença de tabagismo e o uso de álcool e substâncias:

História clínica geral


Doenças crônicas:

Comorbidades orgânicas associadas:

Alergias a medicamentos:

Lista dos medicamentos atuais:

História familiar de condições mentais e comportamentais


História psicossocial
Fatores de estresse atuais, exposição à violência doméstica, abuso
sexual:

Ocupação:

Estado civil:

Número e idade de filhos:

Estrutura doméstica e condições de vida:

Exame psíquico
Nível de consciência:

Escala de Glasgow:
Aparência Global:

Comportamento:

Discurso/linguagem:

Pensamento:

Humor/afeto:

Sensopercepção (fenômenos alucinatórios):

Juízo de realidade:

Crítica de morbidade:

Exame físico
Pressão arterial (PA):
Frequência cardíaca (FC):
Frequência respiratória (FR):
Temperatura axilar (TAX):
Hemoglicoteste (HGT):
Hipótese(s) diagnóstica(s)

Conduta terapêutica
Medidas já instituídas:

Houve necessidade de contenção mecânica? Se sim, por quanto


tempo?

Achados de exames complementares realizados

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