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Adpf54 - Direito Civil I - Ministra Carmén Lúcia
Adpf54 - Direito Civil I - Ministra Carmén Lúcia
RESUMO
De início, faz-se necessário destacar a forma como está segmentado esse tópico: Após
uma análise do voto da ministra pelos discentes, percebe-se que ela trata de 3 aspectos
principalmente, os quais serão desenvolvidos a seguir:
- ”Quando falamos em dignidade, estamos falando de todos: do feto, da mulher, do pai, do que
seria o irmãozinho mais velho [...]” . Nesse trecho de seu discurso, a ministra Cármen Lúcia
chama atenção para o fato de que a gestação de um feto anencéfalo apresenta uma
complexidade socioemocional muito mais complexa e profunda do que aparenta possuir. Em
um primeiro momento, é natural atentar-se apenas aos direitos e às perspectivas da mãe e do
feto mas, no entanto, pode haver muitos outros envolvidos e afetados nessa conjuntura, como
o pai da criança.
- Nesse sentido, a ministra argumenta que “o direito do pai também precisa ser contado nessa
discussão (…) esse homem também precisa participar e ser levado em consideração na sua
dignidade.” Não é uma decisão do tipo individualista, envolve uma ampla esfera de fatores a
serem levados em consideração, não apenas a vontade de um indivíduo. Essa perspectiva da
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3. VIDA DIGNA
- Além disso, para fundamentar sua perspectiva, a ministra Carmén Lúcia discorre: “Acho
também que não se pune aborto praticado, senão como salvar a vida da gestante, como diz o
Código Penal, mas a vida saudável, e aqui a saúde psíquica está incluída. Ademais, tenho ser
suporte para uma decisão no sentido de não se considerar punível o aborto nesses casos o
artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil (atual LINDB) ao afirmar que o juiz, ao aplicar
a lei, haverá de considerar os fins a que ela se destina. E todas e quaisquer leis no sistema
brasileiro haverão de garantir a dignidade da pessoa humana ou do ser humano. “. Ou seja,
defendeu que, caso o feto seja anencéfalo (sem perspectiva de vida), seria melhor interromper
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a gravidez pois teria um impacto menor sobre a dignidade humana, isto é, em seu pensamento,
a saúde física e mental dos indivíduos no geral.
FUNDAMENTAÇÃO DO VOTO
Entre as páginas 178 e 236 do arquivo em formato PDF da ADPF 54, a ministra
Carmén Lúcia traz vários fundamentos legítimos, pertinentes e produtivos para fortalecer a
sua decisão, os quais estão apresentados a seguir:
● "0 argumento de que todos somos seres potencialmente mortos, pois 'nascemos para
morrer', é uma forma metafisicamente estreita de entender a gravidade da anencefalia
em um feto. A ausência de cérebro é uma malformação irreversível e letal para a qual
a medicina não apresenta qualquer alternativa paliativa ou de sobrevida. Um feto com
anencefalia que alcance parto é um sobrevivente agonizante à espera da morte
instantânea. Assumir a finitude humana não significa adotar o postulado cristão de que
a vida é uma passagem para a morte e, por isso, indiferente à extensão da vida, se 70
anos ou 7 minutos, seríamos todos seres-para-a-morte. 0 princípio constitucional do
direito à vida protege o direito das pessoas a se manterem vivas e poderem viver a
vida. Ou seja, ter a capacidade e a potencialidade de viver a vida é algo fundamental
para se imputar a alguém o direito à vida. Nesse sentido, o direito à vida como um
princípio constitucional é uma expressão da crença de que somos seres-para-a-vida e
que a morte é uma expressão da finitude humana, mas não a razão de nossa existência.
(…)” - Débora Diniz e de Ana Cristina Gonzalez Vélez.
● “Podemos afirmar que 'el derecho a la vida' está indisolublemente unido al hecho
biológico de la existência humana, la cual constituye el presupuesto de tal derecho.
Por ello es posible afirmar que se tiene derecho a viver, porque ya se vive. En otros
términos, la existência biológica constituye la carta de naturalización dei derecho a la
vida' (VALLE, Rubén Hernández. Livro colectivo de la Asociación Costarricense pro
Naciones Unidas, Editorial Juricentro, S.A., San José de Costa Rica: 1979, p. 31)”.
● “(...) Por outra parte, toda norma jurídica es una estructura de finalidad y quiere ser
expresión de una valoración. (...). El Derecho positivo formulado, a su vez, se propone
servir a las exigências de justicia. En efecto, (...) todo Derecho positivo es um
popósito, um ensayo de traducir en normas las exigencias de la justicia - y de otros
valores con ella conectados - respecto a una determinada situación social de um lugar
y de una época. (...)" (Ciência dei Derecho y Filosofia, México: Fondo de Cultura
Econômica, 1963, p. 21- 23). - Recasens Siches.
● Artigo 1° do Código Civil: "toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil",
dispondo o art. 22 que "a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com
vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro".
● "(...) a opinião contrária, que recorre à idéia da 'morte total', não é realizável de modo
conseqüente. Segundo ela, ter-se-ia de manter os mortos cerebrais respirando
artificialmente, até que sua última célula tivesse morrido. E transplantes de órgãos não
poderiam jamais ocorrer, uma vez que eles pressuporiam matar pessoas ainda vivas. A
maior parte dos defensores da concepção da 'morte total' não extrai estas
conseqüências, mas deseja permitir, após a morte encefálica, a suspensão do ulterior
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tratamento médico intensivo, bem como o transplante de órgãos. Com isso, eles se
colocam, primeiramente, em dificuldades quase insolúveis - pois têm de tornar a vida
humana objeto de uma ponderação de valores - e reconhecem, em segundo lugar, a
morte encefálica como o instante decisivo, com o que acabam por aceitar, de facto, a
posição que situa aqui o momento da morte (...)" (A proteção da vida humana através
do Direito Penal. Conferência realizada em 7.3.2002, no encerramento do Congresso
de Direito Penal em Homenagem a Claus Roxin, Rio de Janeiro. Fonte:
http://www.mundojuridico.adv.br/sis_artigos/artigos.asp?codigo=134).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ministra Cármen Lúcia, ao proferir seu voto acerca da interrupção da gravidez de feto
anencéfalo, buscou fundamentar sua decisão em extensas bases de natureza ética, tal qual a
dignidade humana - seja pela perspectiva da mãe, do pai ou de demais familiares/entes
próximos -, além de constantemente recorrer a repertórios da área médica, como o Código de
Ética de Medicina, e demais artigos e citações que reforçam seu posicionamento perante a
pauta.
Dessa forma, a ministra, ao lado de sete demais ministros, fez-se estabelecer pelo
Supremo Tribunal Federal que é inconstitucional a interpretação segundo a qual a interrupção
da gravidez de feto anencéfalo constitui aborto. Assim, as gestantes têm a liberdade de
escolher o que se deve proceder em casos desse tipo, constituindo um verdadeiro avanço no
respeito à dignidade humana pela óptica legal.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS