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Rins: Anatomia

Os rins são um par de órgãos, em forma de feijão, localizados no retroperitoneu, sob a


parede posterior do abdómen, em ambos os lados da coluna vertebral. Como parte do
trato urinário, os rins são responsáveis pela filtração do sangue e excreção de resíduos
solúveis em água na urina. Os rins desempenham também um papel importante nos
processos homeostáticos, incluindo a concentração de eletrólitos, a pressão arterial e a
regulação ácido-base.

Macroscopicamente, consistem num córtex externo e uma medula interna. As unidades


funcionais microscópicas, conhecidas como nefrónios, filtram o sangue através de uma
estrutura denominada glomérulo, e este filtrado é então modificado e concentrado à medida
que se move através de um complexo sistema tubular. As artérias renais suprem os rins por
meio de uma abertura central, conhecida como hilo renal, localizada medialmente; grandes
veias renais desembocam diretamente na veia cava.
Embriologia

O rim desenvolve-se a partir da mesoderme embrionária, em 3 formas sucessivas a


partir dos cordões nefrogénicos, à medida que se alongam na direção cranial-caudal.

Pronefro
 Surge na semana 4 como um aglomerado de algumas células que se desintegram
logo de seguida
 Rudimentar e não funcional

Mesonefro
 Começa a desenvolver-se na região toracolombar por volta da semana 5, à medida
que o pronefro regride
 Regride na semana 10
 Consiste:
o Num ducto mesonéfrico longitudinal (também conhecido como o ducto de
wolff)
o Numa série de túbulos a exteriorizar-se do ducto principal e a crescer,
anteriormente, em direção à aorta
 Começa a filtrar o sangue → o filtrado percorre o túbulo mesonéfrico → ducto
mesonéfrico → cloaca → alantoide
 Funciona como um sistema urinário primitivo, enquanto o metanefro se desenvolve
num rim permanente
 Os ductos mesonéfricos persistem e fazem parte do sistema reprodutor masculino.
Resumo gráfico do rim em desenvolvimento:
O broto ureteral cresce fora do ducto mesonéfrico e transforma-se numa coleção de
células intermediárias da mesoderme conhecida como blastema metanéfrico. Em conjunto
são conhecidos como mesonefro, que se desenvolve no rim. Os túbulos mesonéfricos
regridem. Nos homens, o ducto mesonéfrico persiste no sistema ejaculatório.

Metanefro
O rim permanente é formado a partir do metanefro.

 Desenvolve-se a partir da 5ª semana de gestação


 As células da mesoderme intermediária, na região pélvica, começam a diferenciar-
se numa estrutura denominada blastema metanéfrico, que:
o No final se transforma nas células que compõem os nefrónios
o Liberta fatores de crescimento que estimulam o desenvolvimento de uma
protuberância na porção caudal do ducto mesonéfrico chamada brotos
ureterais
 Os brotos ureterais crescem e invadem o blastema metanéfrico:
o O pedúnculo alongado do broto ureteral desenvolve-se em ureter.
o Dentro do blastema metanéfrico, os brotos ureterais sofrem uma série de
ramificações para formar:
 Pelve renal
 Cálices maiores
 Cálices menores
 Túbulos coletores
 Tampão mesodérmico metanéfrico:
o Mesoderme do blastema metanéfrico situado no topo dos ductos coletores
em desenvolvimento
o Alonga, formando o sistema tubular dos nefrónios → passa a ser conhecido
como túbulos metanéfricos
o O túbulo metanéfrico funde-se com o túbulo coletor, criando um sistema
contínuo.
 Cápsula de Bowman: forma-se na extremidade em crescimento do túbulo
metanéfrico
 Capilares glomerulares:
o Desenvolvem-se fora das artérias ilíacas comuns
o Ficam associados à cápsula de Bowman no final dos túbulos metanéfricos
→ começam a produzir “urina” (Nota: os verdadeiros resíduos são
removidos do feto através da placenta).
 Os nefrónios formam-se até ao nascimento.
 A maturação dos nefrónios continua após o nascimento.

Posição do rim e alterações na vascularização


 Os rins estão inicialmente localizados na região pélvica.
 À medida que a porção caudal do corpo cresce inferiormente, a localização relativa
dos rins “ascende” para os quadrantes superiores do abdómen (a falha em ascender
resulta num rim pélvico).
 À medida que os rins ascendem, o suprimento sanguíneo original degenera.
 Desenvolvem-se, na aorta, novos vasos (mais superiormente) e invadem os rins,
tornando-se as artérias renais maduras.
 Se os vasos originais não regredirem, podem persistir como artérias ou veias renais
adicionais.
Anatomia Geral
Localização
 Órgãos retroperitoneais
 Localizados ao longo da parede abdominal posterior em ambos os lados da coluna
vertebral na depressão paravertebral
 Em frente aos processos transversos de T12-L3
 O polo superior repousa sob a 11ª e 12ª costelas.
 O polo inferior está direcionado lateralmente e anteriormente.
 A presença do fígado no lado direito força o rim direito a situar-se ligeiramente mais
baixo que o esquerdo.

Direção (Em relação ao Direita Esquerda


Rim)
Superior Glândula Suprarrenal Glândula Suprarrenal
direita esquerda
Anterior Parte superior: Figado Parte superior: Estômago
Porção inferior: Flexura Porção média: Pâncreas
Hepática do Cólon Porção inferior: Jejuno
Lateral Figado Parte superior: Baço
Porção inferior: Cólon
descendente

Posterior
 Músculos
Posterossuperior: Diafragma
Posteromedial: Músculos Psoas
Diretamente posterior: quadrado lombrar

 Nervos
Subcostal
Ílio hipogástrico
Ílioinguinal
Tamanho e forma
 Órgãos em forma de feijão
 Dimensões:
o Comprimento: 10-12 cm
o Largura: 5–7 cm
o Profundidade: 2–3 cm
 Peso: aproximadamente 150 g

Camadas externas
Ao redor dos rins existem várias camadas de tecido adiposo e conjuntivo (de fora para
dentro):

 Gordura paranéfrica:
o Localizada posteriormente ao rim, entre a fáscia renal e os músculos das
costas
o Ancora os rins na parede abdominal posterior
o Fornece alguma proteção e calor
 Fáscia renal, que também envolve a glândula suprarrenal
 Gordura perirrenal
 Cápsula fibrosa
Características da superfície
 Polos superior e inferior
 Superfície lateral convexa
 Superfície medial côncava, que cria uma cavidade denominada seio renal
 O seio renal contém:
o Neurovasculatura renal, incluindo:
 Artérias e veias
 Vasos linfáticos
 Nervos
o Pelve renal (porção terminal do sistema coletor renal)
o Tecido adiposo (contínuo com a gordura perirrenal em redor do rim)
 Hilo renal: entrada para o seio renal

Parênquima renal
O parênquima é constituído por:

 Córtex renal:
o A parte mais externa do rim, com aproximadamente 1 cm de espessura
o Localizado abaixo da cápsula renal
o As projeções mediais formam as colunas renais (de Bertin).
o Estruturas microscópicas localizadas no córtex:
 Cápsula Bowman
 Túbulos proximais e distais
 Porções superiores dos ductos coletores
 Medula renal:
o Dividida em unidades conhecidas como pirâmides renais
o 6-10 pirâmides renais separadas pelas colunas de Bertin
o Base da pirâmide em direção ao córtex
o O ápice:
 Projeta-se em direção ao seio renal
 É denominado papila
 Os túbulos coletores drenam da papila para os cálices menores.
o Estruturas microscópicas localizadas na medula/pirâmides:
 Ansas de Henle
 Ductos coletores
 Sistema coletor:
o Colhe a urina recém-formada e direciona-a para o ureter
o Cada papila drena para um cálice menor.
o 2-3 cálices menores drenam para um único cálice maior.
o 2 a 3 cálices maiores convergem para formar a pelve renal, que:
 É uma estrutura em forma de funil contínua com o ureter
 Ocupa a maior parte do seio renal
 Faz a transição para o ureter na junção ureteropélvica
Anatomia Microscópica

Os nefrónios são as unidades funcionais do rim; há aproximadamente 1,2 milhão de


nefrónios em cada rim. O nefrónio é dividido em 2 partes principais: o corpúsculo
renal e o túbulo renal, que possui vários segmentos definidos.

Corpúsculo renal
O corpúsculo renal é onde o plasma sanguíneo é filtrado.

Cápsula glomerular (Bowman):

 Estrutura em forma de bola em torno de uma teia de capilares arteriais


 Tem uma camada parietal externa composta por células epiteliais escamosas simples
 Possui uma camada visceral interna:
o Circunda diretamente os capilares glomerulares
o Composta por células epiteliais especializadas conhecidas como podócitos
 Espaço Bowman:
o O espaço entre as camadas parietal e visceral da cápsula de Bowman
o Recolhe o filtrado (urina)
o Drena para o túbulo contornado proximal (TCP)
culo renal:

 Arteríola aferente:
o Transporta sangue para o glomérulo
o Diâmetro relativamente grande
 Glomérulo (também chamado capilares glomerulares):
o Uma teia de pequenos capilares arteriais entre as arteríolas aferentes e
eferentes
o Onde ocorre a filtração
 Arteríola eferente:
o Transporta o sangue filtrado para fora do glomérulo
o Pequeno diâmetro (em comparação com a arteríola aferente)
 A filtração ocorre principalmente devido à alta pressão hidrostática nos capilares
glomerulares criada pela grande entrada (arteríola aferente) e pela pequena saída
(arteríola eferente).
Membrana de filtração:

 Constitui o principal filtro sanguíneo entre os capilares glomerulares e o espaço de


Bowman
 Composta por 3 camadas:
o Endotélio fenestrado que reveste os capilares glomerulares
o Membrana basal glomerular (MBG): composta por um gel de proteoglicanos
carregados negativamente (repele moléculas maiores carregadas
negativamente)
o Podócitos (epitélio):
 Formam a camada visceral da cápsula de Bowman
 Múltiplos processos podocitários envolvem os vasos, criando fendas
de filtração entre os mesmos.
 As fendas são cobertas por uma membrana denominada diafragma
fenestrado (uma forma única de junção intercelular que consiste em
várias proteínas).
 Não permeável a grandes moléculas no sangue, como proteínas plasmáticas (e.g.,
albumina)
 Permeável a moléculas pequenas, geralmente < 3 nm, incluindo:
o Água
o Eletrólitos (e.g., sódio, potássio)
o Glicose
o Aminoácidos e ácidos gordos
o Vitaminas
 Pode ser danificada por infeção e trauma

Túbulo renal
O túbulo renal é um tubulo longo e contínuo, que ajusta o conteúdo do filtrado
recebido no corpúsculo renal. Os túbulos drenam, finalmente, através da papila para os
cálices. Os segmentos do túbulo, por ordem, são:

 TCP:
o Localizado no córtex
o Principal local de reabsorção, especialmente de:
 Eletrólitos: Na+, Cl–, K+, Ca 2+, Mg2+, HCO3– , PO 43–
 Glicose
 Aminoácidos e peptídeos
o Revestido por epitélio cúbico simples, com microvilosidades proeminentes
conhecidas como bordadura em escova, que reveste o lúmen do túbulo (↑ a
área de superfície para reabsorção)
o Coloração H&E: rosa escuro devido às grandes quantidades de mitocôndrias
(↑ taxas de reabsorção requerem ↑ energia para o transporte ativo)

 Túbulo reto proximal (TRP):


o Principal local de secreção de:
 Aniões orgânicos (e.g., sais biliares, urato, fármacos)
 Catiões orgânicos (e.g., creatinina, dopamina, fármacos)
o Coloração H&E: rosa escuro
 Ansa de Henle (localizada no córtex e na medula), dividida em:
o Membros descendentes e ascendentes finos
 Ambos constituídos por epitélio escamoso simples
 Envolvida no transporte passivo de água ou eletrólitos, que
estabelecem o grande gradiente osmótico na medula
o Ramo ascendente espesso (RAE):
 Epitélio cúbico
 Fortemente envolvido no transporte ativo de eletrólitos
 Túbulo contornado distal (TCD)
o Localizado no córtex
o Responsável por “ajustar” os componentes da urina
o Revestido por epitélio cúbico simples sem microvilosidades
o Coloração H&E: rosa pálido devido à menor presença de mitocôndrias
o Última parte da unidade funcional do nefrónio
 Ducto coletor (DC)
o Localizado no córtex e na medula
o Epitélio cúbico simples
o Múltiplos TCDs de diferentes nefrónios juntam-se e drenam para um DC.
Aparelho justaglomerular (AJG)
Grupo especializado de 3 tipos de células nas proximidades do glomérulo. O AJG
desempenha um papel importante na manutenção da pressão arterial e homeostase
dos fluidos.

Células justaglomerulares (JG):


Grandes células musculares lisas, principalmente nas arteríolas aferentes (e algumas
nas eferentes)
Podem dilatar ou contrair as arteríolas, ajustando a pressão dentro do glomérulo
Secretam renina em resposta à hipovolemia e hipotensão
Células da mácula densa (MD):
Células epiteliais delgadas especializadas e localizadas próximas umas das outras no
TCD, que são adjacentes às células JGs
Detetam a concentração de sódio do fluido no TCD
Sinalizam as células JG para dilatar ou contrair arteríolas, ajustando a TFG e
mantendo a homeostase
Células mesangiais:
Células planas e alongadas na fenda entre as arteríolas aferentes e eferentes
Conectadas às células MD e JG por junções comunicantes
A função ainda não é conhecida, mas potencialmente medeiam a comunicação entre
as células MD e JG
Estrutura de um corpúsculo renal e do aparelho justaglomerular:
A: Corpúsculo renal
B: Túbulo proximal
C: Tubo contornado distal
D: Aparelho justaglomerular
1: Membrana basal
2: Cápsula de Bowman, camada parietal
3: Cápsula de Bowman, camada visceral
3ª: Pedículos podocitários
3b: Podócito
4: Espaço de Bowman (espaço urinário)
5ª: Mesângio – células mesangiais intraglomerulares
5b: Mesângio – células mesangiais extraglomerulares
6: Células justaglomerulares
7: Mácula densa
8: Miócitos (células de músculo liso)
9: Arteríola aferente
10: Capilares do glomérulo
11: Arteríola eferente.

Tipos de nefrónios
Os nefrónios são divididos em nefrónios corticais e justamedulares com base na sua
localização.

Nefrónios corticais:
Localizados quase inteiramente no córtex
Os loops de Henle têm um curso curto dentro da medula.
Nefrónios justamedulares:
Localizados próximo da junção corticomedular
A ansa de Henle atravessa profundamente até à medula.
Responsáveis por manter um alto gradiente osmótico dentro da medula
Permitem uma maior concentração da urina

Neurovasculatura
Artérias renais e artérias segmentares
Cada rim é perfundido por uma artéria renal:
Ramifica da aorta abdominal abaixo da artéria mesentérica superior (MAS)
A artéria renal direita passa posteriormente à veia cava.
As artérias renais dividem-se em 5 artérias segmentares, que irrigam segmentos
separados do rim (sem anastomoses entre os segmentos).
Segmentos renais:
Superior
Anterossuperior
Inferior anterior
Inferior
Posterior
Artérias menores, capilares e veias
As artérias segmentares ramificam-se em artérias interlobares, que correm entre as
pirâmides renais.
As artérias interlobares ramificam-se em artérias arqueadas, que correm ao longo da
base das pirâmides renais no córtex renal.
As artérias arqueadas emitem pequenos ramos denominados artérias interlobulares.
As artérias interlobulares ramificam-se em arteríolas aferentes, que correm até às
cápsulas de Bowman.
Depois do sangue deixar o glomérulo através das arteríolas eferentes, o mesmo viaja
para os capilares peritubulares ou para os vasa reta.
Capilares peritubulares: suprem os túbulos corticais (e.g., TCP e TCD)
Vasa reta:
Rede de capilares que circundam as ansas de Henle, na medula
Altamente permeáveis aos solutos e à água
Vitais na manutenção do gradiente osmótico na medula
O sangue dos capilares peritubulares e da vasa reta drena para as veias
interlobulares.
Veias interlobulares → veias arqueadas → veias interlobares → veias segmentares
→ veia renal
Cada rim tem uma única veia renal. Estas veias:
Drenam diretamente na veia cava inferior
Correm anterior às artérias
A veia renal esquerda passa anteriormente à aorta abdominal.
Resumo do fluxo sanguíneo através do Rim

Nervos
A inervação renal inclui nervos aferentes e eferentes através do plexo nervoso renal. A
inervação é realizada através do sistema nervoso autónomo, principalmente através de
fibras simpáticas:

 Nervos eferentes simpáticos:


o Principalmente através dos nervos esplâncnicos
o Apenas existe inervação eferente para os nefrónios e para a vasculatura renal
o Concentrados de forma mais evidente em torno das arteríolas aferentes,
RAE e TCD
o A estimulação pode ativar o RAAS.
 Nervos aferentes sensoriais: envolvidos na regulação da pressão arterial
 Nervos aferentes viscerais: transmitem sinais de dor para os segmentos da medula
espinhal T11-L2
Funções

As funções dos rins incluem:

 Filtrar o sangue e excretar resíduos solúveis em água na urina


 Regular a água corporal total concentrando adequadamente a urina de acordo com o
estado osmótico do corpo
 Regular a pressão hemodinâmica/sanguínea através do SRAA
 Regular o equilíbrio ácido-base
 Manter o metabolismo ósseo via excreção/ reabsorção seletiva de cálcio e fosfato
 Produzir hemácias através da secreção de eritropoietina

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