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Aluno: VICTOR FRANÇA ALVES

QUESTÃO 1:

Ao tratar do fenômeno político, Carl Schmitt dá amplo protagonismo à interação entre


grupos, entre aglomerações de indivíduos, deixando de lado a abordagem individualista da
política. Schmitt argumenta que a política é um palco de combate entre amigos e inimigos,
sendo a defesa da soberania do Estado e a primazia do interesse coletivo sobre a
interesse individual pressupostos indispensáveis para a sua formulação teórica.
Em contraponto, Hannah Arendt conceitua o fenômeno político, em sua teoria, como o
espaço exclusivo do ser humano para a sua “Ação”, que ocorre através do discurso e do
agir. Arendt ressalta, em sua obra, que exercer a atividade política através dos instrumentos
supracitados é tão importante para o indivíduo humano que se torna um segundo
nascimento, permitindo ao nascido registrar sua marca no mundo comum. Por fim,
Hannah Arendt ainda afirma que a verdadeira liberdade do ser humano é estar presente na
esfera pública, participando das decisões e dos debates políticos.
Ainda que com diferentes perspectivas acerca do fenômeno político, ambos os autores
convergem para observações críticas acerca do liberalismo, entendendo que essa corrente
de pensamento menospreza a conexão interpessoal entre os indivíduos na sociedade,
priorizando a individualidade em detrimento dos assuntos comuns/públicos. Sendo assim,
o papel da política em uma democracia liberal reside apenas em garantir a proteção dos
direitos fundamentais dos indivíduos, ou seja, há o esvaziamento do conteúdo político
nesse tipo de sociedade.
Segundo Schmitt, é característica intrínseca ao modelo liberal buscar meios de minimizar
ou anular o controle estatal, e tal característica impediria, por exemplo, a possibilidade de
agrupamento dos membros da sociedade em virtude de uma ameaça coletiva ou em face
da possibilidade de um conflito bélico. “A soberania exige o sacrifício da vida”, e, em uma
democracia liberal, os cidadãos não estão dispostos a fazê-lo.
Vale ressaltar, ainda, que Arendt, ao abordar a política nas democracias liberais, afirma que
essa desconexão entre os indivíduos e os diversos assuntos coletivos ocasiona o que é
chamado de alienação, promovendo a produção de massas de indivíduos sem uma
identidade forte com seu grupo social, alheios aos assuntos da esfera pública e
preocupados apenas com seus interesses individuais.

QUESTÃO 2:

O resgate da tradição grega ocorre porque, tendo em vista a história da civilização humana,
os helenos foram os primeiros a pensar, experienciar e registrar em livros uma complexa
forma de expressão das relações interpessoais humanas, fundando o que se entende hoje
como o modelo de democracia direta, em que, entre os cidadãos gregos, os agentes
políticos da época, havia o princípio da isonomia. A herança política grega é riquíssima e
inspira, contemporaneamente, as diversas formas existentes de expressões democráticas,
a exemplo da experiência brasileira (apesar desta ser uma democracia indireta).
Sob o ponto de vista da teoria de Hannah Arendt, esse resgate ocorre pois, para a autora,
”o ser humano exerce sua capacidade política através da ação, e esta tem como palco os
espaços públicos de debate”. Sendo assim, tal pensamento se aproxima do anteriormente
apresentado por Aristóteles, em sua obra “A Política”, em que a política é conceituada como
ato exclusivo ao ser humano - em virtude de sua racionalidade - e que deve ser exercido na
pólis (antigas cidades-estado gregas). Além disso, Arendt e Aristóteles se aproximam,
novamente, ao apontarem que o ser humano só é verdadeiramente livre enquanto exerce
atividade política, ao lado dos demais membros da sociedade, ouvindo-os e fazendo-os
ouvir, agindo e assistindo o agir dos outros.
No caso de Norberto Bobbio, o filósofo italiano retoma a tradição grega, em seu livro
“Teoria Geral da Política”, e resgata as antigas formas de poder na cultura helênica,
apresentando ao leitor, por exemplo, os poderes Paterno e Despótico, comuns à
sociedade clássica. A partir disso, apresenta a sua tipologia moderna das formas de poder
que ocorrem nas sociedades burguesas. Bobbio ressalta, também, o fato do termo “Política”
ter perdido o seu sentido original com o passar do tempo: nascido na tradição grega,
“Política” era relativo ao adjetivo “pólis”, que significa cidade-estado, e os assuntos políticos
eram todos aqueles relacionados à pólis de alguma forma. Contemporaneamente,
entretanto, o termo perdeu seu significado original e denota apenas as atividades que têm
alguma relação com o Estado.
Portanto, infere-se que a experiência política clássica grega, mesmo após mais de dois mil
anos, continua a exercer impacto na produção epistemológica humana, fazendo-se base da
construção de conceitos de Hannah Arendt e de Norberto Bobbio, autores modernos.

QUESTÃO 3:

Deve-se, primeiramente, tentar entender o que se concebe como “Teia de Relações


Humanas”. Para a filósofa Hannah Arendt, estudada em sala de aula, as ações humanas,
pautadas pelo agir e pelo discurso, ocorrem dentro de um espaço intangível entendido
como esfera pública, ou mundo comum, que é o palco das atividades políticas dos seres
humanos plurais. Dessa forma, a ação de um indivíduo dentro desse espaço acarreta em
mudanças nas relações e relacionamentos existentes entre os demais seres humanos
presentes nele, ocasionando consequências que não podem ser medidas ou previstas. Em
resumo, a ação de um indivíduo, dentro da comunidade política, proporcionará impactos
nesta e também influenciará as ações futuras dos seres humanos nela presentes. Esse
modo de interação interpessoal é o que Hannah Arendt concebe, em sua teoria, como Teia
de Relações Humanas.
Além disso, vale ressaltar o que se entende como “Poder Ideológico”. De acordo com a
teoria política de Norberto Bobbio, o Poder Ideológico se funda sobre a importância e o
impacto que as ideias difundidas por um indivíduo na sociedade (que detém certa
autoridade acadêmica/cultural) têm no pensamento/conduta dos demais indivíduos.
Após uma retomada do significado dos conceitos abordados, torna-se explícito uma certa
relação entre a Teia das Relações Humanas e o Poder Ideológico. Um indivíduo, por
exemplo, que seja doutrinado por uma autoridade ideológica, e que, posteriormente,
construa um discurso com base no conhecimento assimilado e o defenda na esfera pública,
prova essa relação entre os dois conceitos, pois a ação do doutrinador influenciou/impactou
a ação futura do doutrinado, a partir do conhecimento compartilhado, e continuará tendo
consequências imprevisíveis dentro do mundo comum.

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